Under the Sea escrita por Laah Vida, Cotinho


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo narrado pela Amora (nome lindo, eu sei haha). Eu e a Laura vamos procurar escrever com frequência para não correr o risco de morrermos antes de finalizarmos a história. Dito isso, espero que curtam. :D



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Amora Bloodbath

As águas do mar batiam em meus pés descalços quando acordei. Levantei-me vagarosamente pondo minhas mãos sobre os olhos a fim de evitar o contato direto com o sol. Areia que antes estava sobre minhas mãos, deslizou sobre o meu nariz levemente achatado e trouxe a boca um pouco de sal.

A minha frente, uma densa mata pintada de verde se estendida até o infinito do alcance da minha visão. Virando-me para o sol, não pude deixar de admirar o imenso mar que cruzavam horizonte. Por algum motivo suas águas pareciam mais escuras do que o normal.

Ao reparar o navio que estava a minha direita, com o mastro quebrado e com inúmeros buracos por toda a polpa, tive um choque de realidade. Os últimos momentos que passei no navio na noite passada, voltaram a minha mente. A chuva intensa. Os gritos. O medo. Os cantos.

Fui tirada do meu transe com uma mão levada sutilmente ao meu ombro.

– Achei você finalmente! Procurei você por todo o canto. Cheguei a pensar que não tivesse sobrevivido.

Virei para Thomas que estava com um péssimo aspecto e um cheiro horrível, mas apresentava um sorriso verdadeiro de preocupação. Sua camisa estava rasgada e as calças viraram bermudas. A barba parecia ter restos de algas entre os pelos e o suor escorria dos seus braços para dois baldes de água que carregava.

– Bem... Eu estou segura. As águas devem ter me levado para perto do navio porque eu não faço ideia de como fui parar aqui. – Disse gentilmente.

– Que estranho. – Colocou os baldes na areia com cuidado sentando-se virado para o oceano. – Todos os outros caíram para lá. – Continuou, olhando para esquerda. E finalizou. – Aliás, os que sobreviveram, além de você, foram empurrados pelo mar, para o noroeste.

Sentei ao seu lado intrigada como que acabara de dizer.

– Quantos morreram?

– Eu não sei dizer, mas muitos marujos sumiram. Não encontramos seus corpos então chegamos à conclusão que foram engolidos pelo oceano.

– Isso é besteira. – Levantei indignada. – Eles podem estar espalhados pela praia ilha, perdidos, assim como eu. Devemos nos organizar e irmos à procura deles. – Segui para a direção em que Thomas veio, sem olhar para trás.

O marinheiro foi ao meu encontro, me guiando pela linha da praia até o local onde os outros piratas estavam. Neste momento, a sede e a fome me consumiam e o peso do sol em meus ombros dava-me cansaço. Havia muitos destroços espalhados pela areia quente, inclusive, pólvora, rum, e balas de canhão. Entretanto, realmente não via nenhum corpo ou sangue.

A primeira pessoa que aproximou de mim com um sorriso no rosto foi Charles, o cozinheiro do navio. Um senil calvo com cabelos grisalhos e que sempre fora gentil com todos. Ele me abraçou com vontade e pude sentir um cheiro forte de peixe. Provavelmente deveria estar pescando, o que fazia sentido já que pela situação atual do navio, creio que não será possível sairmos deste lugar tão cedo então precisaremos de comida.

– Graças aos deuses, querida! A senhorita está bem? – Questionou-me o senhor.

–Sim, senhor Izzy. – Respondi procurando não transparecer minhas necessidades.

– Por um momento achei que elas tivessem te pegado também. O que seria bem estranho na verdade, mas fico feliz que está bem.

– Ainda bem que não me pegaram não é mesmo?! – Falei indagando-me do que ele estaria falando, enquanto ia a direção de Thomas que sinalizara com a cabeça para segui-lo.

– Do que ele estava falando, Tom?

– Ah, Charles acha que o canto que ouvimos no navio era sereias. Ele crê que elas são as responsáveis pelos desaparecimentos. Bobagem...

Logo após Thomas completar sua frase, nossa intendente chega ao nosso encontro. Ao contrário dos outros, ela estava muito bem arrumada. Usava botas e uma cinta sobre a casaca que destacava sua cintura fina. Na bainha, carregava sua espada.

–Senhorita Bloodbath, fico feliz em vê-la bem. Thomas fez um bom trabalho em encontrá-la. Ao menos não teremos que vê-lo o dia todo choramingando por sua falta. – Ela dirigiu-se o seu olhar para Thomas que tentou se explicar.

– Eu estava preocupado com os marujos feridos. Não que eu não me preocupe com você Amora, mas eu... – Foi interrompido grosseiramente pela Andrea fazendo-me sem querer soltar uma risada.

– Continue seu trabalho marujo, leve a água para Charles e ele o dirá o que fazer.

O pobre Thomas apenas consentiu envergonhado e dizendo um adeus sem jeito, retirando-se.

A intendente me explicou a situação. Após o navio naufragar, muitos piratas foram jogados para fora deste. Alguns sumiram meio ao mar e outros conseguiram nadar até a praia. Entretanto, uma barreira de corais cerca o litoral o que fez com que alguns marujos se ferissem e mesmo com a cauterização dos ferimentos, alguns infeccionaram com risco de perder membros do corpo ou morrer.

Apesar de ser uma situação preocupante, não posso deixar de ficar empolgada por finalmente poder colocar em prática minha função nesta jornada. Meu padrasto sempre opôs a eu fazer medicina em Londres, mas não pude deixar o meu sonho de lado e hoje, finalmente vidas irão depender dos meus cuidados. Preciso dar o melhor de mim.

Andrea e eu adentramos na mata e seguimos por um caminho feito de folhas amassadas e cortadas por pés e facões. A floresta era escura e úmida. Os sons de insetos e animais que desconheço ficavam cada vez mais altos. O caminho monótono me fez refletir sobre a fala de Thomas. Eu nunca acreditei em seres mitológicos que dominam o mar, nem que o mundo acaba em um imenso desaguar de águas, rumo à infinita morte, mas essa ideia de sereias era algo pertinente.

Pouco a pouco os sons bizarros foram diminuindo e o barulho de pessoas rindo, conversando, discutindo e cantando aumentava. Confesso que me senti aliviada. Todo esse tempo Andrea e eu ficamos caladas, o que me deixou desconfortável, todavia a tensão foi quebrada quando chegamos ao acampamento.

O local era cercado por altas árvores que estendiam suas copas por quase toda circunferência, deixando apenas o centro iluminado pelo sol. Ao leste, um pequeno rio cortava a vegetação com suas águas cristalinas. E após o rio, a luz incidia na mata que não parecia mais tão amedrontadora. Os piratas estenderam no chão, sacos de palha que se conseguiu recuperar e outros fizeram camas com folhas. O molde do que antes parecia uma fogueira que se encontrava próximo as camas improvisadas, indicava que eu dormira mais de um dia.

Andrea me levou aos feridos que estavam acomodados em um monte de folhas, sob uma tenda improvisada. Alguns pareciam estar em grandes apuros, com uma infecção que provocou uma congestão hipostática, que precisava ser tratada neste segundo.

A intendente perguntou sobre os materiais que precisaria e clamei por água e meus kits médicos. Enquanto ela chamava alguém para me ajudar, notei que entre os piratas que estavam cortando o troco das árvores se encontrava, ao fundo, quase desaparecendo meio a escuridão da mata, o nosso capitão. Com um corte profundo no braço, tentava esconder a seriedade da situação com um conjunto de pontos mal feitos que provavelmente levaram a piora da infecção. Aproximei.

– Capitão, deixe-me ver melhor os seus machucados. – Disse calmamente, levando minhas aos ao encontro de seu braço.

Surpreendido, largou o seu serrote e me envolveu em seus braços tomados de sangue e terra.

– Amora, minha querida! Deu-me um susto quando soube que você não estava entre nós quando naufragamos.

Afastei-me dele com um sorriso, não querendo ser rude, mas preocupada com sua saúde.

– Capitão, não pode deixa-lo com essa infecção. – Olhou o seu braço como se tudo estivesse bem.

– Foi apenas um corte. Eu já cuidei dele, daqui a algum tempo ele melhorará. Não se preocupe. – Respondeu-me virando-se para a árvore que cortava.

– Este corte está infeccionado! – Interceptei-o. – Permita-me ajuda-lo. - Lancei um olhar sincero a Gordon que por um momento pareceu reconhecer meu anseio.

Quando pensei que cederia, gritos foram ouvidos vindos da praia se aproximando.

– PRECISO DE AJUDA! AJUDA! – Um corsário sairá meio às árvores aflito, chamando a atenção de todos.

Quando ele para, coloca suas mãos sobre a bermuda encharcada de sangue e cessa os gritos. Seus olhos perdem o brilho, sua alma se esvanece, e a lua toma o lugar do sol. Deu-se início as trevas.


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Notas finais do capítulo

Notas:
Congestão hipostática: é um aumento local do volume de sangue em um determinado tecido, acentuada, causada pela pressão.

Se gostaram ou se tiver alguma crítica ou dúvida, comentem.