A Guerra dos Imortais escrita por Cora, O Raposa, Camille M P Machado, PinK Ghenis, Mr Viridis, Mr Viridis, Julia, H M Stark, SuzugamoriRen, Joko


Capítulo 8
Capítulo 08 - Roman


Notas iniciais do capítulo

Fala aê mini-jovens! Meu nome é Hugo (dã!) e eu vou escrever todos os capítulos de Roman Daniels. Provavelmente eu escreverei cenas com outros personagens futuros; caso aconteça, avisarei.
Como um grande fã de pessoas que leem, eu espero que vocês gostem! Mini-beijos e mini-abraços a todos e boa leitura!



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O sopro do mundo gelava os ossos de Roman. Nuvens frágeis e melancólicas pairavam sobre ele como sentinelas misteriosas.

Dezenas de ilhéus desafiavam o Oceano como a silueta da cauda um dragão adormecido.

Os longos cabelos brancos do homem chicoteavam o ar, rebeldes e incautos, ameaçando desprender-se e revoar pelos céus, frágeis como pareciam ser.

Ele caía. Deuses!, como caía! O solo se aproximava vagarosamente, porém, a incríveis quinhentos quilômetros por hora – um monstro pronto para engolir o homem. Suas roupas resumiam-se a uma bermuda e uma camisa simples sob um macacão negro que contrastava surrealmente com seus alvos fios sedosos e insurgentes. Uma mochila alvejada guardava o pára-quedas. Seus olhos, brandos e cinzentos como o céu numa tempestade de outono davam vida a uma expressão extasiada e imersa em uma realidade isolada daquela na qual seu corpo se encontrava – é incrível como o universo pode ser complexo: é possível estar presente nessa realidade compartilhada por céticos, denominados pessoas normais e, ao mesmo tempo, presentear sentimentos extraordinários num universo exclusivo dos "loucos"; mente e corpo, um conjunto harmônico, porém, conflituoso, cingidos por diferentes dimensões.

Enquanto isso o monstro sólido, encaroçado por montanhas e colinas, se aproximava, clamando pelo esguio corpo de Roman – o que não transparecia ali, com o macacão inflado pelos fortes açoites das correntes de ar, transformando-o num escravo do céu.

Os animais e as árvores nada sabiam sobre o que se passava sobre eles, cortando o céu como um míssil. Roman Daniels rodopiava, acelerava, plainava, se soltava e retomava o controle com habilidade inumana. Com uma troca de posições dos pés, a prancha, presa firmemente em seu tênis, girou bruscamente, numa manobra firme e fluída. Então ele pousou seus dedos sobre a ponta da prancha, segurou-a com firmeza e impulsionou o corpo para frente, lançando-se em dezenas de loops céleres e suntuosos, tão hipnotizantes quanto um relógio de bolso movendo-se de um lado para o outro. Sim... Sua mente ingressava num estado de torpor deslumbrante, magnetizado pelos giros de seu corpo - mais uma vez: mente e corpo conflitando.

Ali era o seu lugar; no céu, voando, dançando, se libertando! O normal seria ter alguém com ele, filmando todas as manobras, mas naquele dia não; ele queria ficar sozinho, descer pelo céu rumo ao sempre inesperado orgasmo psicológico. Ele queria espairecer.

Horas antes Roman havia discutido com seu pai – com quem divide uma casa de tamanho razoável no Alasca. Uma briga pesada que envolveu a morte de sua mãe: Roman culpou seu progenitor – Rayman Daniels – pela morte de Lena Daniels. Foi um acidente de carro, em que a pick-up dos Daniels colidiram com um poste; Rayman estava bêbado, e, sim, a culpa era dele, em parte, mas não é algo que se deva salientar numa briga, onde todos estão com a cabeça quente. Aconteceu que Rayman investiu contra seu filho e Roman precisou se defender, se esquivando e lançando seu pai, bêbado também nesse momento, contra a parede da cozinha. O rapaz de cabelos alvos acelerou seus passos, o som das botas contra o assoalho de madeira a ecoar pela casa enquanto seus olhos cinzentos so enxergavam a porta, e, além, o céu, presumindo o tom invernal que o Alasca mantinha durante a maior parte do ano.

Roman respirou o ar gelado e caminhou sobre a neve até a picape; já concertada. Dirigiu até o ponto de encontro, entrou no avião e assim sua equipe decolou até o local do salto.

Com certeza não é algo recomendável: saltar com a cabeça quente. Mas Roman era um cara áspero, de poucas palavras e muitas ações. Quando põe uma ideia em sua cabeça, ninguém a tira; é como o sequestro de uma donzela. Tem o pavio um tanto curto e uma tendência a beber demais. É fã de um bom e pesado rock ‘n’ roll. Antes de seus saltos sempre se isola por pelo menos dez minutos, com os fones nos ouvidos, batendo cabeça e sacudindo seus tênues cabelos alvejados.

O monstro de terra e rocha ainda ameaçava a integridade física e mental de Roman, arrancando-o com brutalidade de seus devaneios, se aproximando cada vez mais, a cauda do dragão parecia oscilar, preparando um golpe devastador. O inglês naturalizado americano girou no ar quase uma centena de vezes, em pé na prancha, de cabeça pra cima e para baixo, alternando, com movimentos surreais e tão rápidos que os olhos humanos mal podiam captá-los; uma furadora humana!

Então tudo aconteceu tão rápido quanto uma manobra daquele esporte completamente insano! As nuvens se juntaram numa velocidade extrema!, escureceram totalmente, e pareciam tão densas quanto rochedos prestes a esmagar o mundo; suas expressões exalavam uma sede de vingança indomável. Tanta cólera que elas estavam prestes a cair em prantos torrenciais.

Súbito, um açoite elétrico dividiu o céu em dezenas de partes escuras em pleno auge do dia. A noite tomou conta como um imenso tumor no planeta. Um câncer lúgubre e voraz avançava, despedaçando qualquer forma de luz do sol.

Um raio deslizou graciosamente pelo ar, dividindo-se em diversos pontos da descida, para no fim transformar o avião da equipe de Roman em uma bola de fogo colossal. Os destroços se espalharam pelo ar como mil meteoritos flamejantes. Uma chapa de aço cortou o vento na direção de Roman e ele precisou girar o corpo, carregando a prancha com os pés, para desviar. Pouco adiantou, pois um objeto que ele não pôde discernir atingiu-o com força na face direita, explodindo em mil gotículas de sangue.

Roman girou descontroladamente pelo céu. Sua visão era uma confusão de flashes raivosos e constantes de fogo, raios, sangue e nuvens negras como a morte. As lágrimas do mundo reduziam drasticamente a sua visão, embaçando a lente dos seus óculos de proteção. Seus braços, pernas e cabelos dançavam como num concerto de rock metal.

De supetão, uma rajada de vento fez com que Roman plainasse, por um segundo apenas, para que ele visse um poderoso raio rasgar o céu e atingir-lhe o peito. O rosto de uma mulher bela, de curtos cabelos ruivos e ondulados como um mar de sangue, e olhos tão castanhos quanto a hera que ascende pelos muros de uma casa remota, explodiu em sua mente.

Mas ele ainda vivia. Como? Porque?

Talvez porque seja uma pergunta um tanto melancólica e auto-flagelante, mas quando empregada, pode ser tão destrutiva e depressiva - se houver o milagre da salvação - que muitas vezes as pessoas imploram pela morte dias depois.

Não houve tempo para depressão, porém, pois Roman estava sendo insurgido com imagens completamente estranhas desconectadas de seu cotidiano: uma águia desviava dos raios pulsantes, o mar se revoltava, pronto para engoli-la, um elmo de bronze relampejou entre trovoadas ensurdecedoras e, por mais surreal que fosse, uma hera verde e vivaz escalava o céu, tomando conta dos flashes, do elmo, da escuridão, das nuvens, do mar e, por fim, de Roman, de uma maneira suave, gentil e aconchegante.

Então a escuridão invadiu sua mente como um câncer raivoso e fervente, dissolvendo qualquer traço de consciência que ousasse habitar em seu cérebro.

******************************

Sua visão estava turva, oscilante, como de praxe para um bêbado. A taça de Martini pousou na mesa com brutalidade, estilhaçando-se, estampando expressões de espanto e raiva nos rostos das pessoas em volta.

– Essa merda é coisa de viadinho! – Cuspiu Roman. Olheiras marcavam sua face, quais os fios alvos que despencavam insistentemente sobre seus olhos tempestuosos. – Hey! Rapaz! – Chamou, com a voz embargada. – Sirva-me uma cerveja! – Antes que o garçom enchesse a caneca, Roman derramou tudo em sua garganta, fazendo que com que a cerveja molhasse o balcão. – Mais! – Exigiu. E o garçom o fez. Roman repetiu a dose.

– Senhor... – Começou o barman, incerto.

– Diga, jovem. – Roman fez correr os dedos pelos seus longos fios alvejados.

– Acho que...

– Fale enquanto enche minha caneca.

– O senhor não acha que...

– Roman, por gentileza – interrompeu, enquanto esvaziava outra caneca e a estendia, ansiando por mais.

– O rapaz quer dizer para você pegar leve – disse um homem robusto ao seu lado. Ele alcançava dois metros de altura facilmente. Cabeça raspada e cavanhaque pontudo.

Esses motoqueiros de merda! Metidos à fodões!, pensou, enquanto se erguia para encarar o brutamonte. Cerca de dez centímetros separavam Roman da altura máxima do gigante.

– Pega leve – Roman repetiu, abrindo um esguio sorriso. – Quem vai me fazer pegar leve?

– Não me teste, rapaz. – A voz do homem era grave, embargada naturalmente. – Você já bebeu demais, e isso pode dar problemas. Não queremos problemas. Já conheci muitos rapazes como você, e todos bebem o suficiente para entrar no carro e fazer uma merda bem grande.

– Rapaz? – Daniels abriu mais o sorriso. Ele tinha trinta e dois anos, ao passo que o careca não devia ter mais do que vinte e cinco. Em contrapartida, Roman, apesar de bastante musculoso, perdia qualquer chance de vantagem com a bebida.

– Sim, rapaz. Acho que você já bebeu demais. É melhor você dar uma pausa. – O olhar do homem era áspero, sem aceitar respostas negativas.

– Acho que não. – Dito isso, esvaziou a caneca de cerveja que o garçom rapaz encheu, limpou a boca e pediu mais. Foi atendido com certa relutância. – Que foi? – Questionou o barman. – To pagando por isso! Encha minha caneca com a porra de um sorriso no rosto! – Bradou, apontando o indicador para o rosto do rapaz. Tal como o brutamonte, os olhos cinzentos de Roman eram irredutíveis, com uma expressão severa pela primeira vez; parecia quase sóbrio... Quase.

O homem ficou a encará-lo.

– Vai ficar me olhando, careca? – Roman olhou de soslaio para o outro.

O local estava cheio, mas a música havia parado e todos olhavam para os dois brutamontes ali, se encarando.

– Rapaz, encha minha caneca! – Roman exigiu.

– Já disse que não! – O careca rugiu.

Com um olhar frio, Roman fez o garçom servi-lo outra vez.

O motoqueiro lançou seu punho de encontro à caneca, destroçando-a e derramando cerveja para todo lado.

Rápido como uma pantera, Roman se esquivou puxou o braço do careca para trás, torcendo-o.

Um segundo depois o gigante conseguiu girar e corpo e desferir um murro potente na bochecha direita de Roman, que cambaleou para trás, grogue.

Antes que o careca acometesse outra vez, Daniels pegou uma caneca qualquer em cima do balcão, girou o braço e a explodiu na cabeça do brutamonte. Em seguida, desferiu um duro pontapé nas costelas de seu oponente, derrubando-o.

O homem se levantou bruscamente, abraçando o tronco de Roman, levando-o ao chão. Os dois caíram entre as cadeiras do balcão, quebrando uma ou duas. As pessoas se afastaram assustadas. O careca desferiu uma série de murros na costela e no rosto de Daniels, antes que o de cabelos brancos acertasse um soco poderoso sem se queixo, atordoando o outro. Então Roman o tirou de cima de si e desferiu um chute forte na cabeça calva.

– Encha uma caneca de cerveja para mim, rapaz, agora! – Ordenou. E assim foi feito.

Roman deu uma longa golada e cuspiu no motoqueiro.

– Bastardo de merda!

Roman saiu do estabelecimento cambaleando na neve. À frente, o Rio Kuskowim corria, célere, cortando o inverno sem preocupações, que não fosse alcançar o outro lado.

O casaco de Daniels pouco servia naquela ventania excruciante. Correntes de ar açoitavam seus cabelos rebeldes, gelando um filete de sangue que corria de sua testa e de seus finos lábios. Os olhos cinzentos pouco se destacavam na paisagem invernal. A madeira do pequeno porto rangia sob suas botas enquanto ele avançava na direção do rio.

Roman sabia que deveria sair dali logo. A polícia chegaria em breve, e ele não queria problemas. Não podia ter problemas. Sua mente não agüentaria. Os últimos meses foram muito conturbados. Não com acontecimentos, mas em sua mente. Cada dia ele sonhava com a mulher de cabelos de sangue que refulgia entre os açoites da escuridão do mundo. Cada manhã ele pulava da cama, transpirando. Enterrava o rosto nas mãos e se forçava a levantar. Caminhava até o banheiro e lavava seu rosto nas águas sagradas da pia. Não ousava se olhar no espelho. Não queria. Não devia. Envergonhava-se do que vira da última vez que o fizera. As outras imagens o perturbavam insanamente; a águia, o elmo, a hera, o mar, a escuridão. Mas a mulher era o que mais lhe tirava o sono. Uma expressão confusa tomava-lha o rosto; parte perigosa, parte sensual, parte tímida e inteiramente bela. Olhos castanhos como um carvalho, cabelos vermelhos como fogo. Quem era ela?

O som das sirenes venceu os uivos do vento e despertou Roman de seus devaneios; por um breve momento. Pois no céu, subitamente azul, luzes bailavam num misto de prata com dourado, dobrando-se e esticando, formando imagens confusas e rápidas, como uma TV fora do ar. Até que a Aurora Boreal se firmou, engolindo céu! As imagens se tornaram nítidas. A mulher dos seus sonhos estava ali! Conversando com um homem, velho, barbudo, de cabelos alvos e roupas antigas, porém, suntuosas. Um rei! Ou um deus?

Esse pensamento martelou em sua mente, causando alucinações surreais. Flashes, lembranças não desconhecidas, conhecimentos esquecidos, palavras não ditas, sonhos não sonhados, vidas não vividas, mortes estranhas! Tudo corria em seu cérebro como um rio corre em seu leito. Em volta, as pessoas observavam o espetáculo no céu, todas as que estavam no bar, assustadas, estavam, agora, deslumbradas.

– Voc-e... Está... V-vendo? – Perguntou Roman ao garçom ao seu lado, maravilhado.

– Estou! Lindo, não? – Respondeu, esquecendo a briga por um momento.

Ele não vê o que eu vejo! Ele não vê as imagens!

– As imagens! Olhem! Aquela mulher! Vejam! Estão cegos?! – Ele girava em torno de si próprio, apontando e gritando, sacudindo as pessoas em volta, sendo afastado, chamado de maluco e doente mental. Mas ele não se importava. Ela estava lá, encarando-o! Rindo dele!

Mãos fortes o agarraram pelo ombro, fizeram-no se ajoelhar e recitaram palavras confusas. Algo como direito de ficar calado e poderá ser usado contra você no tribunal. Algemas se fecharam em volta de seus pulsos e ele foi levado para dentro de um camburão, gritando, esperneando, enlouquecendo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Amaram? Odiaram? (Não ousem! u.u kkk'). Brincadeira. Deixem sua opinião aí e aguardem os próximos capítulos.
Mini-beijos. Até a próxima.



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