Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 22
Fallen


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiiiiii
Gostaria de agradecer a todos que estão lendo e acompanhando a fic. São vocês que estão tornando ela real!



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CAPITULO VINTE E DOIS

Fallen

HODER

Retirei a camiseta velha e surrada que usara na ultima semana, jogando-a no chão, distante de mim.

Fazia certo tempo que não olhava para as cicatrizes abdominais que meu pai havia deixado em meu corpo. Mesmo após todo tempo uma mancha rosada ainda estava prensada ali, uma marca que não combinava em nada com a pele morena original, tão característica. Uma cicatriz que me levava novamente ao passado e me lembrava como valores e confiança eram frágeis , quebráveis como o vidro.

Vesti-me rapidamente, jogando um punhado de água fria no rosto, uma estratégia para me manter desperto. Desde que resgatara o garoto minhas horas de sono foram drasticamente reduzidas. Apenas me entregava a inconsciência em pequenos intervalos e somente após certificar que ele estava bem.

Havia terminado de contar a historia durante aquela manha, depois de dois longos dias de narrativa e até este momento, no desabrochar da noite, ele não havia trocado uma palavra comigo.

Eu mesmo não havia tentado puxar assunto. Estava me sentido ainda um pouco culpado por não ter contado tudo para ele.

Detalhes como o estranho e seu legado ou sobre a espada e como o trouxe de volta á vida ficaram ocultos, preservados apenas nas minhas memorias. Tudo pelo único e simples motivo:

Ele ainda não estava pronto.

Mesmo assim, Loki parecia satisfeito com a explicação, embora não ter representado com palavras. Creio que se estivesse mesmo furioso, nem mesmo sua condição decrepita e debilitada teria impedido uma possível agressão.

–Você deve estar cansado após ser submetido a toda essa conversa- Dialoguei, tentado arrumar algum assunto, um inicio de uma conversa, enquanto colhia algumas ervas vermelhas para o preparo de um bebida terapêutica.

–Uma historia tem sempre dois lados.

–O quê?- Ainda não estava acreditando que o garoto estava realmente falando comigo. Estava esperando no máximo um aceno ou um ruído de desaprovo. Nunca uma frase, uma pronunciação filosófica.

–Meu irmão, Balder sempre dizia isso. - Explicou, erguendo sua cabeça- Que nós não conhecemos a verdadeira historia. Apenas o que queremos acreditar. Repetimos o que o vencedor nos conta. Não conhecemos a versão dos perdedores ou dos mortos. Apenas uma versão distorcida dos fatos.

Coloquei as ervas em uma vasilha e acrescentei um pouco de água quente a mistura, enquanto amassava as ervas com o auxilio de uma colher rustica de coloração amarronzada.

–Seu irmão era um homem sábio- Elogiei, arrependendo- me logo em seguida. Ele certamente deveria odiar ouvir o homem que assassinou seu irmão fazendo algum comentário sobre ele.

Como esperado, o silêncio dominou o ambiente, tão forte que era possível até mesmo ouvir o bater de asas distantes de uma borboleta no meio da floresta.

–Deve estar com raiva de mim. - Disse, esperando uma cascata de expressões malignas.

Girei o copo de barro distraidamente com delicadeza deixando o chá um pouco mais homogêneo, menos denso, fazendo com que a fumaça quente e esbranquiçada se moldasse. Segurando as bordas entreguei-o para o menino.

–Eu nunca senti ódio ou raiva de você. Uma aversão e antipatia, sim. Eu queria e, me esforçava para que houvesse fúria e amargor em meu coração. Tentava dizer em voz alta o que faria quando tivesse a chance de ficar cara a cara com você- Ele olhou para o recipiente, como se buscasse seu reflexo no opaco vermelho- Mas no fim conseguia apenas sentir raiva de mim mesmo.

–Mas você...

–Sabe por que Balder estava fora do palácio naquela noite?

Não era necessário minha intervenção. Ele não queria uma resposta, apenas um ouvinte.

–Ele estava ali porque foi me procurar. O irmãozinho problemático que havia saído em uma noite chuvosa por estar atormentado, paranoico por um pesadelo sombrio- Lagrimas escorreram por seus olhos nublados, como a tempestade, a cor do desespero- Um garoto fraco com a promessa de um final. –Suas mãos tremiam, incapazes de permanecer paradas- Eu sou uma maldição. Uma praga que infectou meu irmão e acabou o levando para morte.

Eu agarrei seus ombros.

–Não fale isso novamente! Você não tem culpa do que aconteceu. Era apenas uma pequena criança. Não sabia o que iria acontecer. Ninguém nem mesmo um ser superior seria capaz de prever o que aconteceu com seu irmão. Apenas eu e a mente sórdida por trás disso somos a culpados.

–Mas quem planejaria a morte de Balder?- Ele perguntou quase em desespero.

Não podia responder aquela pergunta. Uma resposta que eu também almejava. Quem havia matado minha família e deixado o pobre e inocente Loki, apenas um garoto sem a proteção do irmão mais velho? Por que elas e outras pessoas haviam sido assassinadas aquela noite? Qual era a sua ligação? Qual era o segredo que Balder escondia naquele diário? Por que tudo aquilo havia acontecido?

Infelizmente eu não poderia responder aquelas perguntas.

As únicas pessoas que podiam ou estavam além do nosso fraco e inútil conhecimento limitado ou estavam mortos.

E mortos não falam. Nem deixam explicações.

Não podia contar com a palavra dos caídos. Daqueles que não tem mais voz e nem vida. Daqueles que tiveram o final escrito.

Os que morreram por saber demais.


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Notas finais do capítulo

Será mesmo que os mortos não falam?
Quem está por trás de tudo isso?
#Não esqueçam de deixar sua opinião!