Quando tudo se tornou difícil para mim, eu já não sabia o que fazer e nem à quem recorrer. Eu já não conseguia encostar minha cabeça em meu travesseiro sem pensar nela. Não conseguia piscar sem enxergá-la no escuro de minhas pálpebras. Já não dormia sem sonhar com aqueles olhos, aquela boca, aquela voz... Ah, ela era tão perfeita. Tão ela, tão...

– Quinn! – Uma voz a despertou de seus devaneios.

– Hã, oi? – Chacoalhou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos, quando notou que grandes olhos castanhos a olhavam. –S-sim, Rachel.

– Eu gostaria de saber se você pode me ajudar com algumas músicas depois do último período. – Disse enquanto andava sendo seguida pela loira. –Você está livre?

– Er... Na verdade, eu... – Quinn não tinha nada para fazer além de alguns deveres de biologia. Mas esses poderiam ser adiados.– É, eu estou, sim! – disse sorrindo meio constrangida. E não sabia porque, mas, enfim.

– Ok, então. Eu vou te esperar na sala do coral e se você quiser... – Rachel parou de falar e olhou para baixo como se procurasse as palavras certas para um ato tão comum como –Você quer almoçar comigo?

Quinn sentiu-se pega de surpresa. Ela quase nunca almoçava com Rachel. Raramente quando o Glee Club precisava acertar algum ensaio ou algo do tipo, mas... Nada mais que "profissional".

– Bem, se você já tiver algo para fazer ou, se simplesmente não quiser, eu...

– Não! Eu quero, sim. – Interrompeu-a antes que ela dissesse o que, de fato, não era verdade. Ela queria. E queria muito.

– Então, tudo bem. Vou te esperar no almoço, certo? – A menor sorriu gentilmente.Aquele sorriso. Deus, aquele sorriso.

– Mais que certo. – Sorriu de volta, meio sem jeito.

Não muito tempo depois, no almoço.

– E aí, Rach. –Quinn sentou-se à frente da morena, apoiando sua bandeja em cima da mesa.

– Não! – Exaltou-se, fazendo a loira parar seu sanduíche de atum a alguns centímetros da boca.

– O que? – Abaixou vagarosamente seu almoço, pondo-o de volta à bandeja.

– Não, é que... Eu queria conversar com você mais próxima de mim. – Rachel explicou meio constrangida. –Sobre as músicas que vamos ensaiar mais tarde, quero dizer. –Completou.

– Ah, sim... Certo. – Suas bochechas coraram quando, ao sentar-se ao lado da colega de clube, sua mão tocou a da pequena diva e instintivamente ela afastou pedindo desculpas baixinho. O que fez Rachel corar e sorrir constrangida, aceitando o pedido de perdão logo em seguida.

– Er... Eu tinha em mente que nós fizéssemos um dueto. O que você acha?

– Ah, eu... Eu acho uma ótima ideia, mas... – Quinn não sabia porque, mas sentia que, dependendo da música que cantassem, talvez ela pudesse expressar mais do que gostaria.

– Se você não quiser, eu vou entender, Quinn. – Rachel ponderou, pondo sua mão sutilmente sobre a da loira. –Eu só gostaria de poder fazer isso com você. Quero dizer, nós quase nunca cantamos juntas. Sua voz é linda e acho que ela combinaria perfeitamente com as músicas que tenho em mente, porque você tem um tom doce, angelical que me faz... – pausa para pensar. –Digo, que faz com que todos se sintam no céu. Eu só não paro de pensar em como seria incrível a combinação de nossas vozes e-

– Rach! –Quinn a chamou risonha. –Respira. – Sorriu e puxou a mão da morena para que pudesse a envolver com suas duas.

Ela parou, sorriu e respirou.

–Desculpe... –ela abaixou a cabeça envergonhada. Ela sempre tagarelava demais.

– Não se desculpe. – A loira disse fazendo Rachel levantar o olhar para seus olhos verdes. E antes que ela completasse, o sinal tocou. Quinn olhou para o sino e voltou suas vistas para os olhos castanhos esperançosos. –Eu tenho aula agora. –disse enquanto pegava suas coisas e levantava. –Não se preocupe, cantar com você é o que eu mais quero. – Sorriu como um anjo e beijou o rosto da pequena diva. –Até mais tarde.

Rachel apenas ficou estática. Quinn era realmente imprevisível e irresistível. Ela simplesmente não sabia explicar, mas teria muito o que aprender sobre a loira antes que pudesse realmente dizer algo sobre ela.

Ok, garota. Você é Quinn Fabray. Até parece que nunca consegue o que quer. Essa insegurança, esse pavor... Isso não é típico de você! Acaba com isso! Deus, como é difícil... Eu não consigo, eu não consigo... Não! Eu consigo, sim! Eu sempre consigo.

Quinn olhava-se no espelho do banheiro enquanto refletia sobre os possíveis acontecimentos dos próximos 5 minutos. Poderia ser um simples ensaio, assim como também poderia não ser. Aquilo ali era loteria. Eram mil e uma chances de acontecer. E um milhão e meio de não. Mas o que a garantia que dez milhões delas não poderiam acabar com tudo? De uma vez só e para sempre.Aquela possibilidade estava, definitivamente, fora de cogitação.

"Se há 1% de chance de dar errado, esqueça os outros 99%, porque, com certeza, vai dar errado." Certo, lembrar dessa frase não colaborou muito. Pensa, Quinn, pensa! Ou é agora... Ou não vai ser nunca mais.

Determinada, a loira abriu a porta do banheiro, deu um passo à frente, respirou fundo e, finalmente, abriu os olhos com determinação.

– Quinn Fabray, está na hora deserQuinn Fabray. – Com essas palavras, dirigiu-se à sala do coral, onde Rachel já se encontrava aquecendo com algumas escalas básicas.

– Ei, Quinn! –A morena acenou ao ver a amiga adentrar apenas alguns passos após a entrada do local. –Está tudo bem?

– Aham. – Ela sorria. –Escuta, Rachel... Você não prefere ensaiar no auditório? Acho que a acústica de lá é melhor e o sistema de som ajuda mais no desempenho. Tudo bem pra você?

– Er... Claro, claro! – Rachel pegou as partituras que se encontravam ao lado de sua bolsa e a mesma em cima do piano. –Vamos? – Seguiu passando por Quinn, deixando uma loira sorridente e feliz com o procedimento perfeito de seu malicioso –mas não muito –plano.

Chegando no auditório, Rachel deixou que sua bolsa escorregasse por seu braço até que alcançasse o chão, admirando as luzes do lugar. Ela nunca cansava de fechar os olhos e rever as memórias tão boas que aquele local a proporcionava.

– É tão bom subir nesse palco e saber que conseguimos nossa maior vitória bem aqui, em nossa casa. – Quinn citou enquanto seguia os passos desguiados da morena.

– É, é sim. É maravilhoso. – Rachel virou-se para Quinn, olhando-a nos olhos. Ela nunca parara realmente para observá-los. Eles eram de um verde tão cativante que, talvez, mas só talvez, ela pudesse ficar ali o dia todo, observado-os, contemplando-os.

Quando conseguiu desviar sua atenção para qualquer outra coisa importuna ali, Rachel percebeu que a menina que antes estava a alguns metros de distância, não passava de meros centímetros para possibilitar que sua respiração entrecortada fizesse sua pele arrepiar por completo. Seus olhos continuavam penetrantes e tão desconfortavelmente aconchegantes. Foi imprescindível aderir a um leve aproximar de seus rostos e, quando já não restava mais espaço para o então esperado fato, Rachel lembrou-se de seu real objetivo ali: Ensaiar.

– Bem, eu... – Afastou-se rapidamente virando de costa e indo em direção à sua bolsa. –Eu trouxe algumas músicas, como havia dito antes. E... Se você quiser escolher, fique à vontade. – Rachel virou-se novamente e se impressionou com o olhar terno que Quinn lhe direcionava.

– Certo, Rachel. Mas, antes, eu... Você se importa se antes eu cantar algo antes? – Perguntou pegando uma partitura em sua pasta e se sentando em frente ao piano.

– Er... Claro que não.

Quinn sorriu terna novamente e fechou os olhos.

Vamos lá, Quinn. Seja... você.

A loira começou uma pequena introdução e...

Baby, I love you, I need you here

Give me all the time

Baby we meant to be

You got me smiling all the time

Ela cantava com toda certeza e com tanta clareza, que parecia ser impossível que Rachel não entendesse o real significado daquilo.

I won't lie, I'm falling hard

Yeah, I'm falling for you but

there's nothing wrong with that

E nesse momento, nesse exato momento, Quinn olha para Rachel. No fundo de seus olhos, era possível enxergar sua alma. E, sim, era possível perceber que tudo ali era verdade.

You're the one that i dream about all day

You're the one that i think about always

You are the one so I make sure I behave

My love is your love...

Antes que ela terminasse de cantar o último verso, Quinn levantou-se e andou meio relutante de encontro à Rachel. Ao faltar alguns poucos passos da pequena, Quinn não hesitou em avançar. Chegou mais perto, tomou as mãos de Rachel nas suas e completou

Is your love mine?

Ela não voltaria atrás em nada. Era aquele o momento. Esperou todas as respostas possíveis, mas... Só de olhar para aqueles olhos castanhos, só de ver aquela boca e aquele nariz...Ah, esse nariz. Tão perfeito.Só de ver aquilo tudo tão próximo a si... Só aquilo já valia o esforço. Mas ela não pararia ali.

Notava-se que alguns minutos já haviam se passado e nenhuma resposta de Rahcel. Será que ela havia entendido?

– Q-quinn, eu... –desviar daqueles olhos verdes seria um pecado. –Eu não sei o que di-

– Não diga, então. – a loira sorriu acolhedora, o que fez Rachel sentir-se nos ares. –Apenas sinta...

Quebrar a distância não fora um êxito, e sim um presente.Macios... Eu sabia.Seus lábios selados fizeram com que Rachel arregalasse os olhos, numa surpresa que ela considerava metade boa e metade muito melhor.

Ficaram ali por mais alguns segundos até que precisassem de um pouco de ar. Mas sem desencostar seus rostos, Quinn fez sua respiração quente retomar aqueles arrepios que Rachel sentira pouco antes.

– O-o que f-foi... –Rachel tentava pronunciar, mas... Era simplesmente impossível.Sedutora. Sedutora era o adjetivo que Rachel procurava em Quinn.

– Shhhh... – A ex-líder de torcida pôs o indicador por sobre os lábios da morena. –Me diga... –puxou o corpo da pequena para mais perto do seu, fazendo-a corar com o choque de seus corpos. –Você gostou?

– S-sim, c-claro! E-eu não imaginava q-que eram tão m-macios. – Respondeu sorrindo constrangida.

Quinn soltou uma leve risada antes de beijar o canto da boca de Rachel, fazendo-a suspirar.

– Eu me referia à música. Você gostou? – beijou o nariz da pequena. –Sei que Rihanna não é sua favorita, mas... – Quinn pegou a mão de Rachel de volta e acariciou-a com seu polegar. –Você é a pessoa que eu penso o dia inteiro. Você é a pessoa na qual eu sempre sonho. Você é a única que me faz querer agir da melhor forma possível. E meu coração é seu...

– Quinn, eu... – Tentou falar, mas Quinn a interrompeu com um leve encostar de lábios.

– Só me resta saber se o seu é meu... –ela, por fim, deixou que sua testa se apoiasse na da pequena diva soltando um leve suspiro de alívio. –Você não sabe o quanto me faz bem saber que todo o peso desse amor acabou de sair das minhas costas. –Riu. –E, bem, ele é enorme.

Elas riram juntas.

– Quinn, se você me deixar falar agora... – riram novamente. –Bem, eu... Eu queria poder saber como te dizer, mas... – Rachel hesitou. –Tem o Finn, e...

– Eu posso esperar! – Exclamou antes que a menina terminasse.

– Ok, Quinn. Eu pensei que eu que fosse a pessoa que não deixava ninguém falar. – Riu.

– Desculpe.

– Não se desculpe. – Disse fazendo Quinn voltar seu olhar para ela, exatamente como ela fizera no almoço para a loira. –Tem o Finn, mas... Isso não quer dizer que ainda tem que ter. – Rachel sorriu ao ver que Quinn estava surpresa com aquela resposta.

– Você jura?– ela parecia, desculpem a expressão, pinto no lixo. Estava alegre dos pés a cabeça. –Rachel, eu... Eu te amo tanto! Te amo tanto, tanto, tanto! Eu não sei o que dizer. Se você deixar, eu posso te dar o mundo, Rach! Vou ser a melhor pessoa desse universo pra você. Nunca vou te abandonar e... Eu te amo.

As duas sorriam abobadas e realmente não havia palavras para descrever aquele momento.

– Quinn... – Rachel chamou, mas agora sem aquele tão belo sorriso. –Eu gosto muito de você e, sim, é bem mais que amizade. Mas não sei se posso te garantir que é o mesmo sentimento que você cultiva por mim.

Por um momento, um breve momento, uma sombra passou pelos olhos esverdeados de Quinn.

– Eu imagino. Talvez eu não tenha te dado tempo para refletir sobre isso e eu não quero te pressionar. Você tem sua vida, seu namorado e-

– Quinn, para. Eu gosto muito de você, ok? E, apesar de não ter 100% de certeza que te amo mesmo, estou disposta a deixar o Finn por você. Estou disposta a esquecer um "ideal".

– Deixe-me ser seu ideal. Eu juro que vou te fazer me amar. É só... só você me permitir. – Clamou, colando sua testa a da pequena novamente.

– Aham. É claro que eu deixo. Quinn, você... Você é Quinn Fabray! Que sorte tenho eu de ter você como minha... – pausa para pensar. –E então? O que nós somos mesmo?

– Hum... – afastou-se, ganhando um olhar meio condenador de Rachel.– Rachel Barbara Berry... – Quinn ajoelhou-se à sua frente segurando sua mão.

– Oh, meu Deus... –ela pôs a mão que lhe restava por sobre a boca, chocada. –Não acredito, Quinn. – Riram.

– Você aceita ser minha... – fingiu pensar bem, como se fosse fazer alguma decisão perigosa, o que fez Rachel rir e dar um tapinha em seu ombro.–Namorada?

A pequena sorriu lindamente. Em momento algum sentira seu coração bater tão rápido e forte quanto naquele momento. Era real mesmo. Aquilo estava realmente acontecendo.

– E então? Aceita ou não aceita? – Rachel a olhou fingindo dúvida.

– É claro que eu aceito. –ela puxou Quinn para que levantasse e a beijou alegremente.Enrolando seus braços ao pescoço de Quinn, que pousara as mãos em sua cintura, Rachel tomou a iniciativa de aprofundar o beijo, pedindo passagem para que sua língua entrasse em um ritmo que parecia ter sido coreografado para elas duas. Era intenso, porém suave. Era doce e ao mesmo tempo ardente. Era assustador e era maravilhoso. Toda aquela mistura de sentimentos só dava a Rachel uma certeza.

– Te amar vai ser mais fácil do que eu pensava...- ela disse entre o beijo fazendo com que as duas sorrissem realizadas.

Fim.