Sobre Quatro Rosas escrita por maria


Capítulo 4
Batom Rosa-Avermelhado.


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitoras! Desculpe o atraso de postagem. Eu estava com bloqueio de criatividade. Aproveitem o capitulo!



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"Você estava louca, Mel? Tem noção do quão preocupado eu fiquei? Você só deixou aquela mensagem vaga, não tem noção de quantos cenários, quanta hipótese de como você estava passaram pela minha cabeça."

A voz do meu irmão soava em minha memória. "Rafael" a outra voz dizia. Alguém chamando meu nome me acordou dos meus devaneios, levantei a cabeça e vi que o professor de matemática já havia entrado na sala e rabiscado no quadro negro alguma baboseira que eu não entendera sobre trigonometria.

“Melina, já é a terceira vez que eu lhe censuro por estar dormindo em plena matéria fresca.” – “Matéria Fresca.” Ponderei. Como ele podia usar uma expressão como “Matéria Fresca.” com naturalidade? Resmunguei algo como um pedido de desculpas, que mais soou como uma grosseria, e fitei meu caderno com êxito. Sem minha permissão, minha memória flutuou, freando nos momentos que minha mãe acordava-me com intuito de me ensinar as multiplicações, na quarta série. Ainda conseguia sentir seu perfume doce de toda manhã... Sinônimo de conforto. Logo depois, atingiu-me, ao ser internada pela primeira e vez e diagnosticada. Pisquei lágrimas de meus olhos, e tentei, invalidamente, prestar atenção em algo que estampava o quadro. Para mim eram apenas números. Números espalhados, aleatoriamente que haviam a incrível habilidade de dar curto-circuito em meu cérebro....

“Hum... Deixe-me ver... Melina. Na figura desenhada no quadro, descubra o valor de x levando em conta a teoria que eu acabei de explicar.” – Congelei. Eu não fazia idéia do que era uma região retângulo-quadrada perfeita, muito menos quem foi Hiparco. Se o encontrar na rua, esfregarei minha nota baixa de Álgebra na cara desse babaca. Mentalizei todos os infinitos conjuntos de números em comum, torcendo para que um em um milhão de números eu acerte o que o professor mentalizava.

“Ãhn... Err... Eu acho que... Bem, levando em conta o...” – Gaguejei estupidamente, senti olhos queimando sobre mim. – “Cinquenta graus negativos do...” – Mário balançou a cabeça em desaprovação.

“Bem, devido á desatenção da colega de vocês.” – Ele apontou para mim e consertou o suéter que vestia. A roupa estava ridícula nele. Tive vontade de rir, mas parecia errado. Ri mesmo assim. – “E levanto em conta a ausência de quatro pontos faltantes para encerrar as notas do bimestre, vou passar um trabalho que deverá ser feito em duplas.” – Ele enfatizou a palavra duplas. – “E antes que me pergunte” – Ele encarou um menino que sentava na segunda fileira – “Não, não pode ser ‘dupla de três’. Eu vou passar no quadro algumas perguntas sobre Trigonometria.”

Ouvi murmúrios, comentários, palavrões, e formações de duplas. Uma menina bonitinha de óculos da primeira fila levantou a mão e perguntou quanto valia este trabalho, no que o professor sem um pingo de paciência respondeu que aproximadamente 5% da nota bimestral. Alguns rapazes jogaram bolinhas de papel que grudaram no cabelo dela. Neste momento o sinal tocou iniciando-se outras aulas ridiculamente fáceis até que ouvi o ensurdecer estridente do sinal que anunciava o inicio do intervalo. Olhei para Rafael e lhe lancei um meio sorriso meio suspiro, era assim que vínhamos nos comunicando nas aulas. Ele era tipo, meu melhor amigo até então. Isso era estranho, porque eu nunca havia tido uma pessoa para ocupar o posto de melhor amigo; eu devia ser a segunda ou terceira opção de amigos de algumas pessoas, mas sei lá. Antes do Episódio S (Como era chamado por mim e por Rafael o suicídio de mamãe, ele disse que era melhor não referir-se diretamente sobre o acontecido.) eu tinha a Sarah, uma menina que treinava comigo no time de handball que sempre cedia uma bola cheia para mim nas atividades físicas. E também havia a Alexia, que era uma menina linda de cabelos Black Power que costumava usar camisetas que diziam: “O meu cabelo é maior que sua Ignorância.” E participava de campanhas negras. Lembro que um dia na oitava série ela chorou quando deram á ela uma camiseta com um lema racista da Confederação para não sujar o uniforme na aula de artes. Mas, agora eu tinha o Rafael. Eu ainda não sei o que ele significa pra mim. Mas era bom... Andamos em direção ao corredor e pegamos o elevador para o pátio.

“O Mário é um babaca.” – Ele quebrou o silêncio.

“Concordo plenamente.”

“Só neste bimestre perdi três fones de ouvido e uma caneta esferográfica.”

“E eu perdi o direito de afundar-me em devaneios.” - ele riu, não parecia inapropriado rir, mas ele se contém, fitando um pedaço de papel albino, que, escritas com uma caneta vermelha de quadro e fixada com fita crepe estampava as palavras: “Aguente firme, querida, é um mundo muito louco.”

“Velho Bukowski.” – Rafael induziu.

“Como sabe?”

“Já li sobre esse cara em algum lugar...”

“É bonita a frase. Tipo, eu sei que é retórica e que provavelmente esse cara estava sobre efeito de muitas drogas quando a escreveu, mas é bela.”

“Acho que ele fumava maconha.” – E então, reprimindo a acusação de Rafael, eu tirei uma caneta que guardava no bolso e escrevi no mesmo papel, na mesma parede, logo embaixo da palavra “mundo” a seguinte citação:

We can pack up our old dreams and our old lives

We'll find a place where the sun still shines.

“Guns n’ roses?” – Rafael tentou adivinhar a origem da frase.

“Ãhn... Não. Duas chances, 1...2...”

“Pink Floyd? Bon Jovi?”

Emiti um som entre minha língua e dentes inferiores personalizando uma arma com os dedos.

“Qual é meu prêmio?”

“Não sei. O que você quer?”

“Um beijo.”

“Há-Há-Há, muito engraçadinho você.”

“Eu to falando sério.” – Sabia que não estava, o sorriso bobo no rosto o entregava, mas mesmo assim, senti um nó no estômago.

“Um dia talvez...” – Disse. – “Nos seus sonhos.” – Completei

Engatamos uma conversa que eu, particularmente não me lembro com exatidão o intuito, sobre beijos e voltamos para o terceiro andar mais cedo para passar no banheiro.

Ao entrar na cabine do fundo ouvi passos que estalavam no chão. Agachei levemente para espiar pela frestinha e avistei um tênis Vans roxo.

“Você viu quem o Guilherme tava ficando?” – Uma menina com a voz incrivelmente rouca dizia.

“Eu vi...” – A outra menina que tinha uma voz aguda respondeu em um tom depressivo.

“Relaxa, Bá. Ele vai voltar, todos eles voltam.” – Eu ainda estava prestando atenção na conversa alheia, quando meu coração deu um salto.

“Caraca, você viu aquele menino na cadeira de rodas do segundo ano A?”

“Muito gatinho, né??”

“Sim, demais. Mas sei lá, parece que ele tem namorada...” – Redobrei a atenção na conversa.

“Sério? Eu não to sabendo disso não.”

“Tipo, sabe aquela menina ruiva da sala dele? A que perdeu a mãe?” – Senti meu sangue ferver.

“Sei.”

“Então, ela. Eles passam a maior parte do tempo juntos, e a Gabi viu eles indo juntos pra casa dele.” – Senti um grito subindo pela minha garganta, sufoquei-o com algum custo e voltei a prestar atenção na conversa. – “Acho que se pegaram lá.”

“Bem de qualquer forma, estou disposta a furar o olho da orfãzinha. – a rouca voltou a atacar.

Ouvi passos e o ranger da porta se fechando.

Aquilo perturbava-me. Não sei se foi pelo apelido pejorativo, ou pelo que aquela menina disse do Rafa, um misto de emoções despertou um choque elétrico pelo meu corpo. Tapei minha boca com duas mãos, a ponto da junta dos meus dedos ficarem brancas e gritei. Minha cabeça girava, senti vontade de socar a parede de mármore ou despedaçar o espelho... olhei vazia para a pia. Um batom. Algo dentro do meu cérebro, dentro de minha cabeça dizia “vingue-se” e ecoava ao ponto de fazer doer. Testei a cor do batom. Um tom de rosa avermelhado. Com a mão trêmula escrevi no vidro do banheiro VADIA FOFOQUEIRA. Um sorriso doentio brotou em minha face e ouvi a voz rouca inconfundível da “Bá.” Que dizia algo sobre o instrumento cosmético que repousava em minhas mãos. Congelei o sorriso que estampava meu rosto e olhei nos olhos dela. Minha visão escureceu nos cantos, permitindo-me absorver a informação da cor dos olhos da garota. Cor de mel. Ela andou em minha direção lentamente pálida e, visivelmente, amedrontada. Fitou o vidro com as palavras que deixei a sua espera, e um grito de terror incrivelmente rouco preencheu o local.


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Notas finais do capítulo

Continuem subindo as visualizações!
xx, ly.



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