Crônica do Fim do Mundo escrita por Sr Devaneio


Capítulo 2
Capítulo 2 - além do Além


Notas iniciais do capítulo

Você chegou até aqui?! WOW! Muito obrigado!! :D :D :D
O.k., vamos lá!
*Vamos lembrar que seu comentário é importante, sim! :)



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As várias nuances de azul o envolveu. Como sempre, quanto mais perto da superfície, mais claro. Pinguim olhou rapidamente para baixo, onde o azul se tornava misterioso e sinistro. Ele tremeu com a visão (sempre tivera medo do azul negro), por um segundo imaginando as bestas terríveis das Lendas surgindo das profundezas; elas o rodeando, cercando e depois devorando.

Era melhor não pensar em algo do tipo, então, rapidamente ele afastou o pensamento e, reunindo a força que ainda tinha, disparou para o infinito.

Horas e horas se passaram, apenas ele, o azul e seus pensamentos. Nada de sardinhas, nada de focas, nada dos outros e – oque mais o preocupava a cada segundo – nenhum sinal de Pinguinha nem de gelo.

Então, ele avançou mais rapidamente ainda (embora a fadiga se acentuasse pela fome, ele sabia que não podia parar), pois se parasse, morreria ali mesmo.

Será que estava indo na direção errada? Aquilo o preocupou mais ainda, pois antes de pular, ele não tinha pensado nisso. Todos (inclusive Branco) diziam que todas as direções dariam para o Além. Então, não era possível “se perder”...

Nesse instante, quando a preocupação e a fome o assolavam, ele viu.

Era minúsculo, mais seria mais que o suficiente.

O cardume de três sardinhas nadava despreocupadamente, apenas alguns metros à frente de Pinguim.

Ele não conseguiu conter o riso de satisfação e agora, duas vezes mais motivado, juntos as forças que tinha e disparou mais rápido ainda.

Não demorou muito até que as sardinhas o vissem e, desesperadas, começaram a fugir. A diversão finalmente havia começado. Com piruetas e voltas ágeis (elas eram mestras na agilidade), elas desviavam das investidas famintas de Pinguim. Mas ele não ficava para trás. Com movimentos graciosos, as perseguia fielmente, confiante de que logo as conseguiria.

E enfim, após alguns minutos – ou mais algumas horas, no desespero e agonia molhados de Pinguim, tanto fazia – e com um movimento digno, a primeira sardinha acabou dentro do bico de Pinguim, que engoliu sem rodeios.

Isso causou mais pânico nas duas restantes, que, mais ágeis ainda, dispararam à frente.

Mas agora, já era tarde demais. Pinguim havia conseguido a primeira, e tudo estava muito divertido. Agora, quatro vezes mais motivado, ele disparou atrás enquanto sentia suas forças irem voltando lentamente.

Horas depois (desta vez, ele tivera certeza de que foram horas), as duas ‘sobreviventes’ estavam no estômago de Pinguim, e ele seguia triunfante para o Além. Divertido e animado.

Até tudo se escurecer.

“A Bola Brilhante devia ter morrido por hoje” - Pensou Pinguim.

Mas uma simples escuridão não o iria impedir de encontrar Pinguinha. Nem mesmo quando toda a diversidade de azul se tornou um tom só – escuro e frio -, nem mesmo os pensamentos aterrorizantes sobre as criaturas das profundezas, nada o ria desmotivar. Não agora.

Ele estava longe demais de seu familiar iceberg para recuar.

Afastando os pensamentos ruins, ele continuou mais lentamente – para não desmaiar de cansaço - mas sem parar, para o infinito.

Quando as nuances (e a suave claridade azul-marinho) retornaram, no novo nascer da Bola Brilhante do Céu, um Pinguim exausto e novamente faminto se sentiu afagado pela luz.

Apesar de tudo, ele sorria, pois sentia que a cada bater de asas, a cada milímetro submarino percorrido, Pinguinha e o Além estavam mais perto.

E ele persistiu, faminto, exausto e com um misto de sensações, mas não totalmente derrotado. Ele ainda tinha esperança.

E sua esperança o manteve consciente por mais algumas poucas horas, até ele sentir que a superfície estava mais quente, que a Bola Brilhante passara do meio do céu em sua trajetória diariamente incansável, e enfim, suas nadadeiras e pés foram ficando dormentes, a cabeça, pendendo para baixo e os pensamentos ruins atolando sua mente.

De repente, ele se sentiu angustiado, irritado e derrotado. Havia chegado tão longe... para isso?

Mas não havia mais nada a ser feito, seu corpo suplicava por um descanso – e, como não havia mais gelo para repousar -. Então ele finalmente reconheceu sua derrota e se deixou vencer pelo mar.

Seu corpo foi ficando leve, seus olhos foram se fechando e então, ele finalmente compreendeu: o além só poderia ser alcançado daquela forma.

Talvez Pinguinha já o estivesse esperando há muito, entediada pela demora, se perguntando o que Pinguim estaria fazendo de tão importante que não se deixava desaparecer no Fim azul.

Então, era isso. Ele passara dois dias nadando como louco para nada. Realmente, se ele tivesse qualquer resquício de força, ele agrediria o azul. Agrediria o Fim, por tê-lo feito passar por tudo aquilo para acabar daquela forma.

E, no final das contas, ele cairia para o abismo de azul negro. Tudo o que ele sempre temera. Talvez morresse antes de chegar ao começo da escuridão. Talvez nem sentisse as garras e dentes afiados dos monstros o destroçarem.

Mas agora, ele não ligava. E acima de tudo o que sentia, não pôde deixar de sentir felicidade. Agora que compreendera, que encontrara o caminho para o Além, tudo aquilo teria fim.

Ele reencontraria seus pais, seus amigos, as sardinhas e até as focas – brrr –. Ele reencontraria Branco e a Pinguinha e todos seriam felizes para sempre.

O Fim teria fim.

Enquanto se deixava afundar, seus olhos foram se fechando devagar. Agora ele mal podia esperar para rever todos novamente. Mal podia esperar para a escuridão final o levar para o misterioso e maravilhoso Além. Ele imaginava que cores o além teria... Se seria azul, ou branco, ou preto...

E foi aí, no último momento, no último instante em que seu fiasco de força o mantinha consciente, que ele ouviu o som do Além.

Ele pensou que fosse algo mais gracioso, mais convidativo. Na verdade, era um ruído horrível, que no primeiro instante pareceu vir de todas as direções. Era quase como um...

Um fio miraculoso de força o envolveu e ele se levantou, rígido e assustado. Olhou em todas as direções, até perceber que o som se concentrara em uma só direção. Em alguma parte da superfície dessa direção, uma figura escura começou a surgir. De início, pareceu pequena, mas conforme os segundos foram correndo, começou a crescer.

E se ele estivesse errado?

E se, na verdade, fosse uma última foca inimiga, mortal e faminta?

Apesar de ainda estar longe, deu para perceber que se tratava de algo grande – pois não parava de crescer conforme se aproximava. Então, a exaustão retornou para cobrar a conta, parecendo piorada pela tensão gerada; tudo a sua volta foi escurecendo conforme ele lutava com todas as forças para ficar consciente.

Involuntariamente, seu corpo ficou leve e anestesiado. O barulho e a figura aumentavam, Pinguim entrou em desespero, mas tudo o que pôde fazer, foi torcer para que ele não estivesse errado. Que o Além realmente se alcançasse pela morte.

E então, subitamente ele parou de se importar, o som desapareceu e tudo finalmente ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Woow, tá acabando... Só mais um ^^
~Comenta, vaai... *-*