The Headless Gang escrita por Shiro, Slytherin Demigod


Capítulo 7
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Por quê eu continuo me lembrando dessa época maldita, dois malditos meses depois?

É. Depois de tudo aquilo, por mais hediondo que possa soar, acabamos nos acostumando. Visitamos a empresa todas as noites, não importa o dia. Ele nos passa os alvos, e nós matamos. Não podemos recusar, pois ele tem as cabeças para barganhar conosco. Nossas cabeças.

Por mais estranho que possa parecer, sentimos falta delas à noite. Não é somente como se um membro nosso tivesse sido arrancado; é pior do que isso. É como se algo muito importante tivesse sido tirado de nós: nos sentimos vazios, quase que tristes.

Um tempo atrás, refleti sobre o assunto e cheguei à conclusão que, se pudéssemos pegá-las de volta durante a noite, não poderiam nos obrigar a fazer mais nada. No entanto, é mais fácil dito que feito.

Por causa deles.

O CEO os chama ironicamente de Guardiões. Quanta criatividade. Por que eles, afinal, guardam as nossas cabeças. De acordo com o chefe, nós nos tornamos tão lucrativos que a ideia de nos perder era simplesmente impensável. Então, os guardiões estão lá para se certificar de que elas não cheguem em nossas mãos em nenhuma circunstância.

Ellera comentou uma vez que os Guardiões também eram amaldiçoados; que todos os servos dele eram. Não duvido. Nós não os conhecemos, realmente; quem são e o que são capazes de fazer ainda é um mistério.

"O CEO é um colecionador", Ellera havia dito. "Um colecionador incrivelmente exótico."

"Colecionador de quê? ", Med havia perguntado, impacientemente.

"Ele pegou as cabeças de vocês". Me perguntei se Ellera estaria sorrindo caso sua expressão não estivesse para sempre congelada. "O que acham que ele pega dos outros?"

Partes do corpo humanas. Não sei se exótica seria a palavra que eu usaria para descrever essa coleção.

De repente, senti alguém cutucando minha nuca. Olhei para trás e Kilian, que normalmente se sentava atrás de mim, apontou para o quadro com a caneta que segurava.

– Você estava quase dormindo. Ao menos finja prestar atenção, Lex, ou vai ser expulsa da aula de novo - ele sussurrou em meu ouvido.

Resmunguei em resposta, mas fixei meus olhos no quadro. Eu tinha uma enorme curiosidade em relação aos Guardiões. Talvez possa perguntar a Ellera a respeito, mas duvido que ela possa nos dizer. Meus olhos começaram a se fechar, mas os abri novamente. Meus pensamentos continuaram nos misteriosos Guardiões até o fim da aula, quando nós seis nos encontramos na frente da escola.

– A minha mãe me pediu pra voltar pra casa hoje - falei. - É só durante a tarde. Alguém topa vir comigo?

– Eu iria, mas eu e Ay tínhamos combinado de dar uma volta no shopping - Med começou. - Tudo bem se eu passar essa?

– Tranquilo. Garotos? - olhei para o resto do grupo.

– Só tenho as tardes para fazer as tarefas do colégio, e não planejo matar pessoas de noite e trabalhar no McDonald's durante o dia - Dan comentou.

– Pfffft. Nerd - Ayram riu, e Med deu uma cotovelada nele.

– Bom, eu não tenho nada melhor pra fazer - Zack sorriu.

– Isso aí. Vamos nessa - Kilian concordou, sorrindo. - Tarefa de casa é até tentador, mas vou resistir dessa vez. Pode fazer a minha também se quiser, Dan.

– Ei! Não venha tratar o meu irmão como escravo - Med resmungou - Além disso, ele já vai fazer a minha também.

Zack riu da cara de Dan, que cruzou os braços e suspirou. Não é culpa nossa que você é o único minimamente aplicado.

Pouco tempo depois, havíamos deixado Dan em casa, Ayram e Med no shopping e seguíamos na direção da minha. Ainda era começo da tarde, e a cidade estava relativamente calma. Não haviam muitas pessoas nas ruas, e o trânsito ainda não estava ruim. Quando chegamos, Zack estacionou em frente à garagem, e nós saímos do carro.

– Mãe, cheguei - pendurei as chaves junto com o resto ao lado da porta. - Z e Kil estão comigo.

– Na sala. - Minha mãe estava sentada no sofá. A televisão estava ligada, mas ela lia uma revista. Sorriu quando nos viu. - Meu deus. Quanto esses garotos ainda vão crescer? Kilian, daqui a pouco vai ter que se abaixar pra passar pela porta.

– Diga isso ao Ayram - Kil resmungou. - Como você está, senhora Lonehill?

– Ótima, Kilian - minha mãe sorriu. - Vai sair novamente à noite, Lex?

– Sim, mãe - fui até a cozinha, abrindo a geladeira enquanto falava.

– Imaginei. Bom, não volte tão tarde dessa vez, certo?

Resmunguei uma resposta afirmativa enquanto tomava um gole de suco de laranja e passava a garrafa à Zack. Minha mãe sabia que eu saía à noite. No começo ela perguntava mas, depois que percebeu que eu sempre volta bem em algum momento, ela deixou isso de lado. Consegui convencê-la de que era algo importante, e que eu contaria a ela um dia. Além disso, ela confiava em Kilian. Então, se ele estivesse comigo, ela não se preocupava.

Divirtam-se. Me avisem se quiserem comer alguma coisa - minha mãe sorriu. Sorri de volta e acenei antes de arrastar os garotos pelo corredor.

– A sua mãe é demais. Os meus pais ainda acham que eu trabalho em meio período na loja de conveniências do posto - Zack murmurou. Abri a porta do meu quarto e me joguei no sofá, atirando os sapatos para longe.

– Ela sabe que eu sei me cuidar. Querem jogar? - liguei a televisão.

– Eu topo. Enfim, ela é legal mesmo. É bom que você viva com ela agora, Lex, mas a sua tia ainda devia ser presa - Kil pegou os controles na gaveta e os distribuiu.

– Contanto que eu não tenha que olhar na cara dela de novo, pouco me importa o que acontece a ela - tirei um pacote de salgadinhos do armário e o abri, enfiando algumas batatinhas na boca. - Aquela velha ainda vai tropeçar e quebrar a bacia um dia, não preciso me preocupar com isso.

– É - Zack concordou, tomando outro gole de suco de laranja.

– Ah, Z, esqueci de te falar - passei o saco a Kil - Tem uma garota da minha turma que é afim de você. Esqueci o nome dela... aquela que senta na terceira carteira da janela.

– Brenda - Kilian ajudou, a boca parcialmente cheia.

– Isso. Conhece?

– Acho que já vi ela algumas vezes.

– Vai chegar chegar nela, Z? - Kil riu.

– Óbvio que ele não vai chegar nela - ergui uma sobrancelha.

– O que quer dizer? - Kil me olhou pelo canto do olho, ao mesmo tempo que Z me deu uma cotovelada no estômago .

– A Lex só fala merda. Bom, não sei. Talvez.

– Reze pra que ela curta transar durante o dia. Ou durante a noite, com caras sem cabeça - Kil riu, e eu também - Imagino como deva ser.

– Podemos sempre perguntar pro Ayram e pra Med - completei.

– Vou corrigir isso: vocês dois só falam merda - Z resmungou, mas riu.

– Qual é. Vai dizer que nunca imaginou como deve ser?

– Nada de oral, pra começar.

– Vocês dois, calem a boca - Zack estava vermelho. Quer dizer que ele já imaginou, sim. – Se querem tanto assim descobrir, só precisam esperar anoitecer, retardados.

– Boa ideia. Aí, Lex...

– Eu estava brincando. Temos que trabalhar de noite.

– Você sempre tira a graça de tudo, Zack.

– Eu, ein!Não fui eu que arranquei a cabeça de vocês. Sabem muito bem disso - Z suspirou. - E também sabem muito bem quem foi.



. . .



Saímos assim que o sol começou a se pôr. Z estacionou o carro em frente ao posto, e fomos caminhando na beira da estrada, na direção remota da empresa. Ainda não era noite de fato, então não adiantaria muito correr. E estava meio frio. Bufando, enfiei as mãos nos bolsos do moletom, sabendo que em breve isso não me incomodaria mais. Qualquer que fosse o tipo de monstro que virávamos quando anoitecia, não era um que fosse afetado pela temperatura.

Tirando o celular do bolso, liguei para Med e avisei que já estávamos a caminho da empresa. Também mandei uma mensagem a Dan.

– Temos que decidir o que fazer - Kil falou, de repente.

– É . Já estamos nisso a dois meses - apoiei.

– Fico pensando às vezes que é bom não ter mais que dormir. Com todos os inocentes que eu provavelmente já matei, não sei se conseguiria - Z suspirou.

– Não adianta nada se lamentar por coisas que já fizemos. A única coisa que pode ajudar agora é mudar o futuro.

– Tem razão, Lex - Kil chutou uma pedra para longe. - Certo, vamos ver tudo o que sabemos até agora. Temos que obedecer ele por que ele tem as nossas cabeças.

– E não podemos pegá-las de volta, por que elas estão com os guardiões - Z continuou.

– Mesmo que pudéssemos, o que garante que elas voltariam pro lugar? - contestei.

– Tem razão. Não estou nem um pouco afim de virar uma Ellera - Z tossiu.

– O que realmente precisamos é de uma forma de quebrar a maldição - Kil concordou. - Alguém tem alguma ideia genial?

– Tecnicamente, se pensarmos no assunto, só teríamos que trabalhar pra ele até pagarmos a dívida, não é?

Tecnicamente. Realmente acha que ele nos soltaria, mesmo que pagássemos? Ele não tem nenhum motivo pra fazer isso, Z - discordei.

– Aliás, é impossível de se calcular um prejuízo desses. Não temos como “pagá-lo” de fato - Kilian terminou o raciocínio.

Uma moto solitária passou por nós em alta velocidade, no sentido da cidade. Quem será que era você, motoqueiro? Péssimo dia para estar em Vortex. Posso ter que te matar hoje.

– Melhor discutir isso com o grupo, mais tarde. Ninguém tem ideias melhores que as do Dan - Z comentou, esfregando um olho distraidamente. Kilian resmungou alguma coisa, e eu assenti. O sol não demorou a se pôr, como nunca fazia, e com ele foram nossas cabeças. Aceleramos quase que imediatamente, chegando logo depois.

Por estarmos adiantados, recebemos as tarefas antes dos outros. Fehlberg estava ausente; de acordo com Ellera, ele estava em reunião com um cliente. Um cliente noturno. Algum dos malditos que o pagam para nos obrigar a matar. Pensando bem no assunto, eu adoraria matar um deles.

Não tive nenhum tempo para pensar no assunto, no entanto. Ellera nos entregou os arquivos, e sentei na mesa pra ler.

“Serviços prestados, arq. #00438

Nome do indivíduo em questão: Michael Bayer

Endereço: St. Hyllis, 540

Cliente: no. 00189, informações confidenciais

Resumo: (...)”

Além de uma foto anexada, havia outras informações que eu não li - não me interessava conhecer a pessoa que estava prestes a matar. Preferia os casos que não envolviam arquivos, e Fehlberg devia saber disso, por que eu quase nunca recebia um desses. Babaca.

– Vejo vocês mais tarde - me despedi dos guris e, sem esperar uma resposta, saí. No elevador, folheei o arquivo mais uma vez; tinha, na última página, uma breve nota escrita à mão, em caneta vermelha:

“Divirta-se”

Joguei o arquivo na primeira lata de lixo pela qual passei, na recepção.

Deixei o holograma desaparecer mas, mesmo assim, a irritação estava óbvia em meus punhos cerrados. Ficar nos ordenando por aí não é o suficiente. Só é divertido quando nos humilha, não é? Desgraçado. Encolhi os ombros, tentando esfriar a... Digo, me acalmar. Se lamentar não vai mudar nada. Suspirando, saí do prédio e fiz o caminho inverso, de volta à parte mais populosa da cidade, caminhando pela beira da estrada como havia feito com Kil e Z pouco antes.

Arregacei as mangas do moletom. De qualquer forma, há trabalho a fazer. Alguém quer essa pessoa morta… Espero que tenha um bom motivo. E, St. Hyllis… Será possível que ele saiba que essa é a minha rua? Enfiei as mãos nos bolsos. Impossível. É uma infeliz coincidência, apenas isso. Rapidamente passei pela loja de conveniências onde estava estacionado o carro de Zack, quase esquecendo de ativar o holograma. Merda. Tudo o que eu precisava.

Minha rua não era exatamente no centro da cidade; ficava em um bairro residencial suficientemente tranquilo. Abaixei o capuz, sabendo que qualquer pessoa a me ver atravessaria a rua, com medo de ser assaltada. Melhor isso do que me reconhecerem. O número 540 ficava duas quadras antes da minha casa. Suponho que deva ficar feliz por não ter que passar por lá. O pensamento me fez encolher os ombros.

A casa não era propriamente uma casa. Com quatro andares visíveis, a mansão ocupava pelo menos metade da quadra. Quem aquele maluco me mandou matar dessa vez? Os muros eram altos, reforçados com cerca elétrica no topo. Também vi algumas câmeras espalhadas pelos cantos. Posso apostar como o sistema de segurança é pesado. Com passos lentos, dobrei a esquina e me posicionei em baixo da câmera lateral. A luz era fraca, então tirei a lanterna no bolso e a iluminei; sua sombra se projetou na parede da casa, alguns metros atrás. Erguendo a mão direita em direção a ela, esmaguei a sombra da câmera. Simultaneamente, a verdadeira amassou-se, quebrou e caiu no chão com um baque.

Logo em seguida escalei o muro. Senti uma pontada de dor quando encostei na cerca elétrica, mas nada que eu não pudesse aguentar. Depois de pular para o outro lado, escalei a parede lateral até alcançar uma janela qualquer do último andar. Ligando a lanterna novamente, usei as sombras para destrancá-la por dentro e entrar.

Eu me encontrava então em algum tipo de escritório. Amplo e bem decorado, contava com uma mesa de computador, um conjunto de sofás e uma enorme televisão, além de várias estantes de livros quase cheias. Não olhei muito em volta, apenas me dirigi ao corredor. Os quartos normalmente ficavam nos andares superiores, mas eu podia estar errada, e não queria demorar muito vasculhando a casa.

Incontáveis portas se seguiam àquela no corredor, algumas entreabertas, a maioria fechada. Para começar, segui em direção à escada, onde, bem no começo do corredor, havia uma porta entreaberta com uma luz suave visível no interior. Meus passos eram silenciosos, mas ainda assim possíveis de se ouvir. Tendo dito isso, eu não queria pensar na grande possibilidade de que o homem, cujo nome eu já havia esquecido, não morasse sozinho.

Andando pelo corredor, não pude deixar de notar a enorme quantidade de certificados e troféus exibidos em prateleiras e armários de vidro. Parei por um instante para examinar um deles.

1o lugar - Competição regional de luta livre

Como?

Tem que estar de brincadeira comigo.

Dei uma olhada em alguns dos outros troféus; ele também era boxeador. Acho que sei de quem foi a ideia de me passar esse trabalho.

Dei de ombros, dizendo a mim mesma que não importava. Eu já me aproximava da porta. Não importa as circunstâncias, eu só preciso matar ele. É o que eu faço. Abri a porta mais alguns centímetros para espiar dentro do quarto. Ela rangeu de leve, e uma voz sonolenta, mal acordada, veio de lá.

– Mamãe…?

Se eu tivesse uma testa, ela teria recebido um tapa. O quarto era decorado com brinquedos e paredes lilás, e a pequena cama não deixava dúvidas quanto à idade máxima da dona do quarto. Felizmente, não esperando por uma resposta, a criança caiu no sono de novo.

Refiz meu caminho, tirando a imagem do quarto infantil de minha mente. Passando novamente pelos troféus, chegando á metade oposta do corredor, encontrei um quarto cuja porta era cheia de adesivos, um deles dizendo “Dylan” em caixa alta. Poderia esse ser o nome dele…?

Abri a porta lentamente, dando um passo para dentro do quarto de piso acarpetado. Esse estava bem mais escuro que o primeiro, notei, mas seu residente não podia ter mais de catorze anos. Eu ainda me lembrava vagamente da foto anexada de meu alvo, e ele era bem mais velho. “Sim, claro, vamos colocar a Lex contra um boxeador profissional, qual é a pior coisa que pode acontecer? Ela levar uma baita surra…? Ah, é mesmo, quem se importa?”.

Suspirando, deixei aquele segundo quarto e caminhei até o fim do corredor, procurando algo que deveria ser uma suíte principal.

Fui recebida por um soco certeiro no estômago que, pela surpresa, me mandou direto para o chão. Será que ele me ouviu andando por aí e abrindo portas…? Nahh, acho que não. Meu capuz foi jogado para trás na queda, e a visão da minha gritante falta de cabeça o fez hesitar por um instante. Sim, esse é o cara da foto, constatei. Foi mal aí, moço, mas tenho que te matar. As janelas estavam abertas, então entrava um pouco de luz. Sua sombra era fraca, mas existia. Então, quando ele abriu a boca (possivelmente para gritar, nunca saberemos), esmaguei a garganta de sua sombra.

Como era fraca, não foi o suficiente para matá-lo, mas ele não pôde produzir nenhum som. Talvez tenha esmagado sua traqueia.

Por mais que não tenha encostado nele, eu era a única pessoa ali, e portanto a única a culpar pelo dano que havia recebido. Assim, mal me levantei e levei outro soco. Dessa vez não caí, apenas me curvei para a frente. Meus órgãos internos pareciam ter sido transformados em mingau, mas a dor era suportável. Não houve um terceiro; consegui desviar, e retaliei com um chute. Ele era forte; eu, magra e uma cabeça mais baixa. Mas a lua estava no céu, e o sol não. De noite, nós somos todos demônios que nem ele. De noite, somos fortes. Por isso, ele foi jogado uns bons metros pra trás, de encontro a uma cômoda.

Aproveitando o momento de guarda baixa, fui até o interruptor na parede e liguei a luz. Sombras, em todos os cantos. Sombras e mais sombras. Dei um passo à frente, em direção ao alvo, mas não foi para ele que olhei, e sim para seu gêmeo negro no chão. Curiosidade: é bem mais fácil arrancar a cabeça de uma sombra do que de uma pessoa. Minhas mãos verdadeiras não se mexeram, mas as da minha sombra sim . Um instante depois, a cabeça verdadeira do alvo descansava no chão, ao lado do corpo - até sua sombra aumentar e engoli-la. Eu ia levar aquela cabeça para o CEO, mas sair carregando ela por aí não era uma boa ideia.

Saindo do quarto, tranquei a porta e corri até o primeiro andar, quebrando uma janela e soando o alarme de segurança. É uma pena. Mas você devia me perdoar. Me encaminhei para a empresa, rapidamente. Veja, sou apenas o revólver... Você devia culpar quem puxa o gatilho.



. . .



Uma sombra sobre a mesa do CEO abriu-se e cuspiu a cabeça. Catei um marcador preto em uma das gavetas, escrevendo uma curta mensagem na testa do boxeador: “me diverti”. Ele a veria, quando voltasse de onde quer que estivesse.

No corredor, esbarrei com Dan, que vinha na direção do escritório também.

– Oi.

– Oi.

– Como foi?

– Horrível - ele encolheu os ombros, a testa holográfica vincada - Você?

– Ele tinha dois filhos menores de idade.

– Caramba - ele deu um passo à frente. - Quer ir dar uma volta?

– O telhado - completei. Ele se virou em direção à escada, e eu o segui. Mas não chegamos a subi-la. Por que, descendo na nossa direção, com algo não identificado coberto por um pano preto nas mãos, havia um garoto.

Eu tinha certeza de que nunca o tinha visto antes; não se esquece desse tipo de pessoa. O garoto devia ter a nossa idade, talvez um pouco menos. Seus cabelos eram loiros e compridos - não tanto quanto os de Ayram, mas compridos. Seu olho direito era azul, o esquerdo verde. E seu braço direito…

Como descrever? Para começar, era muito maior que um braço normal. Se largado ao lado do corpo, provavelmente chegaria até um pouco depois do joelho. Começando no cotovelo, as proporções eram enormes. Os dedos terminavam em pontas afiadas de aparência mortal, e o braço não era coberto por pele humana normal - misturava vários tons de cores escuras, e se eu tivesse que adivinhar diria que a textura deveria se assemelhar bastante com casca de árvore. Em contraste, ele usava roupas coloridas e confortáveis.

– ...deixei cair. Estávamos brincando, e… sujou bastante. Mas vou limpar… vou limpar direitinho - ele segurava o embrulho com ambas as mãos. Será que… Não pode ser. Ele pareceu finalmente nos notar, levantando o olhar e as sobrancelhas. O garoto sorriu. - Ahh… Olá!

– ...olá. Quem é você? - Dan respondeu por nós dois. Encarar é feio, Alexia.

– Meu nome é Ryan. Eu sou… do que me chamam mesmo? Guarda? Alguma coisa assim. Guardião, eu diria - ele semicerrou os olhos para minha cabeça holográfica. - De onde conheço você, moça?

– Não conhece. Você é um guardião? Guardião de uma cabeça?

– É isso mesmo - ele riu, jogando o embrulho de uma mão para a outra - Você é esperta, moça. Tenho certeza que já te vi em algum lugar… Uma parte de você, talvez?

A minha cabeça? Ah, sim. Faz sentido ele conhecer os outros guardiões.

– Minha cabeça? Onde você a viu? - por mais sinistra que aquela pessoa fosse, não podia deixar de pensar o quão feliz ela parecia. Conte-nos o truque, Ryan. Como ser feliz em um lugar desses?

– Os gêmeos. Os gêmeos têm a sua cabeça - o canto da boca dele se retorceu de leve - Eles não são muito legais. Você vai procurá-los, não vai?

– Eu vou? Por que diz isso? - Dan, ao meu lado, segurou meu braço. Ele devia estar pensando o mesmo que eu.

– Para quebrar a maldição. Não é? Vocês devem querer quebrá-la. E para fazer isso vocês precisam pegar as cabeças de nós - Ryan riu de novo, quase que para si mesmo, e continuou a descer as escadas, para o andar de baixo agora - Seis jovens, seis guardiães. Seis cabeças. Seis, seis, seis. Tenho que limpar a minha. Deixei ela cair. Foi bom conhecer vocês, Alexia e Hadrian…! Até algum outro dia.


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Notas finais do capítulo

(Desenho bunitinho do Ryan ali em cima :3)

— Babydoll

Art by Hiku



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