Era pouco depois das quatro da tarde e Molly estava no necrotério do St Barts tão concentrada no que analisava que não percebeu sua aproximação, só se deu conta que tinha companhia quando ele sussurrou em seu ouvido com a voz rouca e depositou-lhe um beijo no pescoço:

— Olá Molly – se não fosse por todos os anos de treinamento, teria derrubado o que tinha em mãos.

— Pelo amor de Deus Sherlock – disse colocando as coisas em cima da bancada — Quase me mata de susto!

O detetive tinha uma expressão divertida no rosto e apertava os lábios para não rir da cara da legista.

— O que fazia tão compenetrada?

— Algumas análises – percebeu que ela omitiu algo, mas preferiu não comentar.

— Hum... – pegou uma mexa solta do rabo de cavalo dela e colocou atrás de sua orelha — Vai ficar na Baker Street essa noite?

— Sim – precisava conversar com ele.

— Se quiser posso te esperar e vamos para lá juntos.

— Ainda vou demorar, tenho que terminar uns relatórios, você vai ficar entediado.

—Te observar não me entedia – ele encostou seus lábios de leve nos da legista.

— Tente não me distrair sim? – disse se afastando dele e guardando as coisas que havia em cima da bancada, pegou os relatórios que precisava terminar e começou a escrever sob o olhar de Sherlock.

Fazia pouco mais de um ano que eles estavam juntos, volta e meia quando ele tinha seus momentos de tédio aparecia no necrotério para lhe fazer companhia, ás vezes até lhe ajudava em algo, eram raras as ocasiões em que Sherlock voltava a ser como era antes, nada com que ela já tivesse aprendido a lidar.

Quando terminou os relatórios já estava quase escuro, saíram do hospital e foram juntos para o 221B na Baker Street de mãos dadas, chegando lá Sra Hudson recebeu-os com chá.

— Olá crianças – Sra Hudson colocou a bandeja na mesinha, Sherlock revirou os olhos diante da expressão ‘crianças’ — Vai ficar por aqui hoje Molly?

— Sim.

— Então tente fazer com que Sherlock durma, ele passou a madrugada atirando na parede.

— Pode deixar Sra Hudson, eu sei lidar com ele – a senhora saiu rindo. Sherlock abriu os braços e Molly sentou em seu colo na poltrona, ficaram em silêncio, ele massageava as costas de Molly.

— Sherlock, preciso tomar banho – ela disse saindo de seu colo, ele se levantou e ia acompanhá-la, quando ouviram baterem na porta — Vá atender, quem sabe não é Lestrade com algo que o impeça de esburacar as paredes de madrugada?

— Hoje não tenho porque ficar entediado – ele deu um sorriso cheio de significados e subentendidos, ela sorriu com a resposta dele, bateram na porta novamente, ela fez sinal para ele ir ver quem era e foi tomar um banho para relaxar. Como contar?

Saiu do banho e todo o relaxamento que sentiu no chuveiro foi embora após se vestir, foi até a sala e Sherlock conversava com os Watson na sala, sentiu alívio quando viu Mary talvez algumas palavras da amiga a ajudassem, a pequena Watson sentada no colo do padrinho veio correndo abraça-la quando a viu.

— Tia Molly – pegou a menina de olhos castanhos e cabelos cor de mel no colo — Trança meu cabelo?

— Oi Charlotte, tranço sim – foi cumprimentar o casal Watson.

— Mary posso conversar com você um minuto?

— Claro.

As três desceram até a cozinha de Sra Hudson, Molly pegou Charlotte no colo e enquanto trançava seu cabelo pensava na melhor maneira de dizer, começou a falar rápido demais devido ao nervosismo:

— MaryestougrávidaenãoseicomocontaraSherlock

— Molly repete e devagar que eu não entendi nenhuma palavra

— Mary – inspirou e expirou o ar antes de continuar — Estou grávida e não sei como contar a Sherlock...

Mary levou menos de um segundo para processar o que ouviu, abriu um sorriso enorme de felicidade ao ouvir a notícia.

— Como descobriu?

— Confirmei hoje, como você contou a John?

— Não contei, Sherlock deduziu sozinho e contou.

— Não sei como ele receberá a notícia...

— Deixe de ser boba Molly, apenas conte.

Molly suspirou.

— Vou preparar um chá de camomila, vamos tomar, você vai se acalmar e quando John, Charlotte e eu formos embora você vai contar.

Então elas notaram que estavam a sós, Charlotte não estava mais com elas, saíram correndo atrás da menina, ela não contaria, contaria? Sim, ela tinha se tornado cúmplice do detetive e padrinho.

No andar de cima Sherlock e John conversavam quando a pequena Watson entrou na sala correndo como um furacão.

— Isso são modos Charlotte? – o pai a repreendeu

— É Molly... – disse recuperando o fôlego, Sherlock levantou-se da poltrona em que estava num salto achando que tinha acontecido algo.

— O que foi Lottie? – perguntou preocupado.

— Tia Molly vai ser mamãe e Tio Sherl vai ser papai – soltou com o maior sorriso inocente no rosto.

O silêncio atingiu o ambiente.

Molly e Mary apareceram na porta em seguida.

John estava sem palavras com um enorme sorriso no rosto.

Sherlock conheceu um sentimento muito maior. Pensava que não podia amar alguém tanto quanto amava Molly, e naquele momento soube que já amava aquele pequeno ser que sequer conhecia direito