O chão estremecia por sobre os seus pés. A enorme poeira vermelha acompanhava o cavalgar nada suave de uma dama apodrecida que galgava firmemente sobre os penhascos ao longe. Hela não estava brincando sobre sua vingança pessoal. Ela iria mostrar à Loki do que era capaz.

– Pessoal, Hela está chegando. – Simmons avisava enquanto olhava para a amiga que ainda estava paralisada.

– Thor está muito fraco para a luta. – Sif alertou. – Precisamos de um plano.

– A nave alienígena! – May gritou, apontando para a enorme máquina de bronze. – Podemos usá-la para sair daqui.

– Se sairmos, Hela vai destruir tudo e todos quantos puder – Coulson avaliava as consequências. – Precisamos lutar.

– Ela vai destruir tudo com ou sem a gente no seu caminho, senhor. – Fitz apressou-se em responder. – Estamos em menor número, Thor está fraco... Nossa única chance de sobreviver é utilizando a nave para sair daqui enquanto há tempo.

– Não. – Coulson deu alguns passos em direção a Skye que estava paralisada em posição de defesa. – Temos uma Hela ainda.

– Coulson – May aproximou-se dele, cautelosa. – Você só pode estar brincando! Você acabou de assistir o que essa coisa é capaz de fazer...

– Não é uma coisa! É a Skye! – ele reclamou, alterando o tom de voz.

– Não Coulson, não é a Skye! – May aumentou o tom também, tentando fazê-lo cair na real.

– Você nem ao menos pensou, não é mesmo? – ele olhou para a asiática, seus olhos a condenavam. – Quando atirou em direção aos dois? – May sentia seu coração acelerando e sua garganta secando. – Quando atirou aquele míssil em direção a ela.

– Claro que pensei, Coulson! Eu não...

– Mas ela era a ameaça, May – ele estava agindo completamente estranho com ela naquele momento. – E esse é o seu trabalho. Eliminar a ameaça.

– Coulson – ela abaixou o tom, defendendo-se – Você sabe que não é assim que...

– Vá em frente, May. Conte-nos como foi...

Ela cansou de ser interrompida.

– Você deixaria Skye matar Simmons, Coulson? Com aquele raio? Daquela maneira? Huh? Deixaria? – ela agora o encarava, desaforada. – Quando eu entrei naquela nave eu entrei imaginando o que Skye sentiria se ninguém a impedisse de fazer aquilo. Logo ela... Que era tão altruísta... Ela nunca se perdoaria, Phil. – Melinda abaixou o tom de voz e Coulson fora tomado por um remorso por tê-la acusado daquela maneira. – Claro que eu tive medo de machuca-la. – ela deu uma pausa, repousando sua mão no ombro dele. – Eu também tenho medo de perdê-la.

– Melinda, eu – ele estava envergonhado de si mesmo. – Eu não quis... Me desculpe. Eu estou nervoso, perdi a cabeça... Me desculpe.

– Tudo bem, Phil. – a asiática suspirou, acalmando-o. – Precisamos descobrir como Idunna pode nos ajudar a trazê-la de volta.

– Senhor, Idunna está acordando! – Ward gritou há alguns metros dele.

– O que está... Quem são vocês? – A mulher pronunciava num lindo sotaque, carregado de ternura e cansaço. – Cadê a minha... Violet?

– Oi – Simmons aproximava-se dela. – Somos amigos da Skye, sua... Filha. – a cientista tentava uma aproximação.

– Vocês são de Midgard? – Ela falava fracamente.

– Sim, Idunna – Coulson os apresentava. – Somos da S.H.I.E.L.D.

A mulher soltou um suspiro e tossiu algumas vezes, com dificuldades de respirar.

– Onde está ela? – Idunna olhava para os lados, procurando a filha.

– Ela está paralisada, sinto muito. – May respondia, corando um pouco. – Precisei detê-la antes que ela matasse um membro da nossa equipe.

– Fez bem – a jovem senhora sorriu levemente. – Eu teria feito o mesmo.

Coulson abaixou a cabeça, lembrando-se do seu mal comportamento de minutos atrás.

– Desculpe incomodá-la com perguntas assim, sabemos que você não está bem, mas... Sabe como podemos trazer a Skye de volta? – Simmons perguntava também em tom doce.

– Isso é um grande problema. – Hela chegava cada vez mais perto, e o barulho do seu comboio tornava-se cada vez mais alto. – Loki despertou a consciência do momento em que ela nasceu... Do momento em que a filha da morte veio à vida... Hela sempre esteve dentro de Violet.

– Como assim, filha da morte? Você não é exatamente o contrário? – Ward perguntou. – Você é boa, assim como Skye é... Como ela pode ser tão má nessa nova natureza?

– Isso não veio de mim. Veio de Wade, o pai de Violet. Mais conhecido como Deadpool. O mercenário mais sanguinário que eu conheci.

– E vocês...

– Sim. Wade não era ruim comigo. Ele cuidou de mim quando estávamos em Midgard. – os agentes se espantaram com aquela informação. – Mas ele era perturbado mentalmente, nunca conseguiu superar suas perdas, tornou-se o monstro que todos temem...

– Eu sinto muito. – Fitz mostrava algum apoio.

– Tudo bem, querido – ela sorriu. – Isso já faz muito tempo.

– Espera... Se essa memória despertou a Hela em Skye, só precisamos despertar nela suas memórias como... A nossa Skye, não? Suas boas lembranças. – Ward começava a ter uma ideia.

– Isso! – Coulson aprovou. – Mas precisaríamos do objeto que Loki usou para fazer a transformação.

– O trono – Idunna lembrava-se. – Loki usou um trono que conseguia deter parte do poder de Skye para transformá-la em Hela. Tinha um capacete na parte de trás.

– E onde fica esse trono? – Jemma perguntou animada.

– No lugar onde vocês nos encontraram.

– Idunna – Coulson perdeu o chão por um momento. – Aquele lugar já era. Desabou em pedaços. Em cima de Loki...

– Não se engane. Loki está vivo. Consigo senti-lo em algum lugar por aqui.

– Claro que está. – May virou-se, suspirando em desgosto.

– O que está havendo? – Thor recobrava a consciência aos poucos.

– O batalhão de mortos de Hela – Sif apontava para o comboio cada vez mais perto. – Precisamos fazer algo. Não podemos salvar ninguém se morrermos.

– Então vamos acordar Hela – Thor disse, pondo-se de pé com a ajuda de Lady Sif. – Ela já deve estar despertando. Talvez meu martelo consiga destruir a última camada desse campo de força que a envolve.

– Mas acordando Skye...

– Nós acordamos Hela, eu sei. – Thor olhou para Fitz, tentando acalmar o garoto. – Mas não podemos lutar contra duas Helas, meu jovem. Se acordarmos Skye ela lutará com Hela e aí só teremos uma delas para deter. Teremos mais chances desse jeito.

– Tudo bem. – Coulson olhou para o deus. – Quer fazer o favor? Hela está aproximando-se cada vez mais.

– Desculpe, garota. – Thor girou o martelo e atingiu com tudo o campo de força que envolvia Skye, lançando-a há alguns metros dali.

O grupo estava apreensivo e tenso assistindo à cena. O campo de força foi rompido violentamente e a Nova Hela estava estirada no chão enquanto já se ouvia a voz de Hela e seus mortos vindo de encontro ao grupo. Eles correram em direção à Skye ainda desacordada no chão, esperando que ela acordasse e lutasse com a verdadeira Hela.

– Vamos, Hela... Levante-se! – Coulson gritava com ela, tentando acorda-la. – Você precisa tomar o seu trono! Acabar com aquela impostora! – Todos olhavam espantados para o chefe, vendo-o incitar a garota à luta. Mas naquele momento, era o que precisava ser feito.

– Acorde, garota! – May deu um chute na lateral do corpo de Skye, fazendo Jemma agarrar o braço de Fitz com força. – Você vai deixa-la tomar o seu lugar?

Skye começava a se contorcer com o impacto dos chutes e das vozes que ela começou a ouvir ao redor de si. “O que estava havendo ali?” May preparava-se para dar mais um golpe quando a garota acordou bruscamente e segurou o pé da asiática antes que ela a atingisse.

– Quem você pensa que é para me desafiar? – Skye, agora bem acordada, partiu para cima da May que desviava de seus ataques.

– Não sou eu que estou te desafiando, Hela. – May respondeu, apontando para o lado. Hela estava a menos de cem metros deles. – Ela quer tomar o seu trono... Mas você é muito mais poderosa do que ela. – May continuava a incentivá-la. – E aí? Vai perder para essa impostora ou vai mostrar quem é que manda? – A asiática dava um sorriso malicioso, esperando que Skye a ouvisse.

– Ninguém tomará o meu trono. – Skye limpou o sangue da testa com o dorso da mão. – Ninguém rouba de Hela.

– Então o que está esperando? – May apontou para a desafiante. – É hora do Hate-Fu.

As duas Helas estavam frente a frente. Loki ainda não havia aparecido, mas sabia-se que ele estava vivo. Idunna e Thor precisavam de cuidado e descanso. A equipe necessitava de uma parada técnica.

May e Sif adentraram a aeronave e dirigiram-se ao palácio de Odin. As Helas estavam próximas a um penhasco relativamente distante do palácio, era uma distância segura. Eles teriam tempo de cuidar dos dois asgardianos e pensar sobre o que fazer quando Loki e Skye reaparecessem na sua frente. Uma pausa para respirar.

– Oh, você voltou! – Skye mostrou uma expressão sarcástica para Hela. – Já se esqueceu do nosso último confronto, queridinha? Você voltou se arrastando para Niflheim – ela deu uma gargalhada. – O que foi foi particularmente ridículo.

– Na verdade... É acho que esqueci. – Hela fez-se de desentendida. – Quer fazer o favor de me lembrar?

– Com todo prazer. – Skye mordeu o lábio inferior até sangrar e bebeu do próprio sangue, sorrindo de uma forma sinistra. – Quem você quer que eu mande primeiro para Niflheim? Você ou seu pequeno bando de cães?

– Isso fica a seu cargo. – Hela bateu o pé fortemente no chão e a poeira começava a formar um redemoinho. – Chegou a hora do combate final.

Skye abriu os braços estendendo-os aos céus logo em seguida. Em questão de alguns segundos ela conseguiu absorver a eletronegatividade das nuvens acima, formando uma espécie de ponte magnética entre as nuvens e o solo. Suas mãos tremiam com os raios que ameaçam escapar. Ela tinha uma força incrível.

– Vem pra cima, então. – Skye pronunciou, cerrando os dentes. – É hora do hate-fu.