O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 7
Meu Herói




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Impaciente, Sasuke moveu-se na sela. Estava cavalgando havia horas, tendo passado por uma sucessão de estradas estreitas do interior, nas vizinhanças de Bristol, a fim de alcançar a estrada principal que seguia daquela cidade portuária até Gloucester, mais de cinquenta quilômetros para o norte. Era estranha a sensação que trazia no peito, que o comprimia, enquanto seus pés pressionavam as laterais do inquieto cavalo que Shikamaru lhe emprestara.

Um forte vento de sudoeste soprou com força, lançando no ar a crina comprida do animal e ameaçando levar o chapéu de Sasuke. Ele o segurou com uma mão no lugar e continuou sua cavalgada. Parecia que uma voz interior lhe repetia que não devia ter deixado Sakura partir sozinha de Bath. E esse aviso repetia-se já havia horas, praticamente desde que iniciara a viagem, enchendo-lhe a mente de preocupação.

A lua cheia que brilhava no céu lançava sua luz sobre a Terra, formando espectros de sombra e luminosidade pelo caminho. E, neste, Sasuke ansiava por encontrar algum sinal da carruagem de Sakura.

Imaginava se tinha chegado à estrada antes dela ou se ela já estava quilômetros adiante dele, naquela jornada solitária e perigosa.

Mas não precisou mais divagar a respeito, pois quando passou por mais uma curva e atingiu um ponto mais alto do caminho, quase uma colina, sua visão se abriu e pôde divisar uma luz enfraquecida na distância. Pediu a Deus que aquela luz viesse da lanterna pendurada na boléia da carruagem de Sakura. Quando percebeu estar certo quanto a isso, chegou a ensaiar um sorriso, mas este desapareceu de imediato ao perceber, com um aperto no peito, que a luz parara de repente de se movimentar.

Tal parada poderia significar muitas coisas, porém, no momento, Sasuke pensou em apenas uma. Esporeou o cavalo mais uma vez, numa tentativa de se aproximar quanto antes à carruagem. Em seu íntimo, temia chegar tarde demais para o que nem conseguia imaginar ao certo. Seu coração batia tão descompassado que o sentia na garganta.

Quando atingiu uma distância suficiente para poder ver melhor, reconheceu o veículo e sentiu-se aliviado, mas no mesmo instante percebeu que um homem, um estranho, entrava na carruagem. E o homem tinha algo em seu rosto; algo muito parecido com um lenço amarrado à nuca, provavelmente um salteador!

Acelerou ainda mais a marcha do animal, num ímpeto de chegar que o fazia esquecer até de respirar. E, sem pensar, lançou-se sobre o sujeito, caindo, junto com ele, para dentro da carruagem, enquanto um grito de mulher ecoava na noite.

A falta absoluta de movimento sob seu corpo garantiu a Sasuke que o salteador estava sem sentidos. Mas, para garantir sua segurança, Sasuke passou a mão pelo chão da carruagem, tateando em busca do que imaginou ser uma pistola.

— Fique longe de mim! — Sakura gritou, ainda sem perceber o que estava acontecendo. — Fique longe, entendeu bem?!

Sasuke tentava falar, pelo menos para garantir a Sakura que tudo estava bem, melhor do que estivera momentos antes, mas o golpe que dera no salteador acabara deixando-o também um tanto zonzo.

E, sem conseguir proferir as palavras mais alto do que um sussurro levantou-se com dificuldade, na intenção de tomar Sakura nos braços e confortá-la de alguma forma. Porém, ao estender os braços em sua direção, ela gritou novamente, e com tamanha estridência que seus ouvidos doeram. No mesmo instante, ela se defendia, erguendo a perna e desferindo uma terrível joelhada contra Sasuke, fazendo-o dobrar-se em dois de tanta dor. Ele deu dois passos atrás, cambaleou sobre o homem ainda desfalecido no chão da carruagem e caiu sentado no banco oposto.

Antes que pudesse se recuperar da dor, sentiu que Sakura avançava contra ele mais uma vez, agora para arranhá-lo, esbofeteá-lo, violenta como a mais hostil das criaturas. Com as mãos erguidas, para defender-se melhor, Sasuke mal conseguiu articular-lhe o nome:

— Sakura!

Mas o ataque não diminuiu. Ela parecia dominada por uma raiva cega e surda, atingindo-o sem piedade e ao mesmo tempo, gritando.

— Sakura, sou eu, Sasuke! — disse ele, em voz mais alta, segurando-a pelos pulsos e sacudindo-a para que voltasse a ter bom senso. — Está em segurança agora!

Ela parou de repente.

— Sasuke? É realmente você?! — duvidou.

— É claro que sou eu! Conhece outro alguém idiota o suficiente para segui-la pelos campos durante a noite?

— Sasuke... — Sakura murmurou pasma. E então, com toda a força e a paixão com que havia avançado contra ele momentos antes, lançou-se entre seus braços, soluçando.

Sasuke apertou-a contra si, sabendo que ela necessitava daquele conforto. Sensações intensas o dominavam. A paixão por ela, a desesperada busca pelos campos àquela hora da noite, temendo por sua segurança, depois encontrá-la daquela forma, sendo vítima de um salteador de estrada... Seu sangue estava fervendo, ainda mais agora com Sakura em seus braços, sentindo sua respiração acelerada, seu perfume, seu temor cedendo aos poucos. A proximidade entre seus corpos era convidativa, ardente. E, naquele momento, Sasuke teria dado tudo para poder estar com ela novamente em seu quarto, em sua cama... E não ali, no meio do nada, naquela noite escura e fria, numa carruagem em cujo chão um bandoleiro começava a despertar do desmaio.

— Senhor Uchiha? — ouviu-se uma voz trêmula do lado de fora do veículo. — É mesmo o senhor? O que houve?!

— Aconteceu algo á Lady Haruno, senhor? — perguntou outro homem, com voz mais grave.

— Além do susto, acredito que ela esteja bem — Sasuke explicou aos criados, sentindo ainda o temor terrível de imaginar que algo sórdido poderia ter acontecido a ela. — Mas acho que vocês dois não foram de grande valia— acusou.

— Mas ele tinha uma arma de fogo, senhor! — protestou o rapaz que seguia com o cocheiro na boléia.

O cocheiro não se desculpou, porém sua voz soava contrita:

— Há algo que possamos fazer agora, Sr. Uchiha?

O saqueador gemeu e tentou se levantar. Sasuke aplicou boa parte de sua força no pé direito, que mantinha sobre as costas do criminoso, mantendo-o no chão, imóvel. E ordenou para o cocheiro e o rapaz, que tentavam espiar pelo lado de fora:

— Arranjem um pedaço de corda para amarrar este homem.

— Está bem, senhor. Agora mesmo! — respondeu o rapaz, solícito.

— E amarrem-no ao cavalo em que ele veio se puderem encontrá-lo. Caso contrário, amarrem-no no meu. Depois prendam o animal nos fundos da carruagem. Vamos entregar este sujeito às autoridades na primeira cidade a que chegarmos. Por enquanto, acho melhor continuarmos em nosso caminho o mais rápido possível, para evitar que algum companheiro deste traste venha a nos encontrar.

Os dois criados, diante de tal perspectiva, apressaram-se a fazer o que lhes fora ordenado, a fim de amarrar o criminoso que, mesmo acordado, parecia ainda muito inconsciente da realidade.

Pouco depois, com tudo feito como Sasuke dissera a carruagem já seguia novamente rumo ao norte, e os soluços de Sakura se acalmaram aos poucos. Mas ela não parecia disposta a se afastar de Sasuke. Para ele, tê-la assim, tão junto a si, era o paraíso. Fazia-a perceber claramente quanto sentira sua falta no curto espaço de tempo em que haviam estado separados.

Sasuke chegava a imaginar se o incidente com o saqueador teria feito com que ela mudasse de ideia quanto à sua separação prematura. Poderia ser uma esperança vã, essa, mas era a única que Sasuke tinha e agarrou-se a ela como um náufrago a uma tábua de salvação.

അഅഅഅഅഅഅഅ

Ela deveria afastar-se de Sasuke, mandá-lo sair da carruagem, ou, pelo menos, ralhar com ele por tê-la feito assustar-se tanto. Mas a carruagem seguia seu caminho, e Sakura não conseguia encontrar forças para aquilo que sua mente a mandava fazer.

Haveria ainda muitos anos futuros nos quais teria de ficar sem o abraço de Sasuke, analisava. No momento, precisava estar junto dele desesperadamente. Mais do que jamais precisara de alguma coisa na vida. E sua vida tinha sido cheia de regalias.

Mas não se lembrava de um momento em que tivesse passado tanto medo. Seu coração ainda batia apressado dentro do peito, e, apesar de estar aconchegada por Sasuke, começou a tremer.

— Calma — ele a consolou, apertando os braços ao seu redor. E, dando-lhe um beijo suave na têmpora, acrescentou: — Ainda não está bem, Sakura? Será que me precipitei ao garantir a seus criados que você estava bem? — O calor, a preocupação na voz dele a confortava como nunca.

Mas havia uma voz cheia de orgulho que falava mais alto em seu coração e que a fez responder:

— Não, você estava certo. Foi apenas um choque. Tem um lenço, por favor?

Sakura teria detestado qualquer outra pessoa que tivesse presenciado um momento seu de pura fraqueza que a levara a lágrimas histéricas. Talvez viesse a detestar Sasuke também, quando o dia amanhecesse e pudesse pensar melhor sobre o que ocorrera e ver quanto suas lágrimas e sua falta de força pudessem ter diminuído sua imagem perante ele. Mas, naquele instante íntimo de escuridão e segurança, poderia deixar-se ficar no calor dos braços de Sasuke, apenas usufruindo o luxo de poder confiar num homem.

Ele se movia, na intenção de procurar um lenço nos bolsos, até que, ao achar um, colocou-o entre as mãos de Sakura.

— Obrigada — ela murmurou, secando as lágrimas que ainda molhavam seu rosto, tranquila por imaginar que, quando Sasuke a visse mais claramente, as marcas de seu choro convulsivo já teriam desaparecido. Podia ser uma atitude até vaidosa, imaginou, mas sabia que não podia permitir que um homem atraente a visse sem ser em seu melhor estilo.

E, enquanto passava o tecido suave pelo rosto, uma ideia lhe ocorreu de repente, levando-a a indagar:

— E você, Sasuke? Está bem? Porque, depois de derrubar aquele homem horrível e suportar meus golpes... Bem, eu... Sinto muito pelo que fiz. Não consigo imaginar o que me deu...

— Você estava apenas reagindo, fazendo o que achava certo para se defender. — Ele sorriu. — E acho que fez um bom trabalho...Mas creio que não fiquei ferido.

Alguns golpes vindos dela não lhe teriam feito mal, Sakura avaliava, porém, se aquele salteador tivesse conseguido usar sua arma... Jamais se perdoaria se Sasuke tivesse sido ferido no incidente, ainda mais por sua causa.

— E... Então? — indagou, imaginando que ele deveria passar-lhe uma descompostura, aliás, bem merecida.

— Então... O quê? — Sasuke estranhou.

— A reprimenda que deve estar preparando desde que saiu de Bath. Onde está ela?

— Ah, isso... — Ele riu e, logo em seguida, bocejou. — Vou deixá-la para amanhã de manhã; por enquanto, acho que nós dois merecemos pelo menos uma boa hora de sono. O que acha? Sakura assentiu de leve, sentindo um aperto no peito por ele. Sasuke devia ter passado metade da noite atrás da irmã e as outras poucas horas tentando encontrá-la, para encontrá-la sendo atacada por um bandoleiro e ainda tendo que defendê-la...

— Como sempre, não me parece estar falando com bom senso — repreendeu-o, porém com simpatia. E tentou afastar-se de seus braços. — Como pode pensar em dormir com uma mulher chorona praticamente sobre você?

Seria bom para ela afastar-se, avaliou Sakura. Já era doloroso demais estar ali, usufruindo o calor daquele abraço, sabendo antecipadamente quanto iria sentir saudade dele.

— Você não me incomoda em nada — Sasuke garantiu. E puxou-a de leve para perto de si novamente. — Além do mais, vou conseguir dormir com muito mais tranquilidade sabendo que você está aqui, junto de mim e em segurança.

— Se é assim... — Ela se contentou em repousar a cabeça sobre o peito dele. — Para mim, está muito bom aqui.

Alguns minutos se passaram num silêncio quebrado apenas pelo ruído da carruagem avançando pela estrada.

— Sasuke? — Sakura chamou em voz baixa.

— Hn? — Ele já parecia um tanto adormecido.

— Onde encontrou um cavalo para vir atrás de mim?

— Com Shikamaru. Acho que perdi um pouco do bom senso também e ganhei algum dinheiro num jogo de cartas.

Se ele tivesse dito que havia roubado o dinheiro, ela não teria ficado mais surpresa.

— Mas pensei que você nunca jogava!

— E não jogava mesmo. Não até esta noite. — A voz dele, na sonolência, guardava o mesmo tom de que ela se recordava, das noites em que falavam alguma coisa depois de terem feito amor. — Não conheço nada de cartas e de jogos. Mas acho que o que me ajudou foi o fato de ser o único sujeito sóbrio ao redor daquela mesa.

— Talvez tenha sido sorte de principiante. — Sakura disse, sabendo muito bem que não deveria erguer a mão para acariciar-lhe o rosto, o que, no entanto, estava fazendo.

— Talvez — Sasuke concordou, num tom que parecia demonstrar o mais doce dos carinhos. E, num movimento rápido, porém meigo, apertou a mão dela, que ainda o acariciava entre o pescoço e o queixo, de forma inocente, mas que provocou um aperto no coração de Sakura. E, apenas para afastar a impressão doce demais que ficava daquele afago, ela indagou:

— E... Como pôde se envolver nesse tipo de jogo de que Shikamaru tanto gosta? Porque se apostam somas enormes, e você poderia perder muito...

Ele se afastou de repente.

— Não sou tão pobre assim — observou, parecendo magoado.

Sakura sabia que o atingira. Mesmo sem querer, comparava-o a seu falecido marido, que dava demasiada importância à prosperidade e à ascensão social.

Sabia que Sasuke estava fazendo tudo o que podia para restaurar a perda da fortuna da família, e o fazia de forma honesta, correta, não se casando com a primeira herdeira rica disponível.

— Eu não quis dizer que é pobre — Sakura se corrigiu. — Mas a maioria dos homens não carrega consigo uma quantia grande de dinheiro, ainda mais no meio da noite.

Sasuke não respondeu de imediato. Sakura chegou a imaginar se teria adormecido ou se estava ofendido ainda e não queria mais continuar o assunto.

— Tenho um relógio e um anel de ouro — disse ele, por fim, após alguns minutos. Parecia estar confessando um crime. — E Shikamaru acabou convencendo os outros jogadores de que as minhas peças valiam alguma coisa.

Tal admissão atingiu Sakura, como sua indagação sobre a possibilidade de ele jogar o havia atingido antes. Conhecia muito bem o relógio e o anel aos quais ele se referia. Não sabia qual preço eles poderiam conseguir num joalheiro, mas eram peças de valor incalculável para Sasuke, era sua maior lembrança de que pertencia a uma família antiga e de boa linhagem.

Apesar da fortuna que possuía e do título pelo qual pagara muito caro, Sakura sabia muito bem que muitas pessoas ainda a olhavam com certo desprezo por não passar da filha de um comerciante abastado. Conveniente apenas como amante para um cavalheiro feito Sasuke Uchiha, nunca como sua esposa.

Um casamento assim causaria comentários sem-fim. E cavalheiros respeitáveis detestavam ser motivo de comentários na sociedade.

Ela sentiu que o abraço de Sasuke ficava mais frouxo e que sua respiração parecia estar mais ritmada e lenta. Talvez tivesse adormecido, imaginou. E continuou pensando, avaliando o que ele fizera naquela noite, colocando-se a uma mesa de jogo para poder segui-la.

Primeiro, porque apostara seus bens mais preciosos; depois, porque se pusera a caminho, no meio da noite, para conseguir alcançá-la. Depois ainda, arriscara sua vida ao lutar com aquele saqueador. Sasuke não era um homem dado a palavras elegantes ou discursos calculados. Mas seus atos falavam com eloquência sobre o que ele sentia por Sakura, o que ela reconhecia muito bem.

Kakashi Hatake jamais lhe dera tanto valor assim. Ele a vira apenas como fonte de dinheiro e de possíveis herdeiros. E quando ela se mostrara incapaz de fornecer sua segunda grande aspiração na vida, ele passara a desprezá-la, ferindo-a bem fundo. Sasuke, por outro lado, jamais seria capaz de feri-la. De forma alguma.

Ele deixara de lado sua prudência costumeira e jogara por causa dela. Arriscara-se numa cavalgada em meio aos campos por ela, lançara-se contra um bandido que poderia ser extremamente perigoso. Tudo por ela.

Sakura sorriu de leve, vendo que os primeiros sinais do dia começavam a clarear o horizonte. E, conforme os raios do sol ganhavam mais consistência naquele novo dia, e ela podia ver melhor as feições de Sasuke adormecido a seu lado, sentiu que seus sentimentos por ele eram muito mais fortes e intensos do que imaginara até então. Mas não podia como ele fizera arriscar-se demais. Não podia e não iria se arriscar, com medo de perder o que, no momento, era-lhe mais caro na vida.


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