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Estou na calçada da escola observando enquanto minha mãe vira a esquina para voltar para casa, ela não ficou com raiva de mim e não brigou comigo também. E me defendeu o tempo todo.

A reunião com a diretora Marlene durou pouco tempo, isso porque parecia que eu estava sendo julgada em um tribunal mas eu tinha uma ótima advogada.

“Ei.”, Lucas fala se aproximando de mim.

“Oi.”

“Queria muito te pedir desculpa pelas coisas que eu disse antes.”

“Tudo bem”

“Não, sério. Eu não sou assim, você sabe. È que...”, ele olha para baixo. “Difícil admitir isso, acho que eu estava com ciúmes.”

“Eu sei que você não é daquele jeito. Tudo bem.”, falo.

“Você ficou muito nervosa, e parecia com raiva.”, ele fala voltando a olhar para mim.

Paro um pouco para pensar antes de responder.

“Você mentiu, não achei legal.”, digo.

“Eu ainda acho que você é maluca.”, ele fala e ri, eu rio também. “Posso perguntar uma coisa?”

“Claro.”, respondo e percebo Miguel parado na entrada da escola.

Esse é o trabalho dele, penso.

“O que você viu nele? Por que você gosta dele?”, Lucas fala e me encara. “Por que não eu?”, ele da um sorrisinho de lado.

Eu sou uma estrelinha, minha mãe me contou hoje de manhã. E disse a mesma coisa depois da reunião enquanto me dava um beijo na testa: “Você é uma estrelinha, vai ficar tudo bem.” Como ela pode não ter ficado com raiva? Ela fica com raiva por coisas menores e sem importância.

Tento focar nas minhas memórias com Miguel desde o dia em que nos conhecemos, sempre rindo das piadas e histórias que eu contava, nunca me deixando passar despercebida entre as outras pessoas, ele sempre me encontrava no meio de todos e sorria para mim.

Eu não sou a Mia Colucci, eu não ando com uma estrela na testa.

Percebo que também não conseguiria não nota-lo em algum lugar. Impossível.

“Desculpa ter feito essa pergunta, sem necessidade.”, Lucas fala e eu reparo que acabei me esquecendo que ele estava ali.

“Não.”, eu olho para onde Miguel está. “Mas não sei como responder essa pergunta.”

Miguel olha para mim.

Lucas se encosta no muro da escola com as duas mãos para trás. Ele olha para o portão e depois para mim.

“Vocês estão juntos?”, ele pergunta.

Eu observo alguém se aproximar da entrada da escola, é uma garota de cabelos loiros.

“Vamos entrar.”, Lucas fala.

Começo a caminhar ao lado dele até que estamos a poucos passos do portão. A garota é Jeanine, ela está conversando com Miguel.

O que ele conversaria com ela? Eles nem se conhecem. Por que ele sempre faz isso? Ele está tentando me irritar ou alguma coisa assim?

“Olha só, se não é o casal de pombinhos.”, Jeanine fala assim que passamos por ela. “Estavam perdendo aula para namorar? No começo do relacionamento é lua de mel todo dia, que coisa bonitinha.”, ela ri e olha para Miguel.

Eu e Lucas paramos e ficamos no mesmo lugar. Eu olho para Miguel, ele não ri e nem vira o rosto, continua com a mesma expressão.

Agora ele age como se eu não existisse, tenho vontade de gritar. Ele deve está querendo me machucar. Está querendo me machucar? Você está conseguindo!

“Miguel, eu estava pensando se não poderíamos sair juntos. Para beber, claro. E quem sabe a Tris e o Lucas não queiram ir também? Encontro de casais, eu adoro isso.”, Jeanine fala fingindo estar empolgada. E rindo de mim.

“Você bebe, Tris?”, ela pergunta.

Eu olho para Miguel, que me ignora, e depois para Jeanine porém não respondo.

“Não. Ela não bebe.”, Lucas fala.

Dessa vez Miguel olha para Lucas. Eu continuo não existindo.

“Ah, que pena. Seria muito legal se nós quatro saíssemos juntos.”, Jeanine diz.

“Quatro?”, falo.

Miguel me olha.

“È. Nós quatro saindo juntos.”, Jeanine fala.

“Deixa de ser idiota, Jeanine.”, Lucas diz. “Nós não queremos.”

“E além do mais, esse numero quatro.”, faço uma pausa. “Me irrita.”, digo.

Eu olho para Miguel e espero um sorriso, mas em vez disso ele simplesmente vira o rosto.

“O que?”, Jeanine pergunta.

“Ela não gosta do numero quatro, você é surda?”, Lucas diz.

“È isso que o meu namorado falou.”, falo.

Lucas sorri e Jeanine olha para Miguel como se estivesse confusa.

“Isso não faz sentido.”, ela diz.

“Foda-se.”, Lucas fala e eu rio.

“Você nem bebe, Tris. Você é praticamente uma criança.”, Jeanine fala.

“Acho que sim.”, falo.

“Você não tem chances com caras mais velhos, sabe? Você nunca chegou a tentar, não é? Você não é tão bobinha assim.”, ela diz.

“Verdade. Provavelmente eu seria rejeitada.”, digo.

“Qual é, Tris? Não precisa se importar com ela.”, Lucas fala.

Ele pega na minha mão, e eu percebo o olhar de Miguel.

“Você teve que ensina-la a beijar, Lucas?”, Jeanine fala e ri.

“E você, Jeanine?”, Miguel pergunta. “Você sabe beijar?”

Eu olho para ele e noto o jeito que ele olha para ela. Por que eu me importo com isso? Ele pisca para ela. Sinto vontade de vomitar.

“O que você acha, Lucas? Eu sei?”, ela pergunta olhando para Lucas.

“A verdade é que a pessoa que você mais quer beijar, você não beija.”, Miguel fala.

“Você pode beijar a Jeanine se quiser, eu e Lucas damos cobertura.”, digo.

Ele olha para mim e caminha dois passos em minha direção.

“Eu beijaria ela se eu quisesse, não preciso de cobertura.”, ele fala.

“Você é ridículo! Quatro, mil vezes ridículo!”, eu falo.

“Sabe qual é seu problema?”, ele pergunta e se aproxima mais um pouco.

“Qual é?”

“Você é uma careta!”, ele fala. “Você dá certinho com esse garoto, dois caretas!”

“Eu só estou tentando proteger ela.”, Lucas diz.

“Você que é um medroso!”, eu digo. “Você já ouviu falar em coragem alguma vez na sua vida?”

“Eu não vou te colocar nessa situação.”, ele fala. “Você não percebe? Eu não faria isso com você. Eu já estou te machucando!”

Eu sinto as lágrimas vindo e depois escorrendo pelo meu rosto, não consigo segura-las.

“Então você que é um careta.”, falo.