A New Life in NY ll - We're the lucky ones escrita por Sam


Capítulo 10
Carrots and Peanuts




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O apartamento está cheio de pessoas para todos os lados. Chris está extremamente entretido jogando Xbox com Dan e Nate; Walter encontrou o novo amor de sua vida que é a cadeira gigantesca na varanda que dá para o Central Park; Amber , Michael e Philip estão há meia hora em uma séria discussão sobre qual é o melhor hambúrguer de Nova York; Blair e Serena estão na segunda garrafa do vinho que meus primos trouxeram da Austrália, enquanto Megan e eu estamos jogadas no sofá comendo uma das barcas gigantescas de sushi do Jewel Bako.

— Fiquei sabendo da grande novidade – Megan diz com a boca cheia.

— Que novidade?

— Você sabe, aquela novidade nenhum pouco importante que você não se deu ao trabalho de me contar... Sobre sua mãe trabalhar com a Burberry

— Ah – digo por falta do que responder.

Ela estreita os olhos:

— O que foi?

— Nada, é só que... Megan, como você ficou sabendo disso? – pergunto agora preocupada.

— Tia Penélope me contou, sua mãe não podia estar mais feliz, ela já contou para a família toda.

— E você contou para alguém?

— Não... – ela para e me encara com estranheza. – Liz, o que foi?

Suspiro:

— Minha mãe quer que eu vá com ela para Londres e... Eu ainda não sei se eu quero ir.

— Por quê? Isso é uma oportunidade incrível.

— Eu sei, mas... É complicado, só isso.

— Chuck?  – Ela me interroga. – Você acha que ele não vai te perdoar se for embora?

— Eu... Não sei. Talvez. Mas você não pode contar para ninguém, eu não quero que ninguém fique sabendo por enquanto.

— Mas ele vai entender, dessa vez não é mesma coisa.

Não falava com Chuck desde aquela noite na frente do Empire, mas o convidei mesmo assim para vir aqui hoje. Pedi para o Michael e o N fazerem o mesmo convite, porque talvez com um certa insistência ele acabaria vindo. Não veio. Pelo menos não até agora.

— Hoje é a inauguração do restaurante, ele provavelmente está ocupado – B falou quando eu percebi que ele não apareceria.

Mas eu sabia que não era por isso, porque meu irmão estava aqui e já estava tudo certo para hoje à noite. Então agora estou no sofá comendo toneladas de sushi e rindo do Dan que acabou de perder no jogo pela quarta vez em menos de dez minutos.

— Eu nem acredito que conheci alguém que é tão ruim quanto a Amber nesse jogo – Chris diz dando um soco no ombro dele.

— Ei! Eu não sou tão ruim assim – ela protesta interrompendo a discussão do hambúrguer.

— Claro, continua acreditando nisso.

Parecemos crianças, provavelmente mais do que na época de escola, quando tínhamos dezesseis anos e nos achávamos tão adultos. Tanta confiança dentro de nós.

Olho em volta por um momento e estamos bem. Em muito tempo parecemos estar bem. Todos nós. Pelo menos por hoje nossos problemas não estão aqui. Fazer companhia um ao outro tem sido o melhor remédio para nossas vidas.

— Passa a mostarda? – Megan me pede e ela espreme o tubo até o prato transbordar e sushis começarem a nadar.

— Eca, Megan!

Ela revira os olhos para mim:

— Preocupe–se com coisas mais importantes do que eu gostar de peixe cru com mostarda e comece a se preocupar se você tem mais dela na sua cozinha. Sério, vai ver se tem mais.

Começo a fuçar a geladeira na cozinha sem nenhum sucesso em encontrar qualquer coisa que não seja champanhe ou suco de cenoura. Minha mãe realmente precisa parar de tomar isso, coelhos ao redor do mundo agradeceriam.

Ouço alguém atrás de mim rindo e me viro.

— Chuck?

—x–

Chuck's POV

Flashback on (três dias antes)

Michael e eu estávamos finalizando os últimos problemas pendentes com o restaurante enquanto jantávamos o menu de treinamento que a cozinha preparara antes do grande dia.

— Então... Você vai? – ele pergunta enquanto assina o último documento.

— Aonde?

— O almoço na casa da Liz.

Fico em silêncio enquanto finjo que estou lendo o papel que ele acabara de me entregar.

— Não  – digo por fim.

— Por quê?

—Você sabe, nós brigamos.

— E daí? Vocês brigam o tempo inteiro quando estão juntos. Não acha que está na hora de amadurecer um pouco?

Flashback off

—x–

Hoje (dia da inauguração do restaurante - casa da Liz)

— Graças a Deus, Bass! O vinho da terra dos cangurus já estava acabando – Blair fala quando me vê parado na entrada com uma garrafa de vinho tinto na mão.

Ela pega a garrafa e finge analisar o rótulo enquanto sussurra: "ela está na cozinha".

Meu primeiro impulso é andar até lá. Correr talvez. Mas não posso, porque há um silêncio profundo na sala e todo mundo está me encarando. Parece então que ela comentou sobre mim para eles.

— Ei, Chuck! – Michael vem até mim e coloca o braço nos meus ombros. – Deixa eu te apresentar para todo mundo...

Cumprimento Chris, Walter e Amber. Incrível como uma sala cheia de Redfords pode ser um tanto intimidante. Quando finalmente consigo sair dali, percebo o quanto eu quero vê–la. Algo borbulha dentro no meu estômago e uma sensação estranha sobe até a minha garganta. Eu sinto falta dela.

Chego até a cozinha e ela está ali com a cara enfiada na geladeira. Encosto–me na parede enquanto a observo, ela pega uma jarra com um líquido laranja dentro, cheira, enruga o nariz e sussurra pra si mesma:

— Minha mãe realmente precisa parar de tomar isso, ela vai acabar ficando dessa cor.

Rio e ela se vira confusa.

— Chuck?

— Oi.

— Não é educado ficar bisbilhotando as pessoas, sabia? – ela diz enquanto joga o suco na pia.

— Pessoas loucas é quem falam sozinhas, sabia?

— Insinuando alguma coisa? Porque, sabe, seria uma pena se o resto do suco simplesmente caísse sobre o seu lindo cabelo castanho.

Aproximo–me do balcão:

— Então você gosta do meu cabelo?

— Eu acabei de te ameaçar e tudo o que você conseguiu ouvir foi isso?

— Você não teria coragem.

— Duvida? Duvida mesmo?

Ela contorna a cozinha em minha direção me ameaçando com a jarra.

— Você não faria isso... Liz...

— Não duvide de mim, Bass.

— Liz...

Então ela tropeça em alguma coisa e uma confusão de Liz, suco e cacos de vidro voam para todos os lados.

Olho para ela através da cortinha laranja que escorre de seu cabelo:

— Você é definitivamente louca.

Ela pisca algumas vezes tentando limpar os olhos e me olha por um momento até começar a rir. Uma risada lúdica, que me atinge, e não posso evitar fazer o mesmo.

— Desculpe – sua voz sai um pouco sem fôlego em meia a nossa histeria.

— Isso vai ter troco.

— Aguardando ansiosamente.

—x–

Liz's POV

— Srta. Liz, o que aconteceu? – Anne nos encara assustada.

Chuck e eu nos recompomos o máximo que podemos, não é tão fácil parecermos sérios caídos no chão todo sujo como duas crianças.

— Sinto muito, Anne. Não era a nossa intenção fazer essa bagunça. Nós...

— Vocês dois, banho agora!

— Eu posso te ajudar a limpar o chão...

— Por favor, Srta. Liz, olhe só para você. Está dez vezes mais suja que esse chão! – Ela nos joga uma toalha. – E limpem os pés antes de subirem as escadas.

Passamos pela sala com todos os olhos em cima de nós e posso ver Megan pelo canto olho abrindo a boca para perguntar.

— Não tinha mostarda na geladeira, Megan – respondo antes dela poder falar.

— E ketchup?

— Também não.

Ele me segue até meu quarto e estamos parados sem saber o que fazer, quando ele dá um passo em minha direção levando os dedos até o meu rosto e tira uma mecha de cabelo pegajosa da minha bochecha.

— Talvez eu devesse usar outro banheiro – o ouço enquanto se afasta de mim.

Demoro um pouco para entender até perceber que estávamos parados na frente do meu banheiro.

— Claro. O quarto de hóspedes, no fim do corredor. Você pode tomar banho lá.  – Ele assente e se vira para ir.

Tenho mil coisas na minha mente agora e...

— Chuck! – falo por impulso, talvez com mais entonação do que deveria, talvez dando a entender outra coisa. – Tem toalhas no armário embaixo da pia.

— Hm... Obrigado.

—x–

Saio do banho para me deparar com Chuck sentado na ponta da minha cama com uma toalha na cintura me encarando.

— Por que você está pelado no meu quarto?

Ele dá um sorriso malicioso:

— Talvez te dando algo a mais para pensar antes de dormir. – Eu arqueio a sobrancelha e ele ri. – O que você acha? Preciso de roupas limpas. Tem como você me arranjar alguma?

— Vou ver no armário do Julian.

Quando volto com uma pilha de roupas nas mãos ele está olhando as fotos na parede perto da varanda. Fotos do último ano em Sidney.

De costas para mim o observo, os cabelos molhados, as costas definidas... Ele era ainda mais lindo do que eu lembrava. Minha respiração falha um pouco.

— Parece que você se divertiu muito na Austrália.

— É, não foi nada mal.

— Você sente falta de lá? – ele pergunta despreocupado.

— Sinto mais falta das pessoas do que do lugar.

Ele fica quieto e analisa as fotos um pouco mais, então se vira para mim:

— Fico feliz por ter te feito bem esse tempo lá.

— Como você sabe que me fez bem?

— A gente não passa dois anos em um lugar que não nos faz bem.

Ele pega as roupas das minhas mãos:

— Obrigado – e volta para o outro quarto para se trocar.

Estamos ignorando a nossa briga de uns dias atrás. Mas acho que isso é o que mais fazemos: ignoramos. Ignoramos tudo. Fingimos que não sentimos o que estamos sentindo e que não temos perguntas. Talvez seja a hora de mudar, de amadurecer um pouco.

Então Chuck volta e franze a testa quando me vê:

— Está tudo bem?

— Você não está bravo?

— Por que estaria?

— Por eu ter ido embora de Nova York?

Ele parece surpreso com a pergunta, então sem jeito coloca as mãos nos bolsos da calça e se encosta do batente da porta:

— Logo depois de você ter ido, eu... Eu fiquei furioso. Mas eu entendo agora o por que de você ter feito isso. Eu quero dizer, tudo o que aconteceu... Não foi pouco. Não foi fácil. Se pra você essa foi a melhor maneira de lidar com tudo isso, eu respeito a sua decisão.

Ele para por um momento e encara o chão:

— Você voltou, isso é o que importa. Eu não achei que você voltaria.

— Você realmente achou que eu ficaria longe de Nova York o resto da vida?

— De Nova York não, de mim.

Não posso evitar em sorrir e ele faz o mesmo.

— A gente podia dar um tempo nas nossas brigas, você não acha?

Balanço a cabeça:

— Isso seria ótimo.

— E... Desculpe pela outra noite. A forma como eu agi... Eu estava fora de mim, eu sinto muito.

— Está tudo bem – sussurro.

— Certeza? Porque eu trouxe aquele vinho na esperança de te deixar bêbada para você me perdoar mais fácil. Eu posso ir lá e roubar ele de volta, se quiser – ele diz em tom brincalhão e eu rio.

— Bom, espero que esteja com fome, porque temos uma carga gigantesca de sushi do Jewel Bako lá embaixo.

— Achei que eles abriam só à noite.

— Digamos que há vantagens em ter um padrasto como o meu.

—x–

Chego ao Red Reign um pouco cedo demais, um garçom me oferece uma taça de champanhe e acompanhada da bebida me sento em uma das mesas do bar de frente para a gigantesca parede de vidro.

Olho para a cidade a minha frente. Ainda está entardecendo, o sol cria uma atmosfera alaranjada sobre Manhattan que aos poucos se desfaz com as luzes brancas e artificiais das ruas. A paisagem é bruta e cinzenta com concreto por toda parte, mas algo no meio de tudo isso torna a cidade um lugar mágico.

A festa de inauguração provavelmente iria durar até a manhã do dia seguinte e aos poucos o lugar ia se preenchendo. Aceitei minha segunda taça e um aperitivo de queijo brie. Continuo mexendo em meu celular, não queria atrapalhar Michael e mais ninguém que eu conhecia havia chegado, nem mesmo meus primos.

"Hey, Upper East Siders

Hoje é um grande dia para o nosso querido C, a inauguração de seu primeiro investimento e aquisição para o império que lhe foi deixado. Será que o nosso pequeno Bass vai decepcionar o papai? Todos nós sabemos que a pior parte de falhar é quando você decepciona aquele que te fez viver a vida inteira buscando por aprovação.

Xoxo, Gossip Girl."

 

O lugar está repleto de rostos não familiares e ao fundo é possível ouvir o som de um piano.

Então encosto–me no balcão enquanto bebo desta vez um cosmopolitan, talvez eu devesse relaxar.

— Liz!

Olho para o lado e Walter está me encarando com aquela expressão que ele faz sempre que algo dá errado: os olhos arregalados, a testa franzida, a boca aberta, as bochechas vermelhas e algumas gotas de suor escorrendo por seu rosto.

— O que você fez agora? – pergunto entediada. – Você pegou uma garota de dezessete anos outra vez? Quantas vezes eu vou ter que te dizer que não importa se ela está dando em cima de você, se ela é menor de idade e filha do Ministro da Embaixada, você vai precisar ficar longe dela.

— Eu não sabia que ela era de menor! Quantas vezes vou ter que repetir isso?

— Se o Ministro não devesse um favor para o meu pai, você teria sido deportado da Austrália. Da Austrália!

Ele continua parado e me encarando.

— Por favor, Walter, me diz que não foi nenhuma das filhas do Presidente. Porque isso a gente não vai conseguir resolver.

Ele balança a cabeça em sinal negativo.

— Walter! É tão difícil contar de uma vez?

— Eu... – ele abaixa o olhar e começa a respirar rápido demais. – Eu acho que eu vou vomitar.

— Vomitar? Walter do que você está falando?

— Liz! – ouço uma voz alegre e extremamente familiar vindo de trás de mim.

Viro e Jenny está vindo em nossa direção. Os cabelos mais longos e mais loiros do que nunca e que são destacados pelo vestido preto e estrategicamente decotado. Analiso ela dos pés a cabeça e sorrio com aprovação e ela sorri de volta feliz.

— Você está incrível, Little J.

— Obrigada. Mas e você? Um Redford da próxima coleção? – ela pergunta passando os dedos pela manga do meu vestido.

— Bom, ser filha de uma estilista tem suas vantagens. Mas e quanto ao seu vestido?

— Bom... Um Jenny Humphrey exclusivo.

— Bom, eu acho que vou querer encomendar um modelo para mim – isso a faz rir sem graça.

— Ah, Dan e Serena me falaram que... – paro de falar quando me lembro de alguém. – Desculpe, estou sendo mal educada – olho para o meu primo extremamente pálido e vermelho ao mesmo tempo. – Jenny, este é Walter, meu primo. Walter, esta é Jenny.

Os dois se cumprimentam e ela o encara como se tentasse se lembrar dele.

— Hey! Você é o garoto que me ajudou quando eu deixei minha bolsa cair na entrada do restaurante – ele assente. – Estava uma confusão lá na frente e eu nem tive a chance de te agradecer. Obrigada.

— Não foi nada.

— É...  Foi um prazer te conhecer, mas vocês dois estavam conversando e eu não quero atrapalhar. Só queria passar e... E dar um "oi".

— Tudo bem, a gente se fala depois.

Espero ela se afastar.

— Cara, o que há de errado com você? Por acaso é algum tipo de gripe?

— Não. Acho que não.

— Então?

— Eu... Eu acho que eu comi alguma coisa com amendoim.

— Mas... Você é alérgico a amendoim!

— Exatamente!

— Meu Deus, Walter!

— Para de gritar comigo! Eu estou morrendo!

— Cadê o seu irmão? Nós precisamos achar ele.

— Eu não sei, você não acha que se eu soubesse eu teria ido até ele?

— Então o que a gente faz?

— Eu não sei!

— Como você não sabe? A alergia é sua!

— E é por isso que eu nunca como amendoim, para eu não ter que passar por essas coisas!

— Am... Hospital. Vamos para o hospital.

— Está tudo bem aqui? – ouço uma voz atrás de mim perguntar.

Estou meio atordoada e, quando me viro, vejo Chuck parado ali parecendo um tanto confuso.

— O Walter precisa ir para o hospital – digo.

— Não, antes eu preciso ir ao banheiro.

Mesmo na pouca luz posso vê–lo ficando verde, amarelo, roxo, um pouco de cada e acho que C também pode ver porque está franzindo a testa mais e mais a cada segundo. Pego Walter pelo braço e puxo–o até o banheiro enquanto Chuck ajuda a abrir espaço pela multidão.

Agradeço mentalmente pelo banheiro estar vazio quando chegamos e ficamos do lado de fora para nos certificar de que ninguém entraria. Então pego meu celular e começo a tentar ligar para o Chris, mas ninguém atende.

Estou impaciente, inquieta e preocupada.

— Walter? – grito para saber se ele ainda está vivo. Ele sai do banheiro, mas volta em seguida para vomitar outra vez.

Acho que eu vou vomitar daqui a pouco também.

— O que ele tem?

— O quê? – pergunto confusa.

— Seu primo. O que ele tem?

Explico a situação do amendoim.

— E isso pode matar? – Chuck me pergunta e isso me deixa mais preocupada.

— Meu Deus, eu não sei. Walter?! – começo a gritar.

— Liz, você quer que eu chame um médico?

— Não, é mais rápido irmos até o hospital.

— Então vou chamar um carro – e ele sai correndo antes que eu possa falar qualquer coisa.

Estou à beira de um ataque de nervos.

— Walter? – bato na porta uma, duas, cinco vezes. – Por favor, não morre, Walter. Por favor.

Quando ele finalmente sai do banheiro seu rosto está vermelho e inchado e talvez eu não devesse estar tão preocupada, pessoas tem ataques alérgicos o tempo todo, certo? Não é nada demais. Ou talvez seja, como eu posso saber?

Então o levo para fora do restaurante e Chuck está lá nos esperando com um carro:

— Eu vou levar vocês ao hospital. Não consegui achar nenhum motorista...

— Mas a festa, – o interrompo – você precisa voltar.

— Você sabe dirigir, Liz? – balanço a cabeça em sinal negativo. – Então para de discutir.

— Mas a gente pode pegar um táxi.

— Sabe quão difícil é achar um táxi livre a essa hora da noite em um fim de semana?

— Eu ligo para o James.

— Mesmo que ele chegue aqui em cinco minuto, você acha que seu primo tem cinco minutos para desperdiçar?

— Então eu chamo um Uber.

— Você não sabe quanto tempo vai levar para um Uber chegar aqui, eu posso levar vocês. Entrem no carro logo.

No caminho começo a pesquisar o que posso fazer para melhorar o estado do Walter e não encontro nada.  A internet é um lugar inútil quando você realmente precisa dela.

Quando chegamos ao hospital, uma enfermeira o leva para dentro de um corredor e me faz ficar na sala de espera para preencher uma ficha. Como eu posso sentar e me preocupar em preencher uma ficha quando meu primo está sendo morto pelo próprio organismo por causa de amendoins?

Falo isso para Chuck, mas ele me faz sentar e preencher a ficha do mesmo jeito.

Termino e me afundo na cadeira com os olhos fechados.

— A enfermeira disse que é comum esse tipo de ataque alérgico, ele vai ficar bem.

Assinto.

— É só que... – começo a falar, mas preciso me concentrar na minha respiração, porque me sinto pesada e cansada demais para fazê–lo com facilidade.

Chuck pega minha mão:

— Eu sei.

E ficamos lá, os dois afundados naquelas cadeiras desconfortáveis, segurando a mão um do outro, pelo o que pareceu uma eternidade. Salas de espera de hospitais tem esse dom de transformar qualquer cinco minutos em dez anos.

Quando a enfermeira finalmente volta, ela nos diz que Walter está melhorando e logo poderá ir para casa. Então, consigo voltar a respirar.

Chris enfim vê minhas mensagens e logo chega com o mesmo olhar de desespero e preocupação que tive em meu rosto pela última hora.

 Assim que Wal sai para sala onde estamos, Chris corre até ele:

— Você está bem? De Verdade? Você não está mentindo? – eles se abraçam e, em dois segundos, Chris volta a ser o mesmo. – Você é idiota? Quantas vezes vou ter que te falar que não vai te matar perguntar se tem amendoim nas coisas antes de colocar dez na boca? Você por acaso quer viver em cativeiro? Porque se você não parar de fazer essas coisas é isso o que eu e a mãe vamos fazer com você.

Eu insisto em voltar para casa com eles, mas Walter continua repetindo que está bem e não precisa da ajuda de ninguém.

— O Michael vai ficar decepcionado se você não estiver lá, eu fico com o meu irmão e me garanto que ele vá dormir e não faça mais besteiras.

— Tem certeza, Chris? – ele assente. – Vou ficar a noite inteira com o celular na mão, qualquer coisa você me liga.

Chuck vira–se para mim enquanto os dois vão embora :

— Vamos?

— Vamos.

Penso que será desconfortável nós dois sozinhos no carro, mas não posso fugir.

— Então... Quando foi que você resolveu começar a dirigir? – pergunto enquanto ele dá a partida.

— Há mais ou menos um ano.  Muito tempo livre nas mãos, você sabe.

— Limonusines estão aposentadas?

— Pode–se dizer que sim. A não ser que eu ache uma desculpa para usar todo aquele espaço outra vez.

Nós rimos.

— Obrigada por ajudar hoje.

— Não foi nada.

— Foi muita coisa. Obrigada.

Ficamos em silêncio por um tempo, não sei mais o que dizer.

— Desculpa – ele quebra o silêncio.

— Pelo o quê?

— Pela outra noite, por eu ter gritado com você, por ter começado aquela briga.

— Está tudo bem.

— Não, não está. Eu não tinha nenhum direito de agir daquela forma. Se você está namorando aquele cara, fico feliz por vocês.

— Chuck, eu acabei de sair de um relacionamento, eu não estou com ninguém. Ele é filho de um amigo do meu pai, só isso.

— Estamos bem então?

— Acho que depois daquele banho de suco de cenoura não teria como não estarmos.

Ele ri.

— Que tal tentarmos nós dar bem? Sermos amigos de novo.

A pergunta me pega de surpresa, mas sorrio com a ideia:

— Isso seria ótimo.

Chegamos ao restaurante e cada um de nós vai para um lado, ele vai ver como as coisas estão indo na festa e eu para o bar.

— Onde você esteve esse tempo todo? – Blair pergunta se sentando ao meu lado. – Você e o Chuck...

— O quê? Não!

Ela arqueia a sobrancelha esquerda sem acreditar em mim.

— Já faz umas semanas que você e o Peter terminaram, você pode querer espairecer um pouco. Não estou te julgando.

Reviro os olhos e conto o que aconteceu.

— Meu Deus! Minha versão pode não ter acontecido, mas é tão melhor... Bom, não significa ainda que não possa acontecer.

— Vamos mudar de assunto, por favor.

— O que eu perdi? – Serena pergunta enquanto pede três drinks para nós.

— A noite nem começou e alguém já conseguiu ir parar no hospital – B responde.

— Eu quero saber o que aconteceu?

— Acredite em mim, não. Você vai achar que a Liz e o Chuck finalmente transaram, mas não foi o que aconteceu.

— Ignore ela, S.

O barman trás nossas bebidas e nós as viramos de uma vez.

— Então, – Serena fala – vai ter um show semana que vem e uma festa depois. Vocês querem ir?

— Show de quem?

— E isso importa desde quando? – Blair me pergunta. – Você esteve fora por muito tempo. O que importa é a bebida, a festa, a música é uma pequena parte da experiência – reviro os olhos. – Estaremos lá, S.

— Ótimo! Precisamos de uma noite só para as garotas.

Pedimos a próxima rodada.

— Um brinde a nós – Blair levanta seu copo.

— A nós.

Conversamos sobre nossa semana, faculdade, as aulas loucas que temos e nos divertimos com as aventuras de Serena vivendo no dormitório da Brown University.

Depois das degustações e do jantar principal eu vou até a cozinha procurar Michael:

— Ei, alguém deveria estar aproveitando a própria festa.

— E alguém precisa se certificar de que nada esteja pegando fogo.

— Você se preocupa demais, a festa está sendo um sucesso, o jantar foi perfeito, o bar está impecável e eu nunca vi tanta gente postar foto de comida no Instagram ao mesmo tempo. Todo mundo ama você.

— Você está exagerando.

—Não estou. Eu juro que hoje eu ouvi todo tipo de elogio que existe no dicionário. – Ele revira os olhos. – Você quer que eu faça uma lista? Extraordinário, inacreditável, magnífico, estupendo, admirável, esplendido, surpreendente, insólito, mirabolante, fantástico, raro, inédito, fascinante, estonteante, deslumbrante, impressionante, encantador, notável, admirável, sensacional, prodigioso...

— Ok, agora respira! E prodigioso é você ter bebido o que eu vi você bebendo e conseguir pensar rápido desse jeito.

— O que eu posso dizer? Sou incrivelmente resistente a álcool.

Ele sorri e pega um prato nas mãos:

— Sobremesa?

— Óbvio.

— É um bolo de ameixa preta com vinho, lascas de coco fresco e um toque de chá Earl Grey.

— Você colocou chá no bolo?

— De nós dois quem está abrindo um restaurante? Só experimente.

Mike volta a supervisionar os outros cozinheiros e eu devoro o pedaço de bolo mais incrível que eu já provei. Ele merece tanto esse restaurante.

A festa está tão cheia quanto poderia estar, a musica ao fundo é ótima e o efeito do álcool em mim começa a passar aos poucos e posso agora sentir meus pés me matando de dor por causa do salto. Então volto para o lugar que havia passado quase a noite toda, sentada no bar.

Pego meu celular e verifico com o Chris se Walter está bem, rolo meus feeds de algumas redes sociais e metade deles se resumem a hoje à noite.

— Oi – me viro e ele está ali parado ao meu lado.

O cabelo ainda perfeitamente no lugar, a camisa branca entreaberta, a calça justa nos luares certos, o paletó aberto, sem gravata.

— Oi – digo com um sorriso.

— Está aproveitando a festa? – ele pergunta se sentando ao meu lado no balcão do bar

— Confesso que mais do que eu esperava.

Ele pede um uísque e me encara:

— E ela vai querer um cosmopolitan.

Ergo uma das sobrancelhas:

— Você é muito presunçoso, sabia?

— Ou talvez eu apenas saiba o que você gosta. Você queria um cosmopolitan, não queria?

Reviro os olhos:

— Minha morte antes de te responder isso.

— Por que você é tão teimosa, Redford?

— Por que você é tão convencido, Bass?

— Odeio quando você me responde com outra pergunta, sabia?

Assinto:

— Eu gosto de te irritar.

Ele ri e levanta seu copo de para um brinde:

— A um futuro onde um Bass e uma Redford possam ser amigos.

—x–

O quarto ainda está escuro quando abro meus olhos e encontro Amber parada ao lado da cama olhando fixo para mim. A cena é um tanto assustadora, mas para mim apenas soa estranha. Coço meus olhos e aos poucos eles se ajustam a pouca iluminação do quarto.

— O quê? – pergunto com a voz abafada enquanto me viro para o outro lado e afundo meu rosto no travesseiro.

— Você precisa acordar. Agora.

— Não. Nem amanheceu ainda.

— Não importa.

Gemo de preguiça e puxo o cobertor até a cabeça.

— Liz... Escuta, tem alguém aqui.

— Há essa hora?

Ela arranca a coberta de mim e a encaro nervosa:

— Eu quero dormir, Amber! Mande quem quer que esteja aqui embora.

— Eu não posso fazer isso.

Sento na cama nenhum pouco feliz:

— Quem é?

— Acho melhor você ver por si mesma. Não quero ficar no meio disso. – Estreito os olhos. – Liz, apenas desça as escadas, por favor.

Bufo e me levanto, estou tão cansada que nem me preocupo em colocar um robe ou algum sapato.

A luz da sala está acesa, posso ver pelo feche de luz nas escadas. Chego ao último degrau e levo alguns segundos para me ajustar a luz pesada e, quando o faço, não vejo ninguém que esperava ver. Meu coração salta como se pudesse pular do meu peito e, de repente, para – sem mais nem menos minha circulação para.

Os cabelos queimados de sol, a pele bronzeada, os olhos brilhantes, aquele rosto que até pouco tempo era parte comum da minha vida, aquele corpo que eu era tão acostumada...

— Peter? – pergunto, porque não confio tanto na imagem a minha frente ou em minha sanidade no momento.

— Oi – a voz soa leve e feliz e me lembra a voz com que ele costumava me acordar na maioria das manhãs.

Fico parada, não sei o que dizer, o que fazer, o que pensar. Apenas o encaro não sabendo se o que vê–lo me causa é bom ou ruim.

Ainda estou parada no último degrau das escadas, segurando o corrimão com força, não consigo me mexer.  Estamos nos olhando sem dizer nada.

Ele dá um passo em minha direção e meu instinto é recuar, mas apenas cruzo meus braços como se isso pudesse criar uma barreira entre nós.

Então o vejo abrir a boca para falar alguma coisa, mas muda de ideia. Desviamos nossos olhares e continuamos no silêncio.

— Sabe, – ele finalmente diz e meu coração entra em uma odisseia de sentimentos – você não precisa se proteger de mim.

E devagar ele anda três passos até estar parado a minha frente e com calma e incerteza, toca minha pele – um toque estranho e quente, que ainda me faz arrepiar.

Peter me olha perguntando se é demais, se ele deve parar. Digo que não. Então suas mãos aos poucos desentrelaçam meus braços.

— Podemos conversar?

Como eu poderia dizer não?

— Claro – respondo balançando a cabeça.

Ele sorri e eu quero aquilo:

— Por que não vamos para o meu quarto?

Pego sua mão e o levo para o andar de cima. Depois de tudo, ele ainda é o Peter que eu conhecia tão bem, bem até demais e ele estava ali na minha casa, do outro lado do oceano da casa dele e... Ele também queria aquilo, ele também precisava. Não dá para largar tão fácil uma coisa que fora constante por tanto tempo.

Não havia nenhuma razão para não fazermos aquilo. Pelo menos não em alguma que um de nós pudesse pensar.

Qualquer desconforto logo passa, porque quando o vejo ali sorrindo para mim na porta do meu quarto... Eu não sei o que acontece.

Ele passa um dos braços pela minha cintura e me puxa para o mais perto possível, eu o beijo e sinto seu coração acelerado como sempre fica quando estamos tão perto assim. Sinto seu corpo em mim, sua pele quente, seu perfume.

Peter me carrega até a cama e eu fico deitada enquanto o observo tirar a camisa.

— Eu senti a sua falta – ele sussurra em meu ouvido.

— Eu também senti – digo enquanto ele beija o meu pescoço.

Não sei se é realmente verdade, mas não me importo.


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