(Hiatus) The Soul escrita por Rose


Capítulo 3
Capítulo Dois, Óleo e Pistões


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários, acompanhamentos, pelo favorito, enfim, por tudo!! Fico muito feliz que estejam curtindo, e dedico este capítulo à todos vocês, meus queridos.
Ah, e vou esclarecer um aspecto: Vou dividir esta fic em partes, e estas podem ser curtas ou bem longas. A primeira vai ser curta. -spoiler. Boa leitura!



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Jared põe os óculos escuros e respira fundo. Acomoda-se no banco do motorista, fechando as mãos em torno do volante. Encara a si mesmo pelo espelho retrovisor, fazendo algumas caretas com a boca.

É a minha vez de respirar fundo. Enrolo algumas mechas soltas de meu cabelo em meus dedos, ajeitando-as. Passo as mãos no tecido de meu vestido azul-claro, temendo que ele esteja demasiadamente abarrotado. Essa obsessão por perfeição se deve ao meu desconforto extremo causado pela ausência de Melanie, e, sobretudo, de Ian.

Deve ser por volta das três da tarde, pela posição do sol. O céu ainda está pintado com um azul vívido e algumas pinceladas de nuvens aparecem raramente. A brisa matinal já desapareceu, e agora só nos resta o mormaço. Estou suando, mas creio que seja mais por nervosismo do que por calor.

– Peg? – Jared ergue as sobrancelhas, que antes estavam escondidas atrás das lentes dos óculos escuros, e me encara com o que parece ser curiosidade.

– Sim? – limito-me a responder, fazendo-o abrir um pequeno sorriso.

– Não vai entrar? – ele aponta para o banco do carona.

Eu prefiro sentar no banco traseiro, como sempre, mas resolvo não comentar. Lembro-me vagamente de alguém dizer que é importante que eu mostre maturidade; não devo demonstrar os vestígios de sentimento que ainda me assombram, e devo agir como se fôssemos bons e velhos melhores amigos. Foco na certeza que tenho quando estou com Ian e na dúvida que tenho quando estou com Jared. Certeza é o que escolhi e o que sempre escolherei – e no fundo, nunca houve escolha. O que sinto por ele é apenas uma fração da fração do que Melanie sentia. Agora sou Peregrina. Abro um sorriso com esse pensamento em mente e caminho lentamente até o jipe.

– É claro – digo assim que me aproximo o suficiente para abrir a porta.

Sento-me receosamente, passando o cinto com cautela para não amassar meu vestido. Apoio as mãos gentilmente em meu colo e encaro a paisagem alaranjada que nos cerca.

– Você está bem? – ele pergunta, com sua mão pousada no câmbio. Não quero olhá-lo, portanto apenas aceno com a cabeça positivamente. Espero que ele entenda minha dica.

Jared não decepciona; ele é inteligente. Deve estar acostumado com essas crises de Melanie, e já deve dominar a habilidade de saber quando insistir ou não em um assunto.

Quando ele gira a chave na ignição, o motor ronca. Jared pisa no acelerador e o veículo começa a se mover, primeiro lentamente, e depois mais ritmado.

Adentramos na estrada, que estava vazia como sempre. Uma vez em movimento, o vento já pode ganhar acesso entre os fios de meu cabelo, que agora dançam descontroladamente. Fecho os olhos com a sensação, boa demais para não ser aproveitada. Tento não lembrar que a distância até o hospital mais próximo é de oitenta quilômetros, e como não podemos exceder o limite de velocidade, isso nos custará pelo menos uma hora de convivência silenciosa – espero, pelo menos, que seja silenciosa. Vinte minutos já se foram.

Infelizmente, nem tudo o que esperamos se realiza.

– Conte uma história – ele pede. Sei que não deve estar de fato interessado, mas sei que quer quebrar o silêncio.

– Sobre o quê quer ouvir? – pergunto um tanto evasiva. Eu me empolgo demais delirando no meu passado, nas minhas antigas vidas e planetas. Acho que sou muito saudosa.

– De onde aquele seu amigo novo veio? – ele pergunta subitamente, o que me deixa um tanto confusa. Demoro alguns segundos para focar na resposta. – Flores Vivas... – Jared ria debilmente, tentando se lembrar do nome.

– Calcinadas. Cal – eu sorrio, de repente, bem o bastante para olhá-lo sem me sentir mal ou envergonhada.

– Nós não trocamos muitas experiências ainda – comecei, de repente, entusiasmada. – Mas ele comentou que seu último planeta fora o Mundo do Fogo – as histórias dos provadores de fogo começam a passear pela minha mente e pelos meus olhos.

– Calcinadas – ele repete, em um tom estranhamente alegre.

– Acha que eles ficarão conosco? O grupo de Cal? – pergunto, enrugando a testa.

Eu sinto falta deles. Disseram que manteriam contato com Jeb, mas imagino que ele não me veja como a pessoa certa para discutir esses tipos de assuntos, portanto não estou muito atualizada. Gostaria de ter mais oportunidades de dialogar com ele. Pareceu-me uma boa alma.

– Não sei. Não acho que O’Shea vá gostar, de qualquer forma – ele olha para mim rapidamente, e depois volta sua atenção à estrada. Não sei como interpretar isso.

– O que quer dizer? – acho que estou soando inocente demais, mas não me importo.

– Ciúmes. Ah, ele ficou com ciúmes no instante em que vocês dois se conheceram – ele soltou uma gargalhada, mas não era genuína; era irônica. Melanie gostava dessa palavra e eu não demorei muito para atribuir um significado real a esta.

– Que bobagem. Eu amo Ian, e ele é meu companheiro – eu digo com firmeza. Sunny disse que devemos sempre reafirmar o que sentimos, pois nos deixa mais completos. Ela tem razão e procuro seguir seu conselho sempre que posso.

Jared não responde e temo tê-lo deixado encabulado. Ele não é como Ian; Jared tem dificuldade para falar sobre seus sentimentos com pessoas alheias. Eu já acho bom o suficiente que ele esteja tentando estabelecer um vínculo comigo, e tentar expandir essa linha tênue entre amizade e confidentes é arriscado.

Porém, percebo que talvez não seja isso. O veículo está diminuindo de velocidade e indo para o acostamento vagarosamente. Franzo o cenho, porque não estou entendendo o motivo de estarmos parando. Então, percebo que uma fumaça levemente acinzentada está escapando do capô e o carro para.

– Acho que temos um problema – ele puxa o freio de mão e solta o cinto.

Olho para a estrada. Não parece que alguém vá se aproximar tão cedo. Suspiro em alívio. Tudo o que nos cerca é o vazio e as pedras duras que encobrem o chão de areia.

– O que aconteceu? – minha voz soa assustada. Evito ter de pensar em passar muito mais tempo do que o necessário devido a “problemas mecânicos”. Eu prometi a Ian que estaria de volta ainda naquela noite, e implorei para que ele me esperasse acordado.

– O nível de óleo está abaixando muito depressa. Estamos ferrados – ele diz, irritado. Não gosto dessa palavra, não apenas por ser pejorativa, mas por significar que estamos em sérios problemas. – Não sei como poderemos arranjar novos pistões, mas é disso que precisamos – ele leva a mão até a testa e fecha os olhos com um ar cansado.

Abaixa o capô e guarda os óculos escuros no bolso. Seus olhos parecem aflitos e me encaram cheios de dúvidas. Tudo o que eu tenho a dizer a eles é que não quero ficar presa aqui. Estamos longe demais para voltarmos a pé, e longe demais para seguirmos a pé para o nosso destino, ainda mais sem garrafas de água o suficiente. Lembro-me bem de quando eu e Melanie quase morremos tentando. Odeio meios de caminho, digo a mim mesma.


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Notas finais do capítulo

E agora hein..
Manifestem-se, darlings
Xoxo