Sakura saiu da sala do Uchiha segurando uma copia do documento que assinara. Suas pernas seguiam mecanicamente em direção a saída. Ela ainda não acreditava no que foi capaz de fazer, e o que lhe dava esperanças era a liberdade de seu irmão. Apenas isso a faria feliz em meio ao caos que sua vida se tornaria. Passou pela secretaria de Sasuke e a viu olhar para ela com curiosidade apesar de um sorriso brotas em seus lábios. Naquele momento, ela se perguntou quantas pessoas saberiam daquela loucura. Quantas pessoas poderiam ter tentado impedi-lo e o incentivado. A sua mochila agora encontrava-se vazia e em sua mão apenas levava os documentos, os quais ainda precisava reler para acreditar no que havia aceitado fazer. Suspirou ao entrar no elevador, estranhando o fato de estar vazio, e ao apertar o botão do térreo, pensou no quão atrasada estava para o colégio.

Sasuke sorriu satisfeito ao olhar para o documento assinado a sua frente. Tudo o que ele desejava já estava prestes a se realizar, bastava um empurrão do destino e tudo estaria concluído. Logo que Sakura saiu de sua sala, Naruto apareceu ainda surpreso, pois ele foi o responsável por autenticar o documento que Sasuke segurava.

–Eu ainda não acredito no que vi mais cedo – Naruto murmurou para si ao olhar para Sasuke – Irá tão longe assim?

–Alguem tem que ir. Itachi não ficará com tudo, eu tenho o direito.

–Mas, casar-se com uma jovem...

–Não sou o culpado por isso – o relembrou sério – Pode ligar para o meu pai e reclamar sobre isso – deu de ombros – ele foi o único que assinou aquele documento com o avô dela anos atrás. Eu não tenho culpa que li e usei dessa informação em meu beneficio.

–Sei o quanto deseja isso, mas está certo em usá-la desta forma? Ela é inocente nisso tudo.

–Não se preocupe, eu me divorciarei e a deixarei livre assim que conseguir tudo.

–Espero que consiga o quanto antes, pois cada segundo ao seu lado deverá ser uma tortura para ela.

–E ainda se diz o meu amigo – o olhou de soslaio vendo Naruto sorrir.

***
A professora responsável pela sala de Sakura olhou para a mesma impaciente. Apesar daquela ser a primeira vez que a garota chegava atrasada havia esquecido todo o seu material em casa, e se recusava a explicar o motivo. Ao ameaçar ligar para os pais dela, Sakura apenas se ajoelhou em frente a ela sem importar-se em estar no meio da sala dos professores. Ela estava implorando. Os professores que ali estavam olhavam curiosos para a cena e como iria terminar.

–Muito bem, pode ir, mas da próxima vez não chegue atrasada – a professora falou após suspirar. Sakura assentiu em silencio, levantou-se e saiu da sala com a cabeça baixa. O corredor naquele momento estava repleto de estudantes, o que de certa forma a fez ficar mais calma, pois ninguém conseguiria ver o seu estado naquele momento. Com a mochila ainda nas costas se viu indo em direção as escadas. Olhou com cuidado para que ninguém visse aonde ela estava indo, e assim que passou pela porta sentiu o vento bater em seu rosto. As escadas de incêndio eram proibidas para os alunos e apesar disso era o lugar favorito de Sakura desde que o descobrira, três anos atrás. Sentou-se no degrau e com pesar retirou o documento de sua mochila.

–A partir desta data eu me declaro noiva de Sasuke Uchiha, e como tal me comprometo a casar-me com ele em menos de dois anos. Dentre todos os meus deveres devo obedecer-lhe e estar preparada para me divorciar no prazo de, no Maximo, quatro anos após o casamento. Divorciada não terá direito sobre nenhum imóvel ou dinheiro que não seja fornecido por ele, de livre e espontânea vontade. Durante o noivado deverá comportar-se como for dito pelo noivo e não deverá ir contra a sua vontade. É crucial que se dedique aos estudos por um ano em um colégio escolhido por Sasuke Uchiha antes de retornar como sua esposa. Não haverá discussões sobre isto, pois é de extrema importância a sua saída o país. Terceiros não devem saber sobre este acordo e acima de tudo deve se manter fiel enquanto for casada e noiva. – leu rapidamente alguns trechos em voz alta ao suspirar em seguida – EU TE ODEIO – gritou consciente de que ninguém a escutaria. – Como pode alguém.. impor tudo isso, enquanto.. Não importa.. a única que devo odiar sou eu mesma – falou ao olhar para o papel a sua frente. No lance de escada acima do que ela estava, Sai, fechou os olhos pensativo ao escutar as palavras dela. Apesar de tudo, Sai crescera as sombras de sua família e o grito dela, o tocou de alguma forma. Com cuidado desceu as escadas ficando próxima a ela, sentou-se e falou calmo.

–Não deveria se odiar tanto. – Sakura olhou para atrás assustada e envergonhada. Ao olhar para o jovem sentado atrás de si, sua vontade era de jogar-se do prédio. –Sakura, não é? Ou melhor, Haruno – se corrigiu sorrindo ao olhar para ela.

–Você...escutou tudo? – murmurou angustiada e ao vê-lo concordar em silencio suspirou – Poderia.. não contar para ninguém e fingir que não escutou nada disso? – indagou temerosa.

–É claro – sorriu ao olhar para ela – apenas se me falar.. Você vai se casar mesmo? – ela assentiu sem expressar nenhuma reação – Entendo, então podemos ser amigos? Já que vou guardar seu segredo acho que seria bom..sermos amigos.

–Tudo bem – concordou ao encará-lo – Não vai pedir nada?

–Pedir? Em troca do meu silencio? Não, não sou um vigarista.

–Desculpe por isso.

–Sem problemas. Vou voltar para a sala, vem comigo?

–Ficarei um pouco mais aqui – murmurou.

–Te vejo lá – Sai falou ao se despedir. Andou pelo corredor sorridente, mas antes de entrar na sala retirou o celular do bolso e digitou a mensagem, enviando-a.

Sasuke Uchiha já a encontrou. Esperando próximas instruções.

***

As aulas terminaram no mesmo horário, mas o que diferenciava aquele dia para qualquer outro era o fato de Sakura não ir para o trabalho depois. Ela não tinha coragem de retornar ao restaurante após o episodio com Sasori. Sem jeito de ir para casa ficou caminhando ate imaginar uma forma de explicar a sua presença aquele horário em casa. Pensou durante uma hora ate se dar por satisfeita e seguir para casa. Mas nada a preparou para o que viu assim que parou em frente a sua casa. Um carro preto que ela já conhecia estava parado em frente, e um péssimo pressentimento a fez correr para dentro. Abriu a porta ofegante, seu olhar buscou algo na sala, encontrando tudo arrumado e seu pai sentado no sofá ao lado de Kiba. Andou mais para frente e viu o que temia. Sasuke Uchiha estava sentado com as pernas cruzadas na poltrona em frente ao sofá. Assim como ela se recordava, ele ainda mantinha a face inexpressiva. Seus cabelos negros conseguiam tirar toda a luz da sala. Ela não sabia como, mas era essa a sensação que tinha.

–Ela chegou – Sasuke disse calmo ao olhar em sua direção. Seu pai a olhou com tristeza e Kiba sorriu entusiasmado ao se levantar e ir abraçá-la.

–Sabia que era esperta – murmurou em seu ouvido antes de soltá-la a deixando ainda mais confusa – Seu noivo veio se apresentar a família e falar que está ansioso para que o casamento se realize logo. Também já pagou as dividas e trouxe todos os papeis para provar isso. Maravilhoso, não é? – os olhos de Kiba demonstravam toda a admiração e entusiasmo que ele sentia naquele momento ao contrario de Sakura que mantinha-se perplexa. Seu olhar foi em direção a Sasuke, e ela jurou ter visto um sorriso irônico por um milésimo de segundo.

–Papai, eu posso explicar..-Sakura murmurou ao olhar para o pai em busca de auxilio e encontrou apenas desespero em seu olhar – Papai..o que houve?

–Eu..espero que seja feliz, querida – Kisashi disse triste ao olhar para baixo. Ele leu o documento que Sasuke havia lhe mostrado e não havia nada a ser feito. Ela já havia assinado e ele era fraco demais para salvá-la daquela situação. Uma situação que ele a colocou quando não conseguiu mais trabalho que o pagasse bem. – O senhor Uchiha me contou tudo.

“Papai...porque não está tentando me impedir?” Sakura não soube o que falar, apenas assentiu em silencio.

–Bem como já expliquei a vocês, irei me casar com a sua filha em pouco tempo e por isso desejo enviá-la para um colégio na França. Espero que entendam – Sasuke tornou sério como costumava falar em negociações – Há algum problema com isso?

–Nenhum – Kisashi murmurou sem olhar para Sakura.

–Esplêndido. Amanhã um entregador virá pegar todos os documentos necessários para dar entrada no casamento e no colégio. – Sasuke levantou-se e logo Kisashi fez o mesmo – Se não se incomodam gostaria de falar com a minha noiva – olhou para Sakura e a viu empalidecer. – Podemos, Sakura? – ela assentiu sem jeito e foi em direção ao quarto e ele a seguiu em silencio. O quarto de Sakura não era como ele esperava, se é que ele esperava algo. O cômodo era pequena, a cama de solteiro estava arrumada com alguns bichos de pelúcia em cima dela e o guarda roupa parecia antigo demais e pequeno.

–Sobre..o que quer conversar, Senhor Uchiha? – Sakura perguntou acuada próxima a porta.

–Feche a porta primeiro – ela o olhou como se ponderasse a sua ordem, o viu revirar os olhos impaciente e acabou cedendo. – Agora podemos conversar livremente. Espero que não tenha contado a ninguém sobre o documento – ela negou em silencio, e ele prosseguiu – Amanhã você irá para a minha casa.

–Sua casa? O que tenho que fazer lá?

–Não é obvio? Você irá morar comigo a partir de agora.

–Não estamos casados então..não há necessidade.

–Há. Antes de casarmos temos que ter uma história ou acha que todos irão acreditar que eu me envolvi com uma criança do dia para a noite me casando com ela? Isso não é um romance ou um filme. Deixe tudo pronto para quando o motorista vier lhe buscar. Será o mesmo daquela noite. Entendeu?

–Entendi, mas ainda assim.. não poderia reconsiderar e...

–O que acha que você é? – Sasuke perguntou lentamente esboçando um sorriso irônico – acha mesmo que está podendo negociar comigo? Faça o que eu digo ou as coisas se tornarão piores – a aconselhou antes de parar ao seu lado – Você está mais para a minha escrava do que minha noiva – disse antes de abrir a porta e sair do quarto.

–O que há com ele afinal? – Sakura se perguntou se dando conta em seguida do inevitável da loucura em que tinha se metido. Ela estava prestes a ir morar com um homem e nada sabia sobre ele.

***
Naruto sorriu e acenou travesso para Hinata Hyuuga, a mulher de cabelos negros e sorriso gentil. Hinata trabalhava na empresa Uchiha a mais de um ano e acabou sendo alvo dos olhares do advogado. Não demorou para ele a chamar para sair e iniciarem um relacionamento. Naquele dia encontravam-se sentados em uma cafeteria ao lado da empresa.

–Hinata – Naruto disse sério – Você faria tudo por um sonho?

–Depende – ponderou – não iria ferir ninguém, matar ou roubar. Acho que os sonhos existem para nos dar esperança e um objetivo.

–Entendi, então não seria capaz de cometer loucuras, não é?

–Claro que não, mas Naruto porque isso? Está acontecendo algo com você? – perguntou preocupada ao acariciar a mão dele pousada em cima da mesa.

–Nada, só..queria saber como a minha namorada é integra – sorriu atrevido. – Então o que faremos no nosso final de semana? – perguntou atraindo a atenção dela, mas seu pensamento estava em seu amigo. Pela primeira vez Naruto se perguntava se Sasuke não estava indo longe demais para conseguir o que queria.