Sobreviventes do Apocalipse escrita por SuzugamoriRen


Capítulo 23
Um Pouco do Passado




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O homem conhecido como o cara que fazia milagres ao longo da costa brasileira, o mesmo o qual bradou que não se esconderia mais atrás das pessoas era a pessoa em fuga no meio da batalha pela sobrevivência do acampamento de uma das maiores resistências na América do Sul – se não a maior. O baiano de Salvador contornou alguns prédios, e ia em direção ao calor da batalha, sempre seguindo a linha costeira. Ou ao menos era a sua intenção dar a voltar por detrás, no porto e conseguir o apoio de Cássio bem como da retaguarda da organização liderada por Bruno. Seguindo-o havia cerca de sete homens de Thanatos, pois o restante perdera contato com o restante do time. Presumidamente as duas guerreiras que o acompanhavam nocautearam essas pessoas. Em contrapartida, se distanciaram muito dele.

De longe vira um navio se movimentar na lagoa dos patos. Não queria pensar em algo do tipo “O homem quer observar suas novas criaturas de longe”. Contudo, era exatamente isso que se passava por sua cabeça. Correr deixou-lhe exausto, estava se cansando. Sabia que se parasse era o fim da linha, o fim de dois anos a frente de uma missão solitária de nunca adentrar nas cidades. De nunca ser curioso o suficiente. De sempre ter cautela ao fazer novos amigos. Várias regras que ele montou ao curso de sua sobrevivência num novo mundo marcado por uma simples verdade.

Os seres humanos não eram a raça mais poderosa da terra.

Esse posto pertencia aos grandes soldados, ou seja, os mortos-vivos. Queria saber o porquê o aclamado deus da morte quis simplesmente reanimar corpos que deveriam estar simplesmente descansando eternamente. O que fez Êvanes criar um vírus... Perguntas ecoavam em sua mente enquanto a respiração ficara mais ofegante, seus passos mais pesados e seus pensamentos ficarem confusos. E se não fosse completamente um vírus? Afinal isso não tem antídoto... Vacinas, soros, antissoros... Seu irmão explicara isso uma vez quando estavam juntos discutindo sobre o que as armas biológicas e químicas poderiam fazer com o mundo conhecido.

Finalmente não teve tempo para mais nada. Vinicius decidiu abraçar seu destino. Tropeçando e caindo no chão, ele simplesmente recordou de certa conversa que teve com um amigo seu, no segundo dia após os mortos-vivos dizimarem quase toda a população de sua cidade natal. Esse dia também fora o dia que ele criara suas regras, sendo a mais importante delas nunca adentrar território hostil, portanto, foi depois daquela conversa que o obreiro passou a existir como símbolo de resistência contra os experimentos militares. Contra basicamente os tão aclamados zumbis.

– Max! O que pretende fazer?

O homem que seria conhecido por todo o Brasil sentava-se em um banco perto do Solar do Unhão, um edifício localizado perto da Bahia Marina, o local da cidade portuária onde barcos, iates e outros tipos de transportes marítimos ficavam localizados.

– O que você diria se eu quisesse me tornar um homem capaz de fazer milagres?

– Como assim? – o soteropolitano fitou seu amigo – O que o homem de Pintadas tem na manga?

Os dois riram. Maxsuel “Max” Aragão era do interior da Bahia. Aquele rapaz tinha ido à cidade para estudar e levar consigo um legado para melhorar a vida de seu povo. Sua cidade natal, Pintadas, tinha problemas agudos com a seca que sempre assolou a região.

– Que tal ser um Obreiro? Uma pessoa que realiza obras pelo país?

– No sentido figurado?

– Sim! Como eu queria fazer com minha localidade calouro.

Max sempre chamava Vinicius de calouro. Por que o mesmo, apesar de veterano na faculdade, sempre agia como um iniciante.

– Parece interessante, mas como deseja fazer isso?

– Viajando pelo litoral e ajudando da melhor forma possível... É o nosso destino.

– Não acredito nisso.

– Vini, o destino é como um fio vermelho. Você pode fugir sempre dele, mas o fio estará sempre conectado para o que você deve fazer. Ainda que morra tentando.

De volta, Vinicius levantou-se e recostou-se em uma das diversas paredes de algum edifício aleatório. Não aguentava mais correr. Estava com câimbras na panturrilha direita, dores nos rins e parecia que não conseguiria dar um passo devido à exaustão.

– Eu tornei seu sonho realidade Max – murmurara o jovem rapaz enquanto os homens mandados pelo amigo de seu irmão se aproximavam – Agora, irei encontrar-me com você.

Dois dos homens pararam a metros de distancia dele. Outros dois foram para o outro lado da rua e pararam igualmente enquanto o restante se aproximava com uma seringa. Tinham feito um perímetro. Ele morreria ali sem arrependimento. Deixava para seus amigos o legado do nome Obreiro assim como seu amigo fiel Max deixara a ele uma pesada responsabilidade. Ele nunca foi de verdade uma pessoa altruísta, que ajudava. Simplesmente fazia isso por sentir que devia a Max alguma coisa. Como se culpasse pela morte trágica de seu amigo, acontecimento este que ele não preferia lembrar. Tendo isso em mente, sorriu.

Iria morrer do mesmo modo que ele...

... Morrer com um sorriso no rosto por fazer a coisa certa.

Só que no momento em que os três homens se aproximaram, tiros foram escutados. Quatro para ser mais preciso. Os quatro tiros acertaram as pernas dos homens postos a fazer o perímetro. De um lado havia uma garota magra segurando uma AK-47. Do outro, uma linda morena de cabelos lisos segurando uma pistola de calibre 45. Marcela da Fontoura e Bianca Camolesi haviam ido a seu resgate.

Todavia, nem tudo era um mar de glórias.

Depois de mais um tiro – exatamente no homem da seringa – Bianca jogou a arma no chão. Como se não houvesse mais balas a disparar e nesta hora, um dos brutamontes partiu para cima dela como um tanque. O problema é que ela era mais ágil e rápida. E tinha sido treinada por Bruno a atacar os pontos vitais de um corpo humano. Golpes desnecessários não deveriam ser feitos. A paulista se preparou à medida que via o homem se aproximar.

Com um movimento, ela deu alguns passos para a esquerda, esquivando-se do impacto. O homem passara direto. Ele parou após se recompor e se virou viu a mulher exatamente a sua frente. Ela simplesmente correra atrás dele quando ele errara o alvo.

Ele tentou socá-la. Ela se abaixou e acertou um gancho em sua mandíbula, e, complementou a sequencia com uma joelhada entre suas virilhas. Um brutamonte mais pesado que ela fora incapacitado somente com dois golpes contundentes. Porém seu punho e mão direita estavam extremamente doloridos. E ainda existia mais um soldado para lidar.

O outro estava de costas, imaginando que aquela mulher não era páreo para seu parceiro. Logo mudara de ideia à medida que ouviu passos se aproximando rapidamente. Quando girou seu corpo, recebera uma joelhada na altura do tórax. E para finalizar, a paulista de Piracicaba girou em seu próprio eixo e acertou com a parte de trás de sua bota o rosto daquele oficial.

– Pus mais um para dormir – disse Bianca enquanto voltava-se ao exausto Vinicius.

– Não imaginava... que o Bruno... te treinaria tão... bem em dois... meses

– Isso não importa certo? – a conhecida como Bica tentou levantar o Obreiro – Consegue andar.

– Não.

Marcela se aproximou correndo.

– Tudo bem cafetão? Eles fizeram alguma coisa para você?

O homem desacordou. Marcela continuou gritando. Não que fosse em vão porque a paulista sabia que tinha o salvado, mas por que ela queria matar todos que o fizeram mal. Esse tipo de lealdade era vista somente entre amigos e entes próximos.

Thanatos não tinha ideia do que ele estaria enfrentando...

***

Após ver seus homens serem derrotados, Thanatos simplesmente se voltou ao jovem rapaz de binóculos.

– Êvanes... Como foi o experimento?

– Melhor do que eu imaginava – disse o irmão daquele considerado Obreiro – Sabe por que o Vini foi à única pessoa a dar certo de todos que seguiram o mesmo plano dele?

– Você diz as outras pessoas que preferiram pegar um barco e navegar pela costa? – indagou o mensageiro da morte sentando-se na popa do navio em que estavam.

– Sim.

– Por quê?

– Curiosidade – disse jogando os binóculos para um de seus guardas – Meu irmão nunca foi curioso a pontos extremos. A humanidade como raça tende a ser curiosa, é assim que elas descobre seus limites, mas meu irmão é um pouco diferente da gente.

– Diferente como?

– Os outros realmente adentraram no território e acabavam sendo emboscados seja pelo famoso Bandeira Negro, seja pelos próprios mortos-vivos. Já meu irmão vive de regras estabelecidas anteriormente. Se ele não as infringir, ele fica salvo. E por isso ele está no ramo há muito tempo.

– Esse é um caso de a curiosidade matou o gato?

– Não – respondeu Êvanes sorrindo – Esse é um caso de um ponto fora da curva. E pontos foras da curva são essencialmente interessantes.

– Vinicius Ribeiro, Bianca Camolesi, Marcela da Fontoura e os outros divergentes...

– São pontos foras da curva. Não eram para eles existirem.

– Mas existem.

– Por isso são interessantes. Por isso quero testá-los com o que tudo que temos de melhor... Agora vamos sair daqui, não me interessa mais ficar rodeando essa resistência.

E o que se viu no horizonte foi um navio desconhecido zarpar para o oceano atlântico.

E Êvanes Ribeiro se punha como uma verdadeira ameaça. Mais até que o próprio mensageiro da morte.

Pois, ele se considerava uma coisa:

DEUS


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