The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Nossa, que demora que eu tive pra atualizar essa fic! Mil perdões! É que está tudo tão acelerado que to ficando meio perdida mesmo anotando na minha agenda o que preciso fazer. Desde que comecei a escrever a fanfic (isso há anos) estou concluindo que os meses tem passado rápido demais.
Enfim, realmente me desculpo pela demora mas tenho estado bem focada em projetos de cosplay, ensaios e recentemente na minha fanfic de Pokémon (se você ainda não viu, recomendo :) dentre outras coisas. E esse capítulo me foi realmente complicado de fazer porque eu sabia que precisava colocar mais um flash-back do passado punk do Cruello, principalmente por conta de Alfred e Scarlet, bem como explicar um pouco sobre a transição de Devs para Cruello. Ok, confesso que queria colocar mais uma vez o Devs em cena, algo do qual me arrependo profundamente de não ter podido ter trabalhado mais (as ideias vieram só depois rs).
Mas enfim, chega de papo porque demorei demais pra entregar esse cappie né? Então boa leitura!



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~*~

Londres – 10 anos atrás

   O Lock Tavern era um conhecido Pub localizado em Camdem Town, o mais conhecido e popular bairro ligado á cenas alternativas de Londres. A fachada preta do local naqueles vindouros anos 90 era um verdadeiro ponto de referência e logo na entrada era possível se deparar com jovens metidos em trajes de couro, rasgados e repletos de acessórios, bem como seus cabelos tingidos das mais variadas cores. Ainda que de dia fosse frequentado por grande parte de turistas, tanto de outras cidades quanto de outros países, á noite o local fervilhava de gente de todas as tribos, ainda mais no sábado.

  O  interior do pub possuía uma iluminação lúgubre, um ambiente diferenciado e ao mesmo tempo aconchegante. As mesas no local estavam todas praticamente ocupadas com grupos de jovens que conversavam, bebiam e comiam. Uma fumaça pairava no local, proveniente em boa parte dos cigarros que muitos ali fumavam e um ou outro narguilé compartilhado nas mesas mais ao canto.  No fundo de frente para a entrada, ficava o balcão do bar, com uma parede  com prateleiras repleta de variados tipos de bebidas.
  Das caixas de som vinha um rock clássico e viciante cujos acordes e arranjos de guitarra e bateria rivalizavam com as conversas e risadas altas.

     Devs olhou rapidamente o local, encontrando facilmente, em uma mesa no canto, quem procurava: uma jovem gótica gordinha e um rapaz magro de cabelos compridos até o meio das costas. Foi até eles, sentando-se no banco acolchoado.

— Finalmente chegou. – falou a garota. –  Já pedi o lanche  que você gosta.
— Valeu, Scarlet. – ele suspirou. – O que você está bebendo?
— Hum? – o rapaz de cabelos compridos ergueu os olhos, ainda sorvendo a bebida do copo com um canudinho. – Milk-shake de chocolate com canela.
— Você não está bebendo álcool, Alfred?
— Eu preciso nutrir meu corpo com vitaminas e gorduras antes de beber. Sou um bebedor consciente!
— Não foi isso que eu vi no rolê de sábado passado.

  Alfred tirou a boca do canudinho – era possível notar um pouco de milk shake na grande barba que ele tinha – e encarou a garota.
— Eu não estava inteiramente bêbado no sábado passado.
— Estava sim.
— Não estava! Eu me lembro de tudo que fiz!
— Então você lembra que deu uns pega ousados na Debri?
— Eu não fiquei com aquela baranga!
— Ficou sim!
— Não fiquei!

    Uma atendente se aproximou da mesa, colocando a porão de batatas fritas e os lanches pedidos. Ao ver Devs, ela o analisou de forma interessada mas ele pareceu sequer notar.
— Gostaria de alguma bebida?
— ...whisky. – ele falou. – Pra começar.
    A atendente anotou o pedido mais devagar do que deveria mas vendo que ele não pediria mais nada, se afastou.
—  Ei, cê tá legal? – perguntou Scarlet pegando uma batata frita da porção.
— Sim...por quê?
— A garçonete estava te secando com os olhos e você nem aí! Você é o punk pegador do rolê, não ia deixar essa chance passar batido! – falou Scarlet.- Se você perguntasse o que tinha para comer, ela diria que poderia comer ela!
— Hã, sei lá, nem notei...
  Scarlet o estudou, desconfiada.
— Não me diga que você ainda está balançado por aquela caipira com tranças de ordenhadora de vacas?! Faça-me o favor, Devs!Se a galera do rolê descobre que o moicano-passa-rodo está enrabichado por uma suburbana desconhecida, geral vai te zoar e as suas ex-peguetes vão fazer magia negra pra você broxar!
— O...o que está falando?!  N-não é nada disso!
— ....sei...
— Eu fiquei mesmo com a Debri?

    Alfred perguntou, após um momento de reflexão e Scarlet apenas o encarou daquele jeito sério de alguém que sabe das coisas. Alfred balançou a cabeça, afastou a taça de milk-shake, pegou a garrafa de cerveja e virou um grande gole direto do gargalo.

— Bom... se não é o caso da caipira... – continuou Scarlet. – O que é? Sua tia piorou de saúde?
— ...Que nada!  Acreditam que ela fez o mordomo ligar para mim e depois mandar mensagem dizendo que ela havia falecido? Fui desesperado pra mansão e quando abri a porta, por pouco a xícara não atinge minha cara...xícara com chá quente! Ela fez tudo isso só para ficar me passando sermão e dizendo que agora sou obrigado a começar a cuidar dos negócios da família! E isso inclui aquela droga da Devil’s!
— Esse tipo de coisa não tem nada á ver com você.
— Ah, não diga! Eu por conta própria não tinha percebido! – resmungou Devs diante do comentário de Scarlet. – Mas agora já estou matriculado em não sei quantos cursos, aí essa semana já me arrastou para conhecer a empresa, me passou trocentas coisas que devo estudar, devo conhecer, devo começar a praticar...ELA ME FEZ TER UMA AGENDA!

    Ele tirou do bolso da jaqueta de couro uma pequena agenda e jogou na mesa. Scarlet a pegou, notando que todas as folhas, datando da semana passada até o final do mês já estavam inteiramente preenchidas, com horários em que cada coisa deveria ser feita.
— Vê se tem cabimento esse tipo de coisa! Eu não quero saber dessa porcaria de empresa, porcaria de responsabilidades! Virar um capitalista afetado não é algo que eu quero pra essa droga da minha vida!

     A garçonete voltou á mesa, entregando o copo de uísque e lançando um olhar convidativo para Devs que, por hábito, retribuiu o gesto. Mas ele logo voltou a atenção para Scarlet, que folheava a agenda.

— Veja se tem cabimento esse tipo de coisa! Eu não quero saber dessa porcaria de empresa, porcaria de responsabilidades! Virar um capitalista afetado não é algo que eu quero pra essa droga da minha vida!
— Para mim ela quer jogar todo o serviço pesado em você.  Olha isso? Para quê aulas de árabe? E essas faculdades...Devs, você tem noção que nossos rolês já eram? - Scarlet pareceu preocupada.
— Lógico que sei que já eram! Mas eu não posso contrariar ela! - ele deu um gole no uísque. - Sou o único da família que restou pra herdar tudo aquilo...não dá pra perder o patrimônio Devil conquistado por séculos.
— ...você está começando a falar como um Devil já...- murmurou Alfred.
— Mas se não é algo que você quer, diga isso para sua tia.
— E acha que ela se importa? Nada! Tudo isso tá me deixando puto! - o rapaz passou a mão no rosto.- O cronograma que ela criou nem começou e já estou desesperado porque não tem como eu aprender tudo isso! Por que diabos eu tive de nascer um Devil?! - ele bateu na mesa.
— Calma... - falou Scarlet. - Aqui, pegue um cigarro.
— Até chegar aqui eu já fumei um maço e não me acalmei! Preciso meter porrada!

    Houve um tempo de silêncio, enquanto os lanches eram entregues e os três se serviram, isso sem antes cada um pedir mais uma garrafa de cerveja.
— Hoje tem show de bandas punk lá no Devil’s Nest...
— Ah, não! – ralhou Scarlet diante do comentário de Alfred. – Aquele lugar é lá nos confins de Whitechapel, não tem boa estrutura. A bebida é vagabunda e embora tenha uma galera legal, a maioria é um bando de maluco que só vai lá para fazer confusão!


~*~


— Eu não sei por que diabos acabei vindo...
      Scarlet estava parada próximo ás escadas, os braços cruzados sobre o peito.  O Devil’s Nest era uma casa de shows underground, localizada na parte mais afastada de Whitechapel, afastado do comercial principal, o que permitia que a música tocasse alta. A casa de show fora feita em um antigo galpão que no passado fora usado para guardar diversos tipos de carga. A aparência decadente do local lhe davam um toque único sendo um dos lugares preferidos de jovens que apreciavam  os estilos punk, ska e oi!  bem ao estilo dos locais de encontro das tribos por volta dos anos 70/80.

     Naquela noite o local estava mais cheio o que o normal, devido a presença de algumas bandas que iriam tocar no palco montado ao final do galpão. O bar estava lucrando com o tanto de garrafas e doses de bebida que eram vendidas, não dando um minuto de descanso para os atendentes. O som de guitarras e bateria aliado aos vocais agressivos de letras com viés social e político da banda que subira agora no palco, preenchia o lugar e a área principal ficara repleta de jovens de jaqueta, roupas de couro, cabelos dos mais variados formatos e cores que pulavam, cantavam, gritavam e dançavam.

    Devs se afastara para cumprimentar alguns amigos da gangue da Zona Leste que estavam em uma parede do canto bebendo á vontade, de modo que Alfred e Scarlet subiram as escadas que levavam ao segundo andar do local (isso depois de Alfred comprar uma garrafa de cerveja no bar). Era um corredor largo que circundava todo o galpão, de modo que, quem estivesse lá em cima, pudesse ver tudo o que ocorria embaixo, além de uma visão “privilegiada” do palco. Havia grades onde se poderia ficar debruçado mas não era muito confiável: aquilo estava enferrujado há algum tempo e ainda que muitos ficassem escorados ali não era algo que ela se arriscava.

     Trincou quando percebeu que esse andar havia se tornado o lugar onde os casais podiam ficar um pouco mais, digamos, confortáveis. Uma rápida olhada e Scarlet pôde ver um casal se trocando amassos nos sofás velhos colocados ali.

— Caramba, daqui á pouco vira um pornô ao vivaço!
— Era quase assim que você estava com a Debri sábado passado...
— Me poupe dos detalhes. Se minha mente fez o favor de me fazer esquecer isso, é porque eu não devo me lembrar!
— Bom. Pela expressão dela, acho que vai querer repetir....

     O comentário  maldoso de Scarlet fez Alfred olhar na direção que a outra indicava e, entre o amontoado de casais aos beijos e amassos, ele visualizou Debri, que sorria e lhe acenava empolgada.
— Eu...eu preciso ir ao banheiro!

     Alfred se afastou antes que Debri pudesse se aproximar e Scarlet só o viu descer a escada em meio há “ desculpa, desculpa licencinha, preciso passar, dá uma licencinha”  se misturar ás pessoas na pista de dança, os longos cabelos esvoaçando atrás de si.
     Scarlet abriu sua garrafinha de água mineral e deu um gole, notando um casal escorado na parede, no qual a garota estava com as pernas enlaçadas na cintura do rapaz.  Scarlet começou a assistir aquilo. Estava horrorizada, mas curiosa.
    Uma popular banda de Punk Oi! subiu no palco improvisado e nos primeiros acordes. Uma boa parte da galera punk e skin se encaminhou pra pista, prontos para “pogar”.  Devs foi para o meio da pista e logo reconheceu a música: Evil Conduct.
   Ah, parecia proposital.

     Devs fechou os olhos por um momento, sentindo a música, sua letra, seus acordes. Toda a raiva que guardava dentro de si parecia gritar para sair. Como gostava daquele ambiente, daquela vida...mas iria acabar e aquela era a última vez que poderia viver aquilo.
     Essa certeza o fez abrir os olhos. As luzes, a fumaça, os gritos no vocal o acorde da guitarra, as batidas na bateria, a agitação das pessoas á sua volta...uma última vez.

     Um rapaz trombou-se com ele,  bêbado com uma latinha de cerveja em mãos. Pelo visto os amigos estavam brincando de empurra-empurra. Devs encarou o rapaz, que o encarou de volta, a visão turva e fixa no moicano preto e branco. O garoto, apesar dos sentidos afetados pelo álcool, reconheceu Devs e arregalou os olhos tencionando falar alguma coisa. Mas foi impedido pelo violento soco que Devs lhe desferiu no rosto.

— MAS QUE PORRA É ESSA?!
  Alguns amigos do rapaz atingido se aproximaram.
— Que é?! Vai querer levar também?!
— Vou te fazer abaixar essa crista bicolor, sua cacatua!
— Cai pra dentro seu fogueira ressecada!

     Devs e o punk de moicano vermelho começaram a se atracar, praticamente pisoteando o garoto atingido. Socos e chutes começaram a ser trocados e, como o local estava cheio e apertado, outras pessoas começaram a ser empurradas ou atingidas.
    O caos estava formado. As pessoas na pista de dança começaram a brigar. Boa parte das garotas e alguns rapazes se afastaram, mas a maioria comprou aquela confusão com disposição e vontade. A música continuava tocando em meio aquela confusão cuja pouca luz deixava em dúvida se a maioria das pessoas estavam brigando ou dançando. Mas isso pouco importava: era comum confusões desse tipo acontecerem então estava tudo bem. Começava com empurrões entre amigos que se transformavam em empurrões violentos e socos com chutes entre conhecidos e desconhecidos.

     A pancadaria se seguia intensa. Á cada golpe Devs colocava toda sua raiva acerca de algo específico então, quanto mais os outros rapazes vinham pra cima dele, mais ele mentalmente agradecia. O soco de direita desferido enquanto pensava na responsabilidade que Cruella Devil lhe obrigara a ter agora; o chute de esquerda por causa da forma rude que Cruella sempre o tratava; o tapa foi dado com a força que a raiva por ter sido sempre chamado e tratado feito um estorvo para a vida de Cruella; a cotovelada na boca alheia foi por causa do que acontecera a seus pais; o chute de direita foi por ter que ocupar todo seu tempo com estudos de coisas que detestava a partir de agora; o tabefe foi pensando que não poderia mais frequentar os rolês; o empurrão foi pensando em todas as vezes que Cruella o chamara de inútil e agora o queria á frente da empresa mesmo continuando a xingá-lo;  o soco de esquerda foi pelo fato daquela caipira não ter lhe ligado mesmo depois da química que haviam tido juntos; a joelhada foi por Cruella obrigá-lo a se tornar o que não queria ser; o safanão foi porque não via mais como poderia escapar do que estava fadado a se tornar; o pontapé foi pensando nos desafetos que sempre tentaram queimá-lo no rolê; a voadora foi por conta da maldita vida destinada que tinha pela frente.

     Embora Devs fosse bom de briga no mano á mano (graças aos rolês com a galera da Zona Leste londrina), ele não estava incólume de apanhar. Entre agressões desferidas, eram também as agressões recebidas das mais diversas direções. Sentiu o gosto de sangue em sua boca após a dor aguda em seu queijo devido ao soco que levara. Ao notar o sangue, Devs encarou seu alvo,  partiu pra cima e ambos rolaram pelo chão.

~*~


— Alfred, onde você está?!
     Scarlet entrara no precário banheiro masculino de forma abrupta, surpreendendo os dois rapazes no mictório e um outro que se escondera da confusão.
— ...sabe que você não...
— Cadê o cabeludo? Eu sei que ele entrou aqui!
  A porta de uma das casinhas foi aberta e surgiu Alfred.
— A Debri já foi embora?
— Não sei dela!  E isso não importa! Vamos, você precisa sair daqui e ir ajudar o Devs!
— O que aconteceu?
— Deu ataque de porra louca nele e ele tá descendo a porrada em geral, apanhando de geral e agora tá uma confusão lá na pista, pessoal tá ficando descontrolado!

      Alfred saiu apressado do banheiro, seguido por Scarlet. E em questão de segundos ela constatou que a briga aumentara de proporções ao ponto que até um dos integrantes da banda saltara para o meio da confusão. A música ao vivo foi substituída por música vindo da cabine do DJ, e agora parecia que poucos eram os que não entraram na confusão. Uma olhada mais treinada era possível perceber que boa parte das pessoas estavam brincando de brigar ali na pista mas onde Devs estava a pancadaria rolava solta. E não demorou muitos segundos para ela ver a cabeleira esvoaçante de Alfred por entre a muvuca e ele, sem sequer perguntar o que estava acontecendo, já chegou na voadora para ajudar o amigo a nocautear um punk sem camisa.

— AGORA TÃO PEDINDO PRA MORRER!
— PODE VIR QUE A GENTE MANDA VOCÊS PRO CU DA MÃE!
  Uma grande horda veio do lado esquerdo mas Devs e Alfred contaram com o apoio da galera do grupo da Zona Leste que veio do lado direito.
— Minha nossa, cuidado!

      Scarlet gritara, mas obviamente não fora ouvida. Ela viu o momento que Devs mandara um certeiro soco de esquerda contra um careca de barba. Ao perceber quem atingira, ele arregalou os olhos e mesmo sendo alto precisou erguer o rosto para encarar o imenso e musculoso skinhead que o encarava, os grandes punhos fechados.
— Finalmente vou depenar essa cacatua.

      Devs afastou alguns passos, mas com a confusão foi empurrado pra frente, sendo agarrado pela gola da jaqueta. Meteu um chute no joelho do homem e tentou se desvencilhar mas o careca lhe agarrou pelo moicano  e Devs notou o soco inglês na mão direta do homem.

“ Pode se meter em brigas e batalhas braçais mas se tiver beleza, nunca deixe que atinjam seu rosto!”

— PÉRA! PÉRA! – berrou ele se lembrando das palavras de Cruella. -  Na cara, não! NA CARA NÃO!
— Na cara de rostinho de boneco Ken, sim! Pode se preparar pra achar um cirurgião plástico, punkzinho riquinho de merda!

      Devs fechou os olhos se preparando para o golpe, mas só sentiu um tranco e a força que segurava seus cabelos afrouxou. Abriu os olhos e viu o skinhead tentando agarrar a garota que trepara nas costas dele arranhando e mordendo sua careca.
— SCARLET!!!
— Não fica aí parado, caramba!

     Ela havia gritado no momento que parara de morder a cabeça do homem e Devs rapidamente meteu um pontapé nas genitais do careca, fazendo-o perder o equilíbrio e se agachar.
  O som de sirenes de polícia ecoou do lado de fora e boa parte dos presentes cessaram a confusão, trocando olhares entre si.

— Eu tô sem alvará aqui!!!! – gritou o que parecia o dono do evento, subindo ao palco. – SAI TODO MUNDO!

     Com rapidez todos começaram a correr em todas as direções, esquecendo as brigas. Devs e Scarlet estavam saindo quando se lembraram de Alfred e precisaram voltar tirando-o á força de cima do cara que ele batia ferozmente, o cabelo no rosto lhe impossibilitando a visão. Os três saíram apressados do local, empurrando quem estivesse pela frente e mesmo quando já estavam do lado de fora, não pararam de correr pelas ruas antigas e estreitas do bairro de Whitechapel até que o som da algazarra e sirenes ficasse distante. Pararam ao virarem em uma curva, escorando-se no muro a fim de recuperar o fôlego.

— Onde...já...se viu... – arfou Scarlet. – Nos metermos nesse...tipo....de selvageria!
— Foi só uma briguinha para aliviar  stress...
— Briguinha? Geral ali estava descendo para o  nível mais primitivo do ser humano mas vocês dois estavam se superando! Pareciam animais!
— Olha quem fala... – resmungou Alfred. – Não fomos nós que pulamos em cima do careca e ficamos mordendo a cabeça dele!
— Isso não vem ao caso! Eu precisei agir para poder proteger essa pessoa!
— ...eu tinha tudo sob controle. – falou Devs acendendo um cigarro.
— Ah nossa, muito controle! Já estava todo surrado por ter batido em geral e apanhado de vários também e o cara te pegou por essa crista e ia deixar seu rosto pior do que daquelas socialites velhas repletas de enxerto plástico!  
—  Isso é verdade... – murmurou Alfred. – Devs, eu sei que você curte meter umas porradas mas você sempre planeja com a galera do rolê, não sai metendo o louco do nada. – ele arregalou subitamente os olhos ao pensar em algo e segurou o outro pelos ombros. -  Você tá usando drogas, maluco?! Tá usando, é isso?! Cara sabe que isso é roubada, eu entendo a pressão mas se entrar nisso vai se afundar cada vez mais a ponto de usar agulha compartilhada!

— Eu não estou usando nada! – Devs se desvencilhou. – Eu só quis sei lá, deu vontade de descarregar a raiva, cacete! Eu já fiz isso várias vezes!
— ...é, a gente sabe o quanto pavio curto você é, parece até TPM porque rola todo mês...
— Se estão se incomodando tanto com as coisas que preciso e quero fazer, então é só me deixarem! Todos me deixam, eu já estou até acostumado! Afinal, sei bem o quão insuportável eu posso ser!
— Ei, ei! Abaixa o piti, ae! – ralhou Scarlet. – Nós entramos na confusão por sua causa sim mas porque somos seus amigos!
— E amigo que é amigo não chega pra separar a briga, já chega metendo a voadora! É a nossa conduta, e o nosso trato de amizade!

      Devs encarou os dois, fracamente iluminados pela luz amarelada de um poste antigo. Uma fina garoa começou a cair, sempre tão típico de Londres. Ele passou a mão pelo moicano agora desfeito, sentindo as gotas de chuva no rosto. A raiva havia diminuído exponencialmente e agra a dor dos golpes que levara começavam a surgir.
  Mas, por incrível que pareça, se sentia melhor do que antes.

— ...valeu pela ajuda.
  Ficaram em silêncio e então Devs começou a rir e não demorou para que Alfred e Scarlet o acompanhassem. Por mais absurdo que tivesse sido tudo aquilo, ainda assim fora divertido.

~*~

Duas semanas depois


— Mas que demora! O Devs tem que aprender a não se atrasar tanto, cacete! – resmungou Alfred.
— Desde que começou a ser adestrado pela Cruella, ele tá quase incomunicável. Acredita que não consegui falar no telefone com ele nenhum dia dessa semana? – ela puxou o cabelo do amigo. – Ô, seus pais trabalham naquela mansão, pega informação! Vai que o Devs está sendo sodomizado pela tia, ou recebendo umas sovas toda vez que não faz algo do jeito que ela manda.
— Meus pais levam a fidelidade á família Devil de forma séria e tradicional. Não consigo arrancar nada deles.
— Então vá até lá! Como você é filho dos empregados, pode entrar lá sem ser detido e coisa do tipo. Banque o investigador!
— Eu que não vou pra lá! Meus pais vivem implicando com meu cabelo, minha barba, minhas roupas pretas desbotadas...tô fora!
— Seu inútil! Sua convivência com aquele estrume escocês está te deixando anarquista demais!
— Você e o Meri brigaram de novo? Vão acabar casando assim...
— Ele é um idiota que só pensa nas ideias de peregrinações existencialistas dele! – vociferou a garota, os olhos faiscando por trás dos óculos redondinhos. - Pra mim já chega e eu não quero falar sobre esse assunto! E onde está aquele anarquista capitalista?! Eu estou começando a ficar com frio!
— Sabe que  o termo anarquista capitalista não faz sentido algum, né? Na verdade é bem contraditório.
— Vindo do Devs tudo é possível! Veja bem...ele compartilha de opiniões sociais e políticas totalmente liberais, mas vem de uma tradicional família capitalista com descendência nobre. Cruella pode ser um ícone da moda mas ao mesmo tempo é uma pessoa que goza de péssima reputação. Já o Devs é um péssimo exemplo a ser seguido mas possui ótima reputação entre a galera do rolê. Cruella Devil vive comendo comidas frescas e finas nos restaurantes mais caros da cidade enquanto Devs Devil vive á base de hot-dog da esquina e lanche de boteco!

  Scarlet falava rápido e não notou quando alguém se aproximou.
— Definitivamente, o Devs não vai se render ás tentações do capitalismo e do ego inflado que a família dele tanto consome e enaltece!
— Foi mal o atraso.
— Ah agora você vem querendo pedir desculpas por ter deixado a gente mais de meia hora parados feito poste aqui e... O QUE RAIOS ACONTECEU COM SEU MOICANO?!

      Scarlet e Alfred mantiveram a expressão de espanto igual ao quadro O Grito de Munch. Em Devs, não havia mais qualquer resquício do seu enorme moicano mesclado. Ele mantinha os cabelos curtos, cuidadosamente pintados: preto de um lado, branco do outro. A aparência agressiva que o moicano lhe dava, foi substituída por uma aparência refinada e fria.

— Quem fez isso com você? - Scarlet tencionou tocar o cabelo do rapaz, quando Devs  se afastou.
— Cruella Devil. Mudanças...foram necessárias. E não quero falar sobre isso.
— Mas ela te tosou! – falou Alfred. – Seu moicano era um símbolo no role, um status quo, uma marca registrada sua, um ponto de referência no meio da pista...
— Isso que você está vestindo é roupa de alta alfaiataria?! – Scarlet cortou a fala de Alfred e  abriu a jaqueta que Devs usava. – Essa jaqueta é de peles e...você tá usando mocassins? E os coturnos com chapa de ferro?!
— E é por isso que marquei de encontrar vocês hoje. Eu agora irei me tornar um legítimo Devil.
— ....você era um bastardo e vai ser legitimado?
— Não! – ralhou Devs ante a pergunta de Alfred. – Estou dizendo que a partir de agora estou oficialmente me submetendo ás ordens da minha tia e me preparando para ser o herdeiro que a Devil’s precisa.
   Alfred e Scarlet trocaram olhares entre si.

— Isso não tem nenhum sentido! Ainda que ela tenha depenado seu cabelo, nunca que você vai conseguir se tornar um estilista-empresário altamente afetado e de sexualidade duvidosa como provavelmente sua tia quer que você seja!
— Não adianta tentar explicar isso pra ela, estamos falando de Cruella Devil!
— Mas Devs não tem sentido algum você ter que mudar radicalmente sua vida assim! Tipo, você tem pensamentos e ideais totalmente opostos aos que sua tia prega!
— Isso pode ser mudado.
— Até parece que você vai ter capacidade de fazer sua tia mudar de opinião em qualquer coisa! E você também não vai aceitar as coisas que ela fala! Sempre nos contou que desde que foi morar com ela era insuportável ao ponto dela te fazer ir morar sozinho assim que teve a oportunidade!
— Eu já decidi que vou mudar! Agora não tem mais volta!
— Sempre tem uma outra alternativa! Só não pode decidir mudar sua vida para algo que você não quer, Devs!
— ...e se eu quiser mudar e me tornar uma pessoa diferente? Não posso ficar levando essa vida de rolê pra sempre.
— Desde quando tu desenvolveu essa consciência de futuro? – Alfred arqueou uma sobrancelha. – Você sempre defendeu a ideologia do “viva  o hoje, foda-se o amanhã.”

— Vai se tornar um empresário afetado repleto de trejeitos, altamente consumista, só se importando com aparência e lucros, convivendo com gente rica e falsa se corrompendo ao ponto de se tornar igual á eles e ainda por cima adquirir o narcisismo tradicional da família Devil e que você sempre disse que repudia?
— Eu vou aceitar e mudar.
— Vai deixar de ser o que você é? E sua intenção de estudar desenho e trabalhar com arte em projetos alternativos? Não pode arriscar tornar sua vida infeliz por ordem de outra pessoa!
— ELA ESTÁ MORRENDO!

   Scarlet e Alfred se calaram ao ouvir a confissão. Pela primeira vez notaram em Devs um semblante não apenas de raiva, mas de dor, como se ele próprio tivesse que aceitar um fardo. Devs apoiou-se na mureta da pequena ponte, olhando para a rodovia que se estendia á frente, os carros a passarem com as luzes coloridas dos faróis na noite fria. Após alguns minutos de silêncio, eles se aproximaram do rapaz, ficando um de cada lado. Devs esfregou os olhos e voltou a olhar para a rodovia.

— ...os boatos eram verdade, então?
— ...mas ela tem condições financeiras de pagar um tratamento. – falou Alfred. – Por mais caros que sejam.
— Só serviriam para prolongar. O câncer está em estado avançado, não há nada a ser feito. Eu falei com o médico particular dela. Minha tia sabe da condição em que está, sabe também que nenhum tratamento iria adiantar. Ela apenas está vivendo sem se deixar abater. Mas... – ele umedeceu os lábios. – Ela está me forçando, me obrigando e me impondo para que eu cumpra com o que ela espera que eu faça.
   “ Pelo menos alguma coisa para ela me enxergar, eu tenho de fazer.”

— Entendem agora? – Devs continuou. – Eu não posso abrir mão das responsabilidades e de todo o patrimônio da família. Mesmo não querendo, preciso aceitar, me adaptar e fazer o melhor.
— ...mas...
— Eu já tomei minha decisão e não vou voltar atrás. – ele apontou para a própria cabeça. – Esse cabelo, ainda que tenha sido moldado contra minha vontade, é agra a prova do que devo ser. O sangue da família Devil está em mim não tem como negar isso.

    Scarlet respirou profundamente.
— Isso significa que nossos rolêss já eram.
— Os meus já eram. Vocês continuam.
— Rolê sem você não é a mesma coisa! Eu e a Scarlet fomos pro rolê semana passada e cara, foi um tédio! Eu quase dormi  e  olha que as músicas tavam boas, a galera tava por lá e tinha umas moças bonitas...
— Geral perguntou de você e eu não sabia o que responder, disse que você tinha ido pra não sei onde, fazer não sei o quê com não sei quem...
— Bom, vocês podem falar pra galera que eu precisei me afastar por conta de coisas de família e que não vou voltar. Eu não vou aparecer na frente da galera como estou agora e admitindo que vou me tornar um herdeiro capitalista.
— ...você criou uma fama grande no rolê...
— Logo me esquecem.

  Ficaram em silêncio novamente.
— Você vai cortar contato com a gente?
— De minha parte, não. Mas acredito que vocês é que irão cortar contato comigo á medida que eu me tornar alguém insuportável.
— ...você já é insuportável e estamos aqui juntos há anos.
— Eu digo REALMENTE insuportável tipo...a versão masculina da minha tia.
— Duvido que você se tornará alguém esnobe, metido, consumista, fresco, afetado, talentoso e bixa barraqueira feito ela.
 - Não duvide da capacidade de um Devil...péra, você tá dizendo que eu não tenho talento?

   Os três riram. O celular de Devs começou a tocar ele atendeu. Após trocar algumas palavras, desligou e se voltou para os amigos.

— Preciso voltar.
— Pensei que iríamos sair para beber, curtir um pouco sei lá. Antes de você, sabe...entrar de cabeça nessa coisa Devil...
— Infelizmente não vai rolar. – ele indicou uma Mercedes preta que se aproximava. – Meu camburão chegou. – ele apagou o cigarro na mureta. – A gente se fala.

  Após bagunçar de leve o cabelo de cada um, Devs entrou no veiculo, que logo sumiu na curva ao final da rua.
— ...ele...ele foi embora mesmo. – murmurou Alfred. -  O Devs já era.
— Não...não podemos abandoná-lo.
— Mas...
—Alfred...eu e você sempre fomos o resto em qualquer círculo social que tentamos entrar. Desde os tempos do ginásio. O Devs quis ficar com a gente, quis ser nosso amigo. Ele poderia ser amigo de quem ele quisesse e ele de fato faz isso mas...sempre, sempre nos manteve junto dele. Se a gente tem alguma relevância social agora é porque ele nos apoiou!
— Não é só isso. Ele sempre me ajuda quando tô com problemas...
—  A mim também. Se eu me amo um pouco, é por causa do incentivo dele para me auto valorizar. – Scarlet suspirou. – Agora ele precisa da gente e precisamos tomar uma decisão.
— Como assim?

~*~

Uma semana depois


— Não é assim que se costura, seu energúmeno!
  Cruella batera na mão do rapaz com a piteira fazendo-o soltar um gritinho e massagear a área atingida.

— Já expliquei várias vezes como deve ser feito mas você insiste em fazer do outro jeito! Só me falta dizer que tem déficit de atenção ou dificuldade para entender o que é explicado!
—...vocêquenãosabeexplicaredepoisficacolocandoaculpanos outrosquandoeufaçocertovocêtambémacharuimporqueconsiderarivalidade...
— Está resmungando o quê?! Se eu ouvir algum impropério seu, o chicote vai estralar no seu lombo!
— Não pode me agredir desse jeito!
— Vai fazer o quê? Denunciar?! TENTE PARA VER O QUE TE ACONTECE!
   Devs engoliu em seco.

— E então...já pensou em seu nome artístico?
—  No rolê me chamavam de Devs...
— Isso não é uma nomenclatura para um Devil! Poderia combinar na época que você usava aquele moicano gigante e vestes de qualidade duvidosa mas não agora que você está sendo adestrado, digo, doutrinado a se portar e parecer um autêntico Devil, orgulho da família, não pode se relegar a utilizar um nome tão simplório.
— ...ah eu não me preocupo com isso. Por mim, Devs está bom.
— Tem que se preocupar! Seu nome artístico será a forma pela qual você será reconhecido por toda a mídia! É como irá assinar todas as suas criações!  Nome que o imortalizará na Devil’s e na família Devil! Ou quer que a história da moda, a mídia artística  e todos lembrem de você pelo seu nome de batismo?
  Devs trincou, negando com a cabeça.

— Ótimo. Então trate de pensar em um novo nome para você ou eu mesma terei que pensar em um! – ela pegou uma pasta. – Agora vamos revisar os nomes dos tecidos e para quais tipos de trajes eles são mais recomendados...
  O rapaz conteve um resmungo e então ouviu-se batidas na porta.

— Mas quem se atreve a nos incomodar? Se não for algo realmente importante, vai ouvir umas verdades porque vou falar tudo feito uma metralhadora!
  Cruella abriu a porta com violência, se deparando cm dois jovens assustados. Ela os mediu de cima á baixo com nojo e então se afastou.

— Tinha que ser! Tinha que ser essas amebas! Trate de se livrar deles!
  Devs olhou em direção á porta, se deparando com Alfred e Scarlet.
—  O que vocês estão fazendo aqui?!
— Nós...
— Vieram atrapalhar! – interveio Cruella. – Meu sobrinho está muito ocupado e está em processo de desintoxicação de estilos juvenis rebeldes, então podem sair daqui!

  Ela tencionou fechar a porta, mas Scarlet empurrou Alfred para que ele usasse o corpo para impedir.
— Como ousam?!
— Queremos conversar! Tomamos uma decisão!
— E eu lá quero saber o que vocês decidiram de suas vidas mundanas?!  Xispem da minha casa!
— Ora sua...
— ...espera, tia! – Devs se aproximou tentando apaziguar antes que Scarlet falasse algo que não devia. – Eles são meus amigos.
— Besteira! São um bando de interesseiros! Um Devil não pode acreditar em amizades! Eu não  vou perder meu precioso tempo com essa ralézada! Christian, eu vou até o closet pegar algumas coisas e quando eu voltar, espero que já tenha se livrado das visitas indesejadas e voltado ao seu treinamento!

    Ela saiu a passos pesados, praguejando com furor. Quando ela já não podia mais ser ouvida, Devs voltou-se aos amigos.
— Porque vieram até aqui?
— Eu e Alfred conversamos muito essa semana...e chegamos a uma decisão muito importante. Nós ficaremos do seu lado!
— ..o quê?
— Você está passando por um momento de transição muito sério e importante. – explicou Alfred. –E será uma mudança irreversível então...eu e ela decidimos te acompanhar nesse processo.
— Vamos mudar também. Se você pode mudar, nós podemos também!
— Do que vocês estão falando?!
— Não se faça de sonso! É óbvio não é? Vamos te acompanhar nesse calvário junto com você! Se é pravocê mudar, a gente muda também!
— Vocês ficaram loucos?! De onde tiraram isso?! Eu estou sendo escravizado, não deveriam querer isso também! Vão seguir suas vidas, seus planos!
— É esse o nosso plano! Tentar seguir nossas vidas! – Scarlet foi taxativa. – Eu e Alfred não temos nenhum rumo pra seguir, ele muito menos do que eu.
— Ei! Também não é assim...
— Acha que vai viver do quê? Esperar seus pais morrerem pra pegar a economia deles nos anos que trabalharam com os Devil? Do jeito que os Devil são, vão dar um jeito de não sobrar nada pro filho dos empregados! E você não vai querer viver de andarilho pelo mundo como aquele imbecil!
  Alfred suspirou mas não disse nada.

— Precisamos tomar rumos em nossa vida. Fui demitida da loja ....
— Por que ficava comendo biscoitos atrás do balcão?
— NÃO! E fique quieto! – ela deu um peteleco na cabeça de Alfred. – Continuando...infelizmente chegamos em um momento da vida que precisamos nos sustentar e seguir algum caminho...e  o melhor para fazer isso é estarmos juntos. – ela apontou para Devs. – Você tem condições então vamos grudar em você para crescermos juntos e mostrar pra esse bando de adulto entojado que nós não somos escória e que nós podemos PISAR neles!
— Eu nunca vi um discursinho fuleiro tão besta na minha vida.

  Os três pularam de susto ao se depararem com Cruella Devil na porta, os olhos saltados das órbitas.
— Tia...você disse que...voltaria daqui dez minutos...
— Eu volto quando eu quiser! – ela entrou no aposento. – Esqueci de pegar meus cigarros mas fiz bem em esquecer para chegar a tempo de ouvir tamanha imbecilidade dessa bolota de família falida apoiada por esse protótipo humano de esfregão!
— Não...não é imbecilidade...
— NÃO É? – ela caminhou ameaçadora para os dois jovens enquanto Devs se afastava. – Vocês acham MESMO que tem capacidade e condições para se tornarem profissionais do nível que esse  despreparado precisa? – ela apontou para Devs. – Eu poderia dá-lo como caso perdido mas é o que tenho então preciso fazer render! Ele tem sangue Devil nas veias então ainda há salvação! Agora vocês....
— Soms capazes! – falou Alfred reunindo uma coragem para enfrentar a patroa de seus pais. – Viemos aqui dispostos! É!

     Silêncio. Devs balançou a cabeça, triste pelo destino que os amigos estavam querendo se submeter. Cruella Devil encarou os jovens demoradamente e, embora o rosto dela fosse assustador, ambos procuraram sustentar o olhar. Ela então voltou-se para o sobrinho.
— Você acha eles realmente úteis e confiáveis?
— ...sim.

    Cruella caminhou para o centro da sala, dando uma longa tragada na piteira enquanto Devs ia para perto dos amigos.
— Muito bem, seus três patetas! Se é isso que querem, irei submetê-los á mim! Vamos ver por quanto tempo vocês conseguirão suportar e se suportarem....terão de suportar muito mais!

  As últimas palavras formaditas em um rosnado por Cruella, os olhos esbugalhados, quase saindo pelas órbitas e envolta pela fumaça do cigarro que a faziam parecer uma assombração demoníaca.
  Os três jovens tremeram.
  Aquilo não seria bom.

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Notas finais do capítulo

E eu terminei este capítulo aqui. Novamente peço desculpas pela tremenda demora em atualizar a fic, sei que não há justificativas plausíveis para esse atraso mas é que realmente não conseguia engatar nesse capítulo. Foi muito difícil de escrever, pensei que o flash-back seria mais suave mas ele se mostrou um tremendo desafio. Inicialmente tinha ideia de mostrar mais cenas de humor, mas aos poucos o capítulo se tornou mais sério. Acho que no fim isso era inevitável até porque a transição de Devs para Cruello não foi algo que ele recebeu de bom grado.
Procurei fazer o melhor que pude nesse capítulo, mesmo talvez não tendo conseguido...mas quero agradecer imensamente ao apoio de todos. Enfim, espero que continuem acompanhando a fic porque muita coisa vai acontecer!



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