À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 13
Planos para Sigerson


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!
Estou de volta com mais um cap.
Desculpe se a história está meio lentinha... Prometo que as coisas irão esquentar daqui a pouco.
E eu sinto desapontar quem gosta do nosso casal 20, eles quase não estão aparecendo nessa história, né? Fazer o quê, são eles que me obrigam a escrever essas coisas!!
Boa leitura.



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Em algum lugar do East End. Londres, Inglaterra. 14 de Abril de 1894.


Holmes passou quase o dia todo bebendo cerveja. Ou melhor, fingindo bebê-las. Parava em quase todos os bares do East End à procura de pistas. Uma gorjeta gorda era o suficiente para os donos dos bares desembucharem, embora um ou outro se mostrasse desconfiado e arredio.

Aquela tarde fora pouco proveitosa. Nada de estranho havia ocorrido por aquelas bandas, uma vez que bater ou agredir prostitutas parecia ser algo comum. Talvez June - não, Miss Jones – pudesse ser mais um caso de agressão daquele local imundo. Mas seus instintos diziam que ele estava na pista certa, e as evidências apontavam para isso.

A incursão no bairro de Lisbeth tinha sido interrompida. Reid não queria se arriscar com algo infrutífero, estando em uma área que não era de sua Divisão. Tudo apontava para o Partido Comunista clandestino, cujo endereço ou membros eram tão obscuros que pareciam submersos na imundície londrina. Sempre que a polícia recebia denuncias sobre seu paradeiro, o local era esvaziado e partia-se para outro. Ninguém nunca foi localizado. Não se sabia quem era o líder, e os poucos que faziam identidade o chamava por codinomes, como “Stu”, “”Barney” ou mesmo “Vermelho”, o mais escutado por Holmes até agora entre os depoimentos. Os trabalhadores costumavam proteger os organizadores da greve e se fechavam como conchas, não revelando qualquer coisa. Tudo acabava por levar a lugar algum, Holmes bufava exausto. Ao que parece, havia segredos em Londres que nem mesmo Sherlock Holmes era capaz de descobrir, e isso ele odiava admitir a si mesmo. Será que antigamente, antes do Hiato, isso teria acontecido? Será que o casamento tinha mesmo acabado com sua formidável capacidade dedutiva, a ponto de ele se ver incapaz de achar um partido clandestino? Isso lhe deixava em pânico.

Mais um motivo para eu não voltar para a casa dela. Ela me desconcentra... Eu não quero mais pensar nela em nossa cama, chamando-me para mais uma noite de diversões e luxúrias, em um amanhecer acordando em seus braços exausto e ainda mais insaciável que antes... Não. Isso precisa acabar.

O grupo de irlandeses tinha começado uma música mais alegre sobre as planícies da Irlanda, enquanto Holmes tomava mais um gole de cerveja para abrandar-se. De volta à investigação, agora.

Se uma prostituta quase sofrera uma agressão, ele pensou, certamente uma ou outra poderia ter se safado também, mas por outro motivo. Alguns grupos de prostitutas, ele se lembrava, tinham proteção de seus cafetões. Será que um deles chegou a proteger alguma moça?

Holmes lembrava-se de um deles, um alemão chamado Hans. Ele tinha uma cicatriz que cortava sua testa e costumava frequentar os ringues de boxe, como espectador. Inclusive chegara a apostar em Holmes, com reconhecido sucesso, ainda nos tempos em que Holmes passava incógnito pela cidade como John Sigerson, lutando em troca de moedas para pagar o aluguel. Se ele se reaproximasse de Hans, certamente poderia obter informações mais confiáveis sobre o que estava acontecendo naquele bairro, além de Hans conhecer muita gente.

Agora ele tinha um plano, pensou, enquanto voltava para casa. Mas isso requer o devido planejamento.



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Três dias se passaram, desde que Holmes tomara esta decisão. Ele estava mais magro, mas havia dentro de si um ar inquieto.

Watson estava tomando seu café naquela manhã com Holmes. Tinha combinado com ele, dado que estava preocupado pela falta de notícia há três dias. Sabia que Holmes estaria consumindo todas as suas energias naquele caso e que, portanto, precisava de alguém que ao menos o lembrasse de que era um ser humano sujeito a fraquezas e ao esgotamento.

–Holmes, por que você não come alguma coisa?

Holmes resmungou qualquer coisa e voltou-se para um mapa de Londres, que agora estava trabalhando. Watson deixou seu jornal de lado e olhou fixamente.

–Como seu amigo e médico, Holmes, eu lhe alerto que...

–Eu estou bem, Watson. Ontem eu até comi um sanduíche. Portanto, não há com o que se preocupar.

–Holmes, nós estamos falando de dias, e você me diz que comeu um sanduíche! – exaltou-se Watson. – Você precisa se fortalecer!

–Minha força nunca me faltou. E eu já lhe expliquei, o meu corpo à beira de um colapso ajuda meu cérebro a pensar.

–Sim, mas até quando isso irá acontecer? Será que seu cérebro terá para sempre o domínio sobre um corpo fatigado e esgotado? Sim, fatigado. Ou acha que eu não percebo seus olhos cansados, seu cabelo desgrenhado? Meu amigo, esse caso deve ser deveras muito importante a ti, pois até mesmo sua barba está por fazer.

Holmes passou os dedos rapidamente pela camada já áspera de sua pele. –Esse desleixo é puramente profissional. Nada mais é do que para atender aos meus propósitos. Preciso ser convincente, pois no lugar onde estou nos últimos tempos eu não posso usar uma barba falsa.

–Oras, mas você sempre fez uso de barbas falsas e foi bem-sucedido.

–Sim, mas não lá, em East End.

Embora Watson ansiasse por mais respostas, ele sabia que não as teria. Holmes fechou-se como uma ostra outra vez. Nada no mundo o faria dizer que já era conhecido naquela área – pelo nome John Sigerson – e que não seria bem-sucedido com uma peruca ou falsa barba.

–Você vem comigo, esta noite, à East End? – perguntou Holmes.

–Er, não, meu caro Holmes. Eu tenho uma paciente que está prestes a dar à luz. Ela tem uma gravidez difícil e um histórico complicado, por isso será necessário mais que uma parteira. Inclusive, estarei em sua casa daqui a pouco para me aprontar.

–Hum... – disse Holmes, incomodado com o assunto gravidez reaparecer em Baker Street. Desde que soubera que Esther estava grávida, ele não a tinha mais visto. Semanas já tinham se passado, e certamente ela já deveria estar sabendo de seu estado. Embora quisesse que tudo fosse esclarecido, Holmes queira evitar ao máximo este momento, pois sabia que seria doloroso. Afinal, a mulher que ele amava se desmoronaria em sua frente, restando apenas mentiras. Mentiras que ela lhe contava desde os tempos na França, mas que chegara ao ápice com sua omissão quanto ao seu relacionamento com Watson. Ele jamais teria tomado a moça de seu melhor amigo se soubesse que ambos estavam tão envolvidos a este ponto. Isso não era justo.

–Ei, Holmes! – chamou Watson, despertando Holmes de seus pensamentos. – Você não ouviu nada do que eu disse, não é, meu velho?

–Hum?

–Eu estava falando que Sophie... Quero dizer, Mrs. Sigerson, esteve em meu consultório ontem. Ela já sabe que está grávida.

–Hm. – aturdiu-se Holmes.

–Eu apenas confirmei, mas não disse a ela que já sabia. Ainda assim, eu acho que ela desconfia que eu já soubesse desde o dia que ela passou mal e eu a ajudei na rua. Ela não pareceu-me constrangida, mesmo quando eu deixei bem claro que ela estava prestes a fazer três meses de gestação, com um casamento de menos de dois meses, de modo que só posso compreender que suas suspeitas são infundadas. Aliás, ela perguntou por você.

Holmes sentiu-se incomodado.

–E o que disse a ela, Watson? - disse, com indiferença na voz.

–Eu menti, meu amigo. Eu disse que você não estava trabalhando em nenhum caso. Eu não quero preocupá-la com toda essa história da volta do Estripador, porque eu sei que ela seria curiosa o suficnente para me perguntar até que eu contasse. Uma mulher em seu estado não pode ficar abalada com um caso tão nefasto.
Holmes resmungou qualquer coisa, em resposta.

Watson voltou ao seu jornal, enquanto Holmes refletia, submerso em seu cachimbo.

–Watson?

–Sim, meu caro?

–O que você faria se soubesse que Mrs. Sigerson está viúva? Digo isso porque, claro, o marido dela é um aventureiro. Pode morrer de inúmeras doenças ou mesmo sofrer um acidente. Uma possibilidade que pode ocorrer. Mas então: o que você faria?

Watson dobrou seu jornal, pensativo.

–Eu faria todos os meios para tê-la de volta. Porque eu não deixei de amá-la um dia que fosse.

–Mesmo com um bebê?

Watson sorriu. – Eu sempre quis ser pai. Sem dúvida, eu daria um pai mais ideal do que este tal de Sigerson, que mal fica em seu lar, ao lado de sua esposa. Sendo a criança meu filho ou não, eu a amaria da mesma forma que a mãe.

Holmes engoliu a seco, e tornou ao seu cachimbo outra vez. Ele já tinha tomado uma importante decisão.

Assim que acabasse de solucionar o caso do assassino de East End, John Sigerson seria oficialmente morto.


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Notas finais do capítulo

NÃO, HOLMES!!! NÃO!! ISSO É MUITO FEIO!!! QUE COVARDIA!!!
Você está deixando o caminho livre para o Watson!! Cara, porquê não toma coragem nessa cara e vai lá perguntar a Esther o que estáacontecendo?! Porquê tem que ser tão precipitado? A moça nem se explicou, tadinha, e você já a está cruxificando!
No próximo cap, vamos ver no que vai dar a excursão de Sigerson de volta à Whitechapel. Algo me diz que isso não vai prestar, que gente do passado vai aparecer.... Ih....
Bjs!



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