Sobre Quatro Rosas escrita por maria


Capítulo 1
Cheiro de orvalho


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Era inverno.

Aspirei o cheiro de orvalho da manhã e senti meus olhos pesados em minha face; tombei a cabeça de lado e olhei para o relógio na escrivaninha. 7:05. 55 minutos para a aula. Poderia dormir mais alguns minutos, mas sempre acreditei na teoria de que o sonho só nos impede de ver a realidade, então saí de baixo das cobertas, ignorando o frio congelante que adentrava minha janela, e caminhei até o banheiro, despindo-me pelo caminho.

Observei minha face inchada acompanhada por olhos que, onde costumava ser verde, tomou uma coloração avermelhada. Abri a gaveta para pegar o shampoo e foi ao ver o óleo de canela que ela costumava passar, perdi a vontade de lavar meus cabelos. Depois de tantas semanas, seu cheiro ainda estava empregado em tudo, inclusive em mim. Pisquei algumas vezes, espantando uma lágrima que ameaçava cair e entrei no chuveiro. Ao sair, consegui disfarçar que passei a noite afogada em minhas próprias controvérsias, e ensaiei um sorriso falso no espelho.

Vesti o uniforme e uma blusa de manga comprida listrada horizontalmente que ganhei de natal, protegendo-me do frio. E chequei as horas. 7:17. Fui até a cozinha, e trombei com Ed segurando um copo de leite e um sanduíche. Reparei que ele usava o mesmo suéter que eu, o que acentuava mais nossas semelhanças. Seu cabelo ruivo estava bagunçado e sua calça mal passada.

"Você quer uma carona?" - Ele indagou.

"Seria ótimo, sabe não me é a ideia mais atraente passar meu primeiro dia, em duas semanas, como 'A garota da mãe suicida.'" - Cuspi as palavras, praticamente.

Continuei andando e senti ele agarrando meu pulso e me olhando com as sobrancelhas suspensas.

"Mel, eu realmente não queria que você passasse por ela por essa situação, e como seu irmão mais velho me sinto no dever de protege-la da maldade adolescente. Você sabe, é só sorrir e dizer que está tudo bem..."

"É tudo que eu tenho feito." - Ele segurou minha mão e sussurrou algo como 'Precisamos nos manter fortes.' E encarando seus olhos, por um momento, rajou em meu pensamento que ele havia superado. Sacudi a cabeça espantando-o, claro que não. É o Eduardo.

Sabe aquela sensação que uma pessoa está olhando para você? Já sentiu isso setenta e duas vezes seguidas? Eu já.

Ao pisar no chão da entrada do Colégio tudo se silenciou. Andei passo a passo ouvindo a batida do meu coração descompassada. Sabia que todos olhavam para mim, mas tinha medo de levantar o olhar e desabar. Ed entrelaçou os braços em mim e paramos de caminhar quando uma menina que eu não reconheci de imediato parou na nossa frente. Ela era loira e tinha sardas, assim como eu.

Ela suspirou pegou minha mão.

"Eu sinto muito. Muito mesmo, Melina. Eu posso imaginar a dor que você está sentindo este momento, e quero prestar meu pêsames." - Minha vontade era de gritar, berrar que não. Ela não tem ideia da dor que eu estou sentindo neste momento. Mas eu me recompus e agradeci, sorrindo.

"A sua aula já vai começar. Qualquer coisa, estou na sala ao lado, tentando não dormir na aula da Marina." - Assenti e subi as escadas. Agradeci por não ter ninguém na sala e sentei na última cadeira da fileira do canto, Instintivamente as lágrimas derramavam pelas minhas bochechas.Coloquei minhas mão em concha sobre minha boca, abafando o choro.

"Está tudo bem?"

Meu coração deu um pulo. Olhei para o lado e vi um menino com um livro aberto sobre a carteira, com os olhos levemente arregalados, ele usava uma blusa de capuz e tinha cabelos castanhos escuro, levemente bagunçados. Tinha olhos verdes como os meus, porém disfarçados pelos óculos.

"Sim." - Sorri, como meu irmão havia aconselhado.

"Tem certeza? Tem uma lágrima escorrendo pela sua bochecha que diz o contrário." - Ri, com vergonha.

Ele virou o rosto escrevendo algo com o lápis na margem do livro. Levantei e olhei o horário provisório que estava preso no mural. Biologia. Voltei a carteira e com o menino abaixado para pegar o livro, peguei delicadamente o livro de sua carteira para saber o nome, porém, o que despertou minha atenção, foi uma nota com a caligrafia torta.

Ela tinha o sorriso mais lindo que eu já vi, pena que fora borrado pelas lágrimas.


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