À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 6
Uma Noite em Shagford Street


Notas iniciais do capítulo

Depois de um capítulo longo, um menorzinho...
Sinto que vou frustrar as pessoas que queriam saber o que aconteceu. Sorry...
Capítulo muito fluff, até demais para o meu gosto. Não me culpem, meus personagens me obrigam a escrever essas coisas.
Boa leitura.



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–Você tem certeza disso? Isso não foi só um vulto ou uma impressão? – perguntou Holmes, ao observar a rua através da janela e constatar que não havia ninguém na rua.

–Eu tenho certeza, Sigerson. Mais um pouco e eu poderia pegá-lo aqui, dentro do quarto.

–Felizmente isso não aconteceu. Não sabemos que tipo de pessoa esteve aqui. Poderia ter sido perigoso se ele fosse pego. De qualquer maneira, você não irá dormir sozinha aqui. Eu vou ficar esta noite, e quantas mais se forem necessárias.

–Mas Holmes... Mrs. Hudson pode ficar preocupada...

Holmes riu. – Mrs. Hudson está acostumada com meus sumiços, não se preocupe. Uma desculpa para ela no dia seguinte é a coisa mais fácil do mundo de se arranjar.

Ele concluiu, dando-lhe um beijo.

–Vá terminar o jantar, Esther. Eu descerei em um instante.

Assim que terminaram o jantar, um silêncio perturbador pairou entre os dois. Ambos já tinham cessado com qualquer assunto durante as refeições, naquela casa solitária. Holmes, que tempos atrás vivia sem problemas uma vida solitária, se perguntava como Esther conseguia lidar com a solitária vida ali. Afinal, ele mal imaginava sua vida sem Watson, ou mesmo Mrs. Hudson, enquanto Esther lidava com a casa sem qualquer empregado. A casa era pequena, de modo que ela conseguia dar conta de sua organização – mais do que isso, tinha prazer em deixa-la organizada – mas vivia uma vida solitária, em um casamento quase clandestino.

–Esther, você tem amigos?

Ela endureceu. O único amigo que ela tinha feito em sua nova vida na Inglaterra era Watson, que não via desde o dia em que rompera tudo com ele, em seu consultório, há exatamente uma semana antes de seu casamento com Holmes.

Embora não tivesse recebido uma resposta, Holmes sabia o que ela tinha pensado.

–Esther, eu acho que seria bom que você não ficasse o tempo todo sozinha... Quero dizer, arranjasse uma amiga, algo assim. A única pessoa que você mantém contato do mundo sou eu, seu marido, e você verá que o meu trabalho toma muito do meu tempo, a ponto de me impedir de te ver por dias, ou até mesmo semanas.

–Holmes, eu não vejo problema nisso. – ela disse. – Estou habituada à solidão.

–É um tanto estranho ouvir isso de alguém que justamente retirou-me por completo deste estado. Embora eu tivesse Watson, ele não me completava da mesma maneira que você.

Esther sentiu-se um tanto ruborizada. Raramente Holmes demonstrava seus sentimentos por meio de palavras.

–Eu não consigo...

Ele tomou sua mão e olhou fixamente em seus olhos.

–Você precisa se libertar desse medo, Esther. A Inglaterra definitivamente não é a Rússia. Ninguém irá agir de maneira preconceituosa por você ser uma judia, muito menos irá te escravizar em uma fazenda...

–Por favor, Holmes. Eu já entendi. – ela disse, retirando sua mão.

O clima tinha melhorado um pouco, quando ambos conversaram sobre os últimos casos de Holmes. A questão fazia-o se distrair, pois Esther tinha uma virtude diferente da de Watson: era atenta e conseguia completar quase todos os seus raciocínios, acrescentando um palpite ou outro. Certamente, seu trabalho no Serviço de Inteligência, ainda que pequeno, ajudou-a desenvolver sua inteligência para estes assuntos.

Holmes, entretanto, evitou tocar no assunto de Jack, o Estripador. Especialmente que estava passando os dias relendo os inquéritos e relatórios referentes aos casos de 1888 a 1891, mesmo aqueles que não foram oficialmente ligados a Jack. Ele não tivera acesso à época a tantos detalhes, alguns que sequer a imprensa tivera, e isso lhe deixava perturbado, quase angustiado. Sensação esta que ele não sentiu na época e jamais pensou que um caso pudesse lhe despertar. Talvez fosse seu casamento por Esther e as descobertas que seu relacionamento com uma mulher estavam lhe provocando. Ele sempre desprezou os sentimentos, os gestos de afeto e carinho, mas agora, sua união com Esther lhe fizera amolecer. Talvez, aquela velha máquina de calcular não mais existisse, e isso lhe assustava.

Ainda assim, havia aquele monstro à solta. Jack. Holmes lembrava-se do tempo em que morou no bairro, no mesmo prédio que aquela prostituta, Rose Willians. Do quão grata ela se mostrou quando ele a defendeu de um cliente indesejado e agressor. Aquele era o olhar que todas as vítimas de Jack lhe dariam se ele tivesse embarcado no caso desde o princípio? O fato de pensar nisso lhe fazia tremer.

De qualquer forma, o caso reaberto de Jack lhe acenava a muitas possibilidades: uma maneira de consertar uma omissão (que só agora ele entendia o quão grave foi) e também um teste. Será que o casamento lhe tinha amolecido? Será que seu cérebro permanecia inquebrável, racional, eficaz? Afinal, volta e meia seus pensamentos saíam de Baker Street para lembranças de seus momentos com Esther, desde os mais simples, como algo que lhe fazia rir, até os mais tórridos, a ponto de deixá-lo corado. Sem dúvida, sua competência como detetive seria posta à prova agora.

Já deitados, Holmes virou-se de um lado, após pousar sobre o criado mudo seu cachimbo inseparável. Ele tinha o hábito de dar uma última tragada de seu fumo sob a cama, algo que, por mais estranho que fosse, não incomodava tanto a Esther como quando ele deixava seus sapatos espalhados pelo quarto. O casamento tinha dessas peculiaridades.

Antes de apagar a luz, ele percebeu Esther pensativa, deitada.

–Pensando no que conversamos? – ele perguntou.

–Um pouco.

–Só quis te ajudar. – ele disse, por fim, respirando pesadamente. –Mas você há de ouvir que sente falta de ter alguém para conversar, e além de quê...

–Você está preocupado com a minha segurança, é isto?

Holmes ergueu uma sobrancelha. – Uma mulher que praticamente mora sozinha se torna um alvo fácil. Para alguém como eu, é difícil ter de admitir isso, mas eu mal posso estar ao seu lado por mais de vinte e quatro horas por dia, e o pouco tempo que consigo acaba por levar dias, semanas. Sou culpado por sua vulnerabilidade, e você não pode retirar de mim esta responsabilidade.

–Eu escolhi isso, Holmes, e não me arrependo.

Ele a aconchegou contra seu peito, e suspirou pesadamente.

–Às vezes eu penso no tempo em que eu era só o John Sigerson, no tempo que desperdicei sendo apenas seu amigo.

–Não diga isso. Foi uma época importante para nós dois. Acho que se nossa relação tivesse avançado para um... Romance desde o início, creio que não teria dado tão certo como estamos hoje. Precisamos daqueles tempos difíceis para nos aproximarmos.

–Hum, eu sei, mas... Aquela cama beliche poderia ter presenciado tanta coisa...

Esther ficava ruborizada, sempre que Holmes tocava no assunto. Ele soltou uma risada maliciosa, ao perceber que ela estava desconcertada.

–Mas admita que essa cama casal é muito mais confortável.

–De fato, é. Para todos os propósitos... - disse Holmes, quando virou-se para ela, envolvendo-a em um beijo que ambos sabiam no que terminaria.


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Notas finais do capítulo

Prometo que no próximo cap vai haver mais ação... rsrs
Pessoal, não sei se alguém percebeu, mas Holmes já está envolvido no caso do Estripador. Não é uma falha de roteiro, eu juro. Simplesmente eu vou mostrar o que aconteceu na vida do Pomposo Detetive (Sorry again, Anne) enquanto Esther estava se preparando para cutucá-lo com o emprego de professora universitária. Vou mostrar agora o que se passou nos últimos dias com ele. Espero que isso não fique confuso. E reviews, sempre bem-vindos.



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