A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 45
Capítulo 42 - A deusa da Encruzilhada


Notas iniciais do capítulo

A lua de sangue chegou ao seu auge e o ultimo selo foi rompido. Livre de sua limitação, Ares está prestes a derrotar Ikki, mas o Fênix usa seu ultimo recurso para levar adiante o plano de Delfos.
Na Alemanha, Hugo mostra sua verdadeira face e habilidade com a Joia da Memoria, tentando estraçalhar o coração do jovem Leão mostrando o seu obscuro passado.
Já nas Portas da Morte, a passagem para o Tártaro se abre e a deusa que rege os caminhos aparece. Aliada ou inimiga?



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Capítulo 42 - A deusa da Encruzilhada


Castelo de Hades – Alemanha

Hugo esboçou um fino sorriso e seus olhos brilharam. Um dourado esverdeado tão intenso quanto o cosmo dourado de Jake. O jovem leão sentiu como se estivesse sendo sugado para dentro dos olhos do berserker, mas ao mesmo tempo era como se Hugo estivesse invadindo o corpo e a mente de Jake. Tudo então ficou negro e Jake estava no vazio. Em seguida um turbilhão de imagens surgiu ao seu redor. Jake teve a impressão de ver sua vida inteira passando diante dos seus olhos em frações de segundos.

Em meio a tantas lembranças, uma chamou a atenção de Jake e essa lembrança lhe arrastou.

...

Ele estava sentado no banco de trás de um carro. Olhava pensativo pela janela enquanto passava na frente de uma cafeteria a caminho da escola. O tempo estava um pouco nublado e a temperatura no painel do carro marcava cinco graus. Ele vestia uma camisa vinho de manga comprida e um cachecol cinza enrolado no pescoço. No banco da frente estavam seus pais que conversavam sobre um primo da família.

— Parece que viram ele saindo do cinema de mãos dadas com um menino. — disse a mãe dele. De costas ela parecia ter no máximo trinta e cinco anos. Estava sentada no banco do carona e usava um sobretudo bege e uma calça jeans escura. Seu cabelo loiro estava amarrado em um coque no alto da cabeça. — Imagine o quanto a minha irmã não está decepcionada nesse momento.

— Pense então na vergonha do pai. — disse o seu pai, friamente. Ele vestia um paletó preto e olhava constantemente para Jake pelo retrovisor central, que fingia não estar sendo observado e continuava a olhar pela janela. Seus pais não sabiam sobre ele, mas a desconfiança existia. — É vergonhoso para qualquer pai saber que seu filho tá beijando outro homem. Uma pessoa assim não pode ser chamada de homem. Homem de verdade não faz esse tipo de coisa.

Aquelas palavras, por mais que não tenham sido sobre Jake, também serviam para ele. Era como se o seu pai estivesse, indiretamente, dando um aviso para Jake caso ele fosse gay ele não assume isso e continuasse a fingir ser hétero. Essas palavras foram como facadas em seu peito. O carro estacionou na frente da escola e imediatamente Jake abriu a porta. Ele pegou sua mochila que estava ao seu lado e saiu do carro, mas antes de sair ele disse:

— Ele não deixa de ser homem só porque gosta de outro homem. Deveriam saber no mínimo disso.

O pai de Jake olhou severamente para ele pela janela do carro e Jake o encarou por um momento. De pele clara e cabelos escuros, era um homem de traços fortes e olhar severo. Não parecia ser um homem tolerante.

A cena se desbotou e depois tudo se misturou. Agora Jake estava em outra cena. Ele agora estava saindo da sala acompanhado do seu amigo, Isaac. Um jovem mais alto que Jake, de pele negra e olhos estranhamente verdes. Vestia uma camisa da turma de basquete e uma bermuda roxa com detalhes amarelos, mesma cor da camisa. Na estampa tinha um javali pisando em uma bola de basquete. O símbolo do time.  Isaac era um dos poucos amigos que Jake tinha na escola, mas não sabia tudo a respeito de Jake. Inseguro consigo mesmo, ele guardava o seu segredo até dos seus amigos mais próximos com medo de ser rejeitado.

— Vai almoçar comigo hoje? — Jake perguntou. Ele vestia uma camisa social azul escuro, calça jeans clara e sapatos pretos.

— Que lindo. Temos um novo casal na turma. — a voz debochada veio de trás deles e antes mesmo de se virar Jake a reconheceu. A voz de Rick. De pele clara, cabelo preto e olhos claros. Vestia um casaco do time de beisebol da escola. — Vão almoçar juntinhos?

Uma onda de risadas se espalhou pelo corredor. Jake cerrou o punho e rangeu os dentes. Ele queria fazer algo, um soco na cara de Rick pelo menos, mas não tinha coragem. Vendo a hesitação do amigo, Isaac colocou a mão em seu ombro e olhou firme para Rick.

— Depois do treino encontro você no refeitório. — disse ele pra Jake.

Jake assentiu e estava se dirigindo pra cantina quando alguém colocou o pé na frente dele e ele caiu. Andrew, amigo de Rick, esboçou um sorriso vendo Jake no chão.

— Jake! — chamou Isaac, preocupado. — Você está...

Isaac ia ajuda-lo, mas Rick o segurou.

— Eu realmente não te entendo, Isaac. Fica andando com essa “menininha”. As meninas já estão começando a suspeitar que existe algo entre vocês dois.

— Seja menos babaca, Rick. — disse Isaac, com reprovação.

Sem falar nada, Jake pegou sua mochila e seus livros e saiu de cabeça baixa.

— Veja só, saindo de fininho como um covarde. — disse Rick, presunçoso.

Naquele momento Jake sentia em suas costas o peso de dezenas de olhos lhe observando, passivos ao que estava acontecendo e o julgando como um covarde que tinha medo de Rick. Isaac nada fez. Com o passar do tempo ele também se afastou de Jake e tornou um observador, igual aos outros. Evitava andar com Jake e até mudou de cadeira na sala.

A cena mudou mais uma vez. Agora ele estava em casa. O lugar onde ele menos queria estar na verdade. Na noite passada Jake foi para uma festa e bebeu. Movido ao álcool acabou ficando com um rapaz na festa e rapidamente a notícia se espalhou no bairro. Não demorou muito para que seus pais soubessem.

No café da manhã Jake desceu para ir à escola. Estava com dor de cabeça devido a ressaca e caminhou até a cozinha para tomar café. Sua mãe estava em pé, séria, fritando ovos e bacon em um fogão ao lado da pia. Jake entrou na cozinha e lhe deu um singelo “Bom dia”, mas ela não respondeu. Mesmo estando de costas pra ele, Jake podia ver o músculo do rosto dela se contraindo. Ele olhou para a bancada americana, que ficava no centro da cozinha, e viu que tinha apenas um prato e um copo em cima. Provavelmente eram dela. A pequena mesa ao lado estava vazia e não havia sinal do seu pai no café da manhã.

— Onde está o papai?

— Como foi a noite ontem? — perguntou ela, duramente.

Desconfiado com a pergunta, o coração de Jake bateu mais forte. Sua mãe não era de fazer perguntas vãs sobre o seu dia-a-dia. Jake pousou na bancada a xicara que ele tinha pego e olhou para ela.

— Quem é Brent, Jake?

— Quem lhe contou? — perguntou ele.

— O seu pai. — respondeu ela, virando-se pra bancada e colocando os ovos no prato. — Parece que um dos filhos do amigo dele estava na festa ontem. Jake...

— Mãe... Eu...

— Diga que isso é mentira...

Ela pousou a frigideira em cima da bancada. Ela parecia tremer de raiva e ele tremia de medo. Jake engoliu seco e respondeu.

— Não é mentira, mãe. Eu...

Em um gesto impulsivo, a mãe de Jake passou o braço em cima da bancada jogando pratos, copos, talheres e comida ao chão. Ao tocar na frigideira quente ela se queimou e gritou, levando o braço até a pia e colocando em baixo d'água corrente. Assustado, Jake deu alguns passos para trás e acabou cortando o pé em um pedaço de vidro. Ela virou-se para ele com um olhar de reprovação.

— Saia da minha frente!! — gritou ela. — Estou com nojo de você!! — de olhos arregalados e cheios de lagrimas, Jake estava com medo da mãe. Ele estava vendo nela o mesmo olhar de repudio que os meninos da escola fazem. Aquele olhar julgando ele de forma repulsiva. — Sai! Agora!!

Com o pé machucado, Jake pegou a mochila e os sapatos que estava no chão e saiu correndo sem fechar a porta ao passar. Ele correu até uma praça próxima e sentou-se debaixo de uma arvore. Seu pé doía e não parava de sangrar, mas a dor não se comparava a que ele sentia no peito. Foi rejeitado pela própria mãe. Seu pai se quer o esperou para leva-lo a escola. Provavelmente também estava com raiva e vergonha e não queria vê-lo. Tremendo e chorando, Jake puxou o celular do bolso e ligou para Brent.

A cena mudou mais uma vez e agora Jake voltou para o centro do turbilhão de lembranças. Ele arfava cansado e suava, com o cabelo colado em sua testa.

— Indignação, angustia, preconceito, dor, sangue, covardia, repudio e abandono. Você esconde tudo isso de baixo dessas camadas de arrogância e silencio. — da escuridão surgiu Hugo, coberto por suas asas negras e com os olhos vermelhos. — Por de trás desse seu olhar altivo existe um olhar assustado que teme a reprovação das pessoas. Mas teve um dia que você colocou pra fora toda essa sua indignação de uma forma violenta.

Jake arregalou os olhos para Hugo e o berserker sorriu.

Uma nova lembrança lhe arrastou. Agora ele estava em um galpão abandonado no meio de uma floresta. Aquele foi o pior dia da vida de Jake. O dia em que, em seus braços, ele perdeu a pessoa que mais amava. Mas também foi naquele momento que o cosmo de Jake se acendeu pela primeira vez, e misturando amor, ódio e vingança, Jake deitou o corpo de Brent no chão e se levantou, correndo atrás de Rick e dos outros meninos. Jake entrou na floresta como uma fera que caçava sua presa. Seus sentidos pareciam mais aguçados e sua velocidade havia aumentado. Sua respiração não estava ofegante e seus pés não tropeçavam. Ele podia ouvir, ao longe, a risada dos garotos e isso só alimentava ainda mais o ódio em seu peito. Não demorou muito para que ele os encontrassem. Saltando em um tronco caído, Jake passou por cima do grupo e aterrissou na frente deles. Assustados, Rick e os outros pararam. Jake olhou para a mão de Rick e viu o taco de beisebol melado de sangue. As roupas dos meninos também estavam meladas. Jake cerrou o punho tremendo de raiva.

— Olhem só quem tá aqui. Estávamos mesmo indo atrás de você. O que tá fazendo aqui, garotinha? — perguntou Rick, batendo com o taco na mão e sorrindo. — Acabamos de dar um trato naquele seu namoradinho e agora é a sua vez.

— Desfaça esse seu sorriso sínico. — disse Jake, cerrando os dentes.

Rick sorriu.

— Você não me dá ordens, florzinha. — Ele estendeu o taco para um dos meninos que o segurou. Estralando os dedos, Rick estava ameaçando partir pra cima de Jake com os punhos. — Você eu vou ter o prazer de bater com minhas próprias mãos. — Os garotos sorriam e apoiavam Rick estimulando que o amigo batesse em Jake. — Tive uma ideia rapazes! — Rick levou a mão até o zíper da calça e abriu. — Segurem ele! Vou dar um trato especial nele. Vamos deixar ele decidir qual taco é mais grosso. O meu ou o do beisebol.

Os meninos gargalharam e deram alguns passos em direção a Jake, mas uma sensação de medo os afligiu, sentindo o corpo paralisando de medo, e eles recuaram tremendo.

— Mas que porra é essa?! — perguntou um dos garotos.

— Rick... — Andrew não parava de tremer. Até sua voz estava custando a sair. — O que... O que tá... acontecendo?

Os olhos de Jake brilharam e uma aura dourada o envolveu.

— Eu não sei. — respondeu Rick. Ele tentou andar, mas seu corpo não lhe respondia. Ele estava imobilizado. — Não estou conseguindo se quer mexer a perna.

— Várias e várias vezes eu odiei vocês. Odiei de todo o meu coração. Mas eu nunca senti tanto ódio na minha vida como estou sentido hoje. — os punhos de Jake estavam cerrados e suas veias pulsavam forte. — “Você é uma aberração”. “Você vai para o inferno”. “Tenho nojo de você”. “Você é uma decepção”. “Como um homem pode beijar outro?”. Escutei isso dezenas de vezes, mas nenhuma dessas palavras me machucaram tanto quanto o que vocês fizeram hoje. Tiraram uma vida!! Escutem bem uma coisa! — gritou Jake, e raios romperam no céu. — Eu não preciso da aprovação de vocês!!!  Ninguém precisa!!! Foda-se o que acham a respeito!! O mínimo que se deve ter é respeito e nada mais!!! Respeitar as diferenças das pessoas e não depositar nelas as suas frustrações!!! O Brent, assim como tantos outros, não merecia morrer simplesmente por ser diferente ou porque uma religião abomina como pecado!!! Ninguém é obrigado a viver submisso a isso!! Ninguém!! — o cosmo de Jake acendeu ainda mais e raios dourados começaram a se projetar, atingindo os troncos das arvores e as derrubando em chamas. Em poucos segundos um círculo de chamas se formou. — Eu sei que o que eu vou fazer é errado, mas de qualquer forma eu vou me arrepender se não fizer. Olho por olho e dente por dente não é algo que eu apoie, mas... — os meninos se apavoraram. Não entendiam o que estava acontecendo e se quer conseguiam falar de tanto medo. Andrew estava com tanto medo que deixou o taco cair e mijou na calça. — Eu preciso fazer com que vocês paguem pelo o que fizeram!!

Rick sorriu.

Vai lutar agora, florzinha? Eu não sei que porra é essa que tá acontecendo com você, mas a minha vontade de ter bater é maior que a minha curiosidade.

Jake cerrou o punho.

— Brent... me desculpa, mas...

Jake avançou contra Rick em uma velocidade espantosa. O grandalhão se quer conseguiu ver Jake dar o primeiro passo. Em menos do que um piscar de olhos ele já estava cara a cara com Rick e com o punho indo contra o rosto de Rick. Foi um soco forte. Forte o bastante para fraturar maxila e mandíbula. Forte o bastante para arrancar alguns dentes molares e arremessar Rick contra uma arvore em chamas. O garoto caiu gritando enquanto o braço do seu casaco queimava.

Vendo Rick em desespero, os outros rapazes partiram pra cima de Jake. Eram quatro, mas um caiu após o outro. A agilidade de Jake havia aumentado e os movimentos dos garotos pareciam estar lentos aos seus olhos. Aproveitando que Jake estava de costas, Rick avançou com um pedaço de tronco, mas Jake foi rápido e pegou o taco de beisebol no chão e girou atingindo a cabeça de Rick com força, que caiu no chão tendo espasmos. Sem piedade, Jake deu as costas e saiu da floresta. Os quatros rapazes, que caíram inconscientes, morreram asfixiados por inalar a fumaça, mas Rick sobreviveu, contudo, devido à forte pancada ele perdeu os movimentos do corpo e os sentidos da visão e da fala. Ficou acamado desde então sofrendo com terríveis pesadelos e síndrome de pânico que ele tinha com Jake e a floresta. Todas as noites quando Rick fechava os olhos, ele via Jake em meio as chamas da floresta com os olhos brilhando como ouro.

Em meio a lembrança, enquanto Jake caminhava para o galpão, surgiu Hugo, no meio da floresta escura, se projetando da sombra de Jake formada pela luz das chamas.

Quatro mortes e um garoto vegetando na cama. Suas mãos estão meladas de sangue, Jake.

Jake assumiu o corpo dele na lembrança. Ele olhou assustado para as próprias mãos que estavam sujas de sangue.

— Eu... Eu me arrependi do que fiz naquele dia. — disse Jake, virando-se e vendo o fogo aumentando. — Para a polícia o caso ficou sem solução e no final foi concluído como briga de adolescentes.

— E você foi covarde até para assumir os próprios erros. Típico de você.

Jake cerrou o punho.

— Não é verdade!! — gritou ele. — Eu... Eu...

— Não adianta, Jake. — Hugo surgiu atrás de Jake, sussurrando, com as asas negras se abrindo e com as mãos abertas em volta da cabeça de Jake. Seus cabelos verde-claro mudaram de cor e ficaram longos e negros. Sua íris sumiu, seus olhos ficaram completamente vermelhos e seus dentes se tornaram afiados. — Você é um assassino que tenta esconder os seus crimes debaixo da sua atual posição como cavaleiro. — sua voz sibilava entre sussurros. — O seu passado sempre vai lhe condenar. Você cometeu um erro e esse seu erro custou a vida de cinco pessoas em troca de outra que você amava. Foi um ato egoísta e sanguinário.

Jake caiu de joelhos e com as mãos tampando os ouvidos.

— É mentira! Isso é mentira! — repetia ele para si mesmo, custando a acreditar nas próprias palavras. — Eu... Eu me arrependi de tudo que eu fiz e comecei uma nova vida como Cavaleiro de Atena!

Se dissolvendo em sombras Hugo se abaixou e se materializou, se aproximando do ouvido de Jake.

— Acha que vestir uma armadura de ouro vai lhe livrar? Você continua sendo um assassino, mas agora tem mais poder pra matar. — a voz de Hugo sussurrava no ouvido de Jake e Jake se esforçava para tampar os ouvidos, mas quanto mais ele lutava, mas a voz de Hugo penetrava na sua mente. — Você é um assassino, Jake, assim como eu. Não somos diferentes em nada.

— Mentira! — gritou Jake, virando o rosto e encarando Hugo. — Não me compare a você!

Hugo esboçou um largo sorriso mostrando seus dentes afiados.

— Como não? Mesmo depois de ter se tornando Cavaleiro de Ouro você voltou a derramar sangue inocente não foi, Jake? — Jake arregalou os olhos e encarou Hugo assustado. Os olhos do berserker brilharam como ouro novamente e Jake foi arrastado para uma outra lembrança. Uma lembrança mais recente. Ele agora estava em uma floresta diferente e diante dele havia um cavaleiro de bronze coberto de sangue tentando se levantar. — Ou por acaso esqueceu da vida do pobre Cavaleiro de Bronze que você matou?

Jake ficou imóvel.

— Ba-Ban!!

Jake agora estava assistindo a sua luta contra Ban de Leão menor. Hugo surgiu atrás de Jake flutuando com as asas abertas e sorrindo enquanto assistia a luta.

— Insegurança. Duvida. Medo de errar. Desejo de provar estar certo... Novamente suas emoções fizeram você tirar a vida de outro inocente. — disse Hugo. — Olhe com atenção, Jake. É agora que você o mata!

Jake olhou para Hugo e em seguida olhou para a luta. Ele se viu liberando seu cosmo contra Ban que não teve se quer tempo de se esquivar ou se defender. O círculo de fogo e raios se elevou e enfim explodiu.

— Não!! — gritou Jake.

— Não adianta gritar. — disse Hugo, sibilando. — Ele está morto. Pulverizado pelo seu cosmo.

— Não... Não... Eu não... — Jake cedeu de joelhos mais uma vez — Ban... — a lembrança trincou e explodiu em centenas de pedaços.

Hugo sorriu. O espaço negro onde as lembranças giravam ao redor de Jake havia sumido e agora ele parecia estar preso dentro de uma esfera dourada de vidro. Dentro da Joia da Memória. Preso no arrependimento.

— Pobre Cavaleiro de Ouro. — disse Hugo, gargalhando enquanto observava Jake dentro da joia. — Escondendo um coração tão fraco e cheio de sentimentos.

Hugo de dissolveu em trevas e sumiu.

...

— Mas o que foi que aconteceu? — perguntou Nachi. — Hugo disparou um golpe e agora os dois estão paralisados!! Como se tivessem em transe.

Shalom deu alguns passos passando por Nachi e parou.

— Não é um transe. Os dois estão tendo uma luta mental e espiritual. — explicou Shalom. — E é isso o que aquela joia representa.

— Se atacarmos agora podemos ajudar o Jake. — disse Plancius.

— Ou atrapalhar. — disse Jabu, olhando para Jake e Hugo. — De qualquer forma a luta dos cavaleiros deve ser de forma justa. Um contra um. — Jabu cerrou o punho preocupado. Vamos Jake! Você não pode ser derrotado por esse cara! — pensou ele.

A joia dourada, que pairava na palma da mão estendida de Hugo, brilhou. Shalom olhou fixamente enquanto os outros tampavam os olhos para fugir da forte luz.

— O que está acontecendo?! — questionou Shina, se levantando com o auxílio de Plancius.

— Parece que a luta acabou. — disse Shalom.

O corpo de Jake caiu no chão, mas Hugo estava em pé diante do corpo segurando a joia na mão e sorrindo.

— Mais um para a minha coleção. — disse o berserker, orgulhoso enquanto girava a joia dourada e olhava possessivamente para ela.

— Shalom... — chamou Shina. — Jake está...

— Morto. — disse o cavaleiro de virgem, abaixando a cabeça e cerrando o punho.

—...—


Santuário – Coliseu

— Fênix! — gritou Ares, elevando o cosmo.

— Venha logo! — disse Ikki 

— Prepare-se! — gritou o deus, e saltou com o braço erguido. Centenas de lanças se materializaram e Ares estendeu a mão pra frente, direcionando as lanças contra Ikki. 

Ikki elevou o cosmo e sorriu.

— Agora fudeu. — a quantidade de lanças apontadas para Ikki o deixava encurralado. Ele olhou para os lados e não achou brecha. O único meio de vencer Ares seria atacando de frente, mas era daquela direção que as lanças estariam vindo. — Somente a armadura divina parcialmente no meu corpo não será o suficiente. — pensou Ikki. — Eu vou ter que despertá-la por completo. Só assim vou ter a oportunidade de me próxima dele.

Ares cerrou os dentes.

— Morra!!

As lanças se acenderam com cosmo e foram disparadas contra Ikki. Pareciam centenas de estrelas cadentes vermelhas indo de encontro ao solo. As primeiras lanças Ikki desviou com destreza, mas as demais lanças que vieram em seguida o cercaram. O choque das lanças perfurando o solo resultou em uma explosão que levantou para o céu um cogumelo de chamas.

Ares pousou com força na arena e caminhou até as chamas.

— Fênix... — As chamas diminuíram e Ikki apareceu apoiado em um joelho e de cabeça baixa, segurando uma lança com uma mão. As outras lanças acabaram perfurando o seu corpo e o prendendo ao chão. A lança que Ikki segurava estava apontada para a sua testa. Poucos centímetros evitaram que a lança varasse a sua cabeça. Seu corpo agora estava ensanguentado e sua cabeça latejava. As chamas, pela primeira vez, pareciam incomodar. Seus ferimentos ardiam como se as lanças fossem brasa. — Salvo pela sua armadura divina e ainda conseguiu desviar das lanças de modo que elas não lhe atingissem fatalmente. — Ares balançou a mão e as lanças se dissolveram em partículas de cosmo vermelho e Ikki caiu de joelhos.

A plateia murmurou ao ver a armadura divina cobrindo todo o corpo de Ikki.

— A armadura divina agora se manifestou completamente. — disse Licaon, o berserker de Licantropo do exército do Medo, que estava em pé na arquibancada próximo a tribuna onde os deuses assistiam a luta.

Ikki tentou se levantar a cambaleou, levando a mão até a barriga. Sangue escorria demasiadamente em sinal de hemorragia. A sua visão já estava turva e seus joelhos quase não conseguiam sustentar o seu corpo. A qualquer momento suas pernas poderiam ceder e ele cairia no Coliseu, perdendo a consciência. Sua armadura havia aliviado os danos. Mesmo não sendo a lança verdadeira, as copias conseguiram atravessar a vestimenta divina.

Estive em vários campos de batalhas e conheci homens de todo tipo, mas sua persistência me irrita. — disse Ares, materializando uma espada prateada com adornos vermelhos. No céu, ao redor de Ikki, mais duas lanças se materializaram. — Não pretendo estender essa luta por mais nenhum minuto. Sua vida....

— Cala a boca! — disse Ikki, duramente. — Eu estou pouco me fudendo para o que você acha!! — o círculo de fogo se agitou e se intensificou respondendo ao cosmo de Ikki.Quem não pretende mais estender essa luta sou eu, Ares!

Ares estreitou os olhos e em seguida sorriu.

Uma mistura de perseverança, insistência e falta de bom senso. — o cosmo de Ares também se acendeu.Mesmo com armadura divina o resultado dessa luta não muda.

— E quem disse que o meu interesse é vencer você? — perguntou Ikki, erguendo a sobrancelha.Atena e Seiya farão isso quando voltarem do Tártaro. A minha função aqui, Ares... — as asas da armadura de fênix se abriram em chamas e o círculo de fogo se elevou de modo que quem estava fora do círculo não conseguia ver o que estava acontecendo.É dar continuidade a minha missão. Nem que para isso eu morra! Receba o bater das asas infernas! Avê fênix!!!

As chamas tomaram a forma de uma majestosa fênix. De asas abertas, a ponta das asas chegava a tocar nas duas extremidades do coliseu e as penas da calda se agitavam no ar. O calor no coliseu se tornou quase insuportável. O golpe seguiu de forma devastadora rasgando o solo na medida que avançava, queimando a terra e a deixando escura e em chamas. Diante de tanto poder Ares estendeu a mão e projetou um escudo de cosmo. O choque do golpe com o escudo gerou uma colisão arrasadora provocando um tremor no Coliseu.

— Sinceramente, não sei o que sinto agora que a luta chegou a esse ponto. Na verdade, eu me sinto decepcionado, Fênix. Esperava bem mais de você, mas pelo visto... — um som de rachadura chamou a atenção de Ares. O golpe de Ikki, que continuava persistindo contra o escudo de Ares, estava conseguindo aos poucos empurrar Ares para trás. — Mas... o quê!? Até pouco tempo o cosmo do Fênix não passava de chamas inúteis, mas agora... Agora está tão forte a ponto de conseguir me empurrar para trás. O meu escudo... — as rachaduras continuaram a crescer e as chamas já passavam pelas brechas. — Está se despedaçando!!!

— Ares!!!! — reunindo toda a sua força, Ikki gerou um aumento explosivo de cosmo e o escudo de Ares explodiu.

Surpreso com o golpe, Ares foi pego em cheio pelo turbilhão de chamas e arremessado para o alto, caindo na arquibancada do Coliseu.

— Senhor Ares!! — gritou os berserkers.

Com Ikhor escorrendo de um ferimento em sua testa, Ares se levantou com um largo sorriso assassino e elevou o cosmo saltando da arquibancada contra Ikki. Vendo que o deus vinha em sua direção, Ikki abriu suas asas e avançou ao encontro de Ares.

— Morra Fênix! — uma nova lança se materializou na mão de Ares e ele a disparou.

Ikki estreitou os olhos e viu uma brecha.

— Agora!! — de punho cerrado, Ikki concentrou seu cosmo e atacou. — Golpe Fantasma de Fênix!!!

 O punho demoníaco atingiu Ares no momento em que a lança foi disparada e o deus abriu uma brecha em seu ataque. Desequilibrado pelo choque do golpe em sua cabeça, Ares caiu desorientado. Mas em troca disso a lança de Ares atingiu Ikki no centro do peito e o arremessou contra o chão do coliseu, rasgando o solo até que ele fosse parado por Ápis.

Ares tentou se levantar, mas cambaleou. A plateia murmurava, preocupados. Até Dionísio, que pacientemente estava assistindo a luta, levantou-se do trono ao ver Ares cambaleando e levando a mão à cabeça.

— Dionisio... — Afrodite virou-se para o deus, mas o deus do vinho se teletransportou e apareceu ao lado de Ares.

— Ares!? Você está bem?

O deus da guerra se apoiou no ombro de Dionísio, que o segurou.

— Minha cabeça... — Sua cabeça doía e imagens da última guerra santa não paravam de passar pela sua mente. A cena dele e Atena lutando em Esparta, o pégasos lutando contra ele ao lado de Atena e a cena dele recuando para a Alemanha para esconder a sua Onyx. Ares arregalou os olhos. — Agora eu entendi. Então era isso que ele queria!!! — disse ele olhando vidrado para Ikki. — O que ele queria era... — o deus cerrou o punho. — Miserável!!

Do outro lado da arena Ikki sangrava pelo ferimento provocado pela lança. Ápis a removeu e a jogou no chão, colocando a mão em cima do ferimento para conter o sangramento.

— Senhor Ikki...

— Finalmente eu descobri onde está.

— Onde está o que? — perguntou Ápis, sem entender o que Ikki estava falando.

— Você arriscou essa sua desprezível vida para obter essa informação?!! — gritou Ares, se afastando de Dionísio. O deus estendeu a mão para o lado e uma espada se materializou. — Agora que você sabe, não posso deixar que continue com vida. De forma alguma!

— Afaste-se Ápis! — disse Ikki tentando se levantar. Seu ferimento se abriu ainda mais e sangue jorrou no chão do coliseu.

— Mas assim... o senhor vai morrer!

— E quantas vezes eu vou precisar lhe dizer que é justamente isso que eu quero?! Não me faça repetir isso novamente. Agora se afaste!

Quase pálido após perder tanto sangue, Ikki quase não estava conseguindo ficar em pé. Ele não tinha mais forças e Ares estava caminhando até ele emanando um cosmo tão poderoso quanto antes. Seu corpo tremeu e ele cedeu de joelhos.

— Levante a cabeça, Fênix! — ordenou Ares, parando diante de Ikki. — Quero que olhe para mim quando eu arrancar a sua cabeça!! — gritou o deus, chutando o rosto de Ikki. — Eu falei para levantar a cabeça!! Se você já não tem forças para isso... — Com a mão esquerda Ares puxou Ikki pelos cabelos e levantou a sua cabeça. — Morra sabendo que todo seu esforço para obter essa informação foi inútil! Você perdeu! Atena perdeu!! Eu sou o deus da Guerra e da Terra e a lua de sangue que agora brilha no céu é a prova disso! — Ares ergueu a espada para o céu e fez as nuvens se afastarem revelando uma lua grande e vermelha como sangue. Nesse momento o cosmo de Ares e dos seus berserkers aumentaram. As escleras dos olhos deles se tornaram negras restando apenas a íris. A íris de Ares era tão vermelha quanto o sangue que escorria em sua testa. — Eu venci, Fênix!

— Momentaneamente. — respondeu Ikki, elevando seu cosmo e abrindo as asas. Seu cosmo ardia como chamas mais uma vez.

— Já chega!! Morra!! — Ares desceu o braço e a espada rasgou o pescoço de Ikki, arrancando a sua cabeça que caiu embolando no chão.

Sangue espirrou em Ares e o corpo de Ikki em seguida caiu formando uma poça de sangue. Ápis ficou surpreso. As chamas, que antes eram controladas pelo cosmo de Ikki, avançaram contra Ares formando um turbilhão de chamas. Manuseando a sua espada, Ares dissipou as chamas e o que restou de Ikki foi a armadura de fênix, ainda na forma divina, montada no lugar do corpo que provavelmente foi pulverizado pelas chamas. 

A plateia vibrou gritando pelo nome de Ares e o deus orgulhoso banhado em sangue ergueu a sua espada comemorando.

—...—


Castelo de Hades – Alemanha

— Mo-Morto? — perguntou Nachi, sem acreditar.

— Praticamente. — disse Shalom. — Sinto que a alma de Jake está dentro daquela joia.

— Você tem bons olhos, virgem. — Hugo virou-se para Shalom. — Preso nas próprias lamentações e insegurança, o Cavaleiro de Leão vai permanecer enclausurado nessa joia servindo como fonte de energia para mim. — o berserker gargalhou. Uma risada ambiciosa e insana. — E o próximo será você, virgem!! Com tanto poder assim eu logo irei me tornar o berserker mais poderoso do exercido do Senhor Ares e estarei próximo de me tornar um novo deus!!

— Acredita mesmo que pode alcançar isso? — perguntou Shalom, serenamente.

— Claro que posso. Já tenho o poder de mais um Cavaleiro de Ouro somado ao meu. Outros já caíram diante da Joia da Memória nas guerras santas anteriores. Se eu somar o seu cosmo ao meu...

— Não conte vitória tão cedo. — interrompeu Shalom

Hugo enrugou o cenho.

— O que você quer dizer com isso?

Shalom olhou para o corpo de Jake. A armadura de ouro estava emanando uma cosmo energia que passou a fazer ressonância com a joia.

— Mas... mas o que está acontecendo?! — perguntou Hugo, surpreso. — Isso é obra sua, virgem? Se for já adianto que não tem como salvar o Leão. Mesmo que a Joia seja quebrada, a alma dele continuará selada e se perderá no tempo-espaço. A única forma de sair da joia é rompendo por dentro, mas não tem como isso acontecer!! Não enquanto ele estiver afundando cada vez mais em seus lamurias!! — Hugo estendeu a mão para Shalom e disparou raios vermelhos. — Morra Virgem!! Raios de sangue!!

Angeli Specularibu!! Sem mover as mãos Shalom criou uma barreia circular em forma de vitral para interceptar o golpe de Hugo. A força do golpe fez com que os rubis ficassem cravados na barreira. Faltou pouco para que a barreira se rompesse e o golpe acertasse Shalom em cheio. — Está enganado, Hugo! Não sou eu que estou fazendo algo para salvar Jake.

Hugo ergueu as sobrancelhas surpreso.

— Mas se não é você... — ele olhou novamente para o corpo de Jake. — Quem poderia ser?!

O vitral explodiu e Shalom repeliu o golpe, mandando de volta contra Hugo. Rapidamente o berserker se defendeu anulando o golpe apenas com o movimentar das mãos.

...

Dentro da joia a alma de Jake flutuava no centro como se estivesse em sono profundo. Na parede da joia giravam as lembranças ruins que o prendiam ali, de modo que ele nunca pudesse esquecer o seu passado e continuasse a se lamentar.

— Jake... Jake... Você precisa acordar! Jake!

A voz ecoava dentro da joia e se tornava cada vez mais alta.

— Jake! Você precisa acordar! Não pode se entregar dessa forma. Você tem que reagir.

— Reagir? Mas eu... Eu matei inocentes. Antes e depois de me tornar Cavaleiro de Ouro. Eu...

— Errou. Eu sei. A armadura de Ouro também sabe, mas ela lhe aceita porque é ciente que todo mundo erra e também pode se arrepender. Você é humano. Não é perfeito. Tem falhas como qualquer outra pessoa. Isso é passado, Jake. Não tem necessidade ficar preso a isso agora. Jake! — a voz gritou.Acorda!

Os olhos de Jake se abriram e as lembranças pararam. Era como se tivesse dado pausa. Jake olhou para as cenas e seu coração se apertou.

— Você passou anos guardando essas emoções e agora elas estão transbordando descontroladamente. Isso não pode acontecer. Você precisa ter controle sobre si mesmo ao invés de deixar que os outros tenham. Não poder dar esse tipo de brecha ao seu oponente. — uma luz dourada se projetou diante de Jake e a imagem de um homem surgiu. Sua aparência era bastante similar a de Seiya, mas seu cabelo era marrom claro quase puxando para o louro e seus olhos eram verdes.O seu passado nunca deixará de ser o que foi. Não importa o que tenha acontecido, você se arrependeu. Quantas vezes será necessário que repitam isso para você? Quantas vezes você vai fazer das suas más lembranças um obstáculo no seu caminho e vai cair por causa disso? Isso tem que parar! Nem que seja necessário alguém dar um soco na sua cara para você acordar. Jake... por acaso foi apenas maus momentos que você viveu? Abra bem os olhos, limpe a sua mente e pense. Foram apenas maus momentos?

A imagens na parede mudaram. As lembranças mudaram. Agora eram lembranças felizes que ele compartilhou com pessoas que amavam.

Ele lembrou das tardes que passava conversando na casa da sua amiga. As sessões de cinema com os amigos da escola. As festas de final de ano. Os piqueniques. As doces gargalhadas pelas piadas idiotas dos amigos. O primeiro beijo com Brent. O primeiro encontro na cafeteria. O pedido de desculpa dos pais. O calor do abraço de sua mãe e do seu pai.

Jake sorriu e chorou.

— Você também viveu momentos felizes e são essas lembranças boas que devem sobrepujar todas as outras ruins. Você deve se preocupar com o seu futuro a partir de hoje. Não se tornou um Cavaleiro de Ouro para proteger aqueles que morreram. Se tornou um Cavaleiro de Ouro para defender aqueles que vivem e aqueles que ainda vão nascer. É para isso que servem as presas do Leão. Foi para isso que a armadura de Leão escolheu você. Seu coração é puro e você tem sede por justiça. Tem uma personalidade nobre e valente. Ban morreu para abrir os seus olhos a respeito de Atena. Cabe a você fazer com que essa morte não tenha sido em vão. Eu me orgulho de ter você como meu sucessor e a armadura de ouro também.

Jake arregalou os olhos surpreso. As imagens sumiram e a parede voltou a ser dourada.

— Aiolia?!

Aiolia sorriu.

— A armadura de Leão está mandando você se levantar. Agora vá e vença aquele berserker! Adeus Jake.

A imagem do espirito de Aiolia se desfez.

— Aiolia... — Jake cerrou o punho. Lagrimas escorrem pelo seu rosto. — Obrigado! — Jake elevou o cosmo e o expandiu — Eu vou... sair... daqui!!!

Sua voz ecoou como um rugido e a parede da joia começou a trincar.

...

Fora da joia, o brilho do cosmo de Jake crescia cada vez mais e passava pelas rachaduras da joia, ofuscando os olhos de quem observava.

Hugo, incrédulo com o que via, tentava evitar a luz colocando as asas na frente do rosto.

— Não! Não pode ser!

— Isso é... Jake?! — perguntou Jabu, sem esconder a alegria.

Shalom sorriu aliviado.

— É sim. Com um cosmo ainda mais vivo.

A joia então se despedaçou e explodiu, lançado Hugo para trás com uma onda de luz. Rapidamente Hugo se levantou e viu Jake em pé mais uma vez, trajando a armadura de Ouro de Leão.

— Mas... como?! Como conseguiu sair da joia? Eu pensei que tivesse estraçalhado o seu coração!!! — disse Hugo, furioso.

— A única coisa que você precisa saber nesse momento... — o cosmo de Jake se expandiu e começou a se solidificar em cristais dourados transparentes. — É que vou matar você!

O cosmo dele está se tornando solido? — pensou Hugo.Ele parece até mais leve. Seu cosmo... Seu cosmo está se elevando com uma intensidade diferente. Até seus olhos parecem mais claros. O azul nublado agora está claro como uma safira lapidada.

Plancius e os outros olhavam admirados com a beleza dos cristais de cosmo se formando ao redor de Jake. Os cristais eram brutos, afiados, mas puros.

— Você não para de me surpreender. Achei que tivesse dado um fim a você, mas me precipitei. — o cosmo de Hugo se elevou tão negro quanto as trevas. — Teria sido melhor para você morrer daquela forma. Acredite.

O sorriso de Hugo mudou, assim como nas lembranças de Jake. Agora era um sorriso largo, de um canto a outro do rosto, com dentes afiados. Seus cabelos cresceram e se tornaram negros. A esclera dos seus olhos estava totalmente negra e sua íris brilhava em vermelho sangue. Os ossos de sua perna e dos seus braços ficaram mais compridos, dando a ele uma postura mais esguia. Seus dedos também cresceram, ficando mais compridos e suas unhas se tornaram longas garras. Tão longas que chegavam a curvar. A sua pele mudou de tonalidade, deixando de ser pálida e ficando escura como carvão. Até as asas negras pareciam maiores agora.

— Que aparência assombrosa! — disse Plancius, impressionado.

Shina olhou para o céu. A distorção dimensional criada por Kastor havia sumido e eles nem haviam notado. As nuvens nubladas criadas por Jake continuavam no céu, mas agora a lua brilhava gloriosamente entre elas. A lua de sangue.

— Isso acontece quando um berserker manifesta seu espirito de guerra, o qual é representado pela onyx que veste. — explicou Shalom. — Eu vi algo semelhante na luta entre Alceu de Pantera e o Grande Mestre. Alceu também tomou uma forma quase demoníaca.

— A lua... — disse Shina. — O selo se rompeu. Isso explica os olhos de Hugo estarem totalmente negros e seu cosmo está ainda mais poderoso.

— Essa... Essa vontade de matar... Essa violência... eu consigo sentir. — disse Jabu.

— Você vai se arrepender por ter saído da Joia, Leão. Vai desejar nunca ter saído de lá. — ameaçou Hugo, com uma voz rouca. Raios vermelhos se concentraram em suas garras. — Eu vou rasgar você!!! Raios de sangue!!!

Milhares de rubis se projetaram envolvidos por raios vermelhos e avançaram contra Jake.

— Já disse!! — os cristais de cosmo ao redor de Jake trincaram e se despedaçaram. — O mesmo golpe não vai funcionar comigo mais de uma vez!! — Jake estendeu a mão para Hugo e os pequenos cristais giraram diante de Jake, dando forma a uma parede cristalina. Os raios vermelhos atingiram a barreira com força, mas a barreira se quer trincou.

Hugo sorriu.

— Acha mesmo que essa fina barreira vai salvar você? — Hugo avançou contra Jake na velocidade da luz descendo as garras afiadas contra a parede de cristal.

Como se fosse navalha, as garras rasgaram a parede e Hugo continuou avançando, segurando Jake pelo pescoço, pego de surpresa, e aplicando um soco em seu queixo. Jake foi arremessado para o alto e Hugo se teletransportou surgindo acima de Jake e aplicando um soco no peito do Cavaleiro de Leão, arremessando ele contra o chão. Hugo se teletransportou novamente preparado para descer as garras na garganta de Jake, mas o jovem Leão foi mais rápido e se levantou, esquivando do ataque quando as garras de Hugo cravaram no chão.

— Pare de fugir e me enfrente! — sibilou Hugo, cerrando os dentes.

— E quem disse que estou fugindo? — Dessa vez foi Jake quem atacou.

Hugo era ágil para desviar dos socos de Jake, mas foi pego por um chute no momento que Jake girou e o acertou no rosto. Hugo foi jogado para o lado, mas o berserker abriu suas asas e se equilibrou, pousando em seguida. Concentrando seus cosmos em seus punhos, os dois avançaram novamente e trocaram socos. Os choques dos socos disparavam um deslocamento de ar tão forte que rasgava o solo ao redor deles. Hugo chutou Jake, que se defendeu cruzado os braços, e saltou para trás abrindo as asas e erguendo os braços concentrando cosmo negro envolvido por raios vermelhos entre as mãos.

— Agora, sinta na pele o golpe que extermina tudo!! Joia do Extermínio!

— O seu fim chegou, Hugo! — os cristais de cosmo se despedaçaram e se modelaram, formando inúmeros cristais pontiagudos e que brilhavam como estrelas flutuando no ar ao redor de Jake. — Ouça, o rugido do Leão!! — Os cristais em forma de estrela pontiaguda brilharam intensamente e raios surgiram entre elas. Rugido estelar!!

O golpe de Jake foi disparado como se milhares de estrelas pontiagudas emanando raios caíssem do céu fazendo um rugido ensurdecedor. O golpe cruzou o campo e se chocou com a rajada de raios disparado por Hugo.

— Foi dessa maneira que Hugo e Henry empataram quando lutaram. A Joia do Extermínio é o golpe mais poderoso dele. — comento Jabu.

E provavelmente a luta acabaria em um novo empate. A colisão de cosmo estava praticamente equilibrada e ambos os lados se esforçavam para não cometer o menor deslize. O chão começou a tremer e se desprender. Assim como na luta contra Henry, tudo estava ficando instável. A colisão crescia cada vez mais e rajadas de cosmo estavam sendo liberadas pela lateral.

— Se continuar assim... — Shalom ficou na frente de Jabu e dos outros. — Vai explodir.

— Acabou Leão! Não vai conseguir segurar essa colisão por muito tempo. Graças ao rompimento do selo estou mais poderoso do que você! — Hugo sorriu insanamente. — Eu vou desintegrar você e depois arrancarei a cabeça dos seus amigos!!  

— Você está blefando!!

— O que disse?!

— Não foi apenas você que ficou mais forte. Eu também fiquei, pois não estou lutando sozinho. — Ao lado de Jake surgiu a imagem de Aiolia, Ban e Brent.

— São espíritos?! — disse Hugo surpreso.

Jabu e Nachi arregalaram os olhos surpresos.

Ban?!— pensou Jabu.

— Eles estão comigo!! — respondeu Jake. — Estão me emprestado suas forças para acabar com você!!! Agora desapareça de uma vez e liberte todos as almas que você vem escravizando dentro dessas joias!!

O golpe de Jake começou a avançar contra sobrepujando o cosmo do berserker. Os raios dourados atingiram Hugo e as joias douradas, onde ele selava as almas dos seus adversários, começaram a abandonar o corpo do berserker. Aos poucos o cosmo de Hugo diminuía até ser completamente superado por Jake. O golpe se dissipou e Hugo foi pego pela técnica de Jake. As estrelas de cristal perfuraram a onyx de Corvo e em seguida giraram ao seu redor comprimindo ele em um turbilhão de cristais, sendo finalizado por uma poderosa descarga de raios que explodiu e o lançou para o alto, caindo em seguida.

— Ele conseguiu!! — disse Plancius, animado.

As joias douradas que haviam abandonado o corpo do berserker se desfizeram e as almas foram libertas, subindo em direção ao céu. Em direção a constelação de câncer.

Cansado, Jake cedeu de joelhos, mas com um singelo sorriso no rosto. Jabu caminhou até ele e parou diante Jake. 

— Sua aura... está diferente. — disse Jake, ao levantar a cabeça e olhar para Jabu. Havia uma aura branca ao redor dele. — Antes, quando você olhava pra mim... Sua aura era escura.

— Não gostava de você por ter matado o meu amigo, mas eu vi o espirito do Ban lutando ao seu lado. — Jabu estendeu a mão para Jake. — Sei que o Ban lutou até o fim para lhe provar que você estava errado e... Mesmo custando a vida dele, você abriu os olhos e correu atrás para corrigir o seu erro. Graças a Ban temos você lutando como um Cavaleiro de Atena. — Jake segurou na mão de Jabu e se levantou. — Isso pode até não significar algo para você, mas saiba que agora eu o reconheço como um legitimo Cavaleiro de Ouro a serviço de Atena. O herdeiro da armadura de Leão. Jake de Leão.

Jake apertou forte a mão de Jabu.

— Obrigado, Jabu!

— Ei! — disse Plancius estreitando os olhos para o mausoléu. — Aquele ali é o senhor Kastor?!

Kastor estava encostado na parede do mausoléu e carregava na mão a espada do deus Polemos, que selava o espirito do deus.

— É sim. — respondeu Shalom. O cavaleiro de ouro deu um passo a frente e em um piscar de olhos ele já estava ao lado de Kastor, apoiando o Cavaleiro de gêmeos no ombro. — Você consegue andar, Kastor?

Kastor deu um sorriso abafado.

— Ainda me resta alguns ossos para andar. — brincou ele, olhando para a espada de Polemos. — Ele era bastante poderoso. — Kastor olhou para Jake enquanto caminhava junto com Shalom. — Mas e o Jake?

 Jake estava conversando com Jabu e parecia estar mais comunicativo, mas sem abandonar ao mesmo tempo aquela postura séria.

— Ele ainda é um adolescente, mas parece ser tão maduro quanto um adulto. Vejo que a luta fez bem a ele. Só de olhar para ele vejo que todo aquele peso que ele carregava nas costas desapareceu. — disse Kastor.

— Verdade. — afirmou Shalom. — Essa luta foi necessária para que ele pudesse evoluir. Romper de uma vez com o passado.

Logo Kastor e Shalom se reuniram com Jake e os outros.

— Senhor Kastor! — Plancius ficou espantado com os danos na armadura de gêmeos.

— Estou bem rapaz. Não se preocupe.

— E agora, o que vamos fazer? — perguntou Jake.

— Devemos seguir o plano do Grande Mestre e as orientações do Senhor Asclepio. — disse Shina. — Seiya e os outros seguiram para o Tártaro e a essa altura já devem ter aberto a Porta da Morte. Sabíamos desde o início que nem todos iriam para lá. Só nos resta esperar eles voltarem.

— E para onde iremos até que eles voltem? — perguntou Shalom. — Não podemos voltar para o Santuário.

— E não vamos. — respondeu Shina. — A entrada da Porta da Morte apenas os deuses que regem a morte e o Tártaro sabem a localização e como abri-la, mas a saída... — Shina olhou para Shalom. — Só existe um lugar onde a saída do Tártaro se abre. Se chama...

Jake fez sinal para Shina se calar no momento em que sentiu um cosmo ofensivo. Um cosmo hostil e selvagem que não se preocupava em se esconder

Do outro lado do campo havia um homem em pé.

— Não pode ser?! — disse Jake.

Todos virarão para olhar e ficaram pasmos com o que viram.

— Anatole?! — Nachi não escondeu a surpresa.

— Ele está vivo?! Mas eu pensei que tivesse dado um fim nele. — disse Shalom, também surpreso, mas sem abandonar o rosto sereno.

Anatole estava em pé novamente e agora parecia ainda mais poderoso. Até mesmo a sua Ônyx mudou de forma e parecia estar mais resistente. Seus olhos estavam completamente negros e sua pele estava cinza. Entre seus cabelos surgiu um par de chifres negros contorcidos e de suas costas abriram-se asas negras de dragão

Jake olhou atentamente para Anatole.

— Entendi! Anatole representa uma Quimera, então ele possui três espíritos de guerra. — explicou Jake. — A primeira, a que você derrotou Shalom, foi o espirito da Serpente. E agora, julgando pelos chifres e por essa aura perversa, o segundo espirito de guerra é... O Bode alado!!

Chamas azuis romperam do chão em volta de Anatole.

— Virgem... — Sua voz agora estava mais grossa e sua expressão mais séria. Parecia uma nova pessoa. Ele avançou contra o grupo e todos se preparam para o ataque, mas Anatole passou entre eles com uma velocidade absurda, deixando todos atônitos, e parou ao lado do corpo de Hugo, colocando o corpo do berserker nos braços.  De costas, elevando seu cosmo que agora crepitava como chamas azuis, Anatole olhou para os cavaleiros por cima do ombro. — Estou me retirando, mas eu vou querer uma revanche, Virgem. Suas chamas contra as minhas. Na próxima vez que nos encontrarmos, pode ter certeza, você morrerá.

O cosmo de chamas girou ao redor de Anatole e um pentagrama brilhou em cima da sua cabeça, teletransportando Anatole e o corpo de Hugo.

—...—


Gliptoteca – Alemanha

Imponente e assustadora, a Porta da Morte emana uma energia fria e negativa. Escura como as trevas e com esculturas aterrorizantes formadas do próprio ferro da porta, a lua de sangue dava uma iluminação ainda mais tenebrosa.

Seiya olhou para o céu.

— A lua de sangue está completa. — ele voltou-se para Henry. — Temos que abrir a porta agora.

Henry assentiu com a cabeça e virou-se para a porta. Um gélido vento soprou agitando sua capa escura e seus cabelos. A cada passo que Henry dava em direção a porta, um arrepio tomava o seu corpo. A sensação de alerta fazia seu corpo querer recuar. Ainda hesitando, Henry estendeu a mão para abrir a porta, mas parou ao notar que uma densa neblina surgiu de repente. Ele virou-se para Seiya e os outros e viu que eles também haviam notado. Tinha algo errado ali.

Henry estreitou os olhos ao ver, ao longe, três figuras em pé no centro da encruzilhada que dividia a grande praça. Vendo a expressão de espanto de Henry, Seiya e os outros viraram-se.

 Eram três mulheres pálidas e praticamente idênticas, mudando apenas o penteado do cabelo. Em um piscar de olhos duas mulheres sumiram e agora restava apenas uma. Ela usava um vestido escuro sem mangas que parecia ser feito de uma nevoa escura. Seu cabelo escuro estava solto caindo nos ombros. De beleza encantadora, ainda que ao mesmo tempo temível devido a uma pele tão pálida quanto a dos berserkers, seus olhos eram como duas chamas vivas.

Dela emanava um cosmo poderoso. Poderoso o bastante para notarem que não pertencia a um berserker ou cavaleiro. A nevoa parecia que brotava debaixo do vestido e se concentrava ao redor dela. Ao seu lado dois pares de olhos vermelhos, dois de cada lado, brilhavam em meio a neblina. Era como se duas bestas estivessem se escondendo na nevoa.

— Quem é você? — perguntou Seiya.

— Vocês não podem tocar na Porta ou abri-la. — disse ela, caminhando até eles.

— Não podemos?! — perguntou Seiya, enrugando o cenho.

Ela balançou a cabeça negando em resposta e esboçando um sorriso meigo. A nevo parecia lhe acompanhar e as duas criaturas também, como se estivessem fazendo a segurança daquela mulher.

— Você ainda não respondeu. Quem é você? — perguntou Eros, preparando uma rosa negra.

A mulher parou de imediato, mas as duas criaturas passaram por ela e ficaram na sua frente, como se quisessem protege-la.

— Eu sou Hécate.

Eros ficou surpreso

— Deusa Hécate?! — disse Alkes. 

Seiya e os outros se curvaram com exceção de Henry.

Perdoe-me. — disse Eros, desfazendo a rosa.

— Está tudo bem. — respondeu ela, com um sorriso sereno.

— Quem é essa e porque vocês estão se ajoelhando? — Perguntou Henry, de braços cruzados encarando Hécate.

— Ela é Hécate, a deusa da magia e das encruzilhadas. — respondeu Alkes. — Desde a era mitológica os cavaleiros de Atena veneram  a deusa Hécate porque é ela quem representa o poder de mudar o destino e também é a deusa que representa o cosmo, o poder oculto dentro de nós. Ela também é a unica divindade capaz de alterar o destino tecido pelas Moiras.   

— Perdoe-me se isso parecer um pouco rude, mas... — Seiya olhou para Hécate. — Por qual motivo a senhora veio ate aqui? Por acaso a senhora foi enviada pelo Olimpo?

— Pelo Olimpo?! — Hecáte sorriu balançando a cabeça. — Não. Eu também sou a deusa dos portões entre o mundo dos vivos e o mundo subterrâneo. Vim aqui para impedir que vocês desçam ao Tártaro. — respondeu ela.

Seiya e os outros olharam confusos para ela. 

— Nos impedir? — perguntou Seiya, ainda confuso. — Mas porque?

— Sou a deusa que olha presente, passado e futuro. O caminho que vocês estão trilhando pode gerar graves consequências. Agora, eu peço para que se afastem da porta. Caso não obedeçam... — as duas criaturas que se escondiam na neblina se revelaram como sendo dois grandes cachorros negros de olhos vermelhos e dentes afiados. — Terei que impedi-los a força.

— Deusa aliada é?! — disse Henry, com desdem. — Depois que a gente faz pacto com o deus da morte e sacrifica cinco crianças você aparece para dizer que estamos trilhando um caminho que vai nos trazer graves consequências? Só pode estar de brincadeira. Eu vou abrir a Porta da Morte! Não cheguei ate aqui para ser barrado. 

Henry virou-se e caminhou ate a porta, mas antes que ele a tocasse a neblina restringiu seus movimentos. 

— Esqueci de falar outro detalhe. Apenas um deus pode abrir a porta. — disse ela.

— Apenas um deus? — perguntou Shun.

— Mas Thanatos não mencionou isso. — Questionou Alkes.

— Crianças, tão imaturos fazendo pactos com deuses sem se atentar aos mínimos detalhes. — Hécate passou por eles acompanhada por seus cães. Seiya e os outros se levantaram e viram-se para ele. — Mas é verdade. Nenhum mortal pode se quer tocar na porta. Caso faça, será pulverizado. — Hécate parou ao lado de Henry e sorriu para ele. — Mas você tem o poder de Thanatos. Posso ver a benção dele em você. Esse simbolo em sua testa... — Hécate passou a mão na testa de Henry e levantou seu cabelo com carinho. O toque da deusa era confortante. Um toque que há anos Henry não sentia. Desde o dia em que sua mãe morreu. — A marca da Morte. Talvez você tenha a capacidade de abrir a porta, mas sofreria um destino terrível caso não conseguisse e morresse. O pacto que você fez com Thanatos foi jurado pelo rio Estige e esse juramento vai lhe obrigar a cumprir os acordos prometidos mesmo depois da morte. Não tem como fazer o que prometeu se estiver morto e assim sofreria eternamente. 

Seiya cerrou o punho.

— Então... está dizendo que devemos para aqui? Depois de tudo o que passamos? Depois de tantos companheiros se sacrificarem? 

— Exatamente, Seiya. Não tem como você ou qualquer outro de vocês abrir a porta. A maior chance seria Henry, mas ele pode morrer no processo. É um custo muito alto não acha? Talvez tão alto quanto sacrificar aquelas crianças. — Hécate estreitou os olhos. — Olhem até que ponto vocês chegaram. 

— Não tínhamos outra alternativa. — respondeu Seiya. — Se não fizéssemos isso... A Saori... A Atena morreria e a Terra...

— Quantas vezes você vem repetindo isso para você, Seiya? — questionou Hécate. — O motivo pelo qual você vem lutando parece mais uma frase gravada a qual você repete automaticamente. Você luta por quem? Pela humana Saori, ou pela deusa Atena? — Seiya não respondeu. Apenas cerrou os dentes e o punho. Hécate olhou para os demais. — Eu consigo ver os caminhos possíveis que vocês vão tomar e todos, sem exceção, terminam da pior maneira possível. Algo em você e na atual Atena deve mudar, mas se você não mudar agora, antes de entrar no Tártaro, será que vai mudar ao chegar lá? Estou aqui para impedi-los de seguirem em frente, porque vocês chegaram a um ponto da encruzilhada da vida onde o futuro, ainda que sanguinário, é o mais aceitavel. — ela olhou novamente para Seiya. — Se você der mais alguns passos e passar por aquela porta, nenhuma possibilidade do futuro é compatível com a vida humana. 

— Tipo... uma extinção? — perguntou Henry, aparentemente preocupado.

Hécate olhou para ele com aqueles olhos vivos e calorosos como chamas.

— Sacrificou cinco crianças para salvar bilhões de pessoas. Está disposto a descer ao Tártaro e sacrificar mais pessoas? 

Henry, pela primeira vez, se calou. O vento soprou agitando o vestindo de Hécate e a capa de Henry. Seiya e os outros pareciam confusos, exceto Eros que andou até parar a poucos degraus abaixo de Hécate e se joelhou tirando o elmo e olhando nos olhos da deusa.

— Eu compreendi o seu desejo e me responsabilizo por isso. — disse Eros. Seiya e os outros olharam surpresos para Eros. — As suas três faces tem o poder de olhar para três direções ao mesmo tempo. A senhora pode ver o destino, o passado que interferiu no presente e o presente que poderá prejudicar o futuro. Por isso, peço gentilmente, para que a senhora me empreste sua clarividência de modo que eu possa ver o que está profundamente esquecido e peço para que com suas tochas nos guie até o Tártaro.

Hécate esboçou um sorriso.

— Finalmente novos caminhos de um futuro melhor estão se formando. O sucesso ou fracasso dessa Guerra Santa vai depender principalmente da sua promessa, Eros. — advertiu Hécate e Eros consentiu com a cabeça. A deusa virou-se e se dirigiu ate a Porta da Morte, colocando as duas mãos na porta e a empurrando para dentro. A porta rangeu e se arrastou lentamente, revelando um espaço escuro e aparentemente vazio. — O caminho é esse, mas preciso dar algumas advertências. O Tártaro, desde a era mitológica, é um espaço intocado pela simples presença humana. Deuses primordiais, que criaram o atual universo, residem lá. Tenha o máximo de respeito possível. Curvem-se se for necessário. Tenham bastante cautela. 

— Sim senhora. — responderam em conjunto. Inclusive Henry, ainda que com vergonha. 

Hécate olhou para ele e sorriu. Na mão da deusa surgiu uma tocha e um fogo se acendeu. Ela estendeu a tocha para Seiya, que subiu as escadas e segurou.

— Nada mais justo que o líder guie os demais.

— Obrigado.

— Agora vão. Precisam se apressar. Ouvi boatos de que Atena está no Castelo de Oberon, o filho de Hades. É um grandioso monumento que se destaca entre as colinas. Tomem cuidado.

A neblina se agitou em volta de Hécate e ela desapareceu junto com seus cães. 

Seiya virou-se para a entrada do Tártaro e encarou a dimensão escura que o esperava. Eros e os outros se alinharam ao seu lado.

— Vamos! — disse ele, caminhando na frente e carregando a tocha. — Espere por nós, Atena!!

—...—


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Notas finais do capítulo

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Próximo capítulo: Capítulo 43 - Tártaro.
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: 02 de Junho.




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