O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 5
Apostas durante a madrugada


Notas iniciais do capítulo

Bom... Gostaria de agradecer a todos vocês queridos leitores. Aos que comentaram, os que favoritaram, aos que acompanham e até aos leitores fantasmas. Meus agradecimentos.



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Se Sakura achava que podia livrar-se dele com tal facilidade, estava redondamente enganada! Pensava Sasuke, enquanto passava pelos edifícios da parte velha da cidade. Lançou um olhar aborrecido às janelas escurecidas do New Assembly, o salão de bailes mais concorrido de Bath, mas que agora já estava às escuras, pois seus frequentadores havia muito tinham voltado para suas casas. Depois dos dois últimos dias, nos quais sofrera como um condenado estava a ponto de amaldiçoar o local onde vira pela primeira vez sua problemática ex-amante.

O que teria acontecido a ele e a Emily se não tivesse deixado que a irmã o convencesse a ir àquele baile, o primeiro dessa temporada? Avaliou, aborrecido. Se, de repente, diante de si, aparecesse um ser fantástico que lhe desse a oportunidade de realizar um desejo, o de voltar atrás no passado, dois meses antes precisamente, para modificar o que acontecera, não tinha certeza se aceitaria a oferta ou não...

Tudo acabara de forma tão amarga! Aquele romance com Lady Haruno mudara tanto sua vida! Mas, enquanto durara, ele vivera os momentos mais maravilhosos que um homem poderia sonhar em ter.

Sasuke meneou a cabeça, querendo afastar os pensamentos sombrios. De nada adiantava ficar se lamentando, analisou. Precisava apenas pensar na viagem que ainda queria fazer à Escócia.

Diminuiu os passos apressados com que deixara, indignado, Royal Crescent, sentindo a brisa suave, mas fria, que passava pelas ruas desertas de Bath. Havia nela o suave aroma de comida que vinha das janelas das cozinhas de muitas das casas elegantes daquele bairro. Também podia ouvir de longe os últimos ruídos, risadas e notas musicais de festas que estavam acabando só agora. Havia no ar uma sensação de convívio social e de riqueza que pareciam zombar de sua situação e o deixavam ainda mais zangado.

Mas não podia deixar-se abater por tais ideias, lembrou-se, seguindo adiante. Estudava o problema que ele tinha diante de si com a mesma determinação com que enfrentava os problemas financeiros que sua família vinha enfrentando havia já algum tempo. Sabia muito bem que, com uma boa análise, calma e segurança, qualquer problema podia ser resolvido. E tinha mais experiência do que a maioria dos homens de sua idade e classe no que se referia a arranjar uma solução para o que parecia sem solução.

Passou a descer a Rua Gray, ponderando sobre o problema da forma mais sensata e fria que conseguia, mantendo-se firme e determinado. Uma solução podia não ser a melhor, então avaliava outra, pesando prós e contras, descartando ideias absurdas, seguindo as mais prudentes.

Ainda possuía alguns artigos de valor dos quais podia se separar no intuito de fazer dinheiro para a viagem até Gretna. Muitos dos itens que pretendia vender eram-lhe caros e valeriam muito menos em dinheiro do que em consideração pessoal, mas esse era um aspecto do problema que precisava ser superado.

Seus passos agora ecoavam na madrugada quando pisava sobre o calçamento um tanto irregular da Rua Milsome. Muitas das peças que pensava vender eram-lhe queridas demais. Tinha de haver outra solução. Além do mais, se quisesse apenas empenhá-las, as lojas de penhores ainda estavam fechadas e assim permaneceriam por muitas horas, e ele tinha pressa em arranjar uma solução para poder partir em breve.

A sensatez dizia-lhe para regressar à sua casa, separar o que tinha de valor, dormir um pouco e depois voltar ao problema pela manhã. No entanto a ideia de ver a irmã e Oliver Armitage tomando uma dianteira muito grande o impelia a agir naquele exato momento. Outro motivo o empurrava, e com mais força ainda: o fato de que Sakura estaria numa bela carruagem, sozinha, cruzando boa parte do país. Mesmo porque ela levaria como companhia apenas um velho cocheiro e um criado jovem demais para poder protegê-la.

Seus pensamentos desviaram-se para outro aspecto do problema, pensou por instantes e, de repente, com um sorriso, murmurou:

— Mas é claro...

Podia estar sem dinheiro agora, mas ainda dispunha do que a maioria dos homens de bem possuía: amigos. Se pudesse falar com seu cunhado!Naruto Uzumaki tinha muitos cavalos, carruagens e fundos, e estava certo de que ele os colocaria à sua disposição de imediato, finando fosse necessário. Infelizmente, a propriedade de campo de Naruto ficava a quilômetros de distância de Bath... Se fosse até lá, estaria provocando um atraso ainda maior em sua perseguição ao casal de namorados que ele pretendia trazer de volta. Pensou nos amigos que ele tinha em Bath e aos quais poderia recorrer de pronto.

Lembrou-se de Nara Shikamaru. Se havia alguém que poderia ajudá-lo num momento tão difícil, esse alguém era o homem que o havia presentado a Lady Haruno! Avaliou, com um breve sorriso. E seus passos se apressaram quase automaticamente.

Estava praticamente diante de sua casa e, ao chegar, entrou apressado e lá permaneceu tempo suficiente apenas para escrever um recado à sua governanta dizendo que ele e Emily tinham sido chamados para fora da cidade e que não retornariam senão em alguns dias.

Quando saiu mais uma vez para a escuridão da rua, Sasuke virou para o sul, em direção a Sydney Gardens. Era naquele lado da cidade que Shikamaru mantinha sua bela casa.

Não haveria problemas em acordar seu velho amigo de infância, mesmo no adiantado daquela hora. Ao contrário, temia até que o noctívago e farrista ainda não tivesse voltado para casa e fosse demorar muito a fazê-lo.

Dobrou a esquina, apressado, e, ao ver que havia uma luz na sala da frente da casa do amigo, respirou aliviado. Bateu na porta entalhada e não esperou muito até que um criado viesse abri-la. Quando este o introduziu a presença de seu patrão, Shikamaru mostrou-se espantado e também um tanto divertido:

— Ora, ora! Uchiha?! Mas o que houve para estar aqui tão cedo?Problemas com Lady Haruno?

Sasuke não sorriu.

— Estou surpreso que ela não lhe tenha contado — disse muito sério. Conhecia muito bem o amigo para saber quanto ele gostava de saber de todas as novidades da cidade. — Ela rompeu comigo há dois dias.

— Mas que pequena travessa, não? — Shikamaru indicou-lhe uma poltrona e sentou-se à sua frente. — Mas devo dizer-lhe, meu amigo, que o invejo até por ter passado apenas algumas semanas na companhia de uma dama tão bela e interessante! — Indicando uma mesa próxima, onde havia uma bandeja com copos e uma garrafa de conhaque, ofereceu: — Não quer afogar suas mágoas?

Depois do que acabara de passar com Sakura, a oferta parecia tentadora, porém Sasuke preferiu recusar:

— Acho que não ousaria...

— Não? — Shikamaru olhou-o com certa indulgência. — Claro... Nunca afoga suas mágoas, não é? Nunca foge delas. Não gosta de cobardices*. Sei muito bem que prefere encarar os problemas e lutar com eles até vencer.

Sasuke encarou-o por alguns segundos, depois comentou um tanto amargo:

— Uma maneira um tanto aborrecida de ser, não?— Imaginava como conseguiram ambos, continuar aquela amizade durante tantos anos tendo temperamentos tão opostos.

Sakura poderia ter feito uma escolha melhor se tivesse ficado com Shikamaru, avaliou, em vez de apenas usá-lo como menino de recados entre ela mesma e Sasuke. Além de ostentar uma beleza masculina clássica, de ser elegante e atraente, Shikamaru tinha um jeito todo especial para com as mulheres que as fazia esvoaçar ao seu redor como abelhas em torno de uma fonte de néctar.

— Aborrecida? — ele repetiu. — Não, meu amigo. Muito ao contrário! —Shikamaru serviu-se de conhaque e ajeitou-se melhor na poltrona que ocupava. — Sou uma pessoa que costuma cansar-se das outras até com facilidade, porque a maioria das que conheço é como eu: um tanto frívola, preguiçosa, egoísta... Mas pessoas que são o sal da terra, como você, frustram-me o tempo todo. Vivo numa constante antecipação de que vocês possam sair de seu caminho absolutamente reto e honesto e se deteriorar num mar de orgias e maldades.

Sasuke assentiu.

— Foi assim que me imaginei.

— Está se referindo ao seu romance com Lady Haruno? Ora, foi apenas um leve escorregão seu, porém discreto demais para acabar com sua honra impecável, amigo. Mas, vamos deixar isso de lado e falar de coisas mais práticas: o que o traz à minha casa a esta hora? Acho que eu até poderia adivinhar, mas como você continua a me confundir... Vamos lá, diga-me o que houve.

— Trata-se de minha irmã, Emily. Ela enfiou na cabeça que deveria fugir com Oliver Armitage, sobrinho de Lady Haruno.

Shikamaru ergueu as sobrancelhas.

— E ela o fez?! — indagou surpreso. Sentou-se mais para frente, interessado, os olhos brilhando. — Oh, queria eu ter uma bela irmã que me obrigasse a correr atrás de seus pequenos pecados...

— É mesmo? Por que não fica com a minha, então? — Sasuke indagou amargo. E contou ao amigo tudo que acontecera inclusive a insistência de Sakura em perseguir o jovem casal e sua necessidade desesperada de conseguir um bom cavalo e algum dinheiro para financiar a viagem.

Shikamaru parecia divertir-se com toda aquela situação, porém Sasuke procurou ignorar o sorriso do amigo; se queria partir ainda nessa noite atrás de Emily e Oliver, o homem a sua frente era a única fonte de ajuda possível.

— Imagino que queira que eu mantenha todo esse caso em segredo, agora que confiou em mim — Shikamaru analisou. Levantou-se, então, e, um tanto cambaleante, foi até a lareira.

Sasuke também se levantou, acrescentando:

— Não me adiantaria nada perseguir minha irmã até Gretna para trazê-la e vê-la mal falada, se a informação que lhe dei vazar. Então, eu seria obrigado a casá-la com Armitage para que a questão da honra ficasse resolvida. Mas você sempre foi um grande amigo, Shikamaru. O que me diz? Posso contar com a sua discrição e também com o seu auxílio?

— Olhe, quanto à discrição, juro por minha honra duvidosa que não vou abrir a boca! Agora, quanto ao auxílio... — Ele enfiou a mão no bolso e o revirou. — Acabei de chegar de uma noite de jogatina monstruosa. Não sei ao certo quanto perdi, mas, seja quanto for... Você ficaria escandalizado em saber. Sinto informá-lo, meu querido amigo, mas não tenho o suficiente para você aqui comigo. Só o terei quando me encontrar com o meu contador pela manhã.

— Droga! — Sasuke deixou escapar, passando, de imediato, a pensar em quem mais poderia ajudá-lo.

Shikamaru pareceu raciocinar um pouco e continuou como se não o tivesse ouvido:

— A não ser que...

— Sim? — Sasuke adiantou-se, ansioso. Mas sentia, no tom do amigo, que não deveria animar-se tanto.

— Não tem alguma coisa de valor com você? — Shikamaru perguntou, olhando para o anel que Sasuke trazia no anular da mão direita, como se avaliasse quanto ele poderia render.

— Tenho isto — Sasuke respondeu, erguendo de leve a mão. — E o relógio de bolso que foi de meu avô. Mas não vai adiantar, já tinha pensado nisso. As lojas de penhores estão todas fechadas há esta hora e ainda vão demorar muito para abrir.

— Eu não me referi à penhora de seus bens, caro amigo. — Shikamaru espreguiçou-se com prazer, como se tivesse acabado de acordar de uma relaxante noite de sono. — O que acha de apostar essas peças?

Sasuke entreabriu os lábios para protestar, porém seu anfitrião o impediu de falar, adiantando-se:

— Uma boa mão no jogo do qual acabei de sair e você terá dinheiro suficiente para seguir com conforto até Gretna e depois voltar. Três boas mãos e você poderia financiar uma bela e longa viagem. — Shikamaru já o instigava a seguir para a porta.

— Mas eu nunca fui um jogador! — Sasuke exclamou. — Sabe muito bem disso!

De certa maneira, ele jogara ao iniciar aquele romance com Lady Haruno. Tentara ganhar uma partida de puro prazer. E jogara, chegando a acreditar que tinha tudo a ganhar e absolutamente nada a perder. No entanto avaliara tarde demais que sua aposta fora em suas habilidades para levar uma mulher para a cama em se apaixonar por ela... O risco maior havia sido para o seu coração. E Sasuke perdera.

Shikamaru parou à porta e se virou para encarar o amigo.

— Pode tentar quanto quiser jogar em segurança, meu caro, mas a vida é um grande jogo, em qualquer aspecto. Pode ficar aqui esta noite, é bem-vindo, sempre foi. E, quando amanhecer, poderemos procurar meu contador para que eu consiga algum dinheiro rápido. No entanto, se está determinado a partir antes de ver o sol nascer, pode vir comigo e arriscar seus únicos bens numa rodada de cartas. O que vai ser?

Sasuke olhou para o anel e o acariciou pensativo. O relógio era tão antigo que apenas mostrava as horas, o que limitava seu uso, e o anel era ainda mais velho. Ambos haviam passado, em sua família, de pai para filho, de geração a geração, até chegarem a ele. Já lhe era difícil separar-se de peças tão queridas num balcão de penhores, onde poderia recuperá-las mais tarde, e agora, diante da possibilidade de perdê-las de uma vez... Vacilava. Ainda seria, sem sombra de dúvida, o cabeça de sua família, mesmo sem aquelas peças de ouro que representavam insígnias de autoridade para os Uchiha, mas, mesmo assim, bem no fundo de seu coração, sentia que algo mudaria se não estivesse mais com elas.


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Notas finais do capítulo

* Covardia; Covardice.
Perguntas?

Até o prox. ^^



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