Maga, Bruxa ou Semideusa? - Hiatus escrita por Marina Leal


Capítulo 27
Capítulo 27 - Explicações


Notas iniciais do capítulo

devido a um pedido resolvi postar o próximo hoje (excepcionalmente)
Beijos



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Estávamos voltando para casa. Eu mal conseguia acreditar!

Depois de sairmos do museu de Bristol e limparmos nossas roupas da camada de areia branca e fina que nos cobriu ao atravessarmos o portal eu quase me senti esperançosa de que poderia ter minha vida normal de volta.

Era tão bom estar em Londres, em um lugar familiar. Agora só faltava irmos para casa e tudo estaria bem.

O sol já estava alto, embora tivéssemos saído bem cedo do acampamento. Voltamos para o bairro de ônibus, já que por motivos óbvios Quíron não poderia ir de táxi.

Por mais que a viagem estivesse tranquila, Liz e Linda agiam como se pudessem ser atacadas a qualquer momento (agora que parei para pensar sobre isso, a verdade é que elas sempre agiram assim quando estávamos juntas com Peter, eu é que não havia notado antes).

Meus pensamentos vagaram sem coerência durante a viagem até que me lembrei de Peter.

Ai meus deuses! Peter!

Senti meu coração acelerar apenas com o pensamento. O que eu diria para ele? O que as meninas diriam? E agora, será que não era mais seguro para ele ficar longe da gente?

Fiquei tão ansiosa com a ideia de reencontrar meu amigo que nem percebi que estava na hora de descermos, foi preciso que Liz me beliscasse para eu recobrar a noção das coisas ao meu redor.

– Ai! – Reclamei ao sentir a dor invadir o lado direito do meu braço.

– Acorda Nat! Chegamos. – Ela falou me olhando com preocupação. – Você está bem?

Dei de ombros e fiz um esforço para sorrir.

– Estou tentando levar tudo numa boa. – Respondi ao pegar minha mochila e soltei um suspiro. – Acho que passar dois dias no acampamento me fez ver as coisas de uma maneira diferente.

– Diferente bom ou diferente ruim? – Ela perguntou franzindo as sobrancelhas e mordendo o lábio inferior, do jeito que costumava fazer quando ficava ansiosa.

Hesitei por um momento.

– Acho que diferente bom. – Respondi por fim e ela sorriu antes de parecer preocupada novamente. – O quê?

– Dois dias? Pensei que você tinha ficado quatro dias no acampamento.

– Ah! É que passei dois dias desacordada. – Comentei em tom casual e Liz piscou.

Antes que ela tivesse chance de comentar algo minha mãe veio até nós.

– Podemos ir? – Perguntou. – Ainda temos algumas quadras para andar.

– Sim, podemos. – Respondi e olhei ao redor. – Onde Linda e Quíron estão?

– Foram na frente, eles falaram algo sobre uma mensagem de Íris, acho que é isso. – Mamãe respondeu e eu assenti, embora nunca tenha visto aquilo pessoalmente sabia mais ou menos o que era.

Não falamos nada enquanto caminhamos, mamãe segurava minha mão com tanta força que chegava a machucar um pouco. Liz me olhava como se estivesse analisando quem eu era naquele momento, admito que nem eu sabia.

– Até segunda. – Minha amiga falou quando chegamos à rua onde ela morava.

– Até segunda. – Respondi e a abracei. – Não se preocupe nada mudou, ainda sou a mesma pessoa.

– Eu sei Nat. – Liz murmurou e me soltou parecendo triste. – Mas essa que você é Nat vai ter que aprender a lidar com tudo o que está acontecendo, e mais cedo ou mais tarde vai mudar. – Liz suspirou e tentou sorrir. – Até mais.

Então ela se afastou, as palavras de Liz deixaram um sabor amargo na minha boca, eu não queria admitir que ela estava certa e somente quando minha amiga sumiu de vista foi que me virei para olhar minha mãe.

– Temos que conversar. – Ela falou seriamente antes que eu pudesse dizer algo. – É muito importante.

Concordei com a cabeça e seguimos para casa.

*****

Foi tão reconfortante estar em casa que eu quase não me importei com a expressão de velório que mamãe tinha ao olhar em volta, acho que estava ficando insensível às coisas.

Subi as escadas e fui para meu quarto, tudo estava do jeito que eu deixei. Minha mochila no pé da cama, minha jaqueta no cabide e vários desenhos colados nas paredes.

Sentei na cama e esperei que tudo o que eu passei me atingisse. Não demorou muito, logo eu estava chorando e enrolada como uma bola sobre meus cobertores, talvez eu não estivesse tão insensível assim.

Eu não queria aquilo para mim. Não. Não. Não.

Olhei para minha mesinha de cabeceira e um pequeno brilho prateado me chamou a atenção, rapidamente identifiquei o que era: a pulseira que Peter havia me dado de aniversário.

– Ah, eu deixei em casa quando tive que ir para o acampamento. – Murmurei lembrando do último dia que passei em Londres e estremeci com a memória.

Pensei um pouco ao fitar os pequenos pingentes: o pégaso representava o acampamento e minha vida como semideusa; o símbolo que Liz deu a Peter era a minha fração como maga e o chapéu pontudo, mesmo que Peter nem desconfiasse, era a minha porção bruxa.

– Você faz ideia de quão irônica você é sua danadinha? – Falei em voz alta e acabei soltando uma risada. Não era um bom sinal falar com objetos inanimados.

– Natália? Você pode vir aqui? – Mamãe chamou e eu respirei fundo ao fechar a mão ao redor da pulseira.

– Já estou indo! – Respondi enquanto descia as escadas rapidamente, minha mãe esperava por mim sentada no sofá.

Eu podia sentir minha fobia por sofás começando a nascer ao ver aquela cena. Fiz um esforço e sentei ao lado dela.

– Acho que devo algumas explicações a você, não é mesmo meu bem? – Ela começou em voz baixa, mamãe raramente se exaltava e quando ela o fazia não havia força nesse mundo que poderia pará-la.

Concordei com a cabeça.

– Por onde você gostaria que eu começasse? – Perguntou e eu pensei por um momento.

– Explique porque não me contou que é uma Maga. – Pedi.

Ela acenou levemente com a cabeça e deu um suspiro pesado antes de começar:

– Nat, meu amor, quando eu descobri que estava grávida de você, seu pai foi me procurar. Ele me contou o que era e eu revelei a ele sobre minha vida como Maga Egípcia. – Ela disse ao afagar meu rosto. – Quando percebi o que você poderia se tornar eu tive que fugir da Casa, nenhum Mago poderia saber que você existia.

– Então o papai não sabia o que você é?

– Não, no começo ele pensou que eu era apenas uma mortal que podia ver através da Névoa. – Ela falou. – E nem eu sabia que ele era um deus. Se eu soubesse não teria me envolvido com ele...

Mamãe me olhou alarmada e eu senti como se algo tivesse apunhalado meu coração. Ela estava dizendo que preferia não ter se envolvido com meu pai? Que não queria que eu tivesse nascido?

– Nat, amor, não quero dizer que me arrependo de ter tido você, mas a Casa não aceita que magos se envolvam com deuses que não os egípcios. – Ela se apressou em explicar. – Crianças iguais a você são consideradas um perigo, esse foi um dos motivos para eu não ter contado nada sobre os magos, eles teriam tirado você de mim assim que você nascesse, ou se descobrissem o que você é, então eu fugi e para eles eu havia apenas sumido do mapa sem motivo. A cada ano que passava eu tentava me convencer que não precisaria te contar a verdade, afinal ninguém sabia da sua existência.

– Mas... – Comecei e ela fez um gesto para que eu esperasse.

– O outro motivo para eu não contar foi porque seu pai me pediu. – Ela respondeu e eu fiquei confusa. – Não se chateie meu amor, mas Apolo queria que o risco de você herdar a magia egípcia fosse o mínimo e para isso era melhor que você não soubesse o que eu sou, o que você poderia ser.

Ela parou e eu a olhei, lágrimas escorriam por seu rosto, não consegui me conter e a abracei.

– Por que eu sou um perigo? – Perguntei em voz baixa e os braços dela ao meu redor enrijeceram.

– Porque você, assim como alguns dos semideuses no acampamento, pode interferir em dois mundos distintos. Isso amedronta alguns líderes de nomos, pois os poderes que você possui são mais fortes do que imagina.

– Isso é ridículo! – Exclamei. – Eles têm medo de crianças iguais a mim por medo de perder o poder que possuem?

– Nat, meu bem, o poder é tudo para algumas pessoas. – Mamãe disse seriamente. – Alguns magos não ficaram contentes em saber que eu tive você e exigiram uma severa punição para mim ao descobrirem que o motivo do meu desaparecimento da Casa da Vida foi porque eu tive uma filha com um deus grego.

– O quê?! – Perguntei. – Eles não puniram você, não é?

Ela baixou o olhar e eu sabia que sim, eles haviam punido minha mãe apenas porque ela havia dado a luz a mim.

– O líder da Casa relutou em me punir, ele é estranhamente a favor dos Magos que também são Semideuses, porém muitos nomos o pressionaram e foi por isso que eu tive que renunciar aos meus poderes como Maga Egípcia por certo tempo.

Meu queixo caiu. Eles não podiam fazer isso com a minha mãe! Não agora que ela havia se libertado do segredo que a forçava a esconder uma parte tão importante dela.

Ela acariciou meu rosto.

– Não se preocupe meu amor. Isso não chega nem a ser uma punição para alguém que passou dez anos sem usar magia, um ano vai ser quase fácil.

– Mas é uma parte da senhora que está sendo obrigada a ser reprimida. – Argumentei e ela sorriu. – E tudo por minha causa. Não é justo!

– Tudo o que eu faço, é por você Natália. – Ela disse e fez uma careta ao parecer lembrar de algo. – Porém os magos exigem que você faça um período de treinamento em um dos nomos, como prova de boa fé, falei que você ficará sob os cuidados dos líderes do nomo do Brooklyn, os outros concordaram com a ideia.

Fechei a cara e a soltei.

– Não sei se quero ter algo a ver com eles. – Falei. – Pelo que vi no acampamento você não será punida por ter me gerado.

Mamãe riu.

– Eu sei meu amor, mas o acampamento é o acampamento. E eu respondo às regras dos magos, agora você também, porém você também é semideusa e os dois lados devem entrar em um acordo em relação a você. – Ela piscou um dos olhos para mim. – Essa é uma das muitas vantagens que você possui.

Eu sorri.

– Será que tudo vai dar certo? – Perguntei. – Sinto que posso ser esmagada a qualquer momento, afinal ainda tenho que ir para aquela escola.

– Nat, você é forte e tem amigos maravilhosos. Pode ter certeza que tudo vai dar certo!

– Mesmo na escola?

– Mesmo na escola. – Ela afirmou. – Você vai se sair bem e fazer novos amigos.

– Eu acredito se a senhora acreditar. – Falei com um sorriso. – Agora, acho que estou com fome.

Ela soltou uma risada e fez um gesto para que eu a seguisse até a cozinha.

É, talvez minha mãe estivesse certa, eu ia conseguir.


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Notas finais do capítulo

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