A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 53
Capítulo 50 — Guerra em Atlântida: Tritão


Notas iniciais do capítulo

A luta entre Shalom de Virgem e a semideusa Antiope continua. As trombetas estão sendo tocadas e cada uma se mostra mais poderosa que a outra, mas a rainha das amazonas ainda encontra forças em seus princípios de luta para se erguer mais uma vez. Mas parece que ela não é a unica coisa com que Shalom deve se preocupar. Uma outra força maligna e desconhecida também está rondando Jamiel. Em Bluegraad, a cidade responsável por vigiar Atlântida, Hyoga de Aquário se encontra com Alexei, o governador da cidade, que parece apoiar a invasão de Atlântida.

Atlântida agora corre um perigo eminente de entrar em uma nova Guerra Santa, sendo o novo alvo das ambições de Ares. Com medo de que a cidade seja atacada como aconteceu na primeira guerra santa entre Poseidon e Atena, Anfitrite convocou os Almirantes, Generais e Marinas de Atlântida e do Templo do Mar mediterrâneo, assim como um dos filhos de Poseidon.



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Capítulo 50 – Guerra em Atlântida: Tritão


Jamiel — 2º dia após a ida de Seiya ao Tártaro

A segunda trombeta soou e houve o segundo abalo no céu. As nuvens giraram formando um tenebroso redemoinho e em seguida se abriram no momento em que uma montanha, ardendo em chamas, atravessou o centro do turbilhão indo em direção à berserker. Antiope tentou sair do alcance do ataque, desviando do golpe, mas seu corpo foi paralisado pelo cosmo de Shalom que a envolveu com círculos dourados semelhantes a correntes de ouro.

— Lembrei... A sua técnica impede a evasão do oponente. Então essa é a forma que o seu cosmo toma para deter o oponente? Correntes douradas?! — ela deu um sorriso abafado. — Se bem que... quando eu penso em desviar ou fugir, meu corpo não se move. Mas quando eu penso em atacar... — ela relaxou o corpo e deu um passo para frente, em direção a Shalom, e as “correntes douradas” se quebraram.  — Não sinto qualquer restrição. Eu recupero a liberdade dos meus movimentos. Então isso quer dizer que eu ainda posso lutar?!

— Jamais tiraria de alguém a capacidade de lutar pela própria vida. Não sou covarde ou injusto.

— Quanto caráter, Virgem. Mas isso talvez seja o ponto fraco da sua técnica. Dar ao oponente a possibilidade de contra-atacar é um erro fatal.

O cosmo de Antiope se elevou violentamente. Abaixo dela a terra começou a rachar e lapsos de cosmo explodiam ao seu redor.

— Mas... O que está pensando em fazer? Vai realmente lutar? A punição de cada trombeta é absoluta. Não pode ir contra elas e sair ilesa. Será punida de qualquer forma. — alertou Shalom.

— Se não há diferença no resultado desse combate, ao menos... Darei o máximo de mim para que eu viva. — disse ela, derrubando as espadas gêmeas no chão e concentrando o seu cosmo na palma das mãos. — Não irei cair diante de um Cavaleiro de Atena!! Isso seria uma vergonha! Fúria vingadora!!!

Uma poderosa rajada de cosmo foi lançada para o céu em direção à montanha flamejante. A pressão do golpe lançado fez com que Antiope afundasse seus pés no chão, o qual estava se desprendendo na medida em que o cosmo da semideusa explodia. A colisão dos golpes gerou um barulho de explosão e um forte deslocamento de ar que arrastou Shalom para trás, mas a montanha continuou a avançar e quanto mais perto ela chegava, maior era a temperatura que já começava a queimar a pele.

— Não adianta! — gritou Shalom. — Mesmo que dê tudo de si, essa montanha não irá recuar até que atinja seu alvo.

— Bobagem! Qualquer técnica pode ser sobrepujada! E eu irei lhe provar isso!! — flexionando os joelhos, Antiope aumentou a intensidade do seu cosmo e saltou de punho cerrado de encontro com a montanha. — Eu... não irei... morrer... aqui!!! Mais uma vez... Fúria vingadora!!!!

Superando todas as expectativas, Antiope contra-atacou e sobrepujou a técnica do santo de Virgem, fazendo com que a montanha rachasse e explodisse. A fúria da semideusa foi poderosa o suficiente para despedaçar a grande montanha e transforma-la em uma chuva rochosa flamejante, mas ela não saiu totalmente ilesa dessa colisão, como Shalom havia lhe alertado. As chamas que envolviam a grande montanha ainda queimaram quase um terço do seu corpo, intensificando os danos causados pela primeira trombeta.

Ela pousou no chão cambaleando, mas ainda tomando uma posição de ataque, se preparando para o próximo golpe.

— Você conseguiu. — disse Shalom, surpreso. O anjo que segurava a segunda trombeta começou a rachar, até que desabou em pedaços no chão. — Conseguiu destruir uma das minhas trombetas, mas ainda restam cinco. Não terá forças para combater cada uma delas, e eu peço para que você não tente. Olhe para o seu corpo. Não tem como você se voltar contra um julgamento divino e sair impune.

— Julgamento divino é? — ela deu um sorriso fino no canto da boca. — Cale a boca e toque a terceira trombeta. Depois que as sete tiverem sido tocadas, não lhe restará mais nada!

— Você pode parar com isso. Basta desistir e se retirar. Depende de você. Continuando... Que seja tocada a terceira trombeta! — gritou, estendendo a mão. Chuva de estrelas flamejantes!

Quando o terceiro anjo tocou a trombeta, os destroços da grande montanha subiram ao céu como centenas de estrelas cadentes douradas envolvidas pelo cosmo de Shalom, e em seguida se voltaram contra Antiope. Uma bela, mas mortal, chuva de estrelas rasgou o céu violentamente como se fosse conduzida por uma fúria divina.

 — Não vou me dar por vencida! Sou uma filha de Ares! — gritou ela, encarando a chuva consumidora que vinha em sua direção. — Sou uma semideusa!!

Ela estendeu as mãos para as espadas gêmeas, as quais atendaram ao seu chamado, e partiu para um combate direto com a chuva de estrelas. Seu cosmo se elevou de tal maneira que deu forma a uma réplica sua, com mais de cinco metros de altura feita de puro cosmo. Era a manifestação do seu espirito de luta. Shalom, que observava surpreso, arregalou os olhos ao ver o tamanho poder que ela ainda emanava, e ficou ainda mais surpreso quando o gigante avatar se moveu com agilidade imitando as ações de Antiope. Manejando as espadas com bastante destreza, a amazona partia ao meio os destroços na medida em que se aproximavam, obrigando o santo de virgem a criar um escudo ao seu redor para não ser atingindo.

Se ela tivesse continuado o avanço teria tido sucesso, mas o golpe de Shalom reagiu ao contra-ataque da semideusa. Os olhos do terceiro anjo brilharam emitindo uma luz dourada, e em seguida o ataque da terceira trombeta se intensificou. Com dificuldade para continuar avançando, Antiope desfez o avatar por estar consumindo muito de sua energia e recorreu ao seu outro golpe.

Castigo de Hipólito!

— “Mas o que ela vai fazer agora?! Ela vai continuar? Meu Deus... — pensou Shalom, impressionado.

Do aglomerado de cosmo ao redor de Antiope, saltou centenas de vultos negros de olhos vermelhos com formas de cavalos. Eles relincharam, se erguendo nas patas traseiras, e seguiram galopando até o céu contra cada estrela flamejante. As colisões proporcionaram centenas de explosões no céu, e o som das explosões eram como a de centenas de disparos de canhão. Cada vulto obscuro tinha o poder de uma onda de impacto, então centenas deles deveriam ter sido suficiente para impedir o avanço da terceira trombeta, mas algumas estrelas atravessaram o contra-ataque da amazona e a alvejaram, lançando-a para o alto e causando ainda mais danos.

Sem capacidade de se equilibrar, a semideusa desabou no chão com a onyx bastante danificada, caindo aos pedaços, e com o corpo repleto de ferimentos profundos e queimaduras severas. O ikhor que corria em suas veias tentava diminuir os danos, e algumas partes do seu corpo já estava cicatrizada, mas eram cicatrizes deformadas e grossas. Como se o corpo notasse a pressa em se reconstruir.

— Não precisamos levar isso a diante. Podemos parar por aqui. Você não vai chegar viva até o toque da última trombeta. Aceite meu conselho. Retire-se de Jamiel e fuja do Santuário. Não volte a pisar no campo de batalha dessa Guerra Santa. Prometa fazer isso e eu não precisarei ordenar que o anjo toque a quarta trombeta.

Levantando com bastante esforço, Antiope voltou a ficar em posição de batalha e fitou Shalom.

— Fugir... Se retirar... Não são coisas que uma amazona, que uma berserker, faria. Isso vai contra os nossos princípios de combate. Somos aqueles que se erguem em meio a carnificina. Jamais recuamos. — de punho cerrado, seu cosmo mais uma vez se ergueu e explodiu, e ela avançou em direção a Shalom. — Não importa se algum membro seja amputado ou se nosso corpo seja tomado por fogo, nos erguemos e lutamos até o nosso último suspiro!! Fúria vingadora!!

Shalom soltou o ar e fez uma expressão de decepção. Por mais que Antiope fosse sua inimiga, não lhe agradava prolongar o combate. Ainda que em algum momento tenha existindo explosões de raiva para querer matá-la, tirar a vida de alguém, mesmo que seja seu oponente, é algo muito difícil. É muito mais fácil se cegar apenas com os erros do oponente e assim seguir adiante no combate, do que enxergar que atrás de tantas falhas existe uma vida, e que não temos a autoridade de tira-la. Mas em uma guerra não existe espaço para esse tipo de inocência e hesitação. O que deve ser levado em conta é a natureza e o objetivo do oponente, pois elas podem trazer consequências terríveis para a humanidade e a paz na Terra. Nada mais.

— Sinto muito. Essa será a última trombeta que você ouvirá. Depois disso, desejo que o seu espirito descanse, pois em vida você pagou pelos seus crimes. Que seja tocada a quarta trombeta e que a terça parte da vida que lhe resta seja consumida! — O quarto anjo tocou a trombeta e o cosmo de Antiope se apagou, anulando também o golpe que ela havia lançado. Seu corpo ficou paralisado, e uma dor aguda tomou o seu peito. O sangue em suas veias passou a queimar como se estivessem em chamas e seus vasos aumentaram de tamanho até que se romperam, jorrando uma grande quantidade de sangue e ikhor. A marca mestiça de um semideus.

Com a vida abandonando seu corpo mais rápido do que ela esperava, Antiope ia desabando no chão, mas Shalom se apressou e a segurou nos braços.

— Virgem...

— Não se esforce. — disse ele, com uma voz serena. — Acabou.

Antiope sorriu.

— Sim... Acabou. E eu... retiro o que disse sobre você. Você foi o primeiro homem que me fez questionar durante uma luta se era realmente certo e necessário levar o combate adiante. É um dos homens mais poderosos que eu já enfrentei e é um dos poucos que... me viu tombar em batalha.

— Foi estupidez da minha parte pedir para você recuar. Você estava certa sobre seus princípios de luta, mas não porque você é uma berserker ou amazona, mas sim porque você é uma mulher decidida que jamais daria um passo para trás se não fosse para pegar impulso. Reconheço seus esforços, mas tudo termina aqui. Uma amazona qualquer jamais teria chegado tão longe. Você foi tão forte quanto a sua irmã. Descanse. — a vida abandonou os olhos de Antiope, e sua cabeça pendeu para o lado. — Adeus, Rainha das Amazonas!

“Que tocante! O que pretende fazer agora, Cavaleiro de Ouro? Vai enterra-la?”

A voz veio acompanhada com um vento forte e quente, que soprou vindo das montanhas da China.

— Quem está ai? E porque ficou apenas observando por todo esse tempo?

— Oh! Então você me notou durante o seu combate?! Mas se quer pareceu se preocupar.

— Apenas me preocupo com meus inimigos.

— Você é interessante, Virgem. Sua paciência, mansidão e imponência escondem esse seu grande cosmo, que talvez nem mesmo os seus companheiros tem ideia. — o Taonia surgiu ao lado de Shalom, trajando uma tatuagem amarronzada com símbolos alaranjados. Ele tirou o seu elmo, revelando seus curtos cabelos avermelhados e olhos verdes. — Meu nome Hóu, o Taonia de Macaco. E estou aqui para trazer uma mensagem de Senkyou, enviada pelo Senhor Byakko. Onde está o Mestre de Jamiel?

— Kiki está lá dentro, no palácio. Cuidando dos ferimentos.

— E você por acaso não precisa cuidar dos seus? Pode ter vencido, mas sua situação não está tão boa. Quantas costelas quebradas? Uma, duas... Três?

Shalom sorriu.

— Duas. Mas eu me curo com o tempo. Não tem o que se preocupar. Pode ir na frente. Os outros cavaleiros estão lá. Agora eu preciso enterrar o corpo de Antiope e sua irmã.

— Enterrar? Enterro é algo digno demais para essas duas. — disse dando as costas. — Jogue-as de penhasco abaixo, e ainda estará fazendo muito por elas.

— Inimigas ou não, prestarei respeito. Pode ir na frente.

Hóu olhou para Shalom com um olhar curioso.

— Vocês Cavaleiros de Atena... São realmente interessantes. Faça como quiser.

Enquanto Hóu se afastava, Shalom tomou Antiope nos braços e estava caminhando em direção ao corpo de Hipólita quando uma sensação sombria surgiu e mobilizou seus movimentos. Por um instante, Jamiel pareceu desaparecer em uma densa escuridão, restando apenas Shalom, o corpo das duas semideusas e as estatuas dos três anjos que restaram do golpe do santo de virgem.

Além da absoluta escuridão, Shalom sentiu a sensação de estar sendo observado. Como se alguém, além do Hóu, estivesse atrás dele. Com muito esforço ele tentou virar o rosto, mas seu corpo não lhe obedecia completamente. Ele estava rígido e sentindo um profundo calafrio. Mesmo assim, ele ainda conseguiu ver. O quinto anjo parecia estar segurando um bebê nos braços. A criança, de pele clara quase pálida e aparentemente de cabelos loiros, parecia estar dormindo enrolada em um manto escuro, e no peito da criança havia algo branco com manchas vermelhas, mas Shalom não conseguiu enxergar nitidamente. A sua visão estava um pouco embaçada devido a forte presença que a criança emanava.

E como se já não bastasse um ar tão sombrio vindo do bebê, uma serpente de olhos vermelhos surgiu enroscando o pescoço do anjo e apoiando seu corpo no ombro da estátua. Ela trazia uma fruta vermelha na boca e ofereceu a criança, que estendeu as mãos e a segurou. A criança deu uma pequena mordida e em seguida virou o rosto para Shalom, com um inocente, mas também aterrorizante, sorriso. Havia algo perverso naquela expressão bondosa. Uma criança não deveria ser assustadora dessa forma, mas Shalom também se sentia atraído. Ele estendeu o braço com a pequena fruta na mão, oferecendo-a, e a deixou cair. A fruta rolou até encostar no pé de Shalom e nesse momento as trevas desapareceram, e tudo voltou ao normal.

Shalom recuperou os movimentos e virou-se apressado, mas tanto a criança quanto a serpente haviam desaparecido juntos com as imagens dos anjos. Hóu virou-se com uma expressão confusa, talvez ele também tivesse sentido uma sensação sombria, mas voltou a caminhar em direção ao palácio.

Shalom imaginou que talvez tivesse sido apenas sua imaginação, ou um efeito colateral de algum golpe de Antiope, mas ao olhar para os seus pés ele viu que a fruta vermelha estava lá, e com uma pequena mordida. Ele teve vontade de pega-la, mas a armadura de virgem reagiu ao seu pensamento, emitindo uma ressonância. Foi como uma alerta para que ele se afastasse. E antes que Shalom decidisse ou não pega-la, a própria armadura de ouro emanou seu cosmo e investiu contra a fruta, fazendo ela ser reduzida a cinzas.

—...—


Bluegraad — Palácio Azul — Manhã do 2º dia após a ida de Seiya ao Tártaro

Amarrados com correntes de contenção de cosmo nos braços, Hyoga, Freya e as valquírias foram escoltados pelos soldados e pela comandante de segurança pelos corredores do palácio. Ao passarem por um dos corredores laterais, Hyoga avistou o centro da cidade, onde os civis trabalhavam e moravam. De longe também dava para avistar a estátua de um grande lobo branco de olhos, garras e língua azul erguida no centro da praça pública.  Havia pessoas reunidas ao redor da estátua e eles pareciam felizes, como se comemorassem ou agradecessem por algo, mas Hyoga não lembrava de ter visto aquela estatua em Bluegraad na última vez que esteve na cidade.

 Todos estavam levando mais um dia sofrido debaixo de uma temperatura extremamente baixa, mas sem perder o sorriso no rosto e sem a preocupação de estarem sendo ameaçados por um dos deuses aliados de Ares e seus berserkers. Hyoga concluiu que talvez a comandante tivesse razão. O povo de bluegraad leva uma vida marcada por sofrimento e dificuldades. O que menos precisam agora é serem afligidos pelo medo da insegurança e as dores de uma guerra.

Depois de passarem por longos corredores, finalmente chegaram no principal, aquele os levariam direto para o grande salão. O que os separavam agora era uma alta e formosa porta azul feita de metal e raras joias azuis que só existem nas terras do norte, fazendo jus ao nome do palácio.

— Desde quando Bluegraad se tornou uma cidade tão prospera? — questionou Freya. — Até onde eu sei, Bluegraad é uma cidade que sofre com o frio tanto quanto Asgard. Raramente se encontra uma terra fértil ou com condições de mineralização.

— Parece que a raposa de Valhalla além de ter uma língua bastante barulhenta, também acha que sabe muito sobre Bluegraad. Talvez alguém precise corta-la. — disse a comandante, fitando Freya. — Bluegraad deixou de ser uma cidade fantasma fadada a morrer no gelo há muito tempo. Agora temos uma vida prospera com terras férteis. Tudo graças aos espíritos do norte. Portanto, a única terra do norte que agora está fadada a morrer no frio e fome é o buraco de onde você veio.

Espiritos do norte? — pensou Freya. Ela lembrou de ter lido sobre esses espíritos enquanto estudava com Albarich XIII na biblioteca do palácio Valhalla. Eram espíritos Inuítes. Entidades antigas que moram nas regiões polares do norte. Alguns são bondosos e ajudam os caçadores e pescadores, já outros são verdadeiros demônios que se passam por espíritos bons e exigem sacrifícios. Agora ela entendia porque o povo da cidade ergueu aquela estatua do lobo branco. Provavelmente é um dos espíritos do norte que está ajudando a cidade, mas algo naquele lobo não lhe agradava. Talvez ela apenas estivesse associando o lobo a Loki, que muitas vezes é associado aos lobos.

Seus pensamentos foram dispersados quando a comandante abriu as pesadas portas e o brilho do interior do grande salão iluminou o corredor. O salão era tão rico quanto se podia pensar para uma cidade isolada no extremo norte da terra. O teto, em formato de cúpula, era feito de cristal azul, e o piso parecia ser de safira bruta, de tão azul e brilhante. Nas laterais do salão havia arquibancadas sustentadas por colunas azuis e brancas, feitas da mesma pedra do piso.

— O palácio está muito diferente desde a última vez que estive aqui. Esse lugar não tinha um terço dos adornos que tem hoje. — disse Hyoga.

— Ficou surpreso? — disse um homem de cabelos acinzentados e olhos verdes que estava sentado em um trono branco. Ele trajava uma armadura similar a dos cavaleiros do Santuário, mas sua coloração era azul, e presa no ombro de sua armadura estava uma espécie de capa branca feita de pele de urso polar. Atrás do trono caia uma cascata silenciosa de águas cristalinas, e a água escorriam pelas laterais do salão embaixo de um piso transparente. — Estou feliz por saber que voltou para Bluegraad. Só não esperava que fosse na condição de um invasor, ainda mais acompanhado por Valquírias de Odin.

— Alexei!

— Olá, meu amigo. Vejo que não foi apenas o meu palácio que mudou. Está de barba longa e se tornou o Cavaleiro de Ouro de Aquário. Combinou com você.

— E você, o que se tornou, Alexei?

O governador frangiu o cenho.

— Do que está falando?

— Eu sei que um dos deuses aliados de Ares está aqui em Bluegraad. Foi isso o que me trouxe aqui. Como pode permitir isso? Vocês de Bluegraad sabem tão bem quanto nós que Ares é um dos deuses inimigos de Atena. Nesse momento ele quer tomar o controle da Terra por completo e...

— Pelo que eu sei, ele já tomou. — disse Alexei, interrompendo.

— Espera... Você sabe?

— Sei. O deus que veio até mim foi Anteros. Ele me contou que Atena está morta e que Ares é o novo deus patrono da Terra. Na minha visão, quanto a isso, não tem mais o que fazer e por isso não vou me opor. Não vou trazer Atena de volta dos mortos ou derrotar Ares, então, porque iria negar algo a um deus que veio até mim me pedir um favor?

— Mesmo que esse favor possa ser uma arma contra a humanidade?! E que tipo de favor ele veio pedir a você?

— Informações sobre Atlântida. Ninguém melhor do que nós para oferecer conhecimento sobre a cidade perdida do Imperador Poseidon. Em troca, Anteros jurou que Ares não faria qualquer mal a Bluegraad, fazendo com que a cidade fosse uma zona neutra aos olhos do deus.

— E você caiu nessa mentira? Ares e seus deuses não são divindades que concedem misericórdia. Uma promessa que sai da boca de um deles não vale nada. Não é garantia. Para Anteros não faria qualquer diferença dizimar a cidade depois que ele obter o que veio pegar aqui.

— Isso é paranoia sua, Hyoga. — disse Alexei, zombando. — Parece mais choro de um mal perdedor.

— Está enganado! Ser uma zona neutra não é vantagem. É ser descartável para ele. Você está sendo cego para a situação. Afinal, por qual motivo ele iria querer informações sobre Bluegraad?

— Não é óbvio? — questionou a comandante. — Depois de conquistar a Terra, Ares quer dominar os sete oceanos. Meus soldados ouviram Anteros e um dos berserkers conversando. Ares declarou guerra, e Atlântida já está ciente disso. Acredito que nesse momento, os Atlantis estejam se preparando.

Hyoga cerrou o punho. Ele estava ficando impaciente.

— E você concorda com isso Alexei?

— E cabe a mim julgar se é certo ou errado? Acorde, Hyoga. Bluegraad não tem condições de ficar condenando atitudes certas ou erradas que irão ser tomadas pelo deus que atualmente comanda a Terra. Da mesma forma que éramos submissos ao Santuário na época de Atena, continuamos a ser no governo de Ares. A diferença é que agora Atlântida pode ser tomada, e isso fará com que Bluegraad não precise mais vigiar a cidade perdida, pois ela passará a ser propriedade do Santuário de Ares. Veja isso como a nossa carta de alforria, rompendo nossas correntes com o Santuário de uma vez por todas. — respondeu o governador. — Se Ares tiver sucesso, Bluegraad ficará livre de ser apenas uma cidade vigilante.

— E passará a ser escravizada por Ares. Está se iludindo. — rebateu Freya. — Uma mentira contada várias vezes faz parecer verdade. É isso o que está fazendo. Quantas vezes precisou repetir essa ilusão para si mesmo?

A comandante tirou um chicote da cintura e chicoteou as costas da líder das valquírias, fazendo Freya se contorcer. As valquírias se revoltaram e tentaram ir pra cima da comandante, mas os soldados as afastaram com lanças, ameaçando mata-las.

— Freya! — chamou Hyoga. — Deixe isso comigo. — ele ergueu os braços para frente, mostrando as correntes que restringiam seu cosmo. — Tire as correntes de mim, Alexei. E eu mesmo irei me encarregar de expulsar Anteros e seus berserkers antes que seja tarde.

Alexei sorriu.

— Não me leve a mal, meu amigo, mas eu não posso fazer isso.

— Não pode ou não quer?

— Os dois. Não vou arriscar a vida do meu povo por causa dessa sua teoria da conspiração. Se Anteros quisesse fazer algo com esta cidade, ele já teria feito. Resta vocês do Santuário aceitarem a derrota ou morrer em uma resistência inútil.

A paciência de Hyoga explodiu junto com a centelha de cosmo que ele ainda conseguia emanar. O piso ao seu redor ficou coberto por uma grossa camada de gelo.

...

Perto dali, na biblioteca de Bluegraad, Anteros sentiu o elevar do cosmo de Hyoga. O deus estava retirando um livro da prateleira e quase o derrubou.

— Ora, ora... Parece que temos visita. — disse com um fino sorriso. — Parece que um dos cães perdidos de Atena veio até Bluegraad.

— Um cavaleiro, senhor? — perguntou Lycaon.

— Sim, mas não um cavaleiro qualquer. É um Cavaleiro de Ouro e também... É um dos lendários. — disse o deus.

— Então o governador de Bluegraad nos traiu? — perguntou um dos berserkers.

— Ao que me parece... Não. Também sinto um pequeno conflito entre os dois. Talvez estejam discutindo sobre nós, mas... Tem algo no cavaleiro que parece estar... Lhe limitando.

— Permita que eu vá até lá e acabe com ele. — pediu Lycaon.

— Não. Não temos tempo para perder com combates. Um rato lendário a mais ou a menos já não faz diferença alguma agora. E também... Você se tornou o novo líder do exército de Deimos depois que Hayato morreu. Não faça Deimos ter que escolher outro líder. Você sozinho não é capaz de dar conta desse homem.

Lycaon cerrou o punho e suas presas cresceram.

— O que foi que você disse?!

— Envie os seus subordinados para atrasa-lo. — ordenou Anteros. — Precisamos apenas de tempo para terminamos aqui.

Lycaon elevou o cosmo e sua sombra tomou a forma de um licantropo de corpo robusto e garras afiadas. Da sua sombra surgiu dezenas de licantropos, metade homem e metade lobo, vestindo peças escuras de onyx. O corpo era coberto por pelos pretos e acinzentados, e tinha uma postura contorcida como se a coluna se envergasse. Os dedos eram compridos e as garras longas e afiadas. O rosto ainda era um pouco humano, mas os olhos vermelhos e a orelha pontuda eram de lobos. A boca tinha uma forma ligeira de focinho, mas ainda era pequena demais para uma quantidade anormal de dentes afiados.

— Ouviram a ordem?! Vão até lá e atrasem o cavaleiro de ouro. Mas se tiverem a oportunidade de rasgar a garganta dele... Não percam tempo e façam!!!

...

— Você não pode ser tão cego assim! Pensei que depois de tantos anos você estaria mais sábio, mais prudente, mas continua sendo um homem egoísta!!

— Não venha falar de egoísmo para mim, Hyoga! Vocês do santuário não se importam com Bluegraad e apenas vem até nós quando querem nos explorar! Nós temos que nos virar da maneira que pudermos para sobreviver, portanto, abaixe seu tom de voz aqui no palácio e saiba o seu devido lugar. Quem manda nesta cidade sou eu! Eu sou o governador! A sua posição de Cavaleiro de Ouro não lhe dá autoridade alguma sobre mim!

— Alexei!

— Basta!! — gritou o governador, se levantando. — Eu já ouvi demais das suas ladainhas. Ainda está vivo graças a nossa amizade, então não abuse da minha paciência! Você ficará preso nas masmorras do palácio até que o conflito entre Ares e Atlântida termine! Veja isso como um ato de misericórdia e compaixão. Já vocês... — disse olhando para Freya e as outras valquírias. — Que fique bem claro desde agora que vocês não irão gozar do mesmo privilegio que estou dando a Hyoga. Serão levadas para as masmorras e ficarão por lá até que chegue o dia da execução.

— Está louco? A representante de Odin e o líder dos Guerreiros Deuses sabem que estamos aqui. Se você nos executar, irá iniciar uma guerra sangrenta entre Bluegraad e Asgard. — alertou Freya.

— Essa guerra estamos dispostos a travar. — disse um dos soldados.

Nesse momento as portas do palácio foram violentamente abertas e o salão invadido por uma alcateia formada por dezenas de licantropos. Apoiados nas quatro patas e derramando saliva ácida como se espumassem de raiva, os lobos de Lycaon fitaram Hyoga com seus olhos vermelhos.

— Mas que diabos é isso? — perguntou um dos soldados, espantado.

— Homens metade lobos... São licantropos! — respondeu Hyoga. — São servos de um dos mais poderosos berserkers a serviço de Ares. Então isso quer dizer que... Aquele homem de quem os livros do Santuário falam... Está aqui!!

Viemos matar você, Hyoga de Aquário! — disse um dos licantropos. As garras saltaram de suas patas riscando o chão e os caninos cresceram a ponto de não ser possível fechar a boca.

Cerca de mais ou menos cinco licantropos rasgaram o piso em avanço contra Hyoga. O santo de Aquário estava aparentemente vulnerável e o pouco de cosmo que ele podia emanar talvez não fosse o suficiente para dar conta de tantos lobos sanguinário. Os soldados do palácio correram armados com lanças para impedir o avanço, mas foram trucidados por garras e mordidas que arrancaram seus membros e até os partiram ao meio. As valquírias correram para ficarem juntas de Freya e tentar protege-la, mesmo estando acorrentadas. A comandante elevou o seu cosmo e golpeou os licantropos com seu chicote, mas ela não conseguiu dar conta de todos ao mesmo tempo e acabou sendo arremessada contra uma das colunas.

O próximo alvo agora era Hyoga, e ao notar isso Freya tentou correr para protege-lo, mas as valquírias não deixaram. Os lobos estavam perto demais dele, faltando poucos metros para rasgarem a sua garganta, mas Hyoga não se moveu. Simplesmente ficou parado, esperando o ataque. Quando os licantropos já estavam prestes a mata-lo, uma gigantesca nevasca acompanhada de lanças de gelo cruzou o salão vindo de trás de Hyoga, nocauteando os licantropos.

— Você ficou parado. — disse Alexei. — Porque?

— Queria ter certeza se o homem que está aqui é meu amigo ou inimigo. Mesmo tomando tantas decisões erradas, você ainda não se corrompeu. Apenas está perdido, mais uma vez. Talvez o extremo de Bluegraad leve os governadores a tomar decisões desesperadas em algumas situações. — ele caminhou até Alexei e estendeu os braços. — Quebre essa corrente, Alexei. Olhe para os corpos dos soldados espalhados no palácio. Acredito que fora do palácio, nos corredores, tenha mais corpos. E isso vai se repetir com a cidade. Pode ter certeza. Esses lobos não foram enviados para me matar, mas sim para me despistar. Anteros e o berserker que os enviou só querem ganhar tempo, e são capazes de fazer qualquer coisa. Alexei!!!

  Os outros licantropos já estavam riscando o chão com as garras, se preparando para saltar em direção à Hyoga. Alexei levou a mão para uma adaga de lâmina longa que ele carregava na cintura e a desembainhou lentamente, pensando se deveria ou não romper as correntes. Vendo que o cavaleiro de Aquário continuava de costas esperando o indeciso governador tomar uma decisão, a alcateia inteira avançou antes que as correntes fossem rompidas.

Hyoga agora estava entre a “lâmina” e as “garras”. Se o governador continuasse indeciso, os lobos iriam cravar suas garras e presas, mas dessa vez ele não podia esperar para saber qual seria a posição do amigo. Defende-lo novamente ou ser omisso por um bem maior? Essa resposta ele ficaria sem saber. Hyoga avançou e chutou a mão de Alexei para cima, jogando a adaga de prata para o alto, e em seguida correu em direção ao trono, pulando e pegando impulso para pegar a adaga ainda no ar e usa-la para romper as correntes. O simples toque da lâmina fez as correntes se romperem em pedaços, e se desfizeram em um cosmo azul.

No momento em que Hyoga pousou no chão, a alcateia já estava pulando para cima dele, com garras e presas afiadas prontas para mata-lo. Naquele instante o tempo parecia ter sido congelado ao redor de Hyoga. Ele estava em pé e imponente, com seu cosmo brilhando intensamente e o manto de pele de urso esvoaçante com o elevar do seu cosmo. Diante dele havia dezenas de licantropos. Alguns saltaram tão alto que pareciam formar um paredão diante dele.

— Desapareçam! Turbilhão Congelante!

Hyoga estalou os dedos e seu cosmo explodiu, se convertendo em centenas de cristais de gelo e jogando os licantropos para os ares, enquanto os cristais formavam um turbilhão que os engoliu e os congelou por inteiro, destroçando-os. O que restou foram apenas corpos congelados feitos em pedaços.

— Hyoga...

— Diga onde eles estão, Alexei. Para onde você os levou? Onde você guarda as informações sobre Atlântida?

— Você quer mesmo ir até lá?

— Não temos tempo para ficar discutindo. Fale logo! Onde eles estão?!

— Na torre da biblioteca, mas... — os olhos verdes de Alexei se tornaram azuis e em seu rosto surgiu marcas tribais prateadas. Seu cosmo explodiu e tudo ao seu redor foi coberto por uma grossa camada de gelo. — Não permitirei que você saia daqui. — a sua voz também mudou. Estava dupla. Como se alguém estivesse falando através de Alexei. — Você não compreende que temos a oportunidade de nos livrarmos de uma vez por toda de Atlântida? A existência e independência dessa cidade faz com que Bluegraad continue escravizada a ser uma mera cidade vigilante. Se Atlântida cair ou for tomada, não caberá ao povo dessa cidade se preocupar com qualquer coisa a não ser a própria vida deles.

— Você... Você não é o Alexei!! Quem é você?!

— Cavaleiro de Atena, farei desse palácio o seu tumulo! Impulso Azul!! gritou “Alexei”, estendendo a mão e disparando o seu golpe na forma de uma correnteza de ar gelado.

Que cosmo energia poderosa! Esse poder... Esse poder de não pertence ao Alexei. Alguém está usando o seu corpo para governar Bluegraad! Mais quem poderia ser?! — pensou Hyoga. — Seja lá quem você for e o que pretende fazer, eu não vou permitir que continue a usa o corpo do meu amigo! — Hyoga ergueu os braços, posicionando na forma de ânfora. — Eu irei detê-lo! Execução Aurora!!

Os golpes colidiram com bastante impacto, gerando uma poderosa explosão que começou a varrer o salão com um denso ar frio, congelando tudo o que encontrava pela frente. Freya e os demais correram para se esconder atrás dos pilares, fugindo do alcance direto da onda gélida que se aproximava.  O palácio sofreu um forte abalo e o salão ficou completamente congelado.

— A força crescente que está sendo gerada no centro da colisão... Está completamente equivalente. — contatou Freya, assustada. — Hyoga... O frio que ele está liberando é ainda mais poderoso se comparado a sua luta com Hagen. Então é esse o frio que se alcança quando se tem domínio pleno do zero absoluto?!

— Seja lá quem for, consegue disparar um ar frio tão poderoso quanto o meu. — disse Hyoga. — Nenhum guerreiro azul tem tanto poder assim. Nem mesmo o Alexei. — Hyoga olhou sorrateiramente para a comandante, que estava escondida atrás de um dos pilares. — Você! Me responda, quem é esse que está governando Bluegraad?

— O-O que?! — disse espantada. — Só tem um governador... Ele...

— Não minta para mim!!

Ainda acorrentada, Freya se levantou e correu até a comandante, colocando ela contra o pilar e forçando as correntes no seu pescoço.

— A situação está fugindo do controle caso não esteja percebendo. — disse Freya. — No centro da colisão existe um poder concentrado que mais cedo ou mais tarde irá explodir. Um frio tão forte que mataria todos nós com um simples toque. Então não nos faça perguntar mais uma vez. Responda!!

Mesmo encurralada e sem conseguir respirar, a comandante continuou a negar. Freya continuou a forçar ainda mais a corrente, a ponto de começar a cortar o pescoço da comandante. Vendo que ela estava começando a ficar tonta, a líder das Valquirias se afastou e girou, aplicando um chute no rosto da comandante, lançando ela contra a coluna ao lado.

A chefe dos soldados azuis tentou se levantar, mas Freya a pressionou no chão colocando os pés no centro do seu peito.

— Diga o nome! Qual dos espíritos Inuítes está controlando o corpo de Alexei?

— Mesmo ele sendo um Cavaleiro de Ouro... Não terá chance contra ele.

— Ele quem?! — disse pressionando o peito com mais forças.

— Amao, o lobo gigante que mantem o equilíbrio da caça e protege os habitantes dessa cidade. — respondeu a comandante.

— Hyoga! — gritou Freya. — O nome dele é Amao. É um espirito bondoso, de acordo com a mitologia Inuíte.

— O quê?! Bondoso? Mas se ele é bondoso, então porque está fazendo isso? — questionou Hyoga.

— Eu já lhe respondi, mas você parece ignorar. — disse Amao. — Tarde demais. Você morrerá aqui. Isso é crucial para que o povo de Bluegraad continue a trilhar o caminho da liberdade. Você já deve conhecer o Impulso Azul, então sabe que essa técnica envolve o corpo do oponente até o seu coração parar. Por estar sendo protegido pela armadura de ouro talvez Alexei não tivesse poder suficiente para isso, mas eu... Eu tenho!

Amao intensificou o seu cosmo e começou a empurrar Hyoga para trás. Se isso continuasse, Hyoga sabia que o poder concentrado entre eles seria empurrado contra ele, e nem mesmo a armadura de ouro iria suportar um frio tão intenso.

— Freya! Valquirias! Eu quero que vocês se segurem com toda a força que puderem. Não se soltem por nada!

— O que você que vai fazer, Hyoga? — perguntou Amao.

Turbilhão congelante!! — simultaneamente, quando ainda estava lançando o Execução Aurora, o cosmo de Hyoga se expandiu e tomou a forma de um turbilhão congelante que envolveu todo o salão. As fortes correntes de ar passavam entre as colunas quase arrastando Freya e as demais, que se agarram com todas as forças nos grossos pilares. — Eu já disse! Eu irei detê-lo! — o turbilhão começou a se estreitar, formando uma grossa coluna de ar ao redor de Hyoga e Amao, deixando o dois no centro. — Essa luta está indo longe demais! Não sou seu inimigo e você também não é meu, mas se você não estivesse no corpo do meu amigo... Eu lhe mataria. Agora... Eleve-se cosmo!!

Junto com o seu grito o seu cosmo explodiu, e a Execução Aurora avançou empurrando o Impulso Azul. Nesse momento o turbilhão se estreitou ainda mais, envolvendo agora apenas a energia que crescia entre Hyoga e Amao, e então o turbilhão também explodiu, cortando os dois golpes e levando em direção ao céu a energia concentrada. A cúpula de vidro explodiu no momento em que a cosmo energia atravessou, e uma grossa coluna de cosmo se elevou ao céu e em seguida se dissipou.

A destruição da cúpula deu início a forte um desmoronamento e os destroços começaram a cair. Uma das placas de vidro desceu em direção a Alexei e estava prestas a partir ao meio quando simplesmente ela parou a poucos metros dele, e ficou pairando no ar junto com os demais destroços. Era uma habilidade telecinetica.

— Eu assumo daqui. — disse uma mulher, de cabelos loiros e curtos, parada na entrada do salão. Ela estava usando um vestido branco, tão alvo quanto a neve, e dois braceletes azuis no braço esquerdo. O cosmo que ela emanava era semelhante ao que estava fluindo de Alexei agora, mas ao contrário do governador, o cosmo dela era caloroso e aconchegante. — Hyoga, siga em frente. E leve com você as valquírias. Anteros ainda está na biblioteca, mas alguns berserkers já estão do lado de fora. Provavelmente estão fazendo a guarda para dar tempo a Anteros concluir a pesquisa. 

— Natassia?! — disse ele, surpreso.

— É bom ver você. Uma pena que seja em uma situação como essa. Mais uma vez, obrigada por ajudar Bluegraad. Não tive a oportunidade de lhe agradecer na última vez em que esteve aqui.

— Tudo bem. Mas Natassia... Esse poder que está fluindo de você...

Natassia levou a mão ao pescoço e levantou uma fina corrente com um pingente. O pingente eram três traços em forma de ondas.

— Nerrivik. — disse ela. — É a deusa que concede alimento ao povo e cuida dos pescadores e caçadores. Não se preocupe. Sabemos o que estamos fazendo. — Natassia olhou para o irmão. — Alexei continua sendo um governador prudente que se preocupa com o povo. Suas atitudes podem parecer imprudentes, mas na verdade são preocupadas. Hyoga... Antes que você vá, eu preciso lhe dizer uma coisa.

— E o que seria?

— Mesmo aqui no extremo norte do mundo, as conversas não demoram a chegar. Ouvi os espíritos cochichando sobre Atena estar morta, mas... Depois ouvi que um grupo de cavaleiros está tentando tira-la do Tártaro e vencer Ares. E agora Ares quer invadir Atlântida e toma-la. Se isso acontecer, se Ares tomar Atlântida, a cidade submarina passará a ser sua propriedade e Bluegraad ficará livre de sua sentença em vigia-la. Mas ao contrário do meu irmão, eu não confio que a queda de Atlântida seja o nosso paraíso. O que acontece no Santuário cedo ou tarde nos afeta, mas o que acontece em Atlântida tem uma resposta ainda mais rápida. Não sabemos a imensidão que a guerra pode tomar. De acordo com os registros de Bluegraad, a grande guerra santa entre Poseidon e Atena que envolveu Atlântida causou uma inundação tão terrível que afundou continentes, levando-os para o fundo do mar por toda a eternidade. Não quero que Bluegraad sofra esse tipo de consequência.

— Não se preocupe. Farei o possível para deter Anteros. E o resto de nós, os que ainda estão lutando para derrotar Ares, não irão descansar até que Ares seja derrotado.

—...—


Tártaro — Castelo de Oberon — Horas depois da última lua de sangue.

Duas estrelas cadentes emanando um brilho roxo rasgaram o céu de nuvens escuras e vermelhas, e pousaram diante de um enorme portão de ferro, na entrada de um alto castelo negro que ficava no topo de uma colina bastante íngreme. O castelo parecia mais uma fortaleza. Ele era cercado por um muro com mais de vinte metros de altura, e era vigiado em alguns pontos por mulheres aladas vestidas com peças escuras e armadas com lanças, espadas ou arco e flecha.

Oberon estava vestido com peças de roupas tão escuras quanto seu castelo ou o seu cosmo. Paletó, camisa e calça social, gravata e sapatos. Tudo preto. O que fazia contraste eram seus olhos profundamente azuis e sua pele quase pálida. O cabelo, predominantemente preto, também tinha mechas marrons, mas era quase imperceptível. Ao seu lado estava Ápis, com mais de dois metros de altura, que havia se convertido em um espectro através da escuridão de Oberon. A armadura de ouro foi maculada e tomou uma forma diferente, mais espectral, e emitia o brilho fantasmagórico de uma surplice.

Oberon adentrou no palácio e caminhou até a entrada das masmorras, que estava trancada por uma grossa porta de ferro quadrada e fundida na rocha. Ela estava sendo vigiada por duas harpias guerreiras vestidas com peças de surplice. As harpias abriram a porta, fazendo reverência, e o deus seguiu acompanhado por Ápis até a cela onde Atena estava.

— Atena? Você ainda está ai? — perguntou, parado a poucos metros de distância da porta, com o tom um tanto debochado

Uma sombra se movimentou dentro da cela e então Atena apareceu pela pequena janela gradeada na grossa porta. Ela parecia estar ainda mais fraca e magra. Seus olhos estavam mergulhados em manchas escuras sinalizando cansaço, e seu rosto estava fundo demais, com as bochechas encaixadas na linha dos ossos.

— O-Oberon? — Tanto tempo presa gerou uma sensibilidade a luminosidade, e devido a isso os olhos de Atena doíam por causa da luz emitida pelas chamas que iluminavam o corredor. — Você voltou? — a sombra atrás de Oberon chamou a atenção da deusa e ela precisou arregalar os olhos. — Quem... que é esse? — perguntou arregalando os olhos Ele está vestindo uma surplice! — pensou — É um espectro?

Oberon sorriu.

— Exatamente. Minha mais nova aquisição. Já deve ter ouvido falar que eu adoro colecionar coisas únicas, inusitadas. E esse, devo dizer que é o item que mais me empolgou nos últimos séculos.

— Eu sinto vindo dele... Uma centelha de cosmo diferente. — disse Atena. — Mesmo ele aparentemente vestindo uma surplice, sinto como se... Como se fosse apenas um véu negro cobrindo ele. Quem é esse rapaz?

Delfos, que estava sentado no canto da cela, ergueu a cabeça ao notar o desconforto e desconfiança na voz de Atena. Ele tentou se levantar, mas estava muito fraco. Sua aparência estava pior que a de Atena. Além dos olhos marcados e das bochechas profundas, o cabelo de Delfos estava ainda maior, sua barba havia crescido e ele perdeu bastante massa muscular.

— Esse, Atena, é Ápis, o antigo Cavaleiro de Ouro de Touro. — respondeu Oberon. — Ele agora é Ápis de Asmodeus, a Estrela Celeste do Ódio. Um espectro. A minha segunda e mais nova estrela maligna.

— O-O que foi que você disse?!! — disse Atena, espantada. — Você o converteu a um espectro? A uma estrela maligna?

— Você que já viu um renegado frente a frente, sabe o quanto eles sofrem por dentro, não é? Chorando lagrimas de sangue. Mas isso é temporário. Logo essa dor irá ser apagada. De agora em diante ele irá me servir. Irá me obedecer sem titubear. E serão as mãos de Ápis que tirará a vida do homem que está com você nessa cela, e a vida dos ratos que estão neste momento vindo ao seu encontro. Nenhum deles sairá vivo daqui. E eu irei garantir isso. — o deus deu as costas, se dirigindo a saída. — Lamente enquanto ainda lhe resta lagrimas e tempo para isso, Atena. Ou então guarde suas lagrimas para depois. Daqui a nove dias você verá um por um ser morto na sua frente. E o ultimo será o pégasos. Esse eu deixarei que o sofrimento se estenda por vários dias.

Ao falar isso Oberon esperou que Atena reagisse ao seu comentário, mas ela não disse nada. Ficou calada. O deus virou-se desconfiado.

— Você já sabia?

— Que Seiya e os outros estão vindo? Sim. Hades esteve aqui e me contou.

— O-O que?! Meu pai esteve aqui? O que ele queria?

— Ser sínico igual a você, talvez.

Oberon cerrou o punho e virou-se, se dirigindo ao portão.

— Ápis! Ápis! Espere! — gritou Atena. Oberon, que já estava perto da porta de saída, parou e olhou sorrateiramente para ver qual seria a reação do antigo santo de ouro. Ápis parou e virou-se para Atena, com um olhar indiferente. Ele sentia que algo lhe atraia na voz e no cosmo dela, mas não conseguia compreender o motivo, e isso se convertia em uma dor que resultava em lagrimas de sangue que começavam a se formar em seus olhos. — Ápis, escute. Sei que ai dentro, em algum lugar, ainda resta um pouco de você que não foi contaminado pela escuridão de Oberon. Prometo a você que irei liberta-lo dessa prisão. Só peço que...

Ápis continuou a olhar para Atena com um olhar indiferente e deu as costas, seguindo Oberon, e dos seus olhos escorreram finas lagrimas de sangue. O deus, com um sorriso sínico no rosto olhando para Aten, fechou a grande porta e o que restou foi um corredor frio e vazio.

— Você primeiro precisa se libertar da sua própria prisão se quiser libertar alguém, Atena. — disse Delfos, ainda sentado no canto da parede. — Não adianta falar com ele. Ele vai escutar você, mas não vai compreender. A surplice está controlando ele. A partir de agora ele é só a marionete de um traje que segue a vontade de Oberon. Pra ele você é tão estranha quanto qualquer outra pessoa desconhecida.

— É. Eu notei. — disse cabisbaixa, se encostando na parede. — O que Hades disse era realmente verdade. Seiya e os outros estão vindo. — ela sorriu. Seiya sempre foi seu ponto de esperança, e saber que ele estava indo lhe resgatar fez seus olhos se encherem de lagrimas. Ela estava feliz, e aquela sensação era ainda mais maravilhosa quando se está no Tártaro. — Seiya...

—...—


Bluegraad — Biblioteca

A luta entre Hyoga e Alexei (Amao) foi sentida até mesmo na biblioteca. As prateleiras tremeram e alguns livros caíram.

— Dois cosmos poderosos estão colidindo no grande salão. — disse um dos berserkers que estava na porta fazendo a guarda.

— E com certeza não é um dos licantropos. — disse Anteros, descendo as escadas. — O cosmo do cavaleiro de ouro aumentou drasticamente. Se algo estava contendo ele, seja lá o que for não está mais fazendo efeito. A essa altura os licantropos que você enviou já devem estar mortos. — disse para Lycaon. — Temos que nos apressar. Peguem todos os documentos e copias coletadas. Vamos levar tudo para o Santuário.

— Esse cosmo... Pertence ao governador? Me parece... diferente. Será que...

O deus ergueu a mão pedindo para que Lycaon fizesse silêncio. O berserker franziu o cenho e só depois notou que o confronto no grande salão havia cessado. Os tremores pararam e os dois cosmos recuaram.

— A luta terminou? — perguntou Lycaon.

— Provavelmente. — respondeu o deus. — Vamos!

Eles caminharam com passos apressados em direção a saída da biblioteca, mas Anteros parou subitamente quando sentiu uma presença se aproximando. Lycaon, que vinha logo atrás, parou desconfiado. A expressão do deus estava rígida. Ele segurou os pergaminhos com fossa e contraiu o músculo lateral do rosto, como se tivesse pressionando os dentes.

— Para onde vão com tanta pressa? — perguntou Hyoga, caminhando no corredor principal acompanhado por Freya e as Valquirias. Os dois berserkers que estavam fazendo a guarda avançaram contra ele, mas o santo de aquário só moveu um dedo para conte-los com os círculos de gelos, restringindo os seus movimentos. — Então você é Anteros?

— Hyoga de Aquário! Então era você! Se bem lembro, você estava em Asgard. Soube que ajudou Hilda a enfrentar o exército de Deimos.

— Vamos deixar essa conversa de lado. — ele olhou para as mãos de Anteros. — Essas são as informações sobre Atlântida que você veio buscar? Me devolva!

Anteros sorriu.

— Eu não vou devolver. O Senhor Ares espera por essas informações. Agora Hyoga, você irá sair da minha frente e me deixar passar.

— Não adianta querer me controlar. Eu não vou...

— Mas eu não estou controlando você. Estou lhe dando uma ordem. Essa brincadeirinha entre deuses e lendários já passou do limite. Vamos colocar cada um no seu devido lugar. Eu mando, você obedece.

Anteros deu alguns passos para frente e as valquírias prepararam seus arcos e flechas, apontando para o peito do deus.

— Esperem! — pediu Hyoga. — Freya, controle suas valquírias. Estamos diante de um deus. Qualquer arma lançada contra ele irá voltar contra quem lançou.

— É bom você ter noção disso.

— Eu cuido dele.

— O quê? Vai me enfrentar?

— Não vim até aqui para abaixar a cabeça e deixar você fugir.

— Mas será isso que você vai fazer. — disse Lycaon, passando na frente de Anteros e desembainhando suas espadas de lâminas em forma de meia lua. — Senhor Anteros, siga em frente. Alcanço o senhor depois.

Círculo de gelo! disparou Hyoga contra Anteros, mas Lycaon usou suas lâminas para bloquear o ataque, e em seguida ele atacou, abrindo brecha para Anteros. — Eu não vou deixar você passar! Escudo de Gelo!

Uma grossa parede de gelo se ergueu no caminho, mas Anteros não se intimidou. O deus tocou no grande muro e em seguida ele explodiu em pedaços lançado Hyoga contra a parede da biblioteca. Usando poder psíquico, o deus paralisou os movimentos de Hyoga e o pressionou contra a parede.

— Lycaon, guarde suas lâminas. Hyoga não sairá daí até que estejamos bem longe. — ele caminhou até Hyoga e ficou frente a frente. — Eu quero que você preste bastante atenção nas minhas palavras. Se eu quisesse matar você, nesse exato momento, eu mataria. Basta um simples movimento meu para quebrar o seu pescoço, mas... Existe uma maldição em seu peito, posta por Éris. Se eu matasse você, estaria lhe libertando de um sofrimento pior do que a morte. A dor que você sente agora por erguer a mão contra mim... Você pode até tentar esconder, mas eu sinto. Eu escuto seu gemido interno. Dos seus músculos doendo e do seu coração acelerado. Não serei eu o seu salvador.

Ele se afastou e passou por Freya e as valquírias, libertou os berserkers presos pelo círculo de gelo e em seguida os envolveu com seu cosmo e subiu ao céu, em direção ao Santuário.

—...—


Atlântida — Reino de Poseidon — 2º dia após a ida de Seiya ao Tártaro

Atlântida, também conhecida como “a menina dos olhos de Poseidon”, é o berço da civilização e foi a primeira cidade que surgiu ainda na era dos deuses, sendo sempre exemplo de evolução e cidadania. Governada por Poseidon, o Imperador dos Mares, a cidade sempre andou a passos largos se comparado com as cidades humanas normais, e sempre despertou a cobiça de alguns deuses, como Ares.

Mas a valorosa cidade já esteve perto de ser apagada do mapa. A primeira guerra santa entre Poseidon e Atena durou anos e foi a mais sangrenta já travada entre os dois. O último ataque de Atena foi contra Atlântida, na época em que a cidade ainda era interligada com os pilares que sustentam os sete oceanos. Atena enviou um grupo de Cavaleiros de Ouro que derrubaram os suportes de Atlântida, provocando uma forte inundação que arrastou a cidade para o fundo do mar.

Poseidon, com medo de perder sua preciosa cidade e o seu povo, salvou a população dando a eles a capacidade de respirar debaixo da água e ergueu uma cúpula feita de cosmo ao redor da cidade. Dessa forma haveria uma separação da água do mar com a cidade, mas caso viesse acontecer uma nova inundação, o povo de Atlântida não ficaria encurralados na cidade e poderiam fugir pelos sete oceanos.

Desde então Atlântida vem sido mantida no fundo do mar, onde a localização exata apenas é conhecida pelo povo de Bluegraad, os quais ficaram responsáveis por vigia-los e vigiar Poseidon desde a era mitológica.

Vista de cima, Atlântida tem o mesmo formato do estado de Nova York. A semelhança se deve aos filhos de Poseidon, os quais moldaram o relevo de Nova York para que ela ficasse idêntica a Atlântida. Também foram os atlantis que deram início a construção do estado entre os séculos XV e XVII. Nova York seria a Nova Atlântida, sendo apenas um pouco menor que a verdadeira cidade marinha, e daria origem a nova dinastia de Poseidon na Terra, mas Atena não permitiu por ser parte do seu domínio e por temer que Poseidon enraizasse seus domínios por outros estados ou países. O Santuário então tomou o estado e em 1886 ergueu a estátua da liberdade, que é uma versão de Atena segurando Nick (a tocha) e o escudo (a tabula).

A cidade marinha é uma cidade ligada por estradas de corais e é dividida em três grandes áreas, chamadas de distritos. Cada distrito foi fundado por um dos filhos de Poseidon e no início foram governados por eles, mas com o passar do tempo o poder passou a ser cedido para o povo. Hoje cada distrito é liderado por um Almirante Marina, que tem autoridade militar, sendo quase equivalentes a um General Marina, mas estando ainda em um nível inferior na hierarquia. Os Almirantes, porém, são submissos direto ao Trono. Atualmente o Trono, e consequentemente Atlântida, é governado por Anfitrite, a esposa de Poseidon.

Dois dias se passaram desde o dia em que uma lança vermelha, envolvida por um cosmo violento e com a assinatura de Ares, caiu no centro da cidade, no pátio do palácio. Desde esse dia, Anfitrite declarou estado de alerta e marcou uma reunião com os Almirantes no palácio.

Uma carruagem verde puxada por cavalos, os quais ao invés de pelos tinham escamas e ao invés de crina tinham barbatanas, fez uma curva brusca em uma das ruas que levam ao palácio e parou na entrada. Os soldados reais, armados com lanças e usando peças de escamas azuis, abriram a porta da carruagem e um homem desceu. Ele parecia ter mais ou menos vinte e cinco anos e vestia o que parecia ser trajes militares. De corpo robusto e pele clara, seus cabelos iam até a altura dos ombros e eram prateados com azul. Ele tinha uma cicatriz na lateral dos olhos, os quais eram verdes como algas marinhas. Ele caminhou pelos corredores do palácio, os quais eram demasiadamente altos. Pareciam ter sido feitos para que gigantes andassem por lá. Os grandes edifícios da cidade seguiam a arquitetura no modelo grego tradicional, mas a arquitetura do palácio era um pouco diferente. A riqueza ia do piso ao teto. Nas laterais dos corredores haviam janelas coloridas, como os vitrais de igrejas, contando histórias em imagens sobre monstros marinhos, guerras de Poseidon, generais marinas e sobre os filhos do deus dos mares.

A iluminação ficava por conta de cristais azuis, que faziam contraste com as demais estruturas ornamentais. Majestosos lustres pendiam do teto, os quais eram sustentados por inacreditáveis pilares, tão grossos que pareciam ser uma réplica, só que em dimensões menores, dos grandes pilares que sustentam os oceanos.

Finalmente ele chegou diante das altas portas que levam ao interior do grande salão principal. Quando os guardas com bastante esforço abriram as portas, um grande salão azul-marinho surgiu, de teto cristalino sustentado por grossos pilares. Através do teto era possível ver uma parte da vida marinha que rodeava a cidade, passando tranquilamente. O teto era tão alto que ficava rente com a barreira sustentada por Poseidon, a qual dividia a água e a cidade.

No centro do salão havia ainda mais guardas, e todos também vestidos com escamas azuis e armados com lanças. Eles faziam a guarda de um objeto que parecia estar fincado em um bloco de terra. E no fim do recinto, onde uma estátua imponente do deus do mar se erguia segurando seu tridente e olhando para frente com os olhos emanando gloria e majestade, havia um trono onde uma mulher, tão imponente quanto a imagem do deus que se erguia atrás dela, estava sentada.

Era uma mulher indiscutivelmente linda. Seus longos cabelos eram em um tom de verde-oceano e seus olhos eram verde-perolado. Sua pele era clara, com exceção dos braços, que eram cobertos por escamas que emitiam colorações como azul, verde, lilás, prata e dourado. Seu corpo estava coberto por um vestido branco com véu transparente azulado e era protegida por algumas peças de escamas douradas. Ao lado do trono, no seu lado direito, estava o Tridente de Poseidon.

— Mãe! — disse o rapaz, se curvando no centro do salão. — Vim assim que pude. Qual a emergência?

— Dois dias atrás recebemos essa lança no pátio do palácio. Ela transpassou a barreira e chegou até nós. Junto com ela veio um cosmo terrível que declarou guerra. — respondeu Anfitrite. — Uma nova guerra santa, Tritão.

— Ares, não é? Fiquei sabendo da queda de Atena e observei pelo mar da Grécia a fuga do homem que disparou a flecha contra o receptáculo do meu pai.

— O Pégasos. — disse Anfitrite. — Soube que agora ele está a caminho do Tártaro. Os deuses estão comentando o tamanho desaforo em invadir o reino dos deuses primordiais, mas esse tipo de preocupação não nos convém. Precisamos nos preocupar com essa guerra, a qual pode acontecer a qualquer momento. Os Almirantes já estão posicionados. Preciso de você para lidera-los. O selo de Atena está enfraquecendo, mas ainda está forte o bastante para selar Poseidon. Nem mesmo eu consegui romper o selo.

— Não se preocupe. Eu irei me responsabilizar por isso. — disse Tritão, se levantando. Ele estendeu a mão para o Tridente e a arma divina reagiu, indo até ele e o envolvendo com o cosmo de Poseidon. — Irei liderar o exército do mar no lugar do meu pai. — A batida do tridente no chão gerou uma onda de cosmo que se espalhou por todo o reino. — Generais, Almirantes e Marinas, reúnam-se no Palácio do Mar!! Uma nova guerra santa começou!!

—...—


Santuário – Templo do Grande Mestre

As portas do salão se abriram e um apressado soldado passou por ele.

— Senhor Ares, trago notícias. A senhoria Éris retornou com sucesso do Palácio de Vouivre. Ela pediu para reportar ao senhor que o representante de Vouivre esta preso na prisão do Santuário e que a caixa de joias, contendo os Jewels, está com ela. O senhor Phobos também acabou de chegar. Ele está no litoral da Grécia e trouxe com ele a frota de navios da marinha russa, como o senhor havia pedido. E...

Ares, que estava sentado no trono acompanhado por Deimos a sua direita e Dionísio a sua esquerda, franziu o cenho.

— E? Tem mais alguma coisa para falar, soldado?

— Senhor... Sinto dizer que a missão em Senkyou falhou. A senhorita Ênio foi derrotada, assim como Hipólita e Antiope, e todas as suas amazonas e berserkers enviados.

— Algum cavaleiro morreu? — perguntou o deus, cerrando o punho com raiva.

— Apenas um cavaleiro de bronze, senhor.

Ares deu um sorriso abafado.

— Nem tudo são glorias, não é mesmo?!

— Esse é o seu jeito de superar a derrota? — perguntou Dionísio — Com frase clichê?

— Derrota? Meu caro amigo, eu ainda não fui derrotado. Considere-me derrotado quando eu estiver deitado no chão em uma poça de sangue e impossibilitado de me levantar. — Ares se levantou e caminhou em direção a saída. — Deimos! Prepare o seu exército e chame Draco. Irei partir ainda hoje para Atlântida. Ao meio dia, sendo mais exato. Dionísio! Você decide se vai preferir me acompanhar ou se irá ficar aqui com Phobos e Afrodite.

— Nossa! Que oferta tentadora. Acompanhar um banho de sangue ou ficar na companhia de deuses depressivos?

Ares deu um singelo sorriso e parou diante da escadaria, olhando a extensão do Santuário. Do outro lado, no litoral, dava para ver as hastes dos navios estacionados.

— Agora resta esperar Anteros retornar para podermos partir. Tomarei Atlântida e serei o deus de toda a Terra! Chegarei onde nem Poseidon e Hades chegaram. Farei dessa guerra santa a mais sangrenta, superando toda a sangria já feita por outros deuses da guerra como Marte ou Yahweh, pois eu sou o verdadeiro Senhor dos Exércitos!

—...—


Referências e informações:

A técnica de Shalom que envolve as 7 trombetas é baseada nas trombetas citadas no livro bíblico do Apocalipse;
A técnica de Antiope, o Castigo de Hipólito, é baseado no mito de Hipolito, filho da Rainha das amazonas Hipolita, que foi morto pelos cavalos;
* Uma parte da história de Atlântida contada nessa fic, e principalmente a relação com NY, é de total criação minha. Não é totalmente baseado na Atlântida de Saint Seiya, pois essa informação é pouca ainda na franquia. 
Alexei e Natassia são personagens que aparecem no gaiden de Hyoga, escrito pelo Mestre Kurumada. O nome a história é "Natassia e o pais de gelo". 
* O deus Marte é citado, mas não é o Marte de Saint Seiya Ômega, mas sim o deus Marte da mitologia romana. A contra parte de Ares. 
Yahweh é um dos nomes do Deus Cristão, o qual é citado varias vezes no Velho Testamento como sendo o Senhor dos Exércitos e é o autor das maiores guerras bíblicas.  
 

 


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Notas finais do capítulo

Grupo da fanfic no facebook: https://www.facebook.com/g roups/562898237189198/

Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.

Contato: 81 97553813

Próximo capítulo: Capítulo 51 — Atlântida: Reúnam-se, novos generais!
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: indefinida

Oi oi gente ^^ Esse nem demorou tanto e tentei caprichar bastante até porque a fanfic comemorou mês passado o aniversário de 3 anos. E agostaria de agradecer, de todo coração, a todos vocês que estão comigo por todo esse tempo. Aos novos e velhos leitores, um grande abraço.

Chegamos no arco de Atlântida (palmas). O último arco antes da volta de Atena e em seguida seguir rumo ao fim da fic (o coração já dói só em digitar isso), mas até lá tem muitos capitulos. Não vou fazer nada apressado.

POR FAVOR, não esqueça de deixar a sua opinião. Como já repeti umas 50 vezes (risco), a sua critica é sempre bem vinda e fundamental para a história. Adoro quando vocês comentam aqui no site, quando falam comigo no chat ou quando escrevem uma recomendação sobre a fic. Me animo bastante para escrever mais quando leio essas coisas. O comentário de vocês é o que incentiva a continuação e as melhorias da fanfic.

Beijos e abraços. Vejo vocês no capitulo especial que irei postar logo logo.



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