Enquanto andava acabei esbarrando com Nico no lago de canoagem.

– Ei! Oi Nat! – Ele falou e eu sorri.

– Oi Nico, está indo para onde?

– Voltando para o chalé. Até depois.

– Ah, está bem, até. – Falei e ele se afastou então uma luz de uma ideia surgiu acima da minha cabeça e corri atrás dele. – Nico! Espera!

O filho de Hades se voltou para me olhar.

– O que foi?

– Você viu a Linda por aí? Não estou conseguindo encontrá-la. – Falei e deixei escapar um suspiro quando ele sacudiu a cabeça negativamente.

– A última vez que eu a vi foi ontem, quando ela tentou entrar no chalé sete, mas foi impedida. – Ele respondeu e revirou os olhos antes de notar minha expressão de confusão. – Parece que seu chalé está em pé de guerra com as crianças de Afrodite.

Franzi a testa ao lembrar do comentário de Marcus na minha primeira noite no acampamento: Não se meta com eles, os filhos de Afrodite podem ser bem cruéis, acredite em mim.

– Tudo bem, obrigada pelo aviso, vou continuar procurando pela Linda mesmo assim.

– Está bem, se encontrar com ela aviso que você está procurando por ela. – Concordei com a cabeça e ele se afastou na direção dos chalés.

Olhei brevemente para o lugar onde o chalé dela ficava, mas logo descartei a ideia de que seria bem vinda lá se aparecesse de surpresa, mesmo que Linda fosse minha amiga e Fernanda parecesse ser uma pessoa legal.

Gastei todo meu tempo livre procurando por Linda, mas nem sinal dela, por fim a trombeta de concha anunciando a hora do jantar soou e eu voltei para o chalé. Nem Will nem Molly comentaram sobre minha expressão enquanto subíamos a colina até o pavilhão do refeitório.

Durante o jantar eu estava exausta, mas feliz, ou pelo menos quase. O dia tinha sido muito interessante, apesar de não ter visto nenhum sinal de Linda, será que ela havia voltado para a escola?

Minha pergunta foi respondida durante o torneio de vôlei, pois Linda veio para o meu lado, seu rosto demonstrava toda a raiva que sentia, seus olhos inchados me disseram que ela esteve chorando.

– Oi Linda! – Falei sorrindo para ela.

– Precisamos conversar. – Ela falou friamente e eu me encolhi do olhar que ela me lançou.

– Tudo bem. – Falei.

– Não aqui, vem comigo. – Linda falou e eu a segui quando ela começou a se afastar, Molly segurou minha mão, seus olhos me questionando se eu queria que ela fosse comigo, mas eu balbuciei um “ta tudo bem” e me afastei sem olhar para ela.

Linda me levou até o limite do bosque, não falou nada durante o caminho inteiro, apenas olhou para trás para ter certeza que eu a estava seguindo.

Então ela parou e olhou para mim. Fiquei em silêncio esperando que ela falasse primeiro.

– Fiquei sabendo que o instrutor de esgrima falou com você. – Ela disse com ar acusatório, eu não a culpava, passamos o dia inteiro sem nos falar. Tirando os dias que passei apagada.

– É, falou. – Murmurei. – Nada demais.

Meu comentário apenas liberou a enxurrada de palavras que ela parecia estar prendendo.

– Não é nada demais? Você sabe quão preocupada eu fiquei sem notícias suas por dois dias? Você tem alguma ideia do que me fez passar? Você sabia que eu fui expulsa do seu chalé quando passei por lá para ver como você estava? Nem pude ver você! E então vem alguém e me fala que a minha melhor amiga estava andando pelo acampamento e nem se deu ao trabalho de procurar por mim!

Ela estava praticamente gritando e chorando ao falar comigo. Logo eu estava chorando também, mas ninguém, nem mesmo minha melhor amiga ia gritar comigo daquele jeito quando ela não sabia nem da metade.

– Eu procurei por você! – Falei em minha defesa entre as lágrimas que caíam, praticamente gritando também. – Durante o café da manhã olhei para sua mesa, mas você não estava lá! A cada horário que passava eu procurei você na turma, mas em nenhuma delas você estava! No meu horário livre procurei você em todos os lugares! Perguntei do Nico, mas nem ele sabia!

– Pensou em procurar no chalé? – Ela perguntou.

– Pensei! Mas o Nico me falou o que aconteceu com você, eu pensei que se eu aparecesse por lá poderia receber o mesmo tratamento que meus irmãos deram a você! – Então eu parei e continuei chorando, minhas palavras seguintes quase ininteligíveis. – Mas em todo esse dia eu senti sua falta, senti falta de Liz e Peter também, mas é você quem está aqui comigo e não sabe a falta que me fez!

Ela ficou quieta e me deixou chorar, percebi que não estava chorando apenas de saudade dela, mas da minha antiga vida também.

– Desculpa Nat. – Ela murmurou depois de algum tempo. – Eu não sabia que você estava se sentindo assim.

– Só se você me desculpar também. – Falei e olhei para ela. – Eu devia ter tido coragem suficiente para ir até o seu chalé, você merecia a tentativa.

Ela sorriu.

– Desculpas aceitas. – Disse e eu sorri de volta. – Acho que agora é hora da cantoria em volta da fogueira, vamos?

Sorri e concordei com a cabeça.

– Vamos. Aliás, como foi o seu primeiro dia oficial no acampamento?

– Foi legal. – Falei e comecei a contar com detalhes como havia sido enquanto seguíamos para o anfiteatro.

Ela pareceu realmente surpresa com o fato do garoto, Kevin, ter falado comigo.

– Normalmente ele só fala com alguns do acampamento e a Fernanda, e mesmo assim os dois faltam começar a lutar. – Linda comentou sacudindo a cabeça enquanto meus irmãos cantavam ao redor da fogueira eles bem que tentaram me puxar para o meio, mas eu não quis, por fim acharam melhor me deixar quieta no meu canto. – Entendo o choque de todos, mas não é como se o garoto fosse algum tipo de monstro ou sei lá, a Annie me disse que ele é legal se tiver a oportunidade de conhecê-lo.

Eu soltei uma risada divertida.

– Bem, talvez eu possa apresentá-lo a você, se ele voltar a falar comigo.

– É, pode ser. – Linda falou com um leve sorriso antes de voltar seu olhar para as chamas da fogueira.

Meus irmãos cantaram até cansar, então Quíron nos mandou de volta para os chalés, foi só aí que novamente notei a falta de alguém na fila dos filhos de Apolo.

– Onde o Logan foi? – Perguntei assim que entramos no chalé e meus irmãos desabaram nas cadeiras mais próximas.

– Você já perguntou isso, mas tudo bem, ter uma boa memória não é um dos muitos dons que nós, filhos de Apolo, temos, deixamos isso para os filhos de Atena. E respondendo novamente à sua pergunta, ele voltou para a escola. – Will respondeu parecendo cansado, mas mesmo assim conseguindo dar um pequeno sorriso. – Só veio para a queima da mortalha do Ian, como alguns outros que também já partiram.

Assim como a Annie e o Mark. Pensei e concordei com a cabeça ao me lembrar de realmente ter perguntado sobre meu irmão irritante mais cedo.

– Entendi. Vou tomar banho. – Falei, todos apenas assentiram e foram na direção da gaiola com os ratos que o papai deu de presente.

Dei de ombros e segui para o quarto que dividia com Molly, tirei o cinto do cós da bermuda, os óculos da minha cabeça e fui para o banheiro.

Assim que estava limpa, me vesti e deitei para dormir, mas antes de apagar completamente pensei em minha mãe, em Liz, em Peter, nos nossos colegas de escola.

– Sinto saudades pessoal. – Murmurei ao fechar os olhos.