Para Leste e Além escrita por RTM


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um Convite Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Esta aventura é baseada nas obras de J.R.R. Tolkien. Muitos personagens, lugares e paisagens pertencem a Tolkien.



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16 de Março de 2990 (Registro dos anos em Gondor)

            Merimac ouviu seu estômago reclamar com ressonantes roncos. "É claro!", pensou, "Estive tão atarefado arrumando meu quarto que me esqueci da ceia das onze. Preciso comer alguma coisa, afinal um saco vazio não pára em pé." Ele pulou da cama e caminhou em direção à cozinha. Mas ao passar em frente à redonda porta fechada da sala de estar, ouviu algumas vozes. Sua curiosidade o fez se aproximar cuidadosamente até encostar o ouvido na porta. Ele então escutou seu tio-avô, Saradas Tûk, falando:
            - Veja só, meu amigo Glorfindel. Estou velho e cansado demais para sair em aventuras. Nem todos os tesouros do mundo me fariam sair de minha aconchegante toca. Este velho e pequeno hobbit já não é mais capaz de correr pelas planícies, escalar montanhas e enfrentar perigos. Como minha avó já dizia, "a melhor idade é a velhice, quando enfim podemos descansar nossos velhos ossos em confortáveis cadeiras à sombra da varanda de uma toca em uma tarde de verão".
            - Sinto muito por ter lhe feito este pedido, mas como já expliquei, a situação é complicada. Mithrandir exigiu a presença de um hobbit, pois ele vê sua raça com muitos bons olhos. E mestre Elrond também tem a mesma opinião. Saradas, você já nos auxiliou em diversas ocasiões...
            - Sim, meu amigo elfo, nunca lhes neguei um pedido e sempre me esforcei ao máximo para ajudá-los no que fosse necessário. Conheço Mithrandir, ou Gandalf como chamamos por aqui. Sei que ele é mais do que aparenta, sabe mais do que fala e tem seus segredos. Sábio é aquele que diminui sua grandeza para tratar os outros como iguais, dizia minha avó...
            Merimac sentiu o coração bater mais rápido. Ao ouvir as palavras "aventuras", "Gandalf" e "elfo", lembrou-se das histórias que ouviu a respeito de Bilbo Bolseiro, que há 50 anos havia saído em busca de aventuras incentivado por Galdalf e voltara com incríveis riquezas e, diziam, artefatos mágicos dos elfos. Ao contrário da maioria dos hobbits, Merimac sempre teve vontade de sair de casa e explorar o mundo. Seu sangue Tûk sempre falara mais alto, por isso há alguns anos teve que deixar o Condado e sua família Brandebuque para ir morar com seu tio-avô em Bri. Pois os hobbits do condado já estavam falando dele e de suas travessuras.
            - Compreendo a urgência da situação. Mas ao contrário de vocês, nós ficamos fracos e lentos com o avançar do tempo. Não, meu caro elfo apressado, sente-se, sente-se. Você não entendeu, eu disse que eu não poderia ir nesta aventura, mas não disse que não ajudaria. Aliás, tenho aqui a pessoa ideal para ir com vocês. Quero que conheçam meu sobrinho, Merimac!
            Ao dizer isto, Saradas abriu a porta e Merimac caiu no chão soltando um grito de surpresa. Ele se levantou rapidamente e ficou parado de pé com o rosto corado, seus olhos arregalados observando seu avô e seus convidados. E viu várias pessoas grandes, mas muito diferentes das que viviam em Bri. Eram mais altos e bem mais belos, tinham a pele bem clara e olhares sábios. Elfos! Como Merimac ansiava ver as criaturas maravilhosas que nunca morriam nem padeciam de doenças e que criavam as coisas mais belas do mundo. Seu fascínio por elfos vinha desde que era uma criancinha hobbit.
            - Então este pequeno poderá nos ajudar? - Glorfindel perguntou para Saradas, com um olhar incrédulo.
            - E-eu... sim! Se a recompensa for boa... - foram as únicas palavras que Merimac conseguiu pronunciar.
            - Sim, meu pequeno hobbit. - disse Glorfindel, surpreso pela reação do jovem hobbit - Haverá uma grande recompensa o esperando. Mas devo deixá-lo ciente que grandes perigos e provações que o aguardam.
            - Eu ouvi sobre perigos, mas se eu puder conhecer o mundo lá fora e viver grandes aventuras e, é claro, voltar com bons tesouros... Eu posso até lutar contra lobos e dragões e o que mais tiver! - responde Merimac com grande euforia.
            Os outros elfos trocaram olhares entre si. Glorfindel apenas sorriu.
            - Para sua sorte não haverão dragões à sua espera, meu amigo. Então, se você aceita ir conosco, amanhã de manhã deixarei instruções com você. Se segui-las corretamente então poderá participar desta... aventura. - disse Glorfindel.
            Terminada a conversa, os elfos se retiraram e Merimac voltou para o quarto, esquecendo-se até de comer. Em seus sonhos, viu-se lutando bravamente contra terríveis criaturas, protegendo vilas e aldeias. E também viu o brilho dourado dos incríveis tesouros que o aguardavam ao final da jornada.
            Antes do Sol nascer, Merimac já estava de pé. Escolhia entre seus vários pertences e bugigangas o que levaria para a aventura. "Será que eu levo minha capa de inverno? Ah não, estamos no verão. Então é melhor eu tirar também o descascador de batatas, não estamos na época de batatas...", pensava enquanto tirava e colocava coisas na mochila de viagem. Foi então que ouviu seu avô gritar:
            - Merimac! Venha logo, já está na hora de sair.
            - Mas o quê? - perguntou, assustado. - Ainda nem é hora do desejum! - reclamou.
            - Deixe de ser comilão! Glorfindel me pediu para lhe entregar estas instruções. - Saradas disse, entrando no quarto e entregando a Merimac uma carta fechada com um selo azul.
            No selo, em baixo relevo, se desenhava um símbolo com várias estrelas alinhadas. Provavelmente deveria ser o brasão de Glorfindel, imaginava Merimac ao abrir o envelope. Dentro havia uma folha e uma mensagem escrita, com letras bem desenhadas, na escrita normal:

"Siga a estrada a Leste até a Última Ponte.
Não desvie do caminho, há muitos perigos ocultos.
Em uma semana nos encontraremos novamente.

Que a luz de Elbereth o guie em segurança.

Glorfindel"

            - Uma semana! - exclamou Merimac. - Não pensei que fosse demorar tanto...
            - Em uma semana você só vai chegar na metade do caminho para Valfenda. - disse Saradas - Se você não for logo, chegará atrasado! Pegue suas coisas e vá!
            Apesar de ter se preparado a manhã inteira, Merimac sentiu um comichão no estômago e se deu conta que esta seria a primeira vez que iria tão longe de Bri e estaria sozinho por uma semana. Saradas pareceu ter percebido a hesitação do sobrinho pois rapidamente pegou a mochila de Merimac e o empurrou em direção à porta.
            - Vamos, vamos. Não é você que vivia dizendo que um dia iria embora daqui e só voltaria puxando três pôneis carregados de tesouros? Pois está aí sua chance, não deixe escorrer pelas suas mãos. Até mais!
            Quando voltou a si, Merimac já estava do lado de fora da toca de seu tio-avô, andando pela rua. Tão logo alcançou as fronteiras de Bri, livrou-se de todos os sentimentos de hesitação e pôs-se a cantar alegremente, vestido com sua roupa de viagem verde-musgo e carregando sua mochila nas costas.
            A estrada se abria em um longo caminho que ia reto por alguns quilômetros até fazer uma curva para a esquerda, contornando a colina de Bri e descendo suavemente para o leste, em direção a uma região de florestas. Merimac caminhou por algumas horas pela estrada no meio do vale cheio de árvores. Ele já conhecia bem este caminho, pois várias vezes já se aventurou por ali, chegando até a Archet, uma vila ao norte da floresta Chet. Mas nunca havia ido ao leste, além das fronteiras da floresta.
            A caminhada pelo vale não foi desagradável nem lento, pelo contrário, o sol brilhava forte e uma leve brisa o refrescava nas sombras das árvores. Na metade do segundo dia de viagem, Merimac já havia alcançado o fim da floresta. O terreno à frente parecia bem deserto e plano e quase não havia árvores. Mas no final do terceiro dia já havia alcançado o Topo do Vento, que a estrada contornava pelo sul. Ele procurava sempre se lembrar das histórias que viajantes contavam no Pônei Saltitante, em Bri. Em mais alguns dias de viagem ele deveria alcançar a Última Ponte. Mas, talvez por estar sozinho, Merimac sentiu-se oprimido pela paisagem ao redor da estrada. Há tempos não conversava com ninguém, parecia não haver alma viva naquela parte do mundo, apenas alguns corvos que, Merimac imaginava, o observavam com olhares maliciosos.
            Mas a viagem seguiu tranqüilamente até que no sétimo dia Merimac avistou as bordas de uma grande floresta. Ele decidiu caminhar até entrar na floresta para então almoçar. Algumas nuvens cinzentas no horizonte anunciavam que uma chuva não demoraria muito para chegar.
            - Bom, depois do almoço vou procurar essa tal Última Ponte. - disse Merimac para si mesmo em voz alta. - Pelo que ouvi, não fica muito fundo na floresta. E uma caminhada depois de comer é sempre saudável.
            Depois de passar algumas horas andando pela estrada, que seguia cada vez mais dentro da floresta, Merimac ouviu o barulho de água corrente. Não demorou muito até avistar a Última Ponte. Mas ele não viu ninguém o esperando ali por perto. "Talvez eu tenha chegado tarde demais...", pensou Merimac sentindo uma pontada na boca do estômago. "Talvez não, faz apenas uma semana que deixei Bri, então ainda deveriam estar me esperando por aqui.", pensou mais aliviado.
            Mas Merimac nunca ouviu dizer que elfos costumavam se atrasar e sua preocupação aumentou ainda mais quando a noite começou a cair. A floresta começava a ficar com um ar sombrio e não havia nenhum barulho de animais ou de insetos. Quando se preparava para acender uma fogueira à beira da estrada, ouviu o barulho de folhas e galhos se agitando e em seguida um bando de pássaros apareceu voando do sul, em direção ao norte.
            Sua curiosidade novamente foi mais forte e Merimac resolveu andar na direção do barulho. O som de galhos logo foi superado pelo de gritos. Alguma coisa séria estava acontecendo e Merimac sentiu seu pequeno coração hobbit bater apressadamente. Correndo cautelosamente ele chegou até uma pequena clareira na floresta.

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