Era uma típica manhã de verão no distrito 4. Era bem cedo, mas eu já estava pronta para a colheita. Um vestido verde sem mangas, meu longo cabelo preto com mechas azuis preso num coque com alguns fios soltos, botas pretas e um bracelete prateado no meu pulso esquerdo. Luke e eu estávamos caminhando pela praia. Aquela era uma cena difícil de imaginar: Luke de terno cinza e sapatos sociais pretos, com os cabelos louros penteados pra trás. Não pude deixar de rir.

– Do que você está rindo? –pergunta ele, fingindo estar irritado- É porque estou parecendo um bobo?

– Você não está parecendo um bobo –eu digo, rindo- É que não é normal ver você todo arrumado desse jeito. É muito diferente, mas ficou bom.

– Se você queria me elogiar, obrigada. Você também está linda –diz ele, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha- Mais linda que o normal.

Eu corei e sorri timidamente. Luke era meu melhor amigo desde que éramos crianças, e tínhamos começado a namorar há poucos meses, depois dele ter sido campeão dos Jogos Vorazes. Eu estava feliz, exceto pelo fato de que esse era meu último ano na colheita.

– Então –eu disse, mudando de assunto- Como você acha que vai ser esse ano? Será que temos alguma chance de ganhar?

– São as mesmas chances de sempre –diz ele, sério- Uma em doze. Mas eu estou cansado disso, Danika. Todo ano a mesma aflição. Meu maior sonho é que os Jogos acabem.

– Isso só vai acontecer no dia em que a Capital cair –respondo- Os Jogos são a maior forma de dominação deles sobre nós.

– Mas isso vai acontecer logo. Eu tenho esperança nisso. É tudo o que eu tenho: esperança

– Então somos dois –eu sorri, tentando animá-lo

Ele retribuiu o sorriso e me abraçou. Ficamos abraçados durante alguns segundos, até que Luke levanta o rosto e me beija. Foi um beijo rápido, mas intenso. Ele me olha e fala:

– Acho que está na hora. Daqui a pouco começa a colheita.

– E que a sorte esteja sempre a nosso favor –respondo.

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Fomos para a praça central, que não era muito longe da praia. Eu fui para o lado onde ficavam as meninas, e vi meu irmão Thomas no lado dos meninos. Tivemos uma rápida conversa por olhares e nos concentramos na Colheita. Thomas e eu éramos gêmeos, e eu era três minutos mais velha que ele. Tínhamos os mesmos cabelos escuros e os mesmos olhos verdes. E tínhamos o mesmo ódio pela Capital e pelos Jogos. Muitos dos garotos estavam nervosos e ansiosos para serem sorteados, afinal, treinaram para isso a vida inteira. Até mesmo as garotas estavam ansiosas, prestes a levantar a mão e se oferecerem como tributos. O prefeito começa repetindo toda aquela chatice da formação de Panem, da rebelião dos distritos, os dias escuros, a destruição do 13 e o início dos Jogos. Então Krystal Carter, acompanhante do 4, começou a falar com aquela voz aguda irritante e aquela peruca roxa assustadora.

— Feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre ao seu favor!

A mentora do 4, Mags, estava sentada perto do prefeito. Ela tinha um olhar calmo e acolhedor, como se estivesse pronta para defender qualquer um a qualquer instante. Krystal caminha até o aquário com o nome dos tributos femininos, mexe um pouco e tira um papel.

– O nome do tributo feminino é... Danika White.

Eu paralisei. Não sei se foi por surpresa, medo ou porque estava esperando que alguma garota se voluntariasse. Claro que eu estava fisicamente pronta pra isso, treinei a vida inteira. Mas a minha mente nunca estaria pronta o suficiente para isso. Caminhei devagar até o palco, senti minha respiração falhando e meu coração acelerado. Com quem eu iria disputar? Qual seria o garoto do meu distrito com quem eu teria que lutar pela minha vida? Ela tirou o papel do outro aquário e deu a resposta que eu não queria para a minha pergunta.

– E o tributo masculino é... Thomas White.

Aquela foi a única vez que eu vi todo o distrito 4 em absoluto silêncio. Todos ficaram em estado de choque, principalmente eu. Eu teria que lutar pela minha vida contra meu próprio irmão. Eu podia ouvir as batidas do meu coração e estava sem ar. Thomas subiu ao palco e começou a tocar o hino de Panem. Só consegui ouvir o primeiro verso e encarar aquela multidão por dois segundos antes de perder os sentidos.