Paixão em um Verão escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 2
01 - Samuel




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O JW Marriott é um hotel lindíssimo, talvez um pouco pomposo demais para mim. Não sei se teria um lugar diferente para estar, Cancún não é uma cidade onde você pode se hospedar em uma cabana na beira da praia para observar o por do sol. A orla é rodeada de hotéis desse porte, imponentes monstros de concreto que abrigam pessoas que gostam de luxo. Tudo bem, eu gosto. Porém o que pretendemos é adquirir perspectiva e, por algum motivo, imaginei que seria possível fazer isso sentando-me no arrebentar das ondas para molhar os pés e observar o horizonte.

Um pouco aborrecida com a pieguice do meu pensamento, opto por manter a carranca habitual quando acordo na manhã seguinte à nossa chegada. Não estar de bom humor é uma constante, consequência de não poder ser quem eu realmente sou e de não fazer aquilo que gosto. Mas o grande motivo da carranca, naquele momento, é o fato de ser acordada pelo celular vibrante. Ninguém me ligaria em Cancún; na verdade ninguém me ligaria onde quer que eu estivesse. Mas lá está o aparelho piscando e vibrando - o número de Ana.

— Você recebeu a mensagem de Ana? — Paula pula da cama agitada. — Ela dizendo que encontrou-se com Samuel Whitlock?

Provavelmente sim, mas eu nem conferi ainda. Pego o celular e encontro a mensagem me informando que Ana viu o Blue Age. Isso acaba por melhorar o meu humor, porque nada parece mais ridículo. Dou uma gargalhada enquanto Paula me observa com os olhos confusos.

— Que jeito patético de nos tirar da cama!

— Pode até ser, mas funcionou. — Paula passa as mãos pelos cabelos. — Tomei um susto tão grande que não vou conseguir voltar a dormir; preciso comer.

Assinto, mesmo de mau humor. Realmente, perder toda a glória dessa manhã ensolarada não parece razoável nem mesmo para mim. Visto um maiô preto com detalhes brancos, coloco meus apetrechos femininos em uma bolsa de palha e, com um chapéu estiloso na cabeça, encaro o lado de fora. Tudo é tão refinado naquele hotel que até o elevador me intimida. Mas passarei vinte dias ali, logo me acostumo.

— Que brincadeira de péssimo gosto, hem? — Reclamo tão logo encontramo-nos com Ana. Ela está fora do restaurante, à beira da piscina. Provavelmente teve uma insolação para inventar aquela história com nossos ídolos. — Acordar a gente falando em Blue Age?

— Acordar foi a brincadeira. — Paula, que vem saltitante atrás de mim, corrige-me. — Falar em Blue Age é sempre adequado a qualquer momento. Mas diga, de onde saiu tanta inspiração matinal?

— Vocês não acreditaram em mim? — Ana fala em baixa voz, olhando para o lado, como se temesse incomodar o sono de alguém. Ela já incomodou o meu, o resto que exploda.

— E era para acreditar? — Faço uma careta, considerando se o caso dela não seria de internação. — Sério, Ana... você não achou que eu ia cair nessa, né?

— Meninas, mas é sério. Os rapazes do Blue Age estão no hotel! Estão vendo aquela mesinha ali? — Ana aponta para o lado. Viramo-nos sem qualquer discrição para olhar o que poderia tê-la feito pensar em Blue Age. — Então, ela está sendo ocupada por Samuel Whitlock.

— E cadê ele? — Paula arregala os olhos e observa nosso entorno. Só há o lindíssimo horizonte azul e nada mais.

— Sei lá, levantou-se e eu não vi para onde ele foi porque vocês chegaram gritando! Mas olha, ele não sabe que sei quem ele é, sim? Por favor, não ajam como fãs!

— Eu nunca ajo como fã. — Movo os ombros sentindo-me ofendida. — Se eu vir Sam na minha frente, eu...

Minha frase é cortada ao meio pela chegada do assunto principal. Assim, sem qualquer tipo de aviso prévio, como se eu não pudesse ter uma convulsão com a sua simples presença, Samuel Whitlock, em carne e osso, materializa-se em nossa frente. Não consigo ver se Paula ainda está viva, espero que sim. Meu coração dispara e posso apostar que minha pressão subiu. Ele não está vestindo quase nada, apenas uma sunga listrada de azul e branco. Peito nu, pés descalços, cabelos molhados; essa é uma visão do que o Paraíso seria se ele existisse. Tudo bem, essa é uma prova de que o Paraíso existe, porque Samuel é tão lindo pessoalmente que não pode ser obra apenas da intervenção humana. Não, esse homem é divino.

— Bom dia. — Sua voz melodiosa se espalha pelo ar. Ele fala com Ana. — São suas amigas?

— Sim, Paula e Elis. Esse é o Samuel, ele também está de férias com os amigos.

— Muito prazer. — Estendo a mão para cumprimentá-lo. Disse que não ajo como fã e preciso confirmar isso mesmo que meu organismo inteiro esteja em festa.

— Vamos mesmo fingir que não o conhecemos? — Paula pergunta, em Português, e Ana faz uma careta de reprovação. — Tudo bem, falo em Inglês. Prazer, sou Paula.

— Vocês vão ficar por aqui mais um tempo? — O espetacular Samuel Whitlock fala. — Quero ir até a piscina do outro lado e fico preocupado em deixar minhas coisas por aí.

— Pode ir, nós tomamos conta para você. — Ana sorri e fico sem saber como ela consegue agir tão naturalmente na presença dele. Porque esse é apenas o objeto de todos os seus desejos vestindo sunga e nada mais. Eu já teria saído gritando.

— Obrigado. Se meu telefone tocar e na tela estiver escrito Paul, podem atender. Quem sabe algumas garotas conseguem animá-lo a descer do quarto!

Samuel afasta-se, deixando-nos a suspirar. É informação demais para minha primeira manhã em um país estrangeiro, não dá para processar encontrar-me com Sam, falar com Sam, receber um aperto de mão de Sam, vê-lo caminhar de costas daquele jeito sensual como nunca vi no palco.

— O que acabou de acontecer aqui? Eu estou sonhando? Ainda estou dormindo? Ou Sam Whitlock acaba de ser absurdamente simpático conosco e ainda por cima me mandou atender as chamadas telefônicas dele?

— Ele foi absurdamente simpático comigo. — Ana dá uma gargalhada - e uma patada para que eu me tocasse da realidade. — Se você quiser, pode atender as chamadas e esperar que Paul seja absurdamente simpático com você.

— Uau, estou chocada. — A voz de Paula treme mesmo enquanto ela tenta parecer intocada pelo momento surreal. — Blue Age em Cancún? No mesmo espaço físico que eu? Mesmo hotel, mesmo metro quadrado? Pior, eu acabo de ver Samuel de sunga e molhado?

— Isso porque você não viu o Dan sem camisa.

— Você viu o Dan sem camisa? — Paula arregala os olhos e repete a frase dita por Ana.

— Eu só não vi o Paul até agora. Mas ouvi o Dan dizer que ele estava trancado no quarto, entediado e precisando de um suporte. Quer se candidatar, Elis? — Ana dá outra gargalhada. Não tem a menor graça esse tipo de brincadeira, não parece razoável brincar quando o assunto é Paul Allen. Esfrego as mãos, ansiosa, e olho ao redor. Mal gastei tempo admirando a belíssima paisagem que nos cerca e meu cérebro já deu curto-circuito.

— Quero ver a cara de Thais quando ficar sabendo disso. — Paula continua bastante agitada. — E agora? O que vamos fazer? Dar uma de fã?

— Nem pensar! — Ana protesta. — Vamos ser naturais, aposto que essa conversa ainda não acabou aqui.

— Vai fingir que não o conhece; que nunca ouviu falar dele? — Essa opção não parece válida. Dar uma de fã nem pensar, mas daí a fingir não conhecê-lo é perigoso. Até porque eu facilmente poderei me trair com algum comentário, sempre falando antes de pensar.

— Vou deixar que ele saiba disso quando isso não for mais um empecilho para nossa aproximação. — Ana está decidida. — Sentem-se e comam, porque precisamos ficar quietinhas aqui até nosso deus Americano retornar para buscar suas coisas.


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