Angeles NightWalker

A vida é linda, a vida é uma fofa e...

— SAI DA FRENTE, MUCHACHOS!!! — eu gritava enquanto eu carregava uma mala de viagem quase do meu tamanho e uma bolsa pendurada no meu ombro e que ficava balançando porque eu estava correndo.

Porque eu estava correndo?

Simples, porque eu me perdi (o que acontece facilmente) e porque eu precisava arranjar um teto pra mim. Um dormitório, na verdade. E eu estava rezando para a minha colega não ser nojenta (em todos os sentidos), o que eu não estranharia ver acontecendo já que eu sou azarada.

Dos 365 dias e 6h, 365 dias meus são repletos de azar. O que significa que eu só tinha 6h.

E eu rezava para que naquele momento fosse uma daquelas 6h.

Eu cheguei até a secretaria ofegando. A secretária me lembrava daquela lesma dos Monstros SA.

— Posso ajudá-la? — Deus, até a voz era parecida...

— Ãh? Ah, sim, eu preciso arrumar um dormitório...

— Me desculpe, mas não temos mais nenhum.

Meu queixo caiu, é realmente não era uma das seis horas de sorte.

— A senhora poderia checar, por favor? Eu não tenho nenhum lugar... — pedi como uma criança que pedia um doce.

— Um momento.

Ela ficou teclando e parei para ver o lugar ao meu redor. O lugar era impecável e exalava como um daqueles lugares misteriosos e de classe antigos, como da época vitoriana! Eu realmente fiquei feliz de ter prestado pra uma faculdade em Londres.

Eu sempre morei na Flórida, mas sempre quis vir para a Europa, eu e meu melhor amigo Allan que conheci desde os dois anos de idade num parquinho. Me lembro até hoje.

Eu sempre ia para aquele parquinho brincar, já que meus pais nunca tinham muito tempo para mim. Eu sempre ia com a minha avó. Eu estava no escorregador quando vi dois meninos zombando de um na caixinha de areia.

Aquilo me enfureceu de uma tal forma que nem posso expressar. Eu, desde pequena, fui muito forte e então cheguei dando uma cambalhota pela caixinha de areia pra acertá-los como uma bola de demolição.

Eu me virei para ver o menino e vi um menino de cabelos pretos com olhos verdes MUITO lindos. Eu sorri para ele e estendi minha mão.

— Oi, eu sou a Angeles. E você? — ele sorriu de volta.

— Oi, Angeles, eu sou Allan.

E desde então nos tornamos melhores amigos. Ele prestou para publicidade, enquanto eu prestei para farmácia.

Todos ficaram chocados quando eu disse o que ia prestar. Sempre achavam que eu ia prestar alguma coisa relacionada ao campo de Humanas, como desenho ou escrita. Eu amava escrever, mas não precisava cursar uma faculdade para ser escritora, então eu sempre fazia esses meus hobbys no meu tempo livre.

Meus pensamentos foram interrompidos pela secretária.

— Senhorita NightWalker, eu acabei de checar os dados e há um dos quartos que cabe mais uma pessoa.

Oh! Será uma das seis horas?

— Porém seu companheiro de quarto será um homem...

O QUE? EU VOU TER QUE DIVIDIR UM QUARTO COM UM HOMEM?

Respira Angeles, respira. Tudo vai ficar bem, talvez ele seja um homem bem legal, um garoto fofo.... Ou não.

Suspirei, eu não tinha outro lugar, por enquanto eu tinha que ficar com esse lugar mesmo.

— Sem problemas, senhora...

— Mary.

— Senhora Mary. A chave?

Ela me entregou a chave e eu fiquei brincando com ela nos meus dedos. O número era 371. Terceiro andar. Carreguei as minhas malas e percebi que eu tinha que buscar o resto da minha bagagem com Allan que já tinha um quarto. O dele era o 359. Pelo menos eu vou ficar no mesmo andar que ele, pensei. E ele com certeza vai adorar conhecer meu colega de quarto, afinal ele é gay.

Parei em frente à porta. Suspirei, bati uma vez avisando que eu estava entrando e na hora congelei.

Na minha frente estava parado um menino que facilmente poderia ser um deus grego. Ele tinha cabelos pretos, usava só uma calça jeans escura, estava descalço e quando se virou para me olhar, vi que seus olhos eram violetas. Fiquei encarando ele e ele, que ficou irritado com isso, arqueou uma sobrancelha.

— O que você quer?

O tom de voz estalou na minha cara como um tapa. Entrei no quarto com o queixo levantado. Eu não ia deixar esse garoto lindo revoltado falar do jeito que quiser comigo.

— A minha cama, é o que eu quero. Afinal, esse é o meu novo quarto.

Quem diria que eu iria dividir um quarto com um demônio?