À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 30
Reunindo Pedaços


Notas iniciais do capítulo

E então?? Ansiosos para saber o que será do nosso casal em pedaços??

Confesso que nem pensava em incluir esse cap, mas sinto que é necessário mostrar isso. Afinal, a Esther passou por um momento delicado. Acho que isso é, enfim, o definitivo retorno do nosso casal, ainda que timidamente.

Espero que gostem...

Ah, e temos um novo personagem na fanfic, dêem boas-vindas!



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Londres, Inglaterra. 20 de Junho de 1894.

Shagford Street. 19:40hs.



Esther estava terminando de cortar todos os legumes. Fazia frio naquele dia em especial. Não que Londres parecesse sempre fria e úmida, e que ela não se recordasse de um único só dia que uma fina garoa não caísse naquele lugar, mas algo naquele dia soava mais frio. Ela não sabia dizer se era mesmo a temperatura, ou se era a atmosfera do lugar. Se olhasse pela janela, não era capaz de distinguir nada pela rua, em meio à neblina que cobria a cidade, desde de manhã. Holmes a tinha ensinado a evitar andar pela cidade quando ela estivesse assim, pois era o momento mais perigoso e onde os gatunos faziam a festa até mesmo com o mais atento dos pedestres, e ela o obedeceu. Até memso porque, ela não tinha motivo algum para sair.

A carta da Agência de Inteligência, assinada por seu chefe, Mr. Sparks, estava sobre a mesa, intocável. Ela não se sentia pronta a voltar, e duvidava se um dia estaria, para exercer aquela vida de antes. Ela ria disso, agora. Desde que David lhe retirara daquela maldita casa, na Rússia, ela aos poucos se esquecera dos abusos cometidos contra si quando era uma criança. Ao conhecer Holmes e se apaixonar por ela aos poucos, aquilo tinha se tornado uma distante memória, embora a dor ainda estivesse em algum lugar. Mas agora, desde que aquele homem covarde tinha lhe tomado, a dor dos tempos de criança, que ela demorou tanto a curar, tinha retornado, ainda mais forte.

E havia Sherlock...

Desde que tinham feito as pazes, ela pouco estivera com ele. E isso não lhe chateava, pelo contrário. Ela sentia até certo alívio em evitar uma proximidade com ele. Não sabia o que dizer, como ele reagiria quando soubesse o que estava acontecendo dentro de si, as batalhas que havia dentro dela. Ela não contara a ele sobre suas noites sem dormir, acordando assustada com a impressão de sentir a respiração irregular de Jeffrey sob seu pescoço, como naquela vez. Nem do pânico que lhe aterrorizava, mesmo dentro de sua própria casa, de que Jeffrey ainda estava vivo, vigiando-a, prestes a ataca-la novamente. Ela não lhe contou coisa alguma, mas algo lhe dizia que ele sabia disso. E seu olhar era de pena. Como ela odiava esse sentimento. Mas antes fosse só pena. Ele ainda gostava dela. E ela não conseguia mais deseja-lo, não como antes, quando seu coração disparava apenas pelo mais breve de seus olhares. Agora, seu coração disparava quando ele chegava perto, mas não por desejo, ou amor. Era medo.

Os legumes tinham sido postos dentro da panela, já com a água fervendo. Ela mexia o conteúdo, enquanto temperava, até ouvir o bater da porta. O simples bater já lhe fazia estremecer. Ela suspirou, pegando a faca da cozinha. Isso fazia sentir-se mais segura. Ela largou a panela e caminhou até a porta.

–Sou eu, Esther. Pode abrir a porta. – era a voz de Holmes. Parecia que ele sabia que estava apavorada. Ela suspirou, e a abriu, esquecendo-se de que a faca ainda estava em sua mão.

–Olá, Esther. – ele disse, depois de fechar a porta, tentando beijá-la, mas ela virou o rosto instantaneamente. O beijo de Holmes acabou encostando em sua bochecha, ainda de leve. Ele suspirou.Precisava ter paciência. Embora Esther não externalizasse por completo seus próprios sentimentos e angústias, ele sabia que ela ainda não estava completamente recuperada.

–Pode me dar a faca, Esther? – ele pediu, direcionando seus dedos,com cuidado, até o objeto. Esther lhe entregou, com os dedos trêmulos.

Holmes tentou sorrir, mas era difícil quando estava diante da mulher que mais amava em um estado de nervos, trêmula com sua simples presença. Ele deixou a faca sobre a mesa e tentou se aproximar, mas Esther deu as costas.

–Eu... Eu estou muito feliz que você tenha chegado a tempo de jantar, Sherlock. – ela disse. Holmes decidiu não pressionar e sentou-se sobre o sofá.

–Bom... Eu também. – ele disse. – Aliás, Esther, acaso você não percebestes que eu não estou sozinho?

Esther virou-se, assustada e ressaltada com o que Holmes dissera. QUme mais estava ali? Ao perceber que sua reação fora a pior possível, Holmes tentou anuviar.

–Er, não Esther... Eu quis dizer que você não viu que eu estou carregando essa cesta aqui... – ele disse, tentando passar diversão na voz, em vão.

–Desde quando você considera objetos como presença? – ela disse, um tanto irritada.

–Venha cá ver com seus próprio olhos e me entenderá. – ele disse.

Esther suspirou e se aproximou do sofá. A pequena cesta, sobre o colo de Holmes, foi aberta. Para surpresa de Esther, o que foi revelado ali fora um filhote de cão.

Era um belo cãozinho. Tinha a cor caramelo, entre manchas brancas. Parecia ser um tipo spaniel, embora ela suspeitasse que ele fosse misturado. O cão imediatamente bocejou e começou a abanar seu rabinho alegremente, finalmente liberto da escuridão daquela cesta.

–Um cão! – Esther exclamou, agradavelmente surpresa. Holmes pareceu satisfeito em vê-la reagir bem com o animal.

–Bem, Esther, espero que você se sinta honrada em estar diante do filhote de um dos mais tenazes cidadãos londrinos dos quais eu já tive o privilégio de trabalhar. Este é o filhote de Toby, um cão que costumo utilizar para farejar pistas.

–Oh, ele parece bem esperto... – ela disse, enquanto dava carinho ao cão, que correspondia dando generosas lambidas em sua mão.

–Parece que ele gostou de você... – disse Holmes.

–É o que parece... – disse Esther, ainda radiante.

–Pois muito bem. Ele é seu, todo seu. Sabe, Toby mora em um criadouro de animais, em Lambeth. Embora Toby nãotenha sido criado para a finalidade da reprodução, a natureza acabou falando mais alto e ele cruzou acidentalmente com uma cadela do criadouro. O resultado foram três filhotes, porém um nasceu morto e o outro acabou morrendo dias depois, só restando este. E o criadouro de Lambeth está lotado de animais. O dono do lugar, um senhor que conheço há anos, acabou me oferecendo o animal. Eu não posso deixa-lo em Baker Street – não depois de matar um outro cão de lá, enfim... – então, eu decidi deixar com você. Acho que será boa companhia. Então, eu posso presumir que fiz certo?

O cãozinho já estava sob o colo de Esther, aventurando-se e abanando o rabo sem parar. Nem havia mais o que dizer.

–Eu adorei, Sherlock. Adoro animais...

Ficou-se um silêncio incomodante entre os dois. Ambos ficaram se olhando, sem saber qual passo dar. Não queriam quebrar aquele momento de felicidade, nos últimos tempos cada vez mais raro. Holmes, no entanto, decidira fazer algo. Timidamente, pôs sua mão sobre Esther, que não se opôs. Mas ainda assim, havia nervosismo em seu olhar. Quando ele estava prestes a falar mais, o cão começou a se mexer, de maneira incomodada e desejando explorar o chão.

–Eu acho que ele está com fome... – disse Esther, aproveitando a deixa e se dirigindo até a cozinha, deixando Holmes só com suas palavras.

–E-Eu aposto que ele dará um bom farejador, tal como o pai. – ele exclamou, falando alto para que Esther lhe escutasse.

–S-Sim, se receber treinamento apropriado.

–Toby já está com certa idade. No último caso que o usei, eu percebi que ele estava surdo. Eu... temo perde-lo um dia.

Esther percebeu que Holmes falara aquilo com dificuldade. Ela não fazia idéia que o cão, que apareceu no livro “O Signo dos Quatro”, fosse lhe tão estimado. Ela pôs leite em um pires e deixou o animal toma-lo, em um canto da cozinha.

–Não sabia que você gostava tanto de animais. – ela disse.

–Sim, eu gosto. Animais e... Crianças.

A voz de Holmes morreu na mesma hora, mas fora o bastante para Esther escutar. Esther olhou tristemente para ele. Sem dúvida, ele a fizera se lembrar do bebê. O bebê que, aparentemente, ele não desejava.

–Crianças... Contanto que não sejam suas... – ela observou. Holmes levantou-se e tentou se aproximar.

–Esther... – mas ela se esquivou.

O silêncio tornava-se cada vez mais pesado, insuportável. Impaciente, Holmes decidira interrompê-lo. Custe o que custasse.

–Porque você não conversa comigo? Eu sinto que há algo dentro de você te sufocando, cada vez que estou por perto?

–Como pode saber, se não sabe como eu me sinto quando estou longe de você? – ela rebateu.

–Eu sei porque consigo ver que interrompi um breve momento de paz. Minha presença trás desconforto a você? Porque se traz, eu posso simplesmente...

–Ir? – Esther perguntou, soltando uma risada nervosa. – É essa a sua saída?

–Eu estou tentando! – Holmes exclamou, em voz alta. – Eu estou tentando, mas vejo que estou fazendo isso sozinho! Você sequer tenta me tolerar...

Esther parecia descontrolada.

–Você acha que é fácil? O que você queria? Que eu te arrastasse para cama no dia seguinte?

–Então é isso que você pensa de mim? Que minha relação com você não é nada mais do que... Esther! Pelo amor de Deus! Eu não estou aqui procurando um corpo, eu estou procurando você! Como foi construída nossa parceria, ainda em Montpellier? Houve alguma coisa entre nós naquela época? Não, mas mesmo assim, eu sabia que poderia contar com você, e você comigo. Éramos amigos, não éramos?

Esther não resistiu e começou a chorar. Holmes a abraçou, ternamente. Para seu alívio, ela não fugiu de seu abraço, e parecia ainda se refugiar.

–Oh, Sigerson... Sherlock... Eu tenho tanto medo... – ela dizia, em meio ao choro, Holmes lhe abraçava ainda mais forte.

–Eu sei. Eu sei. – ele dizia. – Por favor, Esther. É este o tipo de reação que eu quero de você. Eu sei que você é forte, que passou por momentos piores, mas eu preciso que você se liberte do fardo de ter de ser forte o tempo todo. Você não está mais sozinha. Você tem a mim agora. E eu não vou mais te deixar sozinha, como antes. Eu prometo.

–Sherlock... Eu sonho todas as noites com... Ele...

Holmes escutava, atentamente. Ele sabia disso, mas ouvir era mais doloroso.

–Eu... Eu fico com medo dentro de minha própria casa! Às vezes, eu tenho a impressão de que ele está atrás de mim, com sua faca...

Isso mesmo, Esther. Lance pra fora sua angústia. Reaja.

Naquela noite, Holmes não voltara para casa. Esther desabafara, ainda mais, a respeito de sues medos e traumas. Os dois ficaram sobre o sofá, até que ela adormecesse em seus braços. Cuidadosamente, Holmes a colocou sobre a cama. Ela dormira tão profundamente, talvez por resultado das últimas noites mal-dormidas, que sequer percebeu-o libertar ao menos da roupas mais desconfortáveis, nem mesmo quando ele colocara um lençol sobre ela. Temendo sua reação se acordasse sobre a cama e o visse ali, compartilhando da mesma cama, Holmes decidiu preparar uma cama no chão para dormir. Desceu antes e arrumou uma pequena caminha improvisada para o cãozinho, cujo nome eles mal tiveram tempo de escolher.

–Boa noite, “Sem Nome”. – ele disse ao cãozinho, que já se preparava para choramingar. – Ah, ah, “Sem Nome”, nada de chorar. Seu pai se sentiria envergonhado se te visse fazer isso. Comporte-se. – disse Holmes, como se o cão pudesse lhe escutar.

Quando estava prestes a apagar a última luz da casa, uma voz surgira.

–Billy.

Holmes virou-se, para encontrar Esther, para sua surpresa ainda acordada, na escada.

–Eu sempre quis ter um cão, mas meu irmão David era alérgico. E se eu tivesse, o nome dele seria Billy. Não me pergunte porquê, é uma idéia tola de criança...

Holmes se divertiu, e deu um sorriso tímido.

–Pois então, será Billy.

Ele apagou a luz, e subiu ao lado dela.

–Esther, eu... Eu irei dormir aqui, espero que você não se importe...

–É claro que eu me importo.

Holmes olhou interrogativamente para ela. Com o semblante triste, derrotado, apenas acenou em concordância, mas Esther pegou em sua mão, detendo sua tristeza.

–Me importo em vê-lo dormir no chão, em uma noite tão fria como esta. Vamos, eu já coloquei o seu travesseiro na cama.

Holmes sentiu uma sensação de alívio percorrê-lo por dentro. Esther continuou.

–Mas... Por favor, entenda... Isso de forma alguma é um convite para...

–Não, de forma alguma. Sequer interpretei isso. – ele disse, tranquilizando-na de que não estava exigindo anda além de sua simples companhia.

Com todas as luzes apagadas, tendo por som apenas o tique-taque insistente do relógio, ambos se deitaram lado a lado, mas ainda distantes. Depois de minutos, quando a sensação do calor das cobertas consumia o corpo de Holmes, a ponto de deixa-lo sonolento, e com os olhos cerrados, ele sentiu um corpo envolve-lo. Era Esther, apoiando sua cabeça sobre o corpo dele. Mesmo durante o sono, ela ainda buscava seu refúgio. Ao sentir seus finos e delicados dedos sobre seu peito, ele suspirou. Sim, seria necessário paciência. Ainda assim, ele sabia que seria questão de tempo para que ela voltasse a ser a mesma mulher envolvente que ele conhecera um dia. Talvez, não mais a mesma. Mas ainda assim, a mulher que ele ama.

Ama...? Céus, o que estou concluindo? Holmes se perturbou.

Sim, Sherlock Holmes. Você ama esta mulher.




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Notas finais do capítulo

Cuspindo borboletas aqui... *----------*

É, eu sei, momento muito cute, até pra mim (minha glicose ficou alta agora), mas inevitável.

Alguém reparou que até agora Holmes sequer ADMITIU que amava a Esther? Claro, ele não vai ficar dizendo isso toda hora, mas admitir pra si mesmo é algo diferente, mais admissíve. Acho que só agora ele percebeu o que é verdadeiramente amar uma pessoa. :)

E então? Acho que temos um final, não? Tô quase pensando em deixar o resto para a próxima fanfic (daqui a uns meses, talvez...) Querem saber ainda o que vai acontecer?

E sim, o Manoel Carlos que habita em mim está agonizando... Da próxima vez serei Steven Moffat e farei como ele faz com Sherlock: três capítulos a cada dois anos. Que tal esse novo método??

hahahahaha Brinks...
(Mas quem sabe uns meses.... #FaloNada)


Bjs e obrigada por acompanharem!
Amanhã posto o resto...
Se eu souber o que estão achando via MP ou review...



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