A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 72
Capítulo 66 – Campo de sangue: Através do Jardim das Árvores Salas Gêmeas


Notas iniciais do capítulo

A guerra mal começou e os cavaleiros já lamentam uma terrível perda. Mas o pior ainda está por vir. O santuário mergulha em uma terrível guerra enquanto Atena e seus cavaleiros avançam em direção a Ares. No caminho, as intenções de Phobos são reveladas e Seiya se vê obrigado a lutar contra alguém que ele ama.



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Capítulo 66 – Campo de sangue: Através do Jardim das Árvores Sala Gêmeas


Região Norte do Santuário – Caminho para o Coliseu

— Shina!! — gritou Marin. — Espera!

— Não se intrometa, Marin!! Esse acerto de contas é entre eu e ele. — disse a amazona, correndo em perseguição ao berserker Lycaon — Volte para junto de Kiki e os outros.

 Não seja idiota, Shina! Sem a proteção de uma armadura de ouro, nós não temos chances contra ele. Você sabe muito bem disso.

Nesse momento dezenas de cosmos malignos se ergueram na montanha das doze casas, emitindo um brilho sangrento nas nuvens, e cruzaram o céu como estrelas cadentes.

— O que é aquilo?! — perguntou Shina, ainda correndo, surpresa. — O que está acontecendo nas doze casas?!

— São berserkers?! — questionou Marin.

Os cosmos estavam se dirigindo ao campo de batalha, mas um deles desviou o seu trajeto e foi em direção as amazonas como um meteoro, caindo diante delas e abrindo uma cratera. O impacto gerou um potente deslocamento de ar e cosmo que arrastou as amazonas para trás rasgando o solo.

Diante delas se ergueu o berserker de Pantera do exército do Medo. Um homem de pele preta, cabelos longos modelados em dreads e olhos dourados.

— Alceu! — disse Shina, reconhecendo o berserker.

— Onde vocês duas pensam que vão com tanta pressa?

— Shina, siga em frente. Eu cuido dele. — disse Marin.

— Não se precipite, Marin. Esse berserker enfrentou o Grande Mestre no dia da rebelião. Ele é bastante poderoso.

— Então você estava lá?! — disse Alceu.

— Então somos duas idiotas querendo enfrentar oponentes poderosos demais para nós. — disse Marin. — Não se preocupe com isso, Shina. Vá! Eu cuido dele.

O cosmo de Alceu se elevou.

— Ir ou não ir... Não é uma escolha de vocês.

— Vá, Shina!! Meteoros! — gritou Marin, desferindo milhares de socos por segundo.

— É inútil. — disse o berserker, rasgando o ar com suas garras e anulando os disparos de Marin.

— Não tão inútil assim. Foi o suficiente para Shina se distanciar.

Alceu olhou e viu a amazona de prata correndo e desaparecendo na escuridão da noite.

— Vocês duas não entendem... Se não forem mortas por mim, serão por qualquer outro berserker. Os Cavaleiros de Prata e de Bronze sempre são os primeiros a morrer. Não lembro de nenhum que tenha sobrevivido nas Guerras Santas anteriores. — o cosmo de Alceu se elevou. — Não terei misericórdia.

—...—


Região Leste do Santuário, Grécia

Ajoelhado e vomitando sangue, o berserker Ascalaphos de Mothra se esforçava para não cair no efeito entorpecente das Rosas Diabólicas. Seu corpo ainda estava quente e bastante trêmulo. Ele havia queimado sua energia vital para poder aplicar sua técnica secreta mais poderosa.

— Não esperava ter que ir tão longe para dar cabo daquele desgraçado. — pensou o berserker. — Eu tenho que ir...

Ascalaphos jogou seus cabelos azuis enegrecidos sujos de sangue para trás e se apoiou nos joelhos para poder se levantar. Ainda que cambaleando. Seus cinco sentidos estavam ficando cada vez mais afetados. Além da alta temperatura do seu corpo, seus músculos doíam e sua cabeça parecia estar sendo martelada. Sangue não parava de escorrer pelo canto da sua boca, e o gosto de ferro na língua ficava cada vez mais forte.

Para retardar o forte efeito do veneno das rosas, Ascalaphos manipulava seu próprio veneno, mas ele não sabia até quando aquilo iria funcionar. Eros estava certo. O veneno das rosas diabólicas era mais potente do que qualquer outro, mas ele estava decidido a não se dar por vencido. Lentamente ele foi caminhando em meio as flores e o espinhos. Cada esforço para dar um passo fazia todo o resto do seu corpo gritar de dor.

O vento então soprou, agitando seus longos cabelos e as rosas, espalhando pétalas e pólen no ar. O aroma era doce e inebriante. Convidando Ascalaphos para o sono profundo que ele estava tentando fugir a todo custo.

O jardim de rosas vermelhas passou a emitir um brilho intenso. Era um vermelho vivo e denso como sangue, brilhando como um rubi naquela noite escura. E em seguida pulsou, várias vezes, com intervalos iguais entre uma pulsação e outra, criando um ritmo.

Ascalaphos parou.

— O Jardim... O Jardim está pulsando!! É como se fosse... Como se fosse um gigantesco coração, pulsando vivo e forte. —  pensou o berserker. — Mas o que isso significa? Por que eu sinto essa sensação de perigo?

 Ascalaphos olhou para o jardim e ficou intrigado. Em meio as pulsações, a cor vermelha das rosas parecia estar desbotando, se transformando em pólen, e tornando o jardim um imenso mar de rosas brancas. Em poucos segundos uma densa nuvem vermelha se formou. Parecia sangue.

O vento soprou mais forte e a nuvem de pólen parecia estar sendo sugada para um ponto do jardim. Ascalaphos se virou e se deparou com a imagem borrada de  Eros em pé. Bastante ferido e ensanguentado, o Cavaleiro de Peixes abriu os braços e sugou para o seu corpo aquela densa bruma vermelha.

— Im-Impossivel!! — bravejou Ascalaphos, com a voz embolada, falhando devido a leve perda do sentido. — Você deveria estar morto!!

Alguns ferimentos de Eros foram curados, e sua condição física parecia um pouco mais saudável.

— Não sem matar você primeiro. Vejo que conseguiu manter um pouco dos seus cinco sentidos, apesar de ainda estar na condição de perdê-los.

— Desgraçado! Mas como... Como você pode estar vivo?

— Graças ao meu jardim. — respondeu Eros. — Você deve ter sentido as pulsações. Minhas rosas são uma extensão do meu cosmo. Da minha vida. Eu preservei no jardim de rosas uma parte da minha energia vital. Foi um meio de precaução caso eu caísse em batalha. E deu certo. Por isso eu evitei que você usasse aquela sua técnica expansiva. Seu erro foi não ter destruído o jardim por se achar imune ao veneno.

Surpreso, Ascalaphos arregalou os olhos negros.

— Mesmo que tenha drenado a força do jardim, você ainda está tão ferido quanto eu. O que pode fazer nessas condições, Peixes? Você está na beira da morte. Se você voltar a lutar e queimar o seu cosmo... Apenas irá apressar a sua ida para o outro mundo.

— Eu não posso deixar você sair vivo daqui. Tem a possibilidade de você não morrer, e isso seria um risco para os meus companheiros. — Eros deu um pequeno sorriso ao notar que falou a palavra “companheiros”. Ele nunca se considerou cavaleiro legítimo daquela geração e tão pouco queria criar laços com os demais. Para ele aquilo era apenas um serviço extra por um bem maior. Por um rápido instante ele se perguntou “O que mudou?”. — Além disso... Teimosia e persistência... É o defeito e a virtude de todos os Cavaleiros de Peixes! Somos orgulhosos demais. Sempre damos tudo de nós em um combate. Meu irmão foi assim... E sinto que os meus antecessores também.

— Quanta idiotice. E qual a razão desse jardim de rosas brancas? É mais uma precaução sua?

Eros sorriu.

— Não. Eu pretendia usar esse golpe desde o início, mas aquela sua defesa era um empecilho, então tentei matá-lo com uma técnica mais básica, mas você insiste em continuar vivo. Contudo, agora que você não tem mais condições para criar a sua barreira... Você está pisando na minha técnica mais poderosa. Você está no Jardim do Diabo!

As rosas brancas foram tomadas pelo cosmo dourado de Eros e ao mesmo tempo Ascalaphos gritou de dor e caiu de joelhos vomitando sangue.

— Primeiro as Rosas Sangrentas irão drenar todo o sangue do seu corpo, mas no seu caso... — as rosas brancas se tornaram vermelhas ao receber o sangue do berserker — Eu ainda vou preservar o suficiente para que você não perca a consciência. Em seguida... Essas você já conhece. Normalmente as Rosas Diabólicas retirariam todos os seus sentidos, mas eu quero preservar sua dor. Farei com que você veja, sinta, ouça e grite sua agonia. Então apenas removerei o seu olfato. Você não é digno de morrer inalando o perfume doce dessas rosas. Por fim... — as rosas vermelhas pareciam estar morrendo. A coloração vermelha deu lugar para uma cor negra. — As rosas negras. Essas pétalas são tão afiadas quanto uma lâmina. Eu teria até a ousadia de dizer que podem ser tão afiadas quanto a própria Excalibur.

— Peixes...

— Chega de conversa. Morra, berserker!! Dancem Rosas Negras!! Dancem... Rosas Piranhas!!

O jardim explodiu e o corpo de Ascalaphos foi jogado para o alto por uma coluna de cosmo junto com toneladas de rochas que se desprenderam. As rosas se desmancharam em pétalas e subiram rodopiando, girando em um poderoso turbilhão negro de velocidade destrutiva. O chão começou a rasgar e a se revirar, e pesados blocos de terra giravam em volta.

No centro do turbilhão, Ascalaphos gritava de dor enquanto as pétalas negras rasgavam sua carne e transpassavam o seu corpo. Eros estava prolongando ao máximo o sofrimento do berserker, ao mesmo tempo que sacrificava o pouco da vida que ainda lhe restava.

Nesse meio tempo, o cosmo flamejante de Ikki desceu longe dali, no centro do Santuário. O turbilhão de rosas negras cessou quando Eros caiu exausto de joelhos. O corpo já sem vida de Ascalaphos caiu junto com as rochas, e foi completamente esmagado.

— Esse cosmo... — disse Eros, admirando a imagem da Fênix feita de cosmo flamejante se erguendo imponente. — É o cosmo daquele homem que lutou na Casa de Virgem. — sua visão ficou turva, seu cosmo se apagou e ele caiu no chão

—...— 


Região central do Santuário de Atena – Grécia

— E então Fênix, agora é só eu e você. — disse Kydoimos. — Não era isso o que você queria?

— Onde estão os quatro berserkers sagrados de Ares? — perguntou Ikki, sem rodeios. Kydoimos ficou surpreso com a pergunta. — Sei que existe restrições de informações até mesmo dentro do exército, mas você já assumiu cargos importantes, como o de liderar os Espíritos da Guerra. Então acredito que você tenha acesso a esse tipo de informação.

— Foi por isso que mandou os outros irem embora? Para me fazer essa pergunta?! É uma pergunta ardilosa, mas eu não sei onde eles estão. Já faz quatro dias que o Senhor Ares os despertou, mas eles não estão no Santuário.

— Como assim? Onde mais eles estariam?

Kydoimos deu um sorriso de desdém.

— Vá em frente, Fênix. Dispare o seu golpe mental assim como você fez com o Senhor Ares. Não vai encontrar nada na minha cabeça. Apenas o Senhor Ares e a senhorita Afrodite sabem onde eles estão. Mas porque o interesse neles?

— Eu sei o que eles são e o que são capazes de fazer. — respondeu Ikki. — Hefesto me contou tudo.

— Se realmente soubesse do que eles são capazes, você nem teria vindo ao Santuário. Estaria neste momento correndo pelo planeta para encontrá-los. — Kydoimos sorriu. — Comparados a eles, os berserkers de Phobos e Deimos não passam de crianças. Em uma das guerras santas anteriores, há 654 anos atrás, um dos berserkers sagrados foi responsável pela morte de 70% da população de toda a Europa. Esse episódio ficou conhecido como a “Peste Negra”.

— Então não posso ficar perdendo tempo com você. E já que não sabe a localização deles... — o cosmo de Ikki se elevou. —  Achei que você seria mais útil, mas pelo visto terei que subir as Doze casas e descobrir pessoalmente. Se apenas Ares e Afrodite sabem a localização... Um dos dois terá que me falar.

— Está dizendo que irá subjugar um dos deuses do Olimpo?! Não importa o quanto você seja poderoso, jamais conseguirá encostar um dedo neles. O Senhor Ares já despertou por completo, Fênix. E a Senhorita Afrodite... Bem, ela possui sua própria defesa. — disse Kydoimos, elevando o cosmo. — Mas posso levar seu cadáver até os deuses, se quiser.

Kydoimos atacou aplicando uma sequência de socos que foram interceptados por Ikki. Em uma dessas investidas, Ikki desviou e avançou aplicando um soco tão potente no peito do Espírito da Guerra, que a Onyx rachou e algumas costelas foram fraturadas, assim como o osso esterno, que se encontra no centro do tórax, dando sustento.

O Espírito da Guerra foi arremessado para trás rasgando o solo e cuspindo bastante sangue. Ele caiu de joelhos em seguida. Sentia uma dor terrível, e seu peito inflava e contraia de forma desordenada devido ao dano sofrido. Cada respiração era uma pontada de dor aguda e mais sangue era vomitado. Mesmo assim ele se levantou.

— Isso. Fique em pé. Honre a posição que você possui. — disse Ikki. — Seria covardia minha bater em você caído no chão.

Kydoimos limpou a boca suja de sangue.

— Você me subestima, Fênix.

— Um homem sem potencial não é ameaça nem para ele mesmo. Então jamais chegará a ser subestimando.

— Ora, seu...

Kydoimos cerrou o punho concentrando seu cosmo e avançou. O soco do Espírito da Guerra atingiu o peito de Ikki, mas o corpo do Cavaleiro de Fênix se desfez em chamas.

— Uma ilusão?! — pensou Kydoimos atravessando as chamas e sentindo elas se agruparem em suas costas.

Não era uma ilusão. Era uma habilidade de mimetismo flamejante, que é a capacidade de transformar o corpo totalmente em fogo. Kydoimos girou para atacar, mas Ikki deteve o punho do oponente apenas estendendo a palma da mão. O Espírito da Guerra então atacou com o outro punho, que também foi detido pelo Lendário.

Kydoimos elevou o seu cosmo e aplicou sua força para romper a defesa de Ikki, mas seu esforço foi em vão. O cosmo de Ikki foi ampliado e arremessou o servo de Ares para trás. Em seguida o Cavaleiro de Atena avançou. Ikki desferiu uma sequência de socos no rosto do Espírito da Guerra, que não conseguia acompanhar os movimentos do Lendário.

Ikki então aplicou um chute, que foi desferido junto com uma rajada de cosmo, atingindo o abdômen de Kydoimos e o lançando com força em direção a uma fileira de colunas. Mas antes que o Espírito da Guerra colidisse, Ikki se moveu na velocidade da luz, e durante o percurso um par de asas abriu em suas costas, intensificando sua velocidade e a potência da sequência de chutes e socos aplicados em Kydoimos em frações de segundos.

Apenas o rastro vermelho do movimento de Ikki podia ser visto. Por fim, o Fênix aplicou um chute no peito do oponente e o jogou para o alto, saltando em seguida e surgindo em cima de Kydoimos para aplicar um soco que explodiu o peito da Onyx do Espírito da guerra e o arremessou contra o chão, abrindo uma cratera.

Agora voando com um longo par de asas abertas, o cosmo de Ikki girou ao redor do seu corpo, transformando a nova armadura de Fênix em sua forma divina. As caldas da armadura de fênix se agitaram e dispararam centenas de penas, atingindo Kydoimos. Duas delas cortaram os calcanhares do servo do deus da guerra, e ele desabou rangendo os dentes.

— Você vai morrer. — disse Ikki, vendo Kydoimos se esforçando para se levantar, mas sem sucesso. — Mas garanto que não será rápido.

Ikki apontou o dedo para a testa do Espírito da Guerra e aplicou um golpe. O Golpe Fantasma de Fênix. Em seguida, um turbilhão de chamas explodiu ao redor de Kydoimos, que gritou desesperadamente.

— Você é patético. — disse Ikki — E eu lhe garanto que você verá seus piores pesadelos sendo refletidos nessas chamas. Seus demônios interiores irão tomar forma. E esse fogo vai lhe queimar por horas. Primeiro será seu cosmo, depois a sua vida. Você vai desejar a morte, mais do que tudo nesse mundo, mas não vai encontrá-la. E não adianta tentar fugir. Você não tem condições de ficar em pé novamente. Assista daí o declínio do seu deus.

— Fênix!! — gritou Kydoimos

Dando as costas para o inimigo que estava se debatendo nas chamas, o corpo de Ikki se envolveu em um turbilhão de cosmo e ele disparou voando em direção as doze casas.

—...—


Caminho em direção em Coliseu – Santuário, Grécia

Tithonos, Tourmaline e Alkes seguiam correndo em direção ao Coliseu do Santuário. Atena havia dado uma missão para Tithonos. Um plano arquitetado por eles há séculos e que a deusa gostaria de por em prática agora como uma tentativa de encerrar de uma vez por todas as Guerras Santas contra Ares. Ou pelo menos conter o máximo possível.

Enquanto eles corriam noite adentro, o berserker Lycaon de Licantropo seguia eles logo atrás. Mas ele não era o único em perseguição. Shina, que havia deixado Marin enfrentando Alceu, estava logo atrás dele.

— Estamos sendo seguidos. — alertou Tithonos, o antigo Cavaleiro de Câncer, enquanto corria liderando a dupla. — Há um berserker logo atrás. Fiquem atentos.

— Eu posso segurá-lo para lhe dar retaguarda. — disse a Amazona de Capricórnio.

— Não precisa. O coliseu está logo a frente. Tenho uma missão para cumprir, e vou precisar de vocês. Além disso, logo um grupo de cavaleiros irá aparecer. Deixe que eles cuidem do berserker.

Alkes olhou para trás, por cima do ombro, para conferir quem era o perseguidor. Ele avistou Lycaon, um homem de pele pálida e cabelos negros com fios prateados, que usava uma capa preta feita de pele de animal e um elmo em forma de coroa negra pontiaguda com uma lua no centro. Ele estava acompanhado de seus subordinados licantropos em forma de lobos de pelos negros, olhos vermelhos e usando peças de onyx. O Cavaleiro de Taça lembrou do dia em que lutou com o berserker. Lycaon era excelente em combate e tinha uma perigosa habilidade de cura.

— Mas senhor, o berserker é o antigo Rei de Arcádia. Ele é poderoso demais para ser confrontado por alguém que não seja do nível de um cavaleiro de ouro.

— Os cavaleiros deveriam ser treinados para enfrentar qualquer tipo de inimigo. — disse Tithonos — Chegamos!

Diante do trio estava o Coliseu. Um monumento gigantesco no coração do Santuário, onde foi palco de épicos confrontos, conquistas, glórias e derrotas.

Adentrando em uma das portas de acesso e atravessando um extenso corredor escuro, Tithonos e os outros entraram na gigantesca arena.

Do lado de fora, Lycaon corria em direção a entrada para seguir o grupo, mas Shina saltou passando por cima do berserker e sua alcateia, e parou diante da entrada rasgando o solo em seu pouso e emitindo raios de energia através do cosmo.

— Não permitirei que você entre. — disse a amazona.

Lycaon encarou Shina e em seguida e sorriu mostrando suas presas.

— E eu achei que o Cavaleiro de Áries tivesse seguido você. Saia já daqui, mulher. Não tem qualquer chance contra mim. — disse caminhando em direção a Shina. — Deve saber disso. Insistir é desespero e suicídio. Se nem mesmo um cavaleiro de ouro teve chance, não vai ser uma amazona de prata que terá.

— Eu morrerei tentando. — disse Shina, atacando.

— Com certeza morrerá.

O cosmo da amazona se elevou e raios de cor purpura dançaram entre suas garras enquanto ela avançava.

— Garras Trovão!

Shina desceu com as garras em direção ao peito do berserker e o atingiu em cheio, mas Lycaon não se incomodou. A descarga elétrica percorria o corpo do berserker e rasgava o solo ao redor, mas Lycaon continuou andando e empurrando a amazona para trás.

— Meu golpe... Meu golpe não consegue provocar nenhum dano nele?  pensou Shina. — É esse o meu limite?! Isso é... Isso é patético. Como não posso causar um dano se quer nele?! Foi para isso que eu treinei? Para ser apenas mais um corpo morto no campo de batalha?!

Lycaon segurou o braço de Shina e torceu, arrancando gritos de dor, e com a outra mão ele segurou a amazona pelo pescoço e a ergueu. As unhas afiadas do berserker cravaram no pescoço da amazona, e sangue escorreu pelo seu corpo e armadura.

— Senhorita Shina! — gritou Lacaille, o jovem Cavaleiro de Prata de Mosca. Seus cabelos tinham cor de cobre metálico e seus olhos eram lilás.

Ele estava correndo acompanhado da amazona de bronze de Coma Berenice. Uma jovem de longos cabelos dourados que ocultava seu rosto atrás de uma máscara.

— Não se aproximem!! — gritou Shina.

Os lobos de Lycaon se lançaram no caminho dos jovens, impedindo o avanço.

— Tudo isso por causa daquele rapaz?! — a mão do berserker a apertou com mais força Lycaon se referia a Retsu de Triangulo, morto pelo berserker. — Você é fraca, igual a ele. Nem se quer vale a pena me esforçar para lutar com você. Vou encurtar o seu sofrimento. — A sombra de Lycaon girou e fluiu em espiral ao redor do berserker, subindo em direção a Shina. — Cumprimente os meus familiares e receba o meu golpe como um ato de misericórdia. Punição de Arcádia!!

O cosmo de Lycaon se ergueu como uma coluna, e o impulso lançou a amazona para o alto no mesmo instante em que um raio caiu e atingiu Shina. As sombras então tomaram forma. Eram dezenas de homens e mulheres oscilando entre a forma humana e a de lobos com presas afiadas, representando as garras furiosas de Lycaon, subindo para devorar a presa.

— Esses são meus filhos e filhas que na Era Mitológica foram amaldiçoados por Zeus. Que eles devorem a sua carne e que seja servida como banquete ao Rei do Olimpo.

— Não! Shina! — gritou Mallia, a amazona, elevando o cosmo e atacando. — Fios cortantes de Berenice!!

Mallia moveu o braço com a palma da mão aberta, e o movimento de seus dedos produziram fios de luz dourada que avançaram em direção a Lycaon, cortando tudo pela frente. Incluindo os licantropos subordinados ao berserker.

Lycaon porém só precisou estender a mão para conter o golpe, e em seguida lançou eles de volta contra a amazona, que anulou sua própria técnica.

No ar, as sombras alcançaram Shina e a atacaram, desferindo dezenas de golpes cortantes. Uma chuva de sangue espirrou em Lycaon e em seus subordinados mais próximos. Shina caiu quase inconsciente. Sangue escorreu formando uma pequena poça. Seu corpo tremia sem força e sua visão estava turva.

— Recebeu o meu golpe, mas não teve a sua armadura pulverizada. — disse Lycaon vendo Shina tentando se levantar. — As armaduras de prata estão mais resistentes do que há séculos atrás.

Antes que Shina pudesse se equilibrar, Lycaon aplicou um chute no rosto da amazona e a arremessou contra a parede do coliseu. O elmo de Shina se partiu, assim como sua máscara, e ela caiu inconsciente.

— Não!! — gritou Lacaille, elevando o cosmo. — Voo mortal!!

Lacaille saltou e girou como se fosse aplicar um chute, disparando um tornado de cosmo que arrastou os outros lobos de Lycaon. Em seguida Mallia atacou, lançando novamente o seu golpe Fios cortantes de Berenice que esquartejaram os subordinados do berserker. Um a um os lobos foram caindo mortos.

Intrigado, Lycaon voltou sua atenção para a dupla.

— Vejo que mataram meus subordinados, mas... Já repararam neles depois que são mortos? — questionou.

Lycaon estalou os dedos e imediatamente sombras escuras abandonaram os corpos esquartejados dos lobos, revelando corpos de homens, mulheres, idosos e até crianças.

Mallia e Lacaille ficaram horrorizados.

— Vocês apenas mataram alguns aldeões de Rodório e turistas atenienses que foram convertidos pelo meu poder. A licantropia. Os mais fracos sempre vão se submeter aos mais fortes. Claro que... — a sombra de Lycaon se agitou e dela surgiu dezenas de lobos.

— Todos eles... — a amazona não conseguiu terminar a frase.

— Sim. Todos eles. Possuo centenas escondidos em minha sombra. Mas esses em especial... — se referindo a alcateia que agora encurralava Mallia e Lacaille. — São apenas crianças.

— Você é um monstro. — disse Lacaille, furioso.

— Sim, eu sou um monstro. Mas e vocês? Se matarem essas crianças, vocês serão os novos monstros. Cabe a vocês matar ou morrer. Se entrarem naquele coliseu... — Lycaon deu as costas. — Então eu entenderei que são tão bestiais quanto eu.   

...


No interior do coliseu, Tithonos caminhou até o centro da arena, enquanto Tourmaline e Alkes faziam a retaguarda e acompanhavam o conflito que estava acontecendo do lado de fora.

— Eu senti o cosmo da Shina... — disse Alkes, mas não teve coragem de concluir a frase. Tourmaline ficou em silêncio.

— Vocês dois... Prestem atenção. — disse Tithonos. — Eu vou precisar de toda ajuda de vocês. Quando eu começar o “processo”, ficarei totalmente vulnerável. E com certeza o meu cosmo irá chamar a atenção do exército de Ares até aqui. Mas eu não posso ser impedido. Em momento algum.

— E o que o senhor pretende fazer? — perguntou Tourmaline.

— Criar um Limbo.

— Um... Um Limbo?! — disse Alkes, confuso. — Mas senhor, por que...

— Como vocês já devem saber, os berserkers são quase imortais. Eles morrem, mas suas almas não entram no ciclo da reencarnação ou no sono eterno do submundo. Isso acontece por causa do trato que Hades e Ares haviam feito ainda na Era Mitológica. Os berserkers ficam em uma espécie de limbo. Uma região localizada entre a entrada do mundo dos mortos e o portão do inferno. Dessa forma, suas almas podem ser invocadas por Ares sempre que o deus desperta. Quando retornam, suas almas buscam cadáveres de soldados para servir como um casulo. De dentro do cadáver sai então o novo corpo do berserker.

— Então o plano é manter as almas dos berserkers aqui? — perguntou Tourmaline.

— Irei criar um espaço paralelo semelhante ao Limbo. As almas dos berserkers serão atraídas para esse local e em seguida devemos selá-lo. Dessa forma Ares não terá mais acesso ao seu exército caso queira começar mais uma Guerra Santa nos próximos séculos.

— Então é esse o plano?! — gritou Lycaon, coberto de sangue, saindo do túnel como se estivesse se materializando nas sombras.

A alcateia surgiu em seguida, e logo os lobos se espalharam pela arena e pelas arquibancadas.

— Tithonos de Câncer, o preferido dos deuses.

— O rei louco de Arcádia... Lycaon.

— Eu sabia que seu cosmo era familiar. É um fedor antigo. Deveria ter continuado exilado onde quer que estivesse se escondendo. Esse seu corpo velho e débil não possui se quer uma armadura para vestir. Voltou para a Grécia para morrer igual os seus amigos?

Tithonos encarou Lycaon por alguns segundos.

— Tolo. Vocês dois... Cuidem dele. — disse o antigo cavaleiro para Tourmaline e Alkes. — E mais uma coisa... Não matem os lobos. São pessoas inocentes que ele transformou. Os verdadeiros familiares dele ficam escondidos nas sombras e só aparecem quando ele ataca. E tem mais... Um rei só é rei porque governa com uma coroa na cabeça. Tirem ela e o feitiço irá cessar. E por ser um licantropo, a lua se torna uma grande fonte de poder. Isso é tudo o que vocês precisam saber para derrotá-lo.

— Sim senhor! — disse Alkes.

Tithonos elevou o seu cosmo. Uma energia branca como a aura das almas, mas ao mesmo tempo emitia um sutil brilho azul semelhante ao fogo fátuo do mundo dos mortos.

O cosmo se espalhou ao seu redor formando um grande círculo e se ergueu como uma coluna que podia ser vista por todo o Santuário. Uma pressão esmagadora caiu sobre aquele local, semelhante a força exercida pelo cosmo de Ikki. Debaixo dos seus pés surgiram linhas de cosmo que percorreram a área interna da coluna e desenharam o nome de Atena em grego no centro. Dezenas de outras palavras em grego antigo também surgiram nas bordas do círculo.

Os olhos do antigo Cavaleiro de Câncer foram tomados por aquele cosmo esbranquiçado e tudo se intensificou. Seus longos cabelos e barba branca se agitaram.

— Mesmo velho, seu cosmo não enfraqueceu. — pensou Lycaon. — Pelo contrário. Está muito mais poderoso do que antes. Tenho que matá-lo.

— Dê um jeito nos lobos. Sou eu que vou derrotá-lo. — disse Tourmaline, para Alkes.

— Mas o senhor Tithonos disse que não podemos matar os lobos.

— Então congele eles. — disse ela, e elevou o cosmo, avançando em seguida contra o berserker. — Lycaon!! Excalibur!! 

O berserker desembainhou duas espadas de lâminas curvadas.

— Venha. Corra para a morte.

—...—


Casa de Virgem, Jardim das Árvores Salas Gêmeas – Santuário, Grécia

— Henry! — disse Atena, surpresa por ver que o Cavaleiro de Câncer havia lhe acompanhado, ao invés de correr até Eros.

Seiya compartilhava do mesmo sentimento que Atena.

— Achei que...

— Se eu tivesse voltado, Eros teria me dado uma bronca. — respondeu descontraído. — Ele teria mandado eu amadurecer, seguir em frente e outras coisas.

— Seria mais ou menos isso mesmo. — disse uma voz vindo do centro do jardim, onde estão localizadas as árvores Salas Gêmeas.

Aquela voz familiar fez Henry se virar tão depressa que ele nem notou a própria empolgação. Em pé, bem no meio das árvores gêmeas, estava Eros. Ele trazia o elmo de peixes debaixo do braço e estava com uma aparência ótima.

Henry deu alguns passos indo em direção ao amigo, mas de repente parou. Ele percebeu primeiro do que todos os outros. Aos poucos a ficha foi caindo de um por um, e o silêncio foi tão profundo que a única coisa audível era o balanço das folhas do jardim e o assobio do vento.

O coração de Henry acelerou tanto que ele podia sentir as batidas no interior da armadura e a corrente sanguínea pulsando acelerada. A última vez que ele sentiu esse combo de emoções, foi quando viu sua família ser morta. Ele ergueu os olhos para Eros novamente, desejando que aquilo fosse só uma maldita ilusão, daquele maldito jardim, mas lá estava o amigo olhando para ele.

— Eu devia ter voltado? — perguntou com lagrimas nos olhos. As palavras embolaram em sua garganta. — Eu devia ter ido ajudar você?

— Não. Provavelmente não chegaria a tempo. Como soube?

— Droga, Eros. O Yomotsu...

— Eros... — disse Atena, se aproximando. — Eu...

— Parece que virou costume os cavaleiros mortos lhe mandarem uma mensagem nesse jardim.

Os olhos de Atena se encheram de lágrimas.

— Eu gostaria que isso não se repetisse. — disse Atena, triste.

— Atena... Grande Mestre... Eu tenho um pedido para fazer.

— E o que seria? — perguntou Delfos.

— Que o Santuário forneça proteção para a minha família e meus descendentes, e proíba qualquer um da minha linhagem de se tornar um cavaleiro de Atena. Nenhuma das 88 armaduras os aceitará.  Alem disso... — disse com um tom de preocupação.  Estou deixando minha esposa e meus filhos... Eles não podem ficar desamparados.

— Quando essa guerra acabar, tomaremos as devidas providências. — garantiu Atena.

— Obrigado.

— Eros... — disse Delfos. — Eu não queria que terminasse dessa forma.

Eros caminhou até Henry e lhe entregou o elmo de peixes.

— O senhor estava certo, Grande Mestre, quando disse que eu tinha me apegado a esse garoto. — disse colocando a mão na cabeça de Henry. Não havia o peso de um corpo naquele toque, mas Henry podia sentir a energia da alma de Eros se despedindo através da armadura. — Eu realmente me diverti no tempo em que você passou comigo. Em vários momentos eu tive medo de perder você, mas não por causa do plano do Grande Mestre. Você foi o humor que me faltava... Meu amigo.

— Você é sério demais até para dizer isso. — respondeu Henry, tentando nublar as emoções. — Você me prometeu que não morreria.

— Também prometi aos meus filhos que voltaria.

— Talvez você faça promessas demais. — disse Henry, chorando.

Eros sorriu.

— Cuide deles, está bem? E não faça nenhuma besteira. Proteja Atena e as pessoas na Terra. Meu deus... É mais fácil pedir para os outros cuidarem de você. — disse sorrindo. — Adeus.

O corpo de Eros se desfez em cosmo, deixando para trás apenas a sua armadura, que tinha ido enviar a mensagem do seu portador. O elmo de peixes voou das mãos de Henry e a armadura se montou diante deles.

— Desgraçado. — disse Henry sorrindo em meio as lágrimas. — Eu é quem deveria ter morrido e feito um discurso bonito para você chorar. Atena...

— Sim?

— O que devemos fazer agora? — disse limpando as lágrimas.

Era doloroso engolir a dor e o luto, mas a guerra não dá trégua para despedidas. Entendendo a posição de Henry, Atena apontou o báculo para um ponto específico do jardim. Um local onde as pétalas das árvores pareciam atravessar para uma outra dimensão.

— Aquela fenda dimensional pode se conectar com qualquer lugar deste Santuário. Incluindo o meu templo. — explicou Atena. — Foi através dela que a mensagem de Shaka foi até mim há quinze anos atrás. Ares certamente desconhece essa passagem... E ela nos levará diretamente até onde ele está.

— Está pronta, Atena? — perguntou Delfos. — A senhora ficará cara a cara com o seu irmão.

— Sim, estou pronta. E você sabe o que fazer quando chegarmos lá.

— Sim senhora. Então vamos.

— Esperem. — disse Selkh de Escorpião. — Antes de irmos, preciso contar uma coisa para você... Seiya.

Seiya franziu o cenho.

— E o que seria?

— Há alguns dias atrás, Phobos ordenou uma calçada para encontrar uma pessoa ligada a você que estava no Japão. — continuou Selkh. — Uma mulher.

— Seika!! Minha irmã!! — disse Seiya.

— Exatamente. Um dos berserkers de Phobos, Clown de Pennywise, a encontrou. Ele relatou a Phobos que também encontrou dois cavaleiros e uma amazona...

Delfos olhou para Shun.

— June! — disse o Cavaleiro de Andrômeda, preocupado.

O tom de voz de Selkh era como se ele estivesse poupando os cavaleiros de uma notícia pior.

— O que aconteceu com a minha irmã e com a June? — perguntou Seiya.  

— Sua irmã agora deve estar no templo. Junto com Ares. Mas acredito que ela esteja bem, pois ficou sob a tutela de Dionísio, que é um deus bastante apegado aos humanos. Eu suspeito que Ares vai usá-la como um meio de atingir você, por isso eu estou lhe avisando. Tenha cuidado. Já a June... O berserker deixou bem claro que ela está morta. Clown é um sádico torturador. Além de June os outros dois cavaleiros que estavam com ela, assim como o mordomo da Mansão Kido, também morreram.

A notícia atingiu Shun, Atena e Seiya como um soco no peito, e despertou preocupações em Delfos a respeito dos dois cavaleiros mortos. Ele temia que Lino de Lira fosse um desses cavaleiros.

Apesar de Tatsume estar entre os mortos e Atena ter um grande carinho por ele, Shun foi quem mais sofreu ao saber das vítimas do berserker. Por um instante ele teve a impressão de que o chão do jardim desapareceu debaixo dos seus pés. Seu mundo desmoronou naquele instante. Um misto de dor e desejo de vingança percorreu todo o seu corpo. Ele apertou firme as correntes em suas mãos ao ponto de sangue escorrer entre os seus dedos.

— Onde está Phobos? — perguntou Shun, de cabeça baixa.

— No templo. — respondeu Selkh. — Todos os deuses estão lá.

Shun virou-se e caminhou em direção a passagem.

— Shun, espere! — disse Atena. O Cavaleiro de Andrômeda parou. — Eu entendo a sua dor, mas não aja com imprudência agora. Essa é a intenção de Ares. Nos atingir. Fazer com que sejamos emotivos ao invés de racionais. Ele quer que a gente perca a calma e entre em desespero. Seja pelo medo, ou pela vingança.

— Atena está certa. — disse Selkh. — É uma tática que Ares e seus filhos sempre recorrem. Phobos vai se aproveitar disso se vocês deixarem.

Um lado de Shun queria desobedecer Atena pela primeira vez. E ele tinha certeza de que não era por influência de Hades. Não dessa vez. Era um desejo unicamente seu. Ele sabia que para encontrar Phobos, bastava sussurrar uma ordem para a corrente pontiaguda e ela atravessaria aquela fenda dimensional diante dele e encontraria o deus. Não importa onde ele estivesse. Mas ele também sabia que Atena e Selkh estavam certos, pois ele já havia enfrentado Phobos antes e conhecia seus truques.

Shun respirou fundo e relaxou os ombros.

— Está bem. — respondeu.

— Quando chegarmos lá, vou precisar que vocês protejam a minha retaguarda. — disse Atena. — Meu alvo é Ares.

Enquanto Atena e os outros caminhavam em direção a fenda, Henry olhou para trás e viu a armadura de Peixes descansando repleta de danos debaixo das árvores.

— Adeus, meu amigo.

Atena elevou o cosmo e estendeu a mão para o jardim. Folhas e flores se soltaram e se entrelaçaram formando uma pulseira em seu pulso. A pulseira estão se estendeu em direção ao pulso de Seiya e dos outros, formando um elo entre eles.

— Essa pulseira vai nos manter unidos durante a passagem. — disse Atena. — Vamos!!

Atena saltou para dentro da fenda, e em seguida Seiya e os outros passaram de um por um. Dentro dela, o espaço era semelhante ao caminho da hiperdimensão. Uma zona rodeada por uma teia dimensional e repleta de caminhos que dava para inúmeros lugares. Foi através desse caminho que as pétalas das árvores gêmeas se espalharam por todo o santuário há 15 anos atrás para levar a mensagem de Shaka para Atena.

Mas assim como na hiperdimensão, o trajeto foi bastante turbulento. Atena e os outros foram pegos por uma força em espiral que parecia querer despedaçá-los e espalhar os pedaços pelos confins do tempo-espaço.

Nas paredes da dimensão oscilavam imagens do Santuário. Eram cenas rápidas, distorcidas e muitas vezes confusas. As doze casas, uma coluna de cosmo se erguendo no coliseu, os cavaleiros em batalha contra os berserkers, Star Hill, o templo do Grande Mestre...

Atena abriu as asas de sua armadura divina e ampliou o seu cosmo afim de estabelecer um equilíbrio ao redor deles, isolando-os de toda aquela pressão.

— Vocês estão bem? — perguntou ela. Os cavaleiros responderam ‘sim’. — Estamos passando pelo templo do Grande Mestre. Isso significa que o meu templo está...

— Atena! — alertou Delfos, apontando para uma distorção que surgiu na dimensão. A nova fenda exibia o interior do salão do Grande Mestre, e no trono havia um homem sentado olhando para eles. — Phobos!!

Seiya e Shun seguraram a vontade de avançar contra o deus. Ao lado de Phobos estava Anteros. Apesar do deus estar trajado sua onyx prateada, e não mais o manto do Grande Mestre, ele ainda usava o elmo do representante de Atena. O símbolo de autoridade do sacerdote da deusa.

Anteros estendeu a mão para a fenda dimensional e então a imagem mudou e provocou uma poderosa oscilação no tempo-espaço. No lugar do grande salão surgiu um local totalmente distorcido, com escadas e corredores sem fim.

— Isso é... A defesa do Templo do Grande Mestre. O Labirinto dos deuses. — disse Delfos, reconhecendo o local.

Labirinto dos deuses é a última defesa do Santuário para impedir a chegada de invasores no templo de Atena. Uma barreira dimensional que cria um espaço totalmente distorcido, mas para que essa defesa seja ativada, o Grande Mestre em exercício deve invocá-la. Nem mesmo os deuses conseguem sair dessa dimensão caso caiam nela.

O labirinto então passou a puxar Atena e os outros. Em meio a toda aquela turbulência, a pulseira de Seiya se rompeu e ele foi sugado com força para dentro do Labirinto dos deuses.

— Seiya!! — gritou Shun, que lançou a corrente e a enroscou no braço do amigo para puxá-lo, mas a pulseira de flores de Shun também se rompeu e ele acabou caindo junto com Seiya. — Atena!! Vá corrente, nos tire daqui!

Mas a passagem se fechou antes que a corrente pudesse atravessar a fenda.

— Seiya! Shun! — gritou Atena.

Com a fenda fechada, a turbulência dentro da passagem dimensional cessou.

— Eles queriam o Pégaso. — disse Selkh.

— Atena... O que faremos? — perguntou Delfos.

Atena se viu dividida entre seguir em frente e ajudar Seiya e Shun. Mas ela tinha que enxergar a prioridade daquela situação. Quanto mais a guerra se estendia, mais pessoas sofriam e morriam.

— Seiya está com o Shun. Eles encontrarão uma saída. Temos que seguir em frente. — disse duramente. — Ares está do outro lado. Se eu o derrotar, tudo isso acabará mais rápido.

Atena elevou o cosmo com mais intensidade, envolvendo Delfos e os outros, e disparou cruzando o tempo-espaço rumo a uma fenda que mostrava o seu antigo templo.

—...—


Casa de Áries – Santuário, Grécia

A pequena Alecto de Erínia e seus dois berserkers subordinados, Brontë de Gytras e Tier de Shagfoal, acompanhavam a sinuosa coluna de cosmo que havia se erguido no centro do coliseu. Assim como o deslocamento de berserkers e cavaleiros para a região.

— O cosmo de Atena acabou de desaparecer na Casa de Virgem. — comentou Alecto, olhando para a sexta casa. — Ao mesmo tempo em que o cosmo do senhor Phobos e do deus Anteros se elevaram no Templo do Grande Mestre. O fim de Atena está próximo.

“É mesmo?” — disse uma voz diretamente na mente da berserker.

— Esse cosmo... — pensou Alecto, surpresa.

A berserker olhou para o céu e avistou uma gigantesca bola de fogo vindo em sua direção como se fosse um meteoro. Tier e Brontë saltaram para trás, mas Alecto não se moveu.

O meteoro caiu poucos metros à frente da berserker, abrindo uma cratera que se estendeu até se aproximar dos pés de Alecto, causando um forte deslocamento de ar.

Um par de asas divinas se abriu e Ikki se ergueu com um olhar altivo.

— Não sabia que existia uma criança assim tão nova nas fileiras dos berserkers.

— Fênix. — disse Alecto, com um leve sorriso. — Eu ouço daqui os gritos de Kydoimos.

— Então saia da minha frente se não quiser ter o mesmo fim que ele.

— Você não me intimida. Já enfrentei homens piores. — Alecto elevou o cosmo.

E em resposta a ela, Ikki também elevou o seu.

— Não perca seu tempo com ela, Ikki. — disse Jabu, subindo as escadas de acesso a primeira casa.

O Cavaleiro de Unicórnio estava acompanhado por Jake de Leão, Chertan de Girafa e Ápis de Touro.

— Jabu tem razão. — disse Chertan. — Jake cuidará dela. E nós podemos dar conta dos outros dois. Você pode seguir em frente.

— Senhor Chertan?! — disse Ikki, reconhecendo o antigo companheiro de treinamento do seu mestre Guilty.

— Podemos nos cumprimentar melhor depois, Ikki. — disse o mestre de Jake. — Você deve ir até Atena. Jabu irá com você.

— Tem certeza? — perguntou Jabu.

— Tenho.

Ikki avistou Jake, que trajava a armadura de ouro de Leão que um dia pertenceu a ele temporariamente.

— Seu discípulo? — perguntou, Ikki. Chertan acenou com a cabeça confirmando. — Um sucessor ideal. — disse dando as costas. — Ápis... É um prazer revê-lo. Quanto a você berserker...

Alecto sorriu e se afastou.

— Vá. Suba. — disse ela, falsamente gentil.

Ikki encarou Alecto por uma rápido instante. Claramente havia algo suspeito nela ao deixá-lo passar sem contestar. E ele sabia que ela não estava fazendo isso porque o temia. Além disso, Ikki sentia o espírito assassino que emanava dela como se fosse um segundo cosmo. Era malícia demais para alguém que possuía uma aparência tão inocente.

— Vá, Ikki! Jabu! — insistiu Chertan.

Sem contestar, Ikki e Jabu correram para dentro da primeira casa, rumo ao templo de Atena.

— Tolos. — disse Alecto, sorrindo. — Estão correndo para a morte.

— Calada. — disse Jake, falando pela primeira vez.

— Achei que tivesse ficado sem voz diante do Fênix. — disse a berserker, provocando. — Como um leão covarde e acuado.

— Mestre Chertan... Ápis... Não interfiram. Se ocupem com os outros dois. — o cosmo de Jake se elevou com tanta intensidade, que sua  capa se agitou e rasgou. — Ela é minha!

Os olhos de Jake brilharam e ele avançou contra Alecto como um raio. A berserker não esperava uma atitude imediata e foi pega de surpresa. O leão segurou no pescoço da berserker e a carregou para dentro da casa de Áries em um rápido disparo na velocidade da luz.

No interior da casa, Jake a lançou com violência contra a parede, mas a berserker girou e pousou, materializando sua foice e fincando-a no chão para parar a aterrissagem. Alecto sorriu maliciosamente para Jake e elevou o cosmo.

—...—


Templo do Grande Mestre – Santuário, Grécia

A sensação de queda livre fazia seu estômago revirar. Seiya estava tendo a mesma sensação de quando caiu no Tártaro. Estava tudo escuro, suas asas não lhe obedeciam e aquilo parecia não ter fim, até que a luz das tochas do grande Salão surgiu.

Seiya caiu de costas no centro do recinto. Uma dor aguda percorreu por toda a sua coluna e se espalhou por seus membros. Ele então se levantou e avistou Phobos sentado no trono do Grande Mestre.

— Phobos!! — gritou, elevando o cosmo e cerrando o punho. — Desgraçado!! — Seiya olhou para os lados procurando sua irmã e seu amigo. — Onde está a minha irmã?! Onde está o Shun?!

— Vai mesmo perder o controle das suas emoções diante de mim? — questionou o deus, com um tom irônico. — Shun está preso no labirinto dos deuses. Anteros já foi até lá para matá-lo. Já a sua irmã...

— Esses seus truques não funcionam mais comigo. Onde está a minha irmã?!

Seiya disparou contra o deus e aplicou um soco. Mas Phobos ergueu a palma da mão e criou uma barreira que bloqueou o golpe do Cavaleiro divino de Sagitário.

— E você deduz isso porque derrotou o meu irmão no Tártaro, eu suponho. Medusa me contou tudo.

— Então é disso que se trata? Uma vingança?!

— E por acaso eu sou um deus de vinganças, cavaleiro?

O cosmo de Phobos se ampliou e repeliu Seiya, que rasgou o piso do salão forçando os pés contra o chão.

— Sua irmã está viva.

— Onde ela está?!

— Em um quarto, sob os cuidados das servas de Dionísio, no final daquele corredor... — disse apontando para a entrada de um dos corredores laterais do templo, mas a entrada estava bloqueada por um berserker de elmo fechado e dois soldados rasos. — Se quiser, pode ir pegá-la. Eu não vou impedi-lo. Mas saiba... Ela está muito bem protegida.

Seiya olhou para Phobos e enrugou o cenho. Phobos não iria atraí-lo até ali para fazê-lo perder tempo com distrações baratas enfrentando berserkers. Talvez Seika estivesse no templo com Ares, como Selkh havia falado, e Phobos quisesse apenas mantê-lo afastado de Atena. Mas Seiya não podia deixar de vasculhar cada cômodo daquele templo até ter certeza de que Seika não estava ali, para só então poder seguir em frente.

— Por sua culpa a June e...

— Não perca seu tempo com isso. Deixe isso para o Andrômeda. Procure a sua irmã, Seiya. Antes que ela morra. Talvez uma das sacerdotisas de Dionísio acabe dando para ela uma taça do vinho que eu envenenei.

Seiya fechou os punhos com força. Ele queria atacar Phobos, mas não podia perder tempo. A segurança da sua irmã estava em jogo e era prioridade. Seiya então elevou o cosmo e avançou em direção a entrada do corredor.

— Saia da minha frente, berserker!!! — gritou ao aplicar um soco.

O soco, porém, foi contido pela mão do berserker. Seiya ficou surpreso.

— O-O quê?!

— Soco fraco. — disse o berserker.

Chamas romperam da palma da sua mão e giraram em um turbilhão, repelindo Seiya e lançando ele para o alto.

— Mesmo trajando uma armadura de ouro divina, você continua sendo um estorvo. Foi e sempre será. — disse o berserker.

— O que foi que você disse?! — perguntou Seiya, se levantando. — Um berserker que consegue rivalizar com um cavaleiro usando armadura divina... — pensou seiya. — Quem é você?

O berserker avançou e desferiu um soco no rosto de Seiya, mas o cavaleiro de ouro desviou por pouco e contra atacou, desferindo um soco no abdômen do berserker. Em resposta ao golpe, o berserker saltou para trás aplicando um chute no queixo de Seiya que o arremessou para o alto.

O berserker então girou, criando um círculo de chamas e estalou os dedos fazendo o fogo se erguer e envolver Seiya, mas o Cavaleiro de Sagitário elevou seu cosmo e abriu suas asas divinas, desfazendo o turbilhão.

— Você sempre foi descuidado. — disse o berserker surgindo diante de Seiya e aplicando um soco em seu rosto.

Seiya foi arremessado contra um pilar e caiu.

— Quem é você que fala comigo como se me conhecesse com tanta propriedade? — gritou Seiya, se levantando.

— Eu sou o berserker de Adrano. E lhe conheço tanto quanto possa imaginar. Você não verá sua irmã, Seiya. E nem Atena. Sua história termina aqui.

— Tire essa máscara e esse elmo, e me mostre quem você é!! — disse furioso.

O berserker de Adrano sorriu.

— Tem certeza que é isso o que você quer?! Mire a sua raiva contra mim enquanto pode. Pois quando eu revelar quem eu sou... Você não conseguirá mais erguer o seu punho.

Sem paciência, Seiya avançou em um único disparo e aplicou um soco no rosto do berserker, arrancando seu elmo.

— Eu mandei você tirar o elmo, berserker!! Eu vou...

Seiya se calou. O elmo voou, revelando o rosto que ele escondia e a voz que ele alterava. Debaixo do elmo havia um rosto familiar. Tão familiar que Seiya se odiou por ter aplicado aquele soco. Ele arregalou os olhos e deu passos para trás sem poder acreditar. Ali, diante dele, estava uma das pessoas mais importantes da sua vida. Uma mulher de olhos e cabelos castanhos.

— Seika?! — disse Seiya, apavorado. — Minha irmã?!

— Olhe direito, Seiya. — disse Phobos, se levantando do trono, sorrindo.

O medo de Seiya fez sua visão ficar turva.

— Não... Não pode ser... — disse o cavaleiro de ouro, incrédulo. — Você é... Marin!!

 — A mulher que um dia você achou que fosse sua irmã... A mulher que lhe criou e lhe treinou... A mulher que fez você ser o que é hoje... E você vai matá-la. — disse o deus, entre risos. — Não adianta conversar, ela não vai ter pena de você. A Onyx que ela está vestindo obriga que ela atenda aos desejos do Senhor Ares, que é matar você. E fornecerá para ela um poder divino que faz jus ao deus que a Onyx representa. Se quiser ver a sua irmã viva... mate a sua mestra. Ou morra se contendo. 

O cosmo de Marin se elevou. Ardente como chamas

— Não... Marin... O que ele...

—..—


Templo de Atena – Santuário, Grécia

Ares estava sentado no trono localizado no pé de sua estátua, acompanhado por Draco, o deus dragão, e Dionísio. Um forte vento soprou agitando os cabelos castanhos esbranquiçados do deus da guerra, e pétalas pairaram no ar.

 — Ela chegou. — anunciou o deus do vinho, em pé a direita do deus.

Ares mirou seus olhos vermelhos para o céu noturno, onde surgiu uma fenda dimensional circular. Do interior da fenda, escapou três cosmos que pousaram nas escadarias diante dos deuses. Henry, Delfos e Selkh.

Atena então surgiu acima deles, com suas asas divinas abertas, trajando sua armadura e armada com o báculo na mão direita e o escudo na mão esquerda. 

— Ares!! — disse a deusa.

O deus se levantou e sorriu.

— Atena!

—...—


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Capítulo 67 - Duelos de sangue

Sinopse: Indefinido.

Data de publicação: indefinida

Olá galera!! Tudo bom com você?! Espero que sim.
Vou deixar abaixo para vocês a previsão dos próximos e ÚLTIMOS títulos da fanfic:


— Capítulo 68: Deuses da guerra em combate - Parte I
— Capítulo 69: Deuses da guerra em combate - Parte II
— Capítulo 70: Apolo

Obrigado a todos que acompanharam até aqui. Obrigado por tudo ♥

E como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar.

Beijos e abraços!! Até o próximo capítulo!



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