Te Odeio Por Te Amar escrita por TamY, Mazinha


Capítulo 52
Capítulo 52 - "Preocupada"


Notas iniciais do capítulo

Oie meninas, aí está mais um capitulo :) Que desfrutem !
Boa leitura! :*



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* Paulina narrando *

Acordei muito mais cedo que de costume, na verdade, quase não consegui pregar o olho a noite inteira, apesar do cansaço. Minha mente estava agitada e não me deixava dormir, não parava de pensar no que aconteceu na noite anterior e, para piorar, me veio à tona um pesadelo que tive quando estávamos na fazenda.

“[...]...não pude evitar sentir um encantamento por você Paulina, mas eu não sou homem de uma só mulher. Não sei ser fiel, tampouco um pai de família... Não sou o homem indicado para você!...

Foi apenas um sonho, mas parecia tão real, e essas lembranças agora ecoavam a minha mente. Tentei evitar pensar besteiras, mas a voz daquela mulher me rondava repetindo o que me disse.

Levantei-me em completo silencio para não despertar Carlos Daniel, tomei um banho e me arrumei para o trabalho, ele nem sequer se moveu, estava sob efeito dos remédios fortes, e eu agradeci mentalmente por isso. Precisava realmente sair de lá sem ter que falar com ele.

Minha cabeça parecia querer explodir de tão dolorida, fui o caminho inteiro pensando em como faria para não me importar com os últimos acontecimentos, estes teriam que ser insignificantes para mim, mas algo me incomodava.

– Bom dia, senhorita Paulina! – Disse Branca ao me encontrar na portaria da fábrica, ela sempre chegava primeiro que nós. – Chegou muito cedo hoje.

– Bom dia, Branca! Sim, preciso resolver muitas pendências hoje. – Respondi com um meio sorriso.

– Está tudo bem? Parece meio abatida.

– Ér... Sinto uma dor de cabeça muito forte, tive uma noite meio difícil.

– Eu entendo. Não se preocupe, vou levar um remédio para a dor e também um café forte. – Ela disse gentilmente.

– Obrigada, Branca! – Lhe sorri e segui em direção a minha sala.

A fábrica está indo bem, entramos com pedidos de novas máquinas, investimos em produtos mais modernos e mais econômicos e também contratamos novos funcionários. Tinha muito trabalho a fazer, em minha mesa havia documentos que precisavam ser revisados por mim vindos de todos os setores da fábrica, as faturas que precisávamos pagar, os salários dos empregados, os pedidos que precisávamos fazer, tudo isso estava sob minha responsabilidade.

– Branca, porque estas faturas estão atrasadas? Era para serem pagas até ontem. – Perguntei quando Branca entrou na sala segurando uma bandeja com café e água.

– Estas faturas foram entregues ao Sr. Martins semana passada, ele disse que revisaria até a ultima sexta-feira, já que a senhorita não estaria aqui para conferir tudo.

– Hmm... – Murmurei, não tinha pensado na possibilidade de papai esquecer o pagamento das contas. – Por favor, peça que Diego venha até aqui.

Diego cuida do setor financeiro, antes de eu conferir qualquer nota, ele o faz, e se tiver algum erro fiscal, ele é o responsável por corrigi-lo. Eu confiro, e se estiver tudo OK, ele paga.

– Pois não, Paulina. Bom dia! – Disse Diego ao entrar na sala.

– Bom dia, Diego. Essas notas não foram pagas, estão atrasadas e Branca me disse que o meu pai conferiu tudo. Porque você não pagou?

– Na ultima sexta-feira, eu fiquei aqui revisando as notas durante o dia inteiro. Você não veio e, o Sr. Martins foi até minha sala e ordenou que deixasse que ele as pagasse e assim, me liberou um pouco mais cedo. Não vi inconveniente em deixar que ele o fizesse, até porque, ele fazia isso antes e, se eu o negasse, podia perder meu emprego.

– Sim, entendo. Mas as notas não foram pagas, Diego, não podemos atrasar estas faturas de maneira nenhuma. Por favor, solicite outras com a data de hoje, pois de hoje não podemos mais passar. Não podemos pagar com juros, lembre-se, a fábrica apenas está se reerguendo. – Lhe sorri e agradeci.

Verifiquei a conta da fábrica e, algo estranho havia passado, foi sacado da conta uma quantia equivalente a cinco mil dólares, o que correspondia a quase o valor total das faturas que precisavam ser pagas.

– “Papai”. – Pensei em voz alta. Não pode ser. Não queria pensar em nada precipitado, mas não podia descartar a hipótese de papai ter gastado o dinheiro com... Não, isso não pode ser!

– Bom dia, luz do dia! – Disse Levy com um largo sorriso nos lábios ao me ver.

– Bom dia, Levy. – Levantei-me para cumprimentá-lo com um beijo no rosto.

– Hmm... Não parece estar sendo um bom dia para você. – Ele disse sentando-se a minha frente. – Será que estava tão óbvia assim a minha cara de enterro?

– É, não está. – Respondi desanimada.

– E, posso saber o que aconteceu para te deixar com essa carinha? Porque, acho que era pra ter um sorriso em seus lábios, pelas coisas que andei sabendo.

– Nada demais, só não tive uma noite muito agradável. – Respondi servindo-me uma xícara de café. – Café? – O ofereci.

– Sim, por favor. Tem a ver com Carlos Daniel Bracho, não é? – Ele perguntou rapidamente, me deixando surpresa.

– C-como sabe? – Perguntei enquanto tomava um gole do café quente.

– Soube que estão namorando, seu pai me contou este fim de semana. Afinal, parabéns, Carlos Daniel definitivamente tem muita sorte. – Levy disse com um olhar sério.

– Obrigada, Levy. Sabe, é um pouco de tudo. Carlos Daniel sofreu um atentado e não está muito bem.

– Disso eu também soube, espero que melhore logo.

– Obrigada, logo ele ficará bem. – Sorri cordialmente. - Estou com dor de cabeça, e para piorar, parece que papai sacou da conta da fábrica uma boa quantia em dinheiro, para quê...? Não quero nem pensar em...

– Não pense besteiras. – Ele me interrompeu tocando minha mão sobre a mesa. – E... Vamos almoçar comigo hoje, você pode me contar tudo o que quiser, e não aceito um não como resposta, você já me rejeitou demais desde que eu cheguei, dessa vez eu não suportaria. – Ele disse brincalhão, mas ao mesmo tempo fazendo uma careta chorosa.

– Tudo bem. – Assenti com meio sorriso.

– E sabe que pode contar sempre comigo, não é? Estarei aqui sempre que você precisar.

– Eu sei que sim. Obrigada, Levy.

– Não precisa agradecer, será um prazer tê-la como companhia, como sempre. Eu sei que não pode existir mais que uma boa amizade entre nós, então, vamos reviver os velhos tempos. – Ele disse levantando-se. – Agora vou voltar ao trabalho, tenho bastante coisa pra fazer hoje, nos vemos mais tarde.

Continuei a manhã inteira cuidando das pendências que havia deixado desde a ultima sexta-feira até ontem, contando com o fim de semana, já estava há quatro dias sem trabalhar. Não é porque a fábrica está se reestruturando que eu tenho que perder o foco, agora mais do que nunca temos que trabalhar pesado para pagar o empréstimo que Carlos Daniel nos fez. Tinha que me empenhar bastante nisso.

Estava tão entretida que apenas me dei conta que estava sem bateria no celular quando Sophia me ligou no escritório perguntando a que horas eu a buscaria para levá-la para ver Carlos Daniel. Eu tinha esquecido completamente disso! Pedi que Sophia deixasse para outro dia, pois eu estava com muito trabalho e Carlos Daniel tinha que descansar, ela insistiu, mas cedeu, e me senti aliviada por isso, ainda não era o momento de Sophia ir visitá-lo. Entrei em contato com uma amiga fisioterapeuta e marquei um horário na casa de Carlos Daniel, pensei também em ligar para saber como ele está, mas desisti, ele pode estar dormindo ainda.

...

Levy e eu fomos a um restaurante que costumávamos ir, já tinha muito tempo que não conversávamos e, gosto da companhia dele, ele é muito agradável e bom amigo.

– Então me diga, mocinha. O que está te deixando assim tão distante? – Ele disse me tirando de meus pensamentos mais uma vez, após fazermos o nosso pedido.

– Não é nada demais, eu só estou um pouco pensativa, só isso. – Lhe sorri e tomei um gole do suco que nos foi servido antes do almoço.

– E posso saber o que tanto te pensa?

– Bom, eu... Eu não sei, acho que me sinto preocupada com...

– Com a fábrica? A fábrica está progredindo Paulina, isso não é algo que se deva preocupar por agora. – Ele disse positivo.

– Não, é com outra coisa. – Disse e baixei meu olhar para minha mão que mexia o canudo no suco. – Me preocupo com outras coisas, mas tudo logo vai se resolver. Obrigada por se preocupar, Levy. – Eu disse após respirar fundo e lhe sorri, não queria que soubessem o que aconteceu para ter me deixado tão chateada, nem queria mencionar a minha nova preocupação: meu pai.

# Carlos Daniel narrando #

– Bom dia, Rodrigo! – Eu disse ao vê-lo atravessar pela porta de meu quarto, seu semblante estava sério, mesmo assim forçou um sorriso ao me saudar.

– Bom dia, Carlos Daniel! - Disse me cumprimentando de volta. – Espero que esteja se sentindo melhor!

– Estou, muito obrigado! - Agradeci o olhando seriamente. – Justamente ia pedir que Matilde te ligasse pedindo que viesse! - Disse fazendo gesto para que se sentasse.

Rodrigo buscou uma cadeira, a colocou próxima de minha cama e rapidamente buscou a papelada da empresa que, provavelmente, estavam atrasadas dependendo de minha assinatura para fazer a fábrica andar.

– Algum problema? - Ele perguntou enquanto analisava os papéis em suas mãos, organizando-os.

– Quero que Victoria esteja na rua ainda hoje! - Fui direto e ganhei sua atenção no mesmo instante. – Não a quero mais em minha empresa! - Completei sentindo a irritação me dominar novamente pelas lembranças da noite passada.

– M-mas Carlos Daniel... A senhorita Victoria? - Perguntou surpreso. – Algum motivo? - Perguntou, Rodrigo sabia que não daria a ele resposta para suas perguntas, mas mesmo assim as fez. Perda de tempo.

– Ela sabe muito bem a causa de sua demissão! - Disse o olhando muito seriamente. – E não se preocupe quanto a isso, apenas faça o que lhe pedi! - Conclui em tom seco.

– Tudo bem! - Disse de forma séria enquanto voltava sua atenção aos seus papéis.

Rodrigo e eu revisamos alguns documentos, eu assinei alguns e pedi que outros fosse refeitos, havia muitos contratos a serem firmados.

Enquanto checávamos os documentos, uma batida na porta nos interrompeu, era Matilde que entrou se desculpando pela interrupção.

– A policia está lá embaixo! - Ela disse me olhando cheia de preocupação. – Querem falar com você! - Disse seriamente.

– Deixe que subam, já terminamos aqui! - Disse a Matilde com um sorriso terno.

Enquanto Matilde nos deixava sozinhos dei algumas instruções a Rodrigo e o lembrei mais uma vez que queria aquela mulher fora da minha empresa ainda hoje.

– Senhor Bracho! - Disse um homem de meia idade, bigode e cabelos negros me cumprimentando ao adentrar meu quarto. – Sou o delegado Merino, e este aqui é o agente Amador!

– Muito prazer! - Disse fazendo sinal para que se sentassem, o delegado ocupou o lugar que Rodrigo a pouco estava e seu parceiro se manteve de pé.

– Bom, nos perdoe por vir tão rápido, mas precisamos tomar seu depoimento! - Explicou-se me olhando de forma séria.

– Não se preocupe quanto a isso! – Disse seguro. – Eu mais que ninguém quero ver a pessoa que fez isso comigo atrás das grades! - Afirmei em tom amargo, mesmo sabendo que não teria tal prazer.

– Bom, então podemos começar? - Disse o delegado enquanto seu colega preparava um bloco de notas nas mãos.

– Poderíamos! Disse o olhando. – Mas não me lembro de nada daquela noite, me lembro apenas de ter acordado no hospital, e sei tanto quanto o que as pessoas me disseram lá no hospital! - Expliquei tentando poupar tempo.

Naquele momento, o que eu menos queria era um papo longo com um estranho, estava com a cabeça cheia demais para querer prolongar tal conversa que não nos levaria a lugar algum.

– Não se lembra de nada mesmo? - Perguntou o delegado Merino desacreditando de minha suposta amnésia.

– Nada! - Disse dando de ombros. – O médico disse que é perfeitamente normal. Talvez dentro de alguns dias acabe me recordando! - Expliquei impaciente.

– Mas antes do... Acidente... – Ele disse pausadamente lançando um rápido olhar para seu colega. – Onde o senhor estava?

– Eu tinha acabado de chegar de viagem, estava em Valle Del Bravo.

– E de lá não notou nada de estranho pelo caminho?

– Não, absolutamente nada.

– O senhor estava acompanhado?

– Sim, eu estava com minha namorada, mas a deixei em casa e segui o meu caminho.

– E não notou nada estranho durante o percurso...? – Ele perguntou parecendo desacreditado e eu respirei fundo, impaciente com seus questionamentos.

– A principio percebi que podia estar sendo seguido, mas depois pareceu ser apenas uma impressão e continuei dirigindo.

– Hmmm... – Ele murmurou pensativo enquanto tocava seu bigode e me olhava como se estivesse me averiguando. – Senhor Bracho, o senhor ligou para a policia quando notou estar sendo perseguido?

– Hmm.. – Agora foi a minha vez de murmurar pensativo. – Sim, mas foi a mesma coisa que nada. – Respondi demonstrando ironia com o tom de minha voz. – Então, desliguei o telefone e continuei dirigindo.

– E quando foi abordado o senhor...

– Eu não lembro de mais nada, apenas lembro do momento em que acordei num quarto de Hospital cheio de dores. – O interrompi rápido antes que ele continuasse cogitando coisas e tivesse razão.

– Bom, então acho que terminamos por enquanto! - Disse já se colocando de pé. – Por favor, senhor Bracho, qualquer coisa que se lembrar me ligue, qualquer informação é muito importante! - Dizia enquanto me entregava um cartão.

– Claro. Ligo assim que me lembrar de alguma coisa! - Disse enquanto analisava aquele pedaço de papel escrito em letras cursivas muito bem desenhadas.

Assim que o delegado atravessou pela porta joguei seu cartão em um canto qualquer não me importando aonde ele poderia parar. Não poderia dizer nada ao delegado, e Paulina nunca poderia desconfiar que Mauricio é o responsável pelo meu estado físico. Pensava.

– Paulina! - Disse seu nome em tom baixo, me perguntava onde ela estaria e, principalmente, se voltaria depois das coisas que ela disse ontem à noite.

Me sentia angustiado e até tentei ligar em seu celular, mas estava dando fora de área. Perguntei a Matilde durante a tarde se Paulina havia telefonado, mas não, nem ao menos ligou para saber como eu estava.

– Maldita Victoria! – Disse apertando minha mão com raiva quando mais uma vez o telefone caiu na caixa postal.

Passei uma tarde infernal, inquieto, angustiado, sem saber se ela voltaria, não suportaria perdê-la.

* Paulina narrando *

Voltei ao trabalho e não vi a hora passar, trabalhar me distrai, me faz esquecer os problemas e eu adoro quando tem muita coisa para fazer no escritório, hoje eu precisei ocupar ao máximo a minha mente, apesar de não me sentir bem descansada o dia inteiro.

Ai, Carlos Daniel! – Lembrei dele como num impulso que precisaria saber se ele está bem, com tanta coisa pra fazer e meu celular no carregador, esqueci completamente de ligar para ele.

– Oi filha! – Disse papai sorrindo ao entrar em minha sala no momento em que eu estava prestes a ligar o meu celular.

– Pai...? Onde estava? Pensei que nem o veria mais hoje. – Respondi o olhando seriamente. Em seu semblante não demonstrava que estava trabalhando fora.

– Ér... Eu estava... Estava... - Gaguejou pensativo enquanto aproximava-se de minha mesa. – Estava com um amigo!

– Um amigo? – Perguntei incrédula.

– Sim, o Cristóvão, você o conhece, da fábrica de tintas. Falei de nossa louça, do progresso da fábrica e ele está interessado. Disse que virá fazer uma visita em breve.

– Mas esta conversa levou o dia inteiro? Te espero aqui desde muito cedo...

– Ah, há muito tempo não nos víamos e acabei passando mais tempo do que planejei, sabe como é, somos amigos há muitos anos e tínhamos muito assunto. – Ele sorriu sem graça e sentou-se a minha frente.

– E como está o Bracho?

– Melhor, ele está melhorando. – Respondi pensativa, não sei por que, mas não acreditei no que papai me disse.

– Por quanto tempo você vai ficar lá com ele?

– Eu não sei, acho que até ele ficar bom. – Eu disse sem saber exatamente quanto tempo duraria a recuperação de Carlos Daniel.

– Bem, não gosto muito de que você durma na casa de estranhos assim e...

– Carlos Daniel não é nenhum estranho papai, ele é o meu namorado, e não se esqueça que agora também é nosso acionista. – Disse ficando chateada com a maneira a que papai se referiu a Carlos Daniel, seu genro.

– Tudo bem, desculpa, mas não gosto que você durma na casa dele, você ainda não é esposa dele, não tem obrigação de ficar na cabeceira de um doente cuidando dele dia e noite.

– Papai por favor, compreenda... – Eu disse com um meio sorriso. - Eu estou na casa dele porque eu quero estar, e estou cuidando dele porque eu quero cuidar, não há problema algum em eu ficar com o meu namorado quando ele precisa de mim, não acha?

– É, pode até ser... Você é igualzinha a sua mãe! – Ele disse com um sorriso discreto. – Mas espero que ele saiba valorizar a mulher que tem ao seu lado, que ele não te faça sofrer, você merece um homem que cuide de você com o mesmo empenho e dedicação e carinho que você cuida dele.

– Obrigada papai, e não se preocupe, Carlos Daniel cuida de mim e é um homem maravilhoso comigo. – Respondi sorrindo, lembrando como Carlos Daniel é fofo comigo, o quão carinhoso é, e o quanto demonstra seus sentimentos por mim a cada momento.

– Só quero o seu bem, minha filha, quero que vocês e Sophia sejam felizes, e que se casem com homens de valor. – Ele disse tocando a minha mão que estava sobre a mesa e levantou-se para ir em direção a porta.

– Aonde vai?

– Estou indo em minha sala, preciso resolver algumas coisas.

– Érr.. Pai, espera, estive conferindo a conta da fábrica online e foi feito um saque de quase cinco mil dólares. O senhor pode me dizer para quê foi sacado este valor?

– P-para uns gastos meus e... da fábrica. – Papai disse pausadamente com o rosto completamente pálido, parecia estar se recuperando de um susto grande.

– Que tipo de gastos foi esse de tanto dinheiro? – Perguntei analisando-o.

– Ér... Comprei algumas roupas para o trabalho, paguei algumas contas pessoais, e... e... Levei o carro para o mecânico, tive um problema com o motor do carro esses dias, esqueci de te dizer.

– Hmm.. Tudo bem, mas esses gastos tem que ser comprovados com as notas fiscais, o senhor sabe, não podemos gastar o dinheiro da fábrica com coisas fúteis, precisamos economizar, está muito recente que tomamos este empréstimo, e o dinheiro da fábrica não pode ser gasto com qualquer coisa. – O adverti de algo que papai já sabia, mas ele precisava, a fábrica esteve muito mal administrada e foi quase a falência por conta de seus maus gastos, e isso não poderia acontecer novamente.

– Não se preocupe, não vou deixar isso passar numa próxima vez. – Papai sorriu e dirigiu-se a porta novamente.

– Papai, mais uma coisa. – O chamei antes que ele saísse. – Por favor, dê atenção à Sophia enquanto eu não estiver em casa.

– Pode deixar, não se preocupe com isso também. Levarei ela para jantar naquele Italiano que vocês adoram!

– Hmm... É uma pena eu não poder ir. – Eu disse sorrindo.

– Mas não faltarão oportunidades! Nos vemos amanhã?

– Não vai pra casa agora?

– Não, vou ficar aqui mais um pouco. Compensar o atraso né? – Ele disse enquanto beijava meu rosto.

– Sim, tudo bem. Vou em casa buscar umas coisas e ver a Phia e volto para a casa de Carlos Daniel.

Nos despedimos, o horário de encerrar o expediente chegou e eu estava quase atrasada para encontrar a fisioterapeuta para Carlos Daniel. Organizei minha mesa, peguei meu celular ainda desligado e guardei novamente em minha bolsa. Chequei se tava tudo em ordem e fechei a minha sala. Apesar de papai ter me esclarecido o uso de tanto dinheiro, eu não consegui acreditar no que ele me disse, não consegui me sentir aliviada com sua resposta. Tinha medo de enfrentarmos os mesmos problemas que enfrentamos desde que minha mãe morreu.

Passei em minha casa e conversei um pouco com Sophia e com Adelina, estava tudo em ordem. Peguei algumas coisas que precisaria em meu quarto e voltei para a casa de Carlos Daniel, não tinha ligado o dia inteiro para ele, e ele devia estar preocupado comigo. Enquanto dirigia, liguei o meu celular e me surpreendi com tantas ligações perdidas dele, mas não o retornei, já estava chegando em sua casa e falaríamos pessoalmente.

– Oi senhorita Paulina, está tudo bem? – Perguntou Matilde apreensiva ao me cumprimentar quando me encontrou nas escadas.

– Está sim, Matilde! Só tive um dia cheio de trabalho hoje, não tive tempo para nada! – Lhe sorri. – Aconteceu alguma coisa com Carlos Daniel? – Perguntei preocupada.

– Não, ele apenas ficou o dia inteiro aflito, pensando que a senhorita está chateada.

– Ah, meu celular ficou sem bateria... Eu vou conversar com ele. – Expliquei. – E, Matilde, uma fisioterapeuta está vindo em alguns minutos, ela acabou de me ligar me avisando que está chegando, pode recebê-la e acompanhá-la até o quarto de Carlos Daniel, por favor?

– Claro que sim, não se preocupe.

– Obrigada. Agora eu vou lá falar com ele. – Agradeci e fui correndo para o quarto de Carlos Daniel.

...

Entrei no quarto e a cama estava vazia, embora estivesse bagunçada, achei estranho, pois Matilde não me disse que ele não estava no quarto, fui procurá-lo no closet, mas ele também não estava lá, e levei um baita susto quando o vi no banheiro em pé, ele estava apenas com uma toalha envolta na cintura, os cabelos molhados caindo no rosto, uma das mãos o apoiando à mármore da pia e não usava a faixa que lhe foi colocada no abdômen no hospital.

– Carlos Daniel, o que está fazendo? Não pode ficar em pé assim! – Eu disse assustada e corri em sua direção.

– Paulina! – Ele respondeu me olhando surpreso. – Aww! – Murmurou no exato momento em que eu me aproximei.

– Por Deus, Carlos Daniel. Você não deve fazer esses tipos de esforços ainda, e onde está a faixa? – Perguntei preocupada, ele a tirou sem autorização do médico.

– Estava me incomodando muito aquela coisa me apertando. – Respondeu fazendo careta e eu o ajudei a sentar na cama. – Estava prestes a ir te procurar.

– C-como é? Ir me procurar? Você perdeu o juízo, Carlos Daniel? – Perguntei abismada, ele não tinha condição alguma de levantar na cama e tomar banho sozinho, muito menos de sair por aí.

– Eu acordei hoje e não te encontrei, tentei te ligar várias vezes e estava caindo na caixa postal, fiquei preocupado de você não querer mais... – Ele disse desanimado e segurou minha mão.

– Desculpa, meu celular estava sem bateria e eu tive um dia cheio hoje. Esqueceu que eu tenho um emprego? – Perguntei levantando seu rosto para me olhar nos olhos.

– É que ontem você...

– Esquece o que aconteceu ontem, por favor! – Pedi, eu não estava nada disposta a falar sobre os acontecimentos desagradáveis, já bastava ter que lidar com o cansaço e outras preocupações.

– Está tudo bem mesmo? – Ele perguntou tocando meu queixo, aproximando-se de meus lábios, mas eu virei o rosto, estava chateada o suficiente para não querer beijinhos agora.

– Se você estivesse quietinho, estaria! – Reclamei sobre seu estado. – Nem criança faz isso, Carlos Daniel, por Deus!

– Eu não agüento mais ficar em uma cama como um inválido, Paulina! – Ele resmungou fazendo bico, tentando levantar-se novamente.

– Você não está inválido, Carlos Daniel, mas precisa repousar para se recuperar logo, não preciso dizer isso para você repetidas vezes! – O adverti ajudando-o a levantar-se.

– Eu sei, mas estou cansado! – Disse tentando me guiar para o closet.

– Não seja infantil, Carlos Daniel! Tem que ter paciência, seu estado exige isso de você! – Continuei minhas advertências enquanto ele escolhia algo de vestir.

Carlos Daniel continuou resmungando e eu o advertindo de sua imprudência, ele escolheu um short de algodão e precisei me conter para não admirar o corpo dele como eu queria, mas meus olhos me traíram e eu não pude evitar fitá-lo inteiro sem roupa, ele é tão maravilhoso... Não vai ser nada fácil conviver com ele todos os dias e não podermos fazer nada... Me lamentei em pensamentos. Respirei fundo e desviei meu olhar do corpo que já me hipnotizava, o ajudei com o short e ele insistiu por uma camisa, mas não o deixei que colocasse agora, apesar eu de gostar de vê-lo sem camisa, ainda precisávamos saber se ele ficaria realmente sem a faixa ou não. Eu o levei novamente para o quarto, sequei e penteei seus cabelos, com o kit de primeiros socorros o ajudei com os hematomas, e ajeitei os travesseiros para acomodá-lo novamente sobre a cama.

– Obrigado, meu amor, por se preocupar tanto... – Ele disse baixinho ao tocar meu rosto. – E desculpa por te causar tamanho desgosto e por estar sendo um peso pra você. – Baixou a cabeça sem graça e deslizou sua mão em meu braço, me deixando com o coração partido pelo seu jeito.

– Estou aqui para ajudá-lo Carlos Daniel, mas você também precisa colaborar. - Justifiquei e toquei levemente o seu peito. – Não deve ficar fazendo sozinho o que fez hoje, podia ter pedido que Matilde chamasse Gabriel ou algum outro empregado da casa para te ajudar.

– É que eu não gosto de depender das pessoas para nada e...

– Não deve ser orgulhoso também, é uma necessidade, e se for teimoso, pode se prejudicar. Me promete que não vai mais fazer isso? – Lhe sorri e acariciei sua barba por fazer.

– Só se você me der um beijo. – Ele disse segurando meu braço, me puxando para mais perto, mas as batidas na porta nos interromperam.

– Com licença, é que a fisioterapeuta chegou, senhorita Paulina. – Disse Matilde após entrar no quarto.

– Pode pedir que suba, Matilde! – Eu pedi gentilmente e Carlos Daniel me olhou confuso.

– Pedi que essa minha amiga fisioterapeuta viesse aqui para nos auxiliar na sua recuperação, para que ela seja mais bem sucedida. – Expliquei a Carlos Daniel enquanto o ajudava a sentar-se melhor.

Daniela é a minha amiga fisioterapeuta, ela perguntou de imediato se Carlos Daniel estava tomando os analgésicos que o médico passou, pois era o que o aliviaria das dores, ela levou para ele um aparelho de exercício respiratório essencial para sua recuperação e ele o usaria diariamente inspirando o ar pelo aparelho e soltando pela boca durante algumas vezes no dia, isso o ajudaria a evitar que ele ficasse com excesso de ar nos pulmões por sua respiração irregular e precisasse ir ao médico, explicou também quais eram as posições adequadas para ele dormir e sentar, ela nos orientou em como Carlos Daniel deve se comportar durante toda a sua recuperação e os danos que poderia sofrer se desobedecesse as ordens médicas. Carlos Daniel não escapou de uma bronca por ter tirado a faixa, mas ela não indicou nada que pudesse substituí-la e, apesar da teimosia dele, ele poderia ficar sem a faixa, contanto que se comportasse durante sua recuperação.


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem, comenteemmmm.. Precisamos de mto incentivo para continuar! :)
Obrigada por lerem nossa fic, ficamos muito felizes com seus comentários!
Ate o proximo cap, bjos ;**