¬ Urusai! - as atenções caíram sobre Fukano.

Fukano saiu do buraco na arvore com alguma dificuldade, sua postura era relaxada e curva, parecia doente. Shun tentou correr até Fukano, mas Ikki o impediu segurando o irmão pela cintura.

¬ Me solte!! - falava em meio as lágrimas. - Ele vai morrer assim, eu tenho que ajudá-lo, tenho que ajudar Fukano! Me solte!!

¬ Essa luta é dele! Não podemos intervir! - Ikki estava começando a ter dificuldades em segurar o irmão - São as leis de Zeus!!

¬ Pro Inferno com as leis!! - ele se debatia vigorosamente.

¬ Shun!! - um rangido alto os fez se calar.

A arvore que Fukano usava para treinar tombou sobre o olhar atento e desgostoso do menino, que logo encarava o garoto mais velho com um ódio velado no olhar.

¬ Como é? - brincou de limpar o ouvido, seu tom era irônico, descrente e arrogante.

¬ URUSAI!!

Foi difícil de ver, até mesmo para Shun e Ikki, como e quando Fukano arremessou seu adversário contra outra arvore, que foi atravessada e tombara. Enquanto o adversário de Fukano tentava se recuperar do golpe, ele endireitava a postura e limpava um filete de sangue que escorria por sua boca.

¬ Você é patético. - ouvir aquelas palavras vinda de Fukano era estranho. - Tem certeza de que é servo de Hades? Já tive o desgosto de conhecer um Espectro de verdade e a força dele era maior que a sua. Até uma aspirante a Amazona tem mais força que você. - o menino mais velho rosnou.

¬ Você não experimentou nem um terço dela! - o menino se levantou cambaleante, se endireitando em pouco tempo e mantendo a aparência de superior, mesmo que já tivesse alguns machucados.

Fukano colocou um pé para trás como um apoio, ergueu as mãos na altura da cintura e fechou os olhos respirando fundo. Abriu os olhos pouco depois, seus olhos mudaram, não era mais aquela azul índigo, parecia azul relâmpago, a quantidade de cosmo que ele emanava tornava o ambiente sufocante, o espaço entorno de Fukano assumiu uma cor azul. Seu adversário não ficou para trás, parecia que ele tinha o mesmo poder de Fukano, o espaço entorno dele se tingiu de roxo.

O primeiro ataque veio de Fukano, que partiu para uma luta corpo a corpo com o mais velho. Era uma luta violenta e sem trégua, de onde estavam, Ikki e Shun conseguiam ouvir os ossos se quebrando e até mesmo o barulho do sangue pingando no chão, e eles não estavam perto, muito pelo contrario estavam a pelo menos 30 metros dos dois. Shun chorava sem parar com a hipótese de que podia perder Fukano e Ikki fazia de tudo para manter o irmão longe. Aquilo parecia algo infindável e isso porque era apenas uma luta corpo a corpo, mas logo deixaria de ser.

¬ Suffering Soul!

Shun ainda tinha alguns traumas quanto ao que passou na batalha contra Hades, mas quando viu o cosmo do garoto mais velho assumir a forma de fantasmas diabólicos e sofredores, ele tentou a todo custo se livrar de Ikki e quase gritou após ver a velocidade em que se dirigiam a Fukano. Ikki teve que segurá-lo com mais força, para que ele não tentasse defender Fukano, enquanto isso, o dito cujo estava centrado na batalha e inflexível perante o evidente golpe.

¬ Supreme Loyalty.

Algo, como um cão, enorme envolveu Fukano e, com dificuldade, empurrou o ataque de volta para o agressor. O menino mais velho se viu obrigado a defender o próprio ataque, conseguindo defender todos, mas não a tempo de ver o braço, que pingava sangue, de Fukano atingi-lo com um cosmo vermelho entorno dele.

O menino voou longe e caio de forma violenta no chão, formando uma vala entrecortada, Fukano se aproximou bem devagar do garoto que tentava se levantar.

¬ Tekudasai. - pediu Fakano. - Não lute mais. Não quero te machucar mais, fiquei bravo antes, mas não quero o seu mal. Pare de lutar. Desista.

O menino mal se levantou e já tinha cuspido nos pés de Fukano, que balançou a cabeça de forma triste e suspirou. Aquilo era uma negativa óbvia.

Fukano estendeu o braço, o mesmo com que o socou segundos atrás, e o menino ficou rijo com os braços e pernas esticados, parecendo o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci.

¬ M-mas o que!? - o menino encarou Fukano. - O que está fazendo comigo!?

¬ Bloody Fangs. Um dos muitos ataques que a Armadura de Sírius é capaz de fazer, Atena passou tempo o bastante com essa armadura para ser capaz de ensinar os ataques aos seus Campeões. - respondeu com simplicidade. - O Bloody Fangs faz com que parte do meu sangue misturado ao meu cosmo entre na sua corrente sanguínea, o que me faz ter total controle sobre o seu corpo. Posso fazer o que eu quiser com você. - a calma com que Fukano falava aquelas coisas começou a assustar o garoto, que tentou se soltar de tudo que era jeito e sempre fazendo uso do cosmo, mas nada surtia efeito e ainda por cima o machucava. - Não adianta. Esse golpe não é tão fraco quanto pensa, se continuar assim vai morrer.

¬ Me solte! - exigiu em meio a um rosnado enquanto se debatia.

¬ Como gosta de rosnar. - comentou Fukano. - Seu nome devia ser Cane, afinal late e rosna como um cachorro, mas... - Fukano olhou bem para o oponente. - Lutou muito bem, com bravura e coragem, se provou digno de servir a seu deus, e por respeito, não vou matá-lo.

O menino parou de se debater e olhou para Fukano em um misto de confusão e descrença, esse olhar só se intensificou após ver o sorriso de Fukano e mover a mão de forma estranha, como se estivesse trancando uma caixa.

¬ Essa pequena parcela do meu cosmo dentro do seu corpo vai selar boa parte das suas forças pelo resto da vida, o tornando incapaz de tentar possuir a Armadura de Sírius, mas ainda será capaz de se tornar um Espectro ou um Cavaleiro, se quiser é claro.

Fukano abaixou o braço e o garoto caio de joelhos respirando com força, parecia que um grande peso tinha sido retirado de cima dele. Fukano se aproximou do garoto e estendeu a mão, o garoto o encarou por um longo tempo e por fim pegou a mão de Fukano, mesmo que com receio, ele aceitou a ajuda de Fukano para se levantar.

¬ Agora é você quem escolhe seu caminho. - Fukano soltou a mão do garoto e se curvou levemente. - Relinde Di Ângelo, você tem meu respeito como Cavaleiro.

¬ Você a merece. - aquilo chamou a atenção de Fukano. - Você nasceu para ser o Cavaleiro de Sírius. - ele se curvou de volta. - Você tem meu respeito como pessoa e como Cavaleiro. - deu um pequeno aceno, se virou e rumou para floresta. - Adeus, Fukano de Sírius.

Di Ângelo sumiu na floresta, em meio as sombras e ao silencio. Após sua saída Fukano tombou, só então Ikki soltou Shun, que correu o mais rápido possível até o menino. Quando o alcançou o colocou em seu colo a procurou possíveis machucados que lhe tirariam a vida, Ikki chegou pouco depois. Fukano chorava silencioso nos braços do pai, apenas o encarando com um bico tremulo.

¬ Papa... - o menino chamou. - Eu gostava daquela arvore.

Shun abraçou Fukano aliviado, o menino estava bem, cheio de machucados, mas estava bem. Ikki só conseguiu rir do comentário de Fukano e bagunçou os cabelos do pequeno.

¬ Estamos orgulhosos de você. - Fukano sorriu com a frase de Shun.

Aquele lugar estava uma zona e ainda tinham que ver se a casa estava inteira. Tinha duas arvores enormes tombadas, buracos gigantes no chão, pedras e lascas de todos os tamanhos para tudo que era lado – tinha uma lasca enorme fincada na parede do QG da arvore de Fukano, sorte que aquela arvore não tinha tombado, ia ser um senhor estrago.

Após olhar bem para aquela cena de destruição, resultado de uma agressividade enorme por parte dos dois oponentes, Ikki não pode resistir a um comentário besta.

¬ Ele é tão agressivo quanto eu e complacente quanto você, Shun. - Shun arregalou os olhos.

¬ IKKI!! - o nervosismo transparecia na voz. - ISSO É COISA QUE SE FALA DEPOIS DE VER UMA LUTA DESSAS!?

¬ Vai deixar o menino surdo. - Ikki sorria de forma debochada.

¬ Tio Ikki. - Fukano o chamou. - Urusai.

Foi a vez de Shun rir.