Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 28
Presságios de um assassino


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiiiiii
Sumimasen pela demora!
Ah, e só uma coisinha (aviso prévio) sem mais mudanças! Aquela foi a ultima! Juro!
Prontos para mais drama?



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Presságios de um assassino

Loki

–Não é educado ficar bisbilhotando por detrás das portas, pequeno- Uma voz conhecida despertou-me do meu transe. A realidade fora daquela porta voltando como um soco.

–Sigyn- Vir-me-ei de súbito, a respiração presa na garganta.

–Soube que estão contratando um novo Sábio para o filho do rei...

–E...

–Obviamente é você.

–Poderia ser Thor- Murmurei, afastando-me aos poucos da porta.

–Thor tem seus Sábios e... Vários Mestres de Armas. Como já está chegando à maturidade, presumo-me, quatro detentores da sabedoria são mais que o suficiente, já que em breve o seu treinamento no exercito tornar-se-á bem mais necessário. - Ela discursou mostrando extrema sabedoria e conhecimento para uma jovem criada de doze anos- E o rei não possuí mais filhos de sangue, sendo como tal, você é a opção obvia.

–Mas...

–Além do mais, você não ficaria de cócoras na porta se não fosse algo do seu interesse. - Um sorriso inflamado incendiou sua boca, os dentes pequenos e retos aparecendo.

–Pensei que estaria na cozinha realizando tarefas- Observei. Eu normalmente não falava nesse tom com a criadagem, mas ela não me dava muitas opções.

–E você não deveria saber portar uma espada?- Acusou-me duramente a jovem dama.

Funguei resignado. Pensei em rebater aquelas palavras, mas meu próprio Mestre estava quase me desertando tamanha era minha ignorância em acertar um único golpe.

–De qualquer forma vou ter que retornar para minhas obrigações. Vikyi me mataria se me encontrasse vagabundeando pelo palácio. – Segredou, jogando os longos cabelos loiros para o lado. Ela era a única garota com esta cor de cabelo, um tom que quase chegava ao branco e pouco destacavam a pele albina como alabastro ou a própria neve, mas que ardia os olhos azuis intensos como o gelo refletido num lago. Mesmo tendo uma personalidade forte como o verão, Sigyn assemelhava-se a uma fada do inverno, uma estação eterna em suas feições femininas.

–Aproveite e me traga um chá- Brinquei, fingindo autoridade.

Ela me mostrou a língua, num gesto infantil.

–Claro, milorde. Ficarei muito feliz de preparar um chá de tangerina com ervas finas... Para mim. - Respondeu fingindo doçura e regando ironia

Ela se distanciou-se, arrastando seu vestido branco amarrotado. Havia poucas pessoas que mantinha uma conversa e, aquela garota era uma delas. Mesmo meu pai odiando o vinculo entre nobres e criados, nunca havia me importado com isso. Eu mesmo era tratando praticamente como um, dormindo nos cantos isolados do palácio e compartilhando as refeições com eles.

Foi assim que conheci Sigyn e nos tornamos amigos. Nossa convivência diária entre as refeições e nossas brigas e conversas cotidianas que se datam desde o dia em que ela se mudou para o palácio, há quase três anos, foi o impulso que precisava para ter alguma relação afetiva de amizade com alguém da minha idade, por mais breve e curta que fosse nosso período juntos.

Suspirei, virando novamente para a porta. Se passara um longo período desde que eles se ausentaram para conversar e nada havia ouvido além de sussurros e palavras incompreensíveis. Era como tentar traduzir o canto do vento e compor uma melodia com suas palavras. Impossível saber o que de fato estavam mencionando ou mesmo repetir uma palavra sequer. Era inútil.

E permanecer ali estava cada vez mais arriscado. Papai certamente iria me punir duramente se me encontrasse bisbilhotando. Se mentir já era inaceitável, escutar sua conversa me levaria praticamente para os portões da morte.

Esperar em meu quarto parecia à única saída.

Além do mais, se ele fosse realmente meu novo tutor, certamente ele seria apresentado assim que a escolha se confirmasse. Foi a mesma coisa com Wise Himm Nicholson, o ultimo Sábio que me deu aulas. Um homem que a primeira vista mostrou sua natureza rude e com poucos conhecimentos, com hábitos odiosos de bebidas e xingamentos.

Tinha uma esperança que com esse, as coisas fossem diferentes.

Arrastei-me pelos corredores com essa idéia positiva, tropeçando em meio a um ou outro servente que perambulava em seus afazeres ou mesmo se dirigiam na direção contraria em busca de alguns momentos de descanso nas estalagens do sótão e subsolo.

–Loki- Uma voz me despertou de meus passos. Um som desconhecido e disforme.

–Quem?

–Loki- Repetiu a voz, como um lamento dolorido na minha orelha direita.

Virei a cabeça para o lado e para trás a procura de uma alma viva que pudesse estar provocando aquele som agourento. Mas não havia ninguém. Tudo estava estranhamente vazio.

Senti o coração disparar. Queria sair dali. Sair daquele lugar.

Tentei forçar minhas pernas a se moverem, a se mexer ou correr, realizarem qualquer singelo movimento. Cambalear ou arrastar, deslizar um único passo ou perambular junto das batidas do meu coração.

Mas não consegui.

Era como se estivesse grudado no chão. Meus pés fincados na argila, sendo obrigados a ouvir o cantar daquela voz funesta e as gotas da chuva que caiam sobre minha cabeça.

Chuva?

Não, aquilo era impossível! Eu estava no subsolo! Era inconcebível até mesmo uma goteira, quem diria o inicio de uma tempestade.

Levei a Mao a testa, tentando sentir o liquido que escorria sobre elas e minhas madeixas douradas. Sentir as partículas do que achava que era água, mergulhando pela pele fina do polegar.

Mas não era o que pensava. Não era água. Não estava límpido e inodoro, ofuscado pelo brilho vago das tochas que iluminavam o ambiente.

Se tratava de algo vermelho, rubro, escarlate com nuances de carmim. Seu cheiro era férrico, como a lamina de uma espada após ser deixado um mês na madrugada saboreando as lagrimas do sereno e da chuva.

–Sangue- Sussurrei, inclinando a cabeça para cima.

O teto tornara- se um mar vermelho, uma imensidão demasiada e sufocante que deslizava pelas paredes ásperas, formando figuras disformes e sem significado. Borrões desesperados, escorrendo pelas laterais e manchando minha cabeça e meus pés.

–Você sabe quantas pessoas morreram por sua causa?-A Voz indagou, arranhando as paredes com seu eco.

Eu fechei os olhos. As gotas de sangue chorando ao colidir com o chão.

–Vai embora- Pedi, colocando as mãos sobre as orelhas, tentando afastar o som.

–Não são apenas algumas dezenas, menininho- Ele falou, como se fossemos próximos, íntimos. –Estou falando de reinos. Você governara e destruíra mundos...

Senti meus dedos tremerem. Sua voz e sua intensidade... Ele não parecia estar à distância, mergulhado numa estrada sem fim. Nem num corredor ou ao meu lado.

Não.

Ele parecia... Parecia que estava... Dentro de mim.

Dentro da minha mente.

–Você irá destruir seu próprio mundo– A Voz sussurrou ardendo de felicidade. Uma ânsia dolorosa e atormentada.- Você irá destruir Asgard...

Assim que ele proferiu aquelas palavras, todo o sangue aderido ao teto pareceu se desmanchar sobre a minha cabeça, embebendo-me por completo, sujando minhas roupas e entrando em cada poro do meu corpo.

O sangue de minhas vitimas” A idéia se sobressaltou dos meus pensamentos, enquanto sufocava e arfava com aquele liquido salgado e mortuário.

Então, mesmo sem conseguir respirar, eu gritei.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam?
Estão gostando mais dessa ou preferiam a versão original? Se não falarem eu nunca saberei!
Bem, bye bye e até os comentários!



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