Sophie

Flashback On

Novembro de 2001, Sophie, 15 anos.

Era época de férias, resolvi ir para a fazenda. Quando cheguei vi que Ryan também estava passando suas férias ali. Fazia muito tempo que eu não o via. Nos tornamos amigos há alguns anos atrás. Eu sabia que ele gostava de mim, mas ele nunca havia falado nada, e eu preferia assim, não poderia simplesmente dizer o mesmo para ele, pois assim eu estaria mentindo e correria o risco de perder sua amizade.

Fazia algum tempo que eu não parava de pensar em um garoto. Eu o conheci em uma festa e só o vi naquele dia. Aquele dia foi o suficiente para eu me apaixonar por ele. É eu sei, parece idiota, mas foi assim. Foi com ele que tive o meu primeiro beijo há quase um anos atrás. Sim, fazia muito tempo, mas parecia que havia acontecido ontem e desde alguns meses eu venho pensando muito nele. Depois daquela festa eu nunca mais o vi e acho que quase ninguém o conhecia. É horrível, mas eu não me lembro nem o seu nome. Eu tenho um sério problema em gravar o nome das pessoas e ele só me disse uma vez, pois preferia que as pessoas o chamassem de Chris. Ele dizia achar seu nome muito normal, por isso preferia aquele apelido.

Voltei do transe e continuei andando para frente da casa. Logo que me viu, Ryan veio correndo em minha direção com um grande sorriso no rosto. Eu também corri em sua direção. A saudade que estava dele era grande. Fazia meses que não nos falávamos, pois como morava em outro estado só vinha aqui nas férias ou em feriados.

— So, eu estava morrendo de saudades. — Ele era uma das únicas pessoas que me chamavam assim. As outras eram minha mãe e minha irmã, mas Raquel só me chamava assim quando algo muito ruim acontecia.

—Eu também Ryan! — Eu disse abraçando-o.

— Você já esta de férias?

— Sim! E esse ano nem quis esperar meus pais para vir, por isso cheguei tão cedo.

— Que bom! Assim podemos ficar mais tempo juntos! — Ele disse rindo.

— É! — respondi e logo depois fomos pegar nossos cavalos para galoparmos.

Faísca era um cavalo de grande porte com a pelugem numa cor castanha muito escura, mas não preta, tinha as patas brancas e uma mancha também branca na testa, que se olharmos com atenção percebemos que tem o formato de um raio. Eu me lembro que foi justamente por essa marca que coloquei seu nome de Faísca.

O cavalo de Ryan, que havia ganhado de seu pai, quando tinha oito anos, era maior que o meu. Tinha uma linda cor castanho claro, quase bege, e uma das patas castanha muito escura. Ele ficava ali porque na sua cidade não tinha onde deixá-lo. Seu nome era Spirit, pois como ele mesmo dizia, se inspirou no filme ‘Spirit: O Corcel Indomável’, filme que adorava na época que ganhou o cavalo.

Já cavalgávamos por bastante tempo e nenhum de nós sabia onde estávamos indo. Acabamos encontrando um lindo lago, que ao seu redor tinha muitas árvores e flores. Ficamos muito tempo por lá conversando, até que decidimos mesmo eu me negando, a entrar no lago. Como não tínhamos outra roupa e não podíamos molhar aquela, Ryan entrou somente de cueca e eu de calcinha e sutiã.

— Foi assim tão difícil tirar a roupa Sophie? — Ryan disse, fazendo graça.

— Ryan! Para agora ou eu saio e volto para casa. — Eu disse depois de entrar e ficar só com a cabeça para fora d’água.

— Okay! Já parei... Mas por que você tem vergonha se eu já te vi de biquíni? — perguntou.

— É diferente...

—Para mim é a mesma coisa... — respondeu e por um bom tempo ficamos em silencio até eu perceber que ele olhava para mim. Corei envergonhada, e antes de conseguir mergulhar ele se aproximou e segurou minha mão. Ficou me encarando por bastante tempo e foi se aproximando mais até que logo já estava de frente segurando minha cintura. Não tive tempo para pensar no que fazer, pois quando eu percebi ele já estava me beijando. No começo eu me entreguei e correspondi ao beijo, mas percebi o que estava fazendo. Ryan era meu amigo, um dos meus únicos e melhores que eu tinha. Ele era apaixonado e nunca negou, mas ao corresponder esse beijo eu estava dando falsas expectativas para ele. Não, eu não poderia fazer isso.

Tirei suas mãos de minha cintura e me afastei. Ele me olhou confuso, e pude perceber que não entendeu o motivo de eu ter me afastado. Sai do lago sem dizer nada, e também não esperei ele dizer algo. Já colocava minhas roupas quando ele se aproximou. Recuei e ele ao perceber deu alguns passos para trás.

— Sophie... Desculpa, eu não queria fazer aquilo...

— Ryan, não precisa dizer nada okay?

— Eu não preciso, mas eu quero. — disse se aproximando de mim. Diferente de antes eu não me afastei, só o encarei esperando ele falar. — Eu acho... Eu acho que você já deve ter percebido que eu gosto de você Sophie...

— Ryan... — Antes que eu pudesse falar ele tocou meus lábios com seus dedos pedindo silencio.

— Sabe Sophie, eu nunca senti algo assim por alguém. Você me faz tão bem. Todos os dias do ano que eu não estou aqui eu estou pensando em você, em sua risada, em cada detalhe perfeito que fazem você ser quem você é. E... — Ele parou por um instante pensando no que iria falar. —... E eu sei que você não sente o mesmo por mim, olha eu não vou te obrigar a nada. Eu não sei o que me deu antes... só quero que você me perdoe, não quero perder sua amizade. Não sei o que faria se isso acontecesse.

— Ryan eu nunca vou deixar de ser sua amiga. Eu te amo muito, você é muito especial para mim, eu só me assustei, não foi nada. Vamos esquecer isso que aconteceu, ta legal?

— Tudo bem... Mas mesmo assim, desculpa de novo. — Ele disse. Eu assenti com a cabeça e sorri. Já estava indo em direção aos nossos cavalos quando percebi que ele ainda estava lá parado.

— Você vem? — gritei para que ele escutasse.

— Sim... Já estou indo. — gritou de volta.

Fiquei onde estava e esperei ele chegar. Logo que chegou eu o abracei. Ele se surpreendeu, mas logo retribuiu o abraço. Ficamos algum tempo abraçados em silêncio até que eu o quebrei.

— Vamos? — Ele apenas assentiu e sorriu me fazendo sorrir de volta. Fomos caminhando até os cavalos. Montamos e no silencio pegamos o caminho de volta para casa. Já estávamos chegando perto da fazenda, quando Ryan disse:

— Topa uma corrida até a fazenda?

— Claro! — respondi animada. Paramos e ele contou até três. Começamos a correr. Parecíamos crianças, gargalhando e competindo por coisas bobas. Estávamos lado a lado, mas ele passou na minha frente. Faltavam uns cinquenta metros para chegarmos à fazenda, por isso incentivei Faísca a ir mais rápido. Se ele achava que iria ganhar estava muito enganado. Logo eu o ultrapassei ficando alguns metros à sua frente.

— Ah Sophie! Podia me deixar ganhar, pelo menos uma vez! — Ele gritou.

— Não mesmo! — gritei de volta quando consegui parar de rir. Cheguei na fazenda e ele chegou logo depois.

— Por que não? — perguntou se referindo a resposta de não deixá-lo ganhar as corridas.

— Por que se você quiser ganhar de mim, tem que ser de verdade! Eu iria estar me rebaixando muito se eu deixasse você ganhar! — Disse rindo

— Ah é? Eu ainda vou ganhar de você! Você vai ver! — Ele disse rindo também.

Flashback Off

Depois daquele dia Ryan e eu continuamos melhores amigos, até o dia em que eu estava me mudando para Raleigh. Naquele dia ele veio somente se despedir e disse que nunca conseguiria esquecer de mim e que ainda me amava. Eu respondi que gostava dele somente como amigo e que isso não mudaria. Ele se desculpou e eu disse que não havia nada para ele se desculpar. Despedi-me dele e depois fui embora. Desde aquele dia eu nunca mais havia falado com ele.

Depois de me lembrar de tudo, fiquei com as palavras de Ryan na minha cabeça. E então depois de anos percebi o quanto sentia falta da sua amizade.

“— Sophie você é a pessoa mais importante para mim em todo o mundo. Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa. Se precisar falar comigo me ligue, pois sabe que eu irei atrás de você mesmo que seja por uma bobagem. Se você estiver triste sabe com quem pode desabafar. Não duvide: eu sempre estarei do seu lado para qualquer coisa que você precisar.”

Essas foram as últimas palavras que eu pensei antes de cair no meu inconsciente e dormir profundamente até o outro dia.