À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 1
Mrs. Sigerson


Notas iniciais do capítulo

OK, então aí vai o primeiro capítulo.
Bem, esse capítulo é praticamente uma introdução. Daremos uma olhada em como o casal "Sigerson" está vivendo depois da Lua-de-Mel em Sussex. Ah, e espero não ter deixado ninguém desapontado com a one-shot, rs.
Não se preocupem: hoje serão postados dois capítulos. O próximo virá na semana que vem.
Espero que gostem, e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/487514/chapter/1

Londres. 12 de Maio de 1894.

Holmes saiu de seu sono leve pelo som da água. Não, não poderia ser chuva. Fazia um tempo bom em Londres, embora tivesse ainda algumas nuvens cinzentas pelo céu, as mesmas de sempre da paisagem londrina. O que lhe dizia isso era a claridade que chegou em seus olhos, quando ele os abriu. Mas o som da água era bem próximo. O som misturava-se também a uma baixa melodia, cantarolada em uma língua estranha e que nos últimos tempos estava se tornando familiar a seus ouvidos: o hebraico.

Era Esther, realizando um ritual judaico, certamente o primeiro do dia. Uma espécie de purificação deveria ser, matutava Holmes enquanto a assistia lavar suas mãos com uma jarra, sem deixa-las mergulhadas na bacia. Lavava-as na água que escorria da jarra, em meio a uma canção judaica.

Esther estava vestindo uma camisola de seda, e tinha seus belos cabelos loiros completamente despenteados. Também tinha no rosto um ar cansado, certamente causado pelas noites mal-dormidas e aproveitadas para outras finalidades.

Ainda assim, pensava Holmes, ela continuava linda.

-Bom dia. – ela disse com humor, depois de terminar seu ritual. – Pensei que ia dormir até a hora do almoço...

-Que horas são? – ele perguntou, enquanto se espreguiçava.

-Oito e quinze.

-Céus... Eu não posso me demorar mais. Mrs. Hudson acabará estranhando minhas fugas noturnas de Baker Street.

-Realmente, senão a imagem do maior solteirão convicto da Inglaterra estará seriamente maculada. – ela disse, enquanto fitava sua aliança dourada.

Holmes percebeu um certo ar de tristeza passar no rosto de Esther, embora ela disfarçasse isso com maestria, como sempre. Quando terminou de colocar suas calças, ele aproximou-se dela, e passou suas mãos sobre seu ombro.

-Se eu pudesse...

-Não há o que fazer, Holmes. Eu não me importo com a forma peculiar de nosso casamento. Acho até que... Talvez tenha sido melhor assim. – ela disse, em desabafo.

-Ao menos desta forma, você está segura de qualquer mal que venha por causa de Sherlock Holmes. Afinal, você é Mrs. Sophie Sigerson...

-... Esposa de um explorador que só vem visitar a esposa no Natal. – ela completou o discurso. – Que desculpa darei no Natal na ausência de meu marido? – perguntou, com cinismo, enquanto abotoava os botões da camisa de Holmes.

-Diga que ele teve problemas no Cabo da Boa Esperança. – respondeu Holmes.

-Oh, pobre mulher... A “Boa Esperança” dela é que deve andar com problemas.

Ambos riram.

-Fale que ele está no Triângulo das Bermudas, então.

-Você quer me enviuvar, é? – ela disse, quando fazia o nó da gravata. – Hum... Direi que Sigerson está no Brasil.

-Ótima escolha. O Brasil parece ser interessante. Sigerson ficará por lá até que ele se torne um exímio dançarino de tango.

Embora Holmes tivesse rindo fracamente, Esther interveio.

-Holmes, é na Argentina que se dança tango, não no Brasil.

-Oh é mesmo? Claro... Espero esquecer-me disso até o meio-dia. – ele disse, com humor, deixando Esther chocada. – Au revoir, món cherie. – disse, já na soleira da porta, beijando-a ardentemente, antes de ir embora.

Meu Deus, não era exagero de Watson quando ele disse que Holmes não sabia que a Terra gira em torno do Sol.

Esther abandonou suas divagações e foi até o seu pequeno escritório. Havia ali um relatório extenso, que ela estava trabalhando nos últimos dias, a respeito de alguns imigrantes russos que estavam causando problemas no subúrbio – potenciais perigos aos olhos do governo, embora Esther tivesse convicção de que os espiões do Czar não estariam nas ruas imundas, bebendo demais e causando problemas com Yarders. Eles estão em grandes salões, fumando charutos caros e bebendo champanhe ao som de boa música clássica.

Trabalho é trabalho, ela bufou. Mesmo contrariada, terminou o relatório da maneira que seu chefe, Mr. Sparks, solicitou. Iria entrega-lo ainda naquele dia.

Ela saiu do escritório, aborrecida. Insistiu, mais uma vez, em uma investigação contra o Conde Ivanov e acabou confessando a seu chefeque estava em vigilância constante, seguindo os passos do Conde. Desde que o seu braço-direito - e filho bastardo - Dmitri, morreu, o Conde saiu imediatamente da Rússia e foi para a Inglaterra, para acompanhar a investigação. Ele ficou insatisfeito com o depoimento de Sherlock Holmes, a respeito de que defendeu-se de uma tentativa de assassinato. Foi com muito temor, inclusive, que Estherescutou Holmes comentando sobre o dia que o Conde esteve em Baker Street, para pessoalmente ameaça-lo de morte.

-“Eu vou arrancar o seu fígado com os meus dentes e atirar ao Tâmisa!” – disse Holmes, em tom de deboche, imitando a voz grave e o forte sotaque de Conde. Esther escutava a tudo temerosa.

-“E o que você fez?”

-“Perguntei se ele queria chá, e ele me mandou à merda. Respondi que não queria conhecer seus estábulos, mas que agradecia o convite.”

-“Adonai, Holmes... O Conde é um homem perigoso, você não deveria zombar dele desta forma.”

-“Esther, minha Esther... Você faz alguma idéia da quantidade de ameaças que recebo todos os dias, aqui em Baker Street? Minha experiência só tem a revelar que aquele que ladra pouco faz para ser perigoso.” – ele disse, abraçando-a. – “Você precisa se libertar deste medo, está segura agora.”

-“Eu nunca me sentirei segura enquanto aquele homem estiver impune, circulando por onde bem entender.”

Esther estava dentro de um cabriolé, até Whitehall, e sentia arrepios só de pensar no Conde Ivanov atingindo Holmes de alguma forma. Ela precisava fazer alguma coisa.

Ela lembrou-se de uma idéia que tivera na noite passada. Ela tinha certeza de que Mikhail, um dos imigrantes que ela estava investigando nos últimos tempos, estava envolvida em negócios com o Conde Ivanov. Mais um peão insignificante no meio de um jogo de grnades proporções. Sua idéia era lançar um composto químico, quase imperceptível, sem odor ou cor, na soleira da porta da mansão onde o Conde Ivanov estava vivendo, nos arredores de Londres. Foi Holmes quem descobriu esse composto e comentou com ela. Nada melhor do que coloca-la em prática agora.

Mas para isso, ela teria que ir até a mansão do Conde.

Ainda que reconhecesse o perigo mortal da situação, ela decidiu ir até lá.

-Motorista, mudei de idéia. Shagford Street. – disse.

Depois de alguns minutos que voltou de sua casa, já com o frasco na bolsa, ela estava parada no trânsito cada vez mais caótico de Londres, e decidiu distrair-se, olhando para o lado de fora. Estava parada em frente a um grupo de moleques jornaleiros, que berrava aos quatro ventos uma notícia desagradável.

-Leiam, leiam! Sebastian Moran escapou da Pena Capital!

-O Coronel Moran foi condenado a 20 anos de prisão! Leiam no Times!

Oh, certamente Holmes não iria gostar de saber disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? Já temos um começo...

Parece que o casal está mexendo em um ninho de vespas... O Conde Ivanov soltinho por aí, nada satisfeito de ver Holmes matar seu filho e sair ileso dessa história, e o Coronel Moran, escapando da forca, sempre pode ser perigoso... É Holmes e Esther, isso é só o começo do que esse minha mente nada amigável está tramando para vocês, muahahaha

E pra quem está com saudades do nosso queridíssimo Watson, ele vai dar as caras no próximo epi.

Deixa um review, hein!!

BadWolf



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Sombra da Justiça" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.