POV’S THALIA

Meu pai se encarregou de ligar para Miriã e Toby para que não viessem, deixando tanto a mim quanto a eles felizes por umas horas de sono a mais. Então o despertador tocou e após um banho demorado coloquei uma calça jeans com uma regata branca e um casaco azul, calcei meu coturno negro e prendi meu cabelo em uma trança. Então uma buzina ecoou na sala e despedi-me de meu pai, peguei uma maçã e mordisquei-a, já que não havia tempo para tomar café da manhã.

Encontrei Isaac estranhamente elegante, com um cardigã e calça negra, junto de um... óculos escuro? Bem, praticamente nunca fazia sol em Greycity, e isto faz jus ao nome já que a cidade anda sempre nublada, cinzenta. Dei um aceno com a cabeça e coloquei o capacete, assim subindo na motocicleta e segurando firme.

— Bom dia, estou feliz. Hoje é um dia especial, Thalia. Mas só eu sei dele, por enquanto. – disse dando um sorriso de canto e acelerando.

Passaram-se 15 minutos até que chegamos a escola que estava com uma música incrivelmente alta em seu estacionamento que também estava farto de pessoas. Arqueei a sobrancelha ao outro estacionar pois vi algo que me deixou um pouco irritada: o casal problema estava dando uma festa bem ali. Desci da moto e esperei Isaac me seguir, mas o outro foi em direção a festa, acabei por decidir não argumentar nada, apenas revirei os olhos e segui em frente para entrar no colégio, onde encontrei Lizabel e Christopher.

— Que cara é essa? Você sabia que não vemos você desde aquela sua sumida da festa? Céus boyzinho, o que está acontecendo com você, rapaz? – disse Chris bagunçando meu cabelo.

— Ai mulher, me deixe ser feliz... Bom, estou tendo alguns problemas que não posso comentar, Chris. – brinquei dando um sorriso de canto para demonstrar que estava tudo bem.

— E esses problemas envolveriam um sujeito de cabelo castanho encaracolado que vira e mexe está na sua casa, não é? Não me esconda nada, Lia. – interrompeu Lizabel dando uma risada.

— É óbvio que não, Liz. Ela não nos trocaria por um sujeito de personalidade estranha como ele, fica sumindo do nada e gosta de se meter em confusão... Tem outro cara na parada! E esse homenzinho aí não quer contar para gente. – murmurou o loiro fazendo uma careta.

— Você diz isso porque não os viu juntos, ela não consegue parar de olhar para ele... Está super apaixonadinha. Por que vocês se chamam pelo sexo oposto? Eu nunca entendi essa brincadeira, eu seria o quê? Um transexual? – murmurou a loira dando um tapa na cabeça do outro. — Eles se gostam, se pegam igual tarados e discutem tanto quanto namorados.

Antes que eu pudesse interromper os louros e mandá-los pararem de me deixarem vermelha, vi Isaac entrar acompanhado da morena de nariz em pé, ambos riam e mesmo que procurasse eu não encontrava Toby, o que me deixou um pouco nervosa, não que eu tivesse algo a ver com o que ambos faziam: só que era errado; ela estava traindo Tyler e ele... Bom, ele faz o que quiser da vida. Não vou falar nada, deixa tudo pra lá, vou me manter aqui, mas olha isso! Ela ao menos quer cobrir seu decote? Tentei me segurar, mas quando vi já estava na frente de ambos, de braços cruzados.

— Interrompi algo? Me desculpe, Miriã, preciso falar com este senhor em paz. – murmurei sem tirar os olhos do rapaz, e assisti a morena sair com seus sapatos de salto-alto barulhentos. — Não quero te impedir de viver... Mas ela tem namorado, sabia? Isso é uma falta de respeito! E não, não dê esse sorriso! Eu sei que você ama a ideia de eu estar com ciúmes de ti, mas não é verdade. Não teime comigo, eu sempre estou certa. Olha Isaac, não fala mais comigo, ok? Eu espero que você tenha saudade de mim, uma saudade bem filha da mãe sabe, pra você parar de brincadeira com a minha cara. – murmurei dando um soco no tronco do outro, mas para minha surpresa, depois de seu semblante assustado, ele riu.

— Como cabe tanto ciúmes em um ser tão pequeno? Olha, eu sei que eu sou irresistível mas não ache que toda mulher que se aproxima de mim quer me pegar, ué. Vê como eu fico sexy com um fósforo na minha boca entreaberta? - disse tirando o palito de dentro da caixinha.

— Não é ciúmes. Argh, com tanto homem no mundo fui gostar logo de um vadio como você! Sabe... Eu nunca senti isso antes. Não ria da minha cara mas... Como posso diminuir essa raiva? Bom, te socar aliviou um pouco. NÃO MUDE DE ASSUNTO, ela estava dando a maior bola para ti sim!

— O que você faz... Se garante, ué. Acredite em todas as palavras que eu já disse para ti e assim vai perceber que nenhuma mulher no mundo vai chegar aos pés de ti. Cala a boca, anda pega um fósforo e coloca entre os dentes, veja como você vai ficar sensual. – murmurou rindo

— SENHOR ISAAC, não me manda calar a boca não! Acha que com essa fofura vai me acalmar, tá muito errado. Ninguém cala a minha boca, eu calada estou errada, vamos mudar essa cidade falando! Espera... Isso ficou meio democrata! Acha que posso me candida...– fui interrompida com um delicioso beijo em meus lábios.

Isaac manteve sua mão firme em minha nuca com seus dedos entre meus fios negros e eu entrelacei meus braços ao redor de seu pescoço trazendo-o para a parede, correspondendo seu beijo de forma tão lenta ,que nossas respirações descompassadas se misturavam e nossas línguas mantinham-se em um ritmo perfeito; então lembrei que estávamos na escola, na frente de todo mundo e tentei me afastar mas o acastanhado fez questão de morder meu lábio inferior antes que eu pudesse realmente ir. Senti-me com sede de mais, então finalizei com um selinho.

— Você disse que ninguém te calaria e agora está sem palavras... Ok, agora coloca o fósforo! Eu estou falando sério. Se você colocar ele na boca, passo na sua casa hoje.

— Você é louco... Vamos ser o assunto da escola pelos próximos trinta dias. Imagina se algum inspetor nós pega e conta tudo para o meu pai. Se eu levo outra suspensão, estou literalmente morta e enterrada! Céus, Isaac, ir na minha casa? Seu tarado! – disse olhando a multidão e olhando para o chão, enquanto o rubor subia em minhas bochechas, mas mesmo assim peguei a caixa de fósforos e a abri, mas para minha surpresa não havia nenhum... Só um anel reluzente de prata, com detalhes de pedraria que formavam uma asa. Mantive-me boquiaberta com tamanha beleza e preciosidade do anel.

— Dona Thalia, arranjei seu anel... Agora já pode me chamar por namorado, viu anjo? Eu estava agradecendo Miriã por me dar o endereço de algumas lojas, sabe, eu nunca tive que comprar nenhuma joia deste tipo e tal. Mas a senhorita adora confusão e fez um barraco... Pelo menos ganhei beijo. A senhora está muito maliciosa, dona Thalia, ir para sua casa para ter uma conversinha com seu pai. E aí, fica comigo? Só que pela eternidade, anjo. – disse sorrindo branco, aquele sorriso que dá vontade de chegar beijando, e depositando o objeto em meu anelar.

— Você só poderia colocar o anel quando eu dissesse “sim”, senhor Isaac. –murmurei olhando o material brilhando. — Não sei... Metade de mim diz que quero te beijar, e na outra quero que você vá para o inferno. – disse sentido-o aproximar de mim.

— Mas eu já sabia a resposta. Hum, dona Thalia, diga qual é a metade maior... Ou eu vou ter que te dar uns beijos pra você decidir? Todos já perceberam que você é minha, só você que parece contestar a ideia. – sussurrou em meu ouvido, se a voz dele já era grossa e bonita, imagina em um sussurro.

— Já causamos demais por hoje, Isaac. Mas ok, a resposta é sim, só pra fazer uma caridade e tal. – brinquei com o acastanhado. —Anjo, gosto muito de ti, só não me machuca por favor. Sabe, eu prefiro me manter longe de confu... – então o sinal tocou, revelando a hora de entrar para a prova.

Suspirei e entrei na sala, recebendo os olhares curiosos de outros alunos e de Liz e Chris. Para melhorar a situação, o acastanhado apertou minha mão e acabamos andando deste modo até chegar na carteira ao lado da loira, onde me sentei e o outro foi para o fundo.

— Olha quem chegou... A garota ciúmes que pegou o Isaac putão e converteu-o para o caminho do amor. É brincadeira, aquela cena foi muito bonita! Chris disse que teve vontade de vomitar, mas não ligue para ele. – ela deu uma risada escandalosa e eu acabei sorrindo, Liza havia mudado desde o seu sequestro e ela não era mais aquela menina tímida e inocente, ela podia se defender, e eu poderia contar todo o lance dos magos para ela.

— Depois quero falar contigo, é sobre a “magia” e tal... – disse fazendo aspas, até a loira assentir mas logo se calou pois dona Hellen entregou nossas provas. Aos poucos fui preenchendo, até o último minuto. Acabei deixando umas duas ou três questões sem resposta pois não estava com cabeça para pensar. A ideia de Isaac falando com meu pai era assustadora, bem, na pior das hipóteses, Edmund queimaria-o. Bom, meu primeiro namorado carbonizado não era uma cena bonita. Por fim, saí correndo. Talvez Isaac esquecesse a conversa se ele não me levasse até em casa. Ou então, eu chegaria primeiro que ele e pediria para meu pai sair.

Peguei um atalho por uma rua estreita e mesmo correndo, senti duas mãos me prendendo. Não senti o cheiro de incenso de hortelã, mas sim um odor desagradável e então soube que estava sendo atacada. Tentei usar a força de meus cotovelos, já que não tinha músculos o que não deu muito certo; tentei gritar, mas o homem colocou a mão em minha boca, me impedindo de falar... até eu mordê-lo e sair gritando. Mas então, ele me impediu e carregou-me até em frente. Então ele chegou, não o super-homem, mas quase isso: Isaac. O lugar era bem íngreme, o que dificultava a ação. Mas o acastanhado chegou dando um chute no estômago do mais velho, fazendo com que sua respiração ficasse irregular, logo em seguida cruzou um soco no rosto do outro que não deixou por barato e atacou Isaac. Então o velho derrubou-o e lhe deu vários golpes pesados me fazendo gritar por desespero, corri para ajudar mas a velocidade do acastanhado ajudava-o para sair rapidamente dali até ele perder o controle e dar vários golpes na face do outro que castigavam o outro com a dor. No auge da briga, Isaac deu um soco no pescoço do maior que acabou perdendo o ar, fazendo com que o acastanhado aproveitasse e por fim, batesse sua cabeça no chão, até o velho desmaiar. Senti-me horrorizada, se este não estivesse ali, eu poderia estar em outro lugar no momento, quem sabe morta, eu estava grata por ter alguém que se preocupasse comigo tanto assim para se meter em confusão, então abracei-o, forte, sem vontade de soltar.

— Céus, você não está bem! Olhe, está com um olho roxo... É tudo culpa minha, não é? Eu deveria ter te esperado. – murmurei sentindo-me fraca por não conseguir me defender sozinha, mas também chateada por ter metido Isaac em confusão.

— Parcialmente. Mas não tem problema, você vai me levar para sua casa e cuidar de mim. Se me der licença, preciso dar uns telefonemas. Mas olhe! O velho sumiu daqui. Céus, onde ele está? Vou procurá-lo imediatamente. – exclamou se separando de mim e pronto para correr.

— Não... É só um ladrão. Ele vai pensar duas vezes antes de mexer com uma garota sozinha novamente. Afinal, o super- Isaac pode estar por aí. Vem, vamos para minha casa. – disse sorrindo e subindo em sua moto. Não levou nem dez minutos para chegarmos em casa, e lá estava meu pai com semblante preocupado.

— Você demorou. Thalia, não faça isso comigo, qualquer dia eu tenho um infarte! Olá, jovem Isaac... Vejo que andou brigando. –exclamou Edmund fazendo um exame de raio-x no outro.

— Pai, hoje o senhor terá fortes emoções... Prepara o coração! – murmurei rindo e olhando para Isaac. Não sentia-me verdadeiramente feliz. Não sabia quem era aquele homem, mesmo que ele tivesse uma cicatriz igual a de Thomas, não poderia ser um plano deste: já tínhamos uma batalha para o fim do mês. Haviam mais pessoas do que eu imaginava querendo me matar e enquanto eu tivesse minha família ou amigos, ou meu novo namorado, eles não cumpririam sua missão.

FIM POV’S THALIA

A noite seria longa não apenas para esta família mas também para Lizabel que mantinha-se amarrada e presa em um bloco de vidro grande o suficiente para ser um aquário de tubarões. Ela chorava e implorava por sua vida.

— Me diga, agora! Eu não hesitarei em lhe matar, Lizabel. Outras pessoas também sabem a resposta e diriam muito mais facilmente. Talvez a sua mãe... Posso matá-la também! Quando mais você demorar, mais a água vai subindo e você não terá oxigênio. A água vai invadir seu sangue e seus pulmões, você morrerá afogada... E eu irei chorar por perder uma rosa tão bela. Mas será necessário. Então diga! Me dê a resposta, já que sua amiga não foi capaz. Você pagará pelos erros dela.

— Pagarei então. Não vou te dar a resposta, NUNCA. Você pode até acabar comigo, Carlos. Mas com o mundo? Nunca. – rosnou a outra, até perceber a presença de uma outra pessoa na sala, um jovem alto e moreno.

— Não queremos acabar com o mundo, Lizabel. Queremos acabar com a seita, pense o quão bom será sem essas convenções e sem regras. Queremos acabar com os magos brancos que só pensam em si mesmos. Lideraram os magos negros onde tudo é permitido, você é tão boazinha que pode entender isso... E também muito bonita. Acho que não fomos apresentados: meu nome é Logan. Eu não moro aqui, e sim, em um palácio em Londres. – disse revelando sua face jovem e seu semblante perdido, suas fortes olheiras eram assustadoras junto do fato de ele estar derramando lágrimas... de sangue.

— Eu pouco me importo quem és! Me solte! Caso me mate, você não terá resposta alguma, pois sou a única que sei. Vovô me deu uma carta onde havia a solução para todos os seus problemas, e eu queimei-a há muitos anos atrás... ou seja, me mate e perca tudo. Nem mesmo minha mãe sabe.

— Não acredito em você... Um pai não contar o segredo que salvaria ou destruiria a seita para a filha? Mas contou para a neta? Oras, arrume uma boa desculpa. Diga suas últimas palavras, Lizabel, diga enquanto a água não lhe cobre por completo. Carlos, gire a torneira. Esta na hora de matá-la.