Partners in Disguise escrita por Jojo Almeida


Capítulo 4
Pranks


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO NOVO, ME VENEREM
Essa história de capítulos enormes... Isso não faz bem não, viu....
Jesus, esse troço foi uma coisa pra escrever. Tão grande. Tanta coisa. Tanto acontecimento.
E eu estou sendo exemplar, não ousem reclamar. Postei em Sun Goes Down, estou postando aqui, talvez ainda poste em TtoR essa semana...
Falando nisso, ter muitas fics em andamento é pior que ter muitos amantes.
Enfim, aproveitem o capítulo! :)



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– Que dia é hoje? – Gus perguntou para ninguém específico, enquanto a professora de literatura prosseguia seu longo devaneio a respeito de Tess (a personagem do clássico de Tomas Hardy).

– Três de outubro. – Katie respondeu. Gus olhou para ela e sorriu, agradecendo.

– Você é a garota de Long Island?

– A própria. – ela sorriu. – Katie Gardner. Kay.

– Gustav. Gus. – ele devolveu, com um aceno de cabeça. – Desculpe perguntar, mas... Por que você pediu transferência?

– Érhm... – Katie hesitou. Di immortales. Ela precisava de uma mentira convincente, e ela precisava de uma mentira convincente rápido. – Longa história. Meus pais morreram quando eu era pequena. Minha tia achou que uma escola interna seria melhor para mim.

– Entendo. – ele sorriu sem graça. – Espero que você goste de Coal Hill de todo jeito.

– Acho que primeiro eu tenho que conhecer Coal Hill. Fiquei completamente perdida tentando chegar no meu dormitório hoje de manhã.

– Onde você está?

– Hmm.... – ela procurou a chave dentro da bolsa, lendo o chaveiro. – 101B.

– Ah. Você está com a Sky.

– Isso! – Katie concordou. – Mas ela não estava lá ontem à noite. Quando eu deixei minhas coisas no quarto.

– Ah, ontem foi a festa de abertura da temporada. Ninguém voltou para o dormitório antes das cinco.

– Nossa, e como vocês estão todos de pé? – ela riu.

– Café. Uma quantidade absurda de café. – Gus respondeu sério, mas riu em seguida. – É Coal Hill. Nós, do time de footbol, sempre comemoramos o começo da temporada. O primeiro jogo é sábado.

– Você é capitão? – ela perguntou, franzindo cenho.

– Não, não. – Gus balançou a cabeça. – Duke é o capitão. Ele.

Katie se virou para ver para quem Gus apontava. Era um garoto loiro alto e musculoso, sentado ao lado de Travis na última fileira. Ele falava sem parar com uma garota na sua frente, e Travis olhava para os dois com uma careta inigualável de nojo. Katie precisou segurar o riso.

– Travis! Hey! Stoll! – Katie chamou, lutando contra os alunos que saiam do prédio e agarrando-o pelo braço. – Finalmente. Onde você estava?

– O professor Grahm.... Gayle.... Grincs.... – Travis coçou a cabeça, sem conseguir se lembrar do nome certo. – O professor de matemática – decidiu finalmente. – pediu para falar comigo depois da aula. Ele achou que eu tinha alguma coisa a ver com o fato de todos os livros dele estarem no jardim quando ele voltou para a sala.

– Travis... – Katie resmungou cansada. – Por que você colocou os livros dele no jardim?

– Porque ele é um babaca. – o Stoll respondeu simplesmente. Katie suspirou, e deu um tapa no braço dele. – Ai!

– É sério, Stoll.

– É sério, Gardner. – ele disse irônico. – Ele leva função a sério demais. Ele xingou aquele garoto... o.... o.... é... Cameron! Isso! Ele xingou o Cam porque ele tinha feito alguns exercícios adiantados.

– Não importa. Quem você acha que é? Robin Hood?

Travis deu um dos seus típicos sorrisos eu sei mais que você, aquele mesmo que Katie tanto odiava.

– A seu dispor.

– Nós não estamos no acampamento, Travis. As pegadinhas têm que parar. – ela passou a mão pelo cabelo, nervosa. – Você não aprende nunca, não? Nós estamos aqui por causa das pegadinhas. Você não pode fazer pegadinhas no seu castigo por ter feito pegadinhas.

– Relaxa, Kay. Está tudo sobre controle. – ele disse, passando o braço pelos ombros dela. Katie fez uma careta.

– Nós temos que ir para o treino agora.

– Okay. Eu só tenho que passar no dormitório. Para deixar minhas coisas e tirar essa gravata ridícula.

– Você devia ter feito isso na hora do almoço.

– Desculpa, mãe. Vou lembrar disso na próxima vez.

Os dois andaram até o dormitório masculino em silêncio, e é só quando já estavam parados na porta do quarto de Travis Katie percebeu que estava segurando a mão dele esse tempo todo. Ela libertou sua mão, balançando os dedos, envergonhada. Travis sorriu.

– Eu te espero aqui fora. – ela disse, e ele entrou no quarto sem nenhuma outra palavra.

Kay andou de um lado para o outro no corredor, passando a mão pelo pescoço. A ponta dos seus dedos parecia pegar fogo. A hiperatividade rugia em seus ouvidos, fazendo com que ficasse difícil pensar. Sua mente oscilava de um tópico para outro. Acampamento. Trigonometria. Almoço. Oferendas. A escola em Anthens. Seu pai. Seu pai! Deuses, ela devia ter falado com ele. Não conseguia se lembrar se tinha falado sobre a missão ou não. Incapaz de aguentar nem mais um minuto naquele maldito corredor, ela virou a maçaneta e entrou no quarto sem nem bater.

– Hey, Trav, você tem um dracma? – pediu impaciente.

– Um... o que? – uma voz desconhecida perguntou. Katie arregalou os olhos e parou no batente da porta, ainda segurando a maçaneta. Duke também parou onde estava, em pé ao lado da cama mais próxima a porta. Ele estava sem camisa (deuses, que visão abençoada) e segurava uma jersey azul escura.

Duke a olhou da cabeça aos pés, criticamente, demorando mais tempo do que necessário nas suas pernas.

– Hey Kay. – Travis disse simplesmente, fechando a cômoda com calma. Ele também estava sem camisa (o que faz Katie indagar se semi-nudez é um pré-requisito para jogadores de footbol). Ele andou até Katie e colocou a mão em sua nuca, beijando-a. – Eu tenho sim. Te dou um mais tarde.

– O que diabos é um dracma? – Duke questionou, franzindo o cenho. Katie abriu a boca para respondê-lo, mas a fechou logo em seguida. Não conseguia pensar em nada. O silêncio pairou entre eles, desconfortável. Era impressão sua, ou aquilo estava demorando uma eternidade?

– Dracma? O chocolate? – Travis disse como se fosse extremamente óbvio, fazendo com que Katie sentisse uma onda de alívio. – Cara, você não conhece dracma?

– Por que você quer chocolate? – Duke não pareceu acreditar.

– Dracma tem, tipo, umas vinte calorias em cada pacote. – Katie inventou um pouco irritada. Em menos de três frases, Duke já conseguira se provar um idiota. – É alemão.

– Tanto faz. – Duke resmunga, saindo do quarto. – O treino começa em cinco minutos. – lembra, em um tom de ameaça.

A porta bate ao fechar e os dois semideuses se encararam, nervosamente, até que Travis não consegue mais prender o riso.

– Katie... Ah... Katie... – Travis tentou começar, respirando com dificuldade. – Deuses, porque você tem que ser tão ruim em mentir?

– Desculpa se eu sou uma pessoa boa e honesta por natureza! –Katie explodiu. Podia sentir as bochechas queimando.

– Você pode ser – ele fez aspas no ar. – “boa e honesta” e ainda conseguir inventar alguma coisa para o mortal não te achar uma maluca completa.

– Não me venha com esse pseudo código de honra de Hermes, Stoll.

– Eu não tenho a menor ideia do que você está falando, Gardner.

– Só me dá um dracma, está bem? – ela suspirou, e cruzou os braços. Travis fez uma rápida busca na gaveta superior de sua cômoda, e por fim jogou uma moeda de ouro em sua direção.

– Pra quê você precisa de um dracma?

– Ligação de Íris. – Katie disse, dando de ombros. – Preciso falar com meu pai.

– Porque você não usa o seu celular? – Travis perguntou com uma careta. – Odeio fazer ligações de Íris. A imagem é um benefício e tudo, mas fazer um arco-íris é complicado demais.

– Aquele celular que está na gaveta da simpática Srta. Roz? Hm, acho que não.

– Espera. – Travis riu, olhando para ela de uma forma estranha. – Você realmente deu seu celular para a secretária?

Katie arregalou levemente os olhos.

– Você não?!

– Claro que não! – o Stoll respondeu rindo um pouco mais, como se Katie seguir as regras fosse uma grande piada.

– Claro que deu! – ela semicerrou os olhos para ele. – Eu vi você dando seu celular para ela.

– Ah. – Travis deu de ombros. – Aquilo era só a isca.

Comoassimsóaisca?

– Só a isca, só a isca, oras. Aquele celular estava estragado a uns dois meses, eu só o trouxe para caso tentassem confiscar o meu. – ele remexeu a gaveta da cômoda novamente, e mostrou o seu smartphone preto para Katie. – Ninguém acredita quando um adolescente diz que não tem celular.

–Travis, você é drogado? Você tem algum problema mental? Na boa, qual é a sua? Se alguém descobrir você vai ter sérios problemas.

– Ah, Kay, relaxa. – Travis disse dando de ombros. Katie sentiu uma subida vontade de gritar. Se ele mandasse ela relaxar mais uma única vez naquela missão, era bem capaz que ela fosse implodir. – Todo mundo faz isso em escolas internas. Essa é a regra número um das escolas internas: nunca dê seu celular de verdade. – ele franziu o cenho para ela. – Você não sabia?

– É claro que eu não sabia, idiota. Eu nunca estudei em uma escola interna, lembra? Você devia ter me avisado! – Katie parou, suspirando. – Tanto faz. Só... dá um jeito de conseguir meu celular de volta.

– E como Hades que eu vou fazer isso?

Ela soltou uma risada fraca, indiferente.

– Dá seu jeito.

– Permissão para quebrar as regras, Gardner? – ele levantou uma sobrancelha, duvidoso.

– Que seja, Stoll. – ela revirou os olhos, abrindo a porta e gesticulando para o lado de fora com a cabeça. – Anda. Nós não podemos atrasar para o primeiro treino.

– HEY! Katie! – Sky gritou do outro lado do campo de footbol, quando Travis e Katie chegaram andando calmamente pela grama. As líderes de torcida estavam sentadas na arquibancada, conversando com alguns jogadores que esperavam o treino começar.

– Te vejo mais tarde. –Katie disse, se virando para andar em direção às líderes de torcida. Travis segurou seu pulso e a beijou, demoradamente.

Katie sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo. Não sabia qual era a do Stoll com todos aqueles beijos, só sabia que estava gostando. E muito.

– Boa sorte. - Ele disse baixinho, quando os dois se separaram, e seguiu em direção ao treinador. Katie andou até as líderes de torcida, um pouco atordoada.

– E você é? – uma garota perguntou, com cara de desprezo, quando Katie parou em frente à arquibancada. Ela era magra e morena, com uma beleza exótica. Estava extremamente claro que ela estava no comando. Sky estava sentada a seu lado, parecendo um pouco inquieta.

– Katie Gardner. – Kay respondeu com o melhor de seus sorrisos gentis.

– Oi Katie! – Sky cumprimentou baixinho, sorrindo abertamente para Katie. A garota lançou um olhar de censura para Sky.

– A jaguar. Certo. – ela disse, num tom de voz esquisito. – Eu sou Alicia. A capitã das moutain goats.

– Prazer! – Katie disse, tentando soar o mais animada e educada possível.

– Tá, tá. Tanto faz. Para o ginásio. – Alicia resmungou, se levantando e passando a mão pela saia. – Squad! – ela gritou para as outras garotas, forte e imponente. – Ginásio! Ashley, francamente, dá pra sair de cima do Josh?!

Katie seguiu Alicia e Sky, em silêncio. O ginásio não era muito longe, ficava para o lado oposto dos dormitórios. Ao entrarem, as líderes de torcida ligaram os holofotes e se juntaram na extrema esquerda.

– O que ela está fazendo com o uniforme das montain goats? – Katie ouviu uma garota perguntar. Ela sentiu as bochechas corarem, e desviou os olhos para o chão. Sabia que não era uma boa ideia.

Alicia parou ao lado de Katie e bateu algumas palmas. O grupo imediatamente se organizou em uma meia lua, fazendo silêncio para ouvir a capitã falar.

– Essa é Katie. Gardner. – Alicia apresentou tediosamente. – Ela era uma Jaguar de Long Island.

As líderes de torcida arregalaram os olhos e fizeram barulhos de aprovação. Katie corou um pouco mais. Ah, aquilo ia prestar.

– Então você é uma All Star? –uma garota loira perguntou.

– Érhm... Sim? – Katie respondeu em tom de dúvida, corando tanto que chegava a ser cômico.

– Claro que ela é uma All Star. – Sky se apressou em responder, sorrindo. Algumas garotas fizeram “wows” e alguém assoviou.

– Achei que elas tinha perdido ano passado quando- uma garota muito baixa começou a falar, sendo imediatamente interrompida.

– Jenn! - uma outra ralhou arregalando os olhos e sorrindo nervosamente. - Cala a boca! Todo mundo sabe que as jaguars deviam ter ganhado.

– Curiosamente... – Alicia cruzou os braços e semicerrou os olhos para Katie. – Eu não me lembro nem um pouquinho de ter te visto nas nacionais do ano passado. Você se lembra, Terry?

– Não mesmo. - Terry concordou séria.

– Eu quebrei o pé uma semana antes. – Katie inventou. Toma essa, Stoll. Quem é uma péssima mentirosa agora? – Durante os treinos.

– E aí elas simplesmente fizeram a dança toda sem você? – uma garota perguntou, duvidosa.

– Não, não. – Katie riu nervosamente.- Elas tiveram que fazer um monte de mudanças e treinar loucamente. Por sorte, nós éramos um número ímpar, e eu ficava em todas as pontas.

– Okay... – Sky começou, olhando em uma prancheta. – Então, de onde nós paramos semana passada? Daquela mesma sequência?

– Não. – Alicia disse firmemente. – Antes disso... Katie tem que passar no teste.

– Ela é uma all star. Uma jaguar de Long Island. – Skyler riu. – Ela não precisa fazer o teste.

Eu sou a capitã. – Alicia sorriu convencida. – E eu digo que ela tem que fazer o teste.

As duas se encararam, e Sky parecia prestes a chorar ou gritar ou os dois ao mesmo tempo.

– Tudo bem. – Katie disse, quase que automaticamente, torcendo para que elas não percebessem que ela estava pirando por dentro. – Eu faço o teste. Sem problemas.

– Ótimo! – Alicia exclamou, sorrindo. – Tirem os colchões! – Ela grita para ninguém específico, e duas garotas obedecem imediatamente, removendo os dois longos colchonetes que estavam na extensão do ginásio.

– E se ela cair? – Sky questionou. – Ela pode machucar feio.

– Ela não é um jaguar de Long Island? Uma all star? – Alicia revirou os olhos. – All stars não caem.

– Alicia, você... você não...- Sky tentou começar, frustada, mas obviamente não tinha argumentos. Alicia levantou as sobracelhas para ela.

O Squad sentou-se na arquibancada, numa espectativa memorável. Katie ficou em pé no meio do ginásio, olhando nervosamente para elas e ficando as unhas na palma da mão.

– Então... o que vai ser? - Tracy perguntou animada. - Cartwheel double roud off?

– Não. Fácil demais. - Alicia balançou a cabeça e então sorriu de um jeito assustador. - Um double back front walkover back band pike?

Katie mordeu seus lábios. Deuses. Do que elas estavam falando? Não tinha visto nada disso na sua pesquisa na noite anterior.

– Não seja hipócrita, Alicia. - Sky se intrometeu, fuzilando-a com o olhar. - Ninguém aqui sabe fazer isso. Muito menos você.

– Tá, tá. - Alicia balançou a mão na direção dela, irritada. Então parou, parecendo pensativa. - Back tuck double hand spring.

Katie riu nervosamente. Ela podia chorar de alívio. De todos os mihões de pulos existentes, Alicia nomeara justo aqueles que ela havia treinado. Maldito Stoll. Ele estava certo.

– Seu casaco. - Terry disse timidamente.

– Desculpa?

– Tira o casaco, Gardner.- Alicia revirou os olhos teatralmente.

Katie tirou o pulover cinza do uniforme da escola, ficando só com a blusa decotada das lideres de torcida.

– Que tal back tuck hand spring back tuck duble hand spring back tuck?– Perguntou com um sorrisinho convencido. Era essa a sequência que ela havia treinado de madrugada. Certo, ela só tinha conseguido fazê-la uma vez. Mas as líderes de torcida não sabiam disso. Alicia deu um riso ao mesmo tempo descrente e desafiador.

Kay andou até o outro lado do ginásio, ficando de costas para elas. Encarou a parede, sem conseguir pensar para qual deus deveria fazer uma prece silenciosa. Não sabia ao certo da existência de nenhum deus da animação de torcida. Apolo talvez? O deus da dança? Teria que ser. Por favor, Apolo. Só dessa vez. Por favor.

Ela deu um passo para trás e pulou, iniciando a sequência. Seu corpo girou no ar maestralmente, e ela não hesitou em nenhum momento. Talvez Apolo tenha escutado, afinal. Quando deu o último mortal para trás, encarou a parede e sorriu, aliviada. Se virou para olhar o squad.

Tracy estava com a boca meio aberta, e Sky sorria. Alicia fazia uma careta.

– Bem-vinda as montain goats! - Sky disse, enquanto as outras ainda a encaravam estupefadas.

– Ainda não! - Alicia protestou. - Como que nós vamos ter certeza que ela sabe animar?

Katie revirou os olhos, e abriu o maior dos sorrisos.

– Be agressive! - ela gritou. Era o único lema que conseguia se lembrar. - Be-ee agressive!

– Tá, tá. - uma garota interrompeu fazendo careta. - A gente já entendeu.

– Você tem que melhorar sua respiração. - Alicia disse, parecendo bem satisfeita que all star não fosse tão boa assim no fim das contas. - Okay! DE PÉ! Vamos, gente. Aquecimento. Duas séries de trinta abdominais.

Travis olhou Katie andar em direção às lideres de torcida, e hesitou. Não sabia para onde ir. Por fim, conseguiu localizar um homem de meia idade com uma prancheta, em pé. O treinador.

– Hm... Hey? - cumprimentou meio em dúvida, quando parou em frente ao treinador. Ele levantou os olhos da prancheta, mas não disse nada. - Travis Stoll. - silêncio. - O novo quarterback?

O treinador respirou fundo e olhou para os lados. Como se procurasse alguém para lidar com o grande problema que Travis era.

– Olha, garoto... eu não ligo se você é a porra do papa. - O treinador disse finalmente. - Você poderia ser a merda do Gandhi que eu não ia dar a mínima.

Travis o encarou, trincando os dentes, meio surpreso. O treinador passou a mão pelo rosto, e se virou.

– JONES! - ele gritou, e um garoto negro muito forte foi correndo em direção aos dois. - Me diz uma coisa Jones, a gente tem um quarterback?

Jones assentiu, recuperando o fôlego.

– Yeah. - ele disse. - Duke é o quarterback.

– O Duke. - o treinador balançou a cabeça. - Ele é um bom quarterback?

– Sim.

– Então por que diabos alguém mandou outro quarterback?!

Jones encolheu os ombros.

– Travis é aluno da transferência. Ele já está no time, tecnicamente. - respondeu muito delicadamente. O treinador riu, estalando os dedos.

– Taí, Jones. Eu não preciso de dois quarterbacks, certo?

– Certo. - Jones disse lentamente, franzindo o cenho. - Você pode colocar um deles na reserva.

– Reserva. Sei. - O treinador repetiu, testando o gosto da palavra na boca. - Nós já tivemos algum reserva?

Travis teve que se segurar muito para não sorrir. Reserva. A palavra mágica que quer dizer nenhum esforço e todo benefício. Aquela missão estava ficando cada vez melhor (ainda mais sabendo que Katie devia estar dando saltos mortais no ginásio).

– Tem o Cam... - Jones disse. O treinador não pareceu entender. - Cameron? Cameron Dallas? - O treinador balançou a cabeça. - Moreno, mais ou menos dessa altura, é reserva da defesa a uns dois anos?

– Ah! - o treinador exclamou, se lembrando. - Esse garoto realmente acha que ele está no time? - supirou. - Bom, tanto faz. HEY! IDIOTAS! - gritou para o resto do time. - DUAS PARTIDAS DE MORTE SÚBITA, TRAVIS E DUKE. Quem perder é o novo quarterback reserva. MAIS RÁPIDO, JOSH.

Eles jogaram uma moeda, e Duke ficou com a primeira rodada. Travis pegou um lugar na grade ao lado do treinador, e observou muito atentamente. É. Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Um garoto chamado Mick jogou a bola para Duke assim que o apito soou. Então, Duke ficou em pé, e deu três passos para trás. Jogou a bola para Jones, que correu até a área atrás das traves de ferro na extremidade do campo. O treinador apitou, e alguns elogiam Duke. Aparentemente, tinha sido uma boa jogada.

Depois que os outros jogadores de alinharam novamente, Travis tomou o lugar de Duke. O treinador apitou, e Mick jogou a bola. Ele agarrou-a no ar, e sentiu como se tudo ao seu redor desacelerasse (do mesmo jeito que sempre acontecia durante uma luta na arena do acampamento). Deu dois passos para trás, ficando ereto. A ali estava. Uma brecha na formação da defesa, entre Gus e um brutamonte qualquer.

Travis inclinou o corpo para frente e correu. Correu o mais rápido que conseguia. Ultrapassou as traves em questão de segundos, e só então olhou para trás. Largou a bola e tirou o capacete, sorrindo. No meio do campo, o resto do time o encarava estupefato.

O treinador estava tão surpreso que tinha esquecido de declarar o fim da rodada, o apito meio solto entre seus lábios.

Puta que pariu!– Gus exclamou, rompendo o silêncio. - Como que você chegou aí tão rápido? Cara, você se teletransportou.

Travis deu de ombros, indo em direção a eles. Não estava nem ofegante. Na arquibancada, Duke observava a cena com uma cara estranha.

– Ele é a porra do Bolt. - Mick resmungou.

– Bem-vindo ao time, Stoll. - O treinador diz ao finalmente se recuperar. Então, acrescenta. - Titular.

Katie entrou no quarto muito calmamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Cada centímetro do seu corpo gritava por perdão. Ela sempre achou que líderes de torcida passavam a maior parte do tempo falando de unhas e garotos, ou dançando e gritando. Mas durante aquela tarde, Katie não ouviu nem meia palavra relacionada a unhas e garotos, nem dançou ou gritou. Na verdade, as líderes de torcida pareciam mais interessadas em abdominais e flexões de braço. Deuses. Tantas flexões de braço.

Sky não estava em sua cama, o que fez Katie imediatamente questionar se a ruiva sequer dormia. Mas ela estava cansada demais para ponderar a respeito disso. Depois do treino, ainda teve que aguentar a longa ligação de íris para seu pai, que falou e falou e falou sobre sua irresponsabilidade.

Se jogou na cama, sem nem se preocupar de tirar o robe que usava em cima do pijama ou puxar as cobertas. Hm, finalmente.

Katie acordou com alguém gritando. Muito alto. Bem no seu ouvido.

Ela fez a única coisa que sua mente sonolenta e assustada conseguiu pensar: gritou de volta, o mais alto que conseguiu. Então rolou para a esquerda e caiu da cama, em cima de um monte de... pés?

– Eu disse que ia ser mais engraçado se a gente gritasse. - Tracy disse entre as risadas. As outras garotas a acompanhavam, e Katie olhou ao redor completamente perdida.

Alicia apontou a lanterna bem para a cara de Katie.

– Seu robe, por favor. - ela disse, e Kay estava tão confusa que simplesmente faz o que ela mandou, jogando o robe azul na cama. - O pijama também.

– O... o quê? - Katie pergunta na defensiva. Ela não sabia porque tinha sido acordada no meio da noite pelo squad inteiro das líderes de torcida, mas não estava gostando nem um pouco.

– Você quer ser das montain goats? - Alicia perguntou revirando os olhos.

– Sim. - Katie respondeu meio em dúvida.

– Então você vai ter que fazer exatamente o que eu falar. - Alicia sorriu maliciosamente. - Tira o seu pijama.

Katie tirou o pijama um pouco envergonhada. Estava usando roupa de baixo descombinada, um sutiã verde e uma calcinha vinho. Não tinha achado o par certo no caos de loungerie que as filhas de Afrodite colocaram em sua mala e estava cansada demais para pensar nisso quando saiu do banho.

– Alguém amarra a venda nela? - Alicia pediu, se levantando. Tracy colocou um pano preto sobre os olhos de Katie, bem apertado. - Os pulsos também. - Alicia lembrou, e alguém amarrou os pulsos de Katie nas suas costas.

Katie queria gritar, e quer dizer alguma coisa bem pensada para Alicia. Mas estava sonolenta, e não conseguia resistir. Também não podia por a missão em risco. Tinha que ser uma montain goat.

– Ela vai descalça? - alguém perguntou, e Katie reconheceu imediatamente a voz de Sky.

– Claro que ela vai descalça. - Alicia respondeu em tom de tédio.

– Mas e se ela machucar? E os treinos? - Sky argumentou. Katie podia praticamente visualizar Alicia revirando os olhos, mesmo que a venda não deixasse nenhum fio de luz passar.

– Tudo bem. - Alicia decidiu. - Você tem algum sapato?

– Tem umas botas de cano baixo marrons na última gaveta da cômoda. - Katie orientou. Uma das garotas abriu a cômoda, e calçou as botas nela com certo custo.

– Pronto? - Alicia pergunta impaciente. Katie escutou as garotas confirmarem, e então elas pediram que ela se levantasse.

Elas guiaram Katie para fora do quarto e pelo corredor, saindo do dormitório. Katie não consegue ver para onde elas vão, mas demora muito e as garotas fofocam e riem o caminho todo. Infelizmente, ventava, e o clima não era nem um pouco favorável para um passeio só de loungerie. Tudo que Katie conseguiu perceber foi que a grama fofinha que se esforçava para encostar em suas panturrilhas foi substituídas por galhos secos e uma vegetação rasteira.

Elas andaram durante algum tempo, Katie praticamente dobrando no meio de tanto frio, até que ao longe conseguiram ouvir vozes.

– Hey! HEY! - Alicia gritou, fazendo com que o squad imediatamente parasse com todas as conversas paralelas. Elas pararam de andar, e as vozes ficaram mais altas e mais claras. - Ah, eu não 'tou acreditando nisso.

Katie ouviu passos para o lado esquerdo, e em seguida alguém segurou seu braço e a puxou nessa direção.

– O que vocês estão fazendo aqui?! - Alicia questionou, alguns metros mais a frente.

– O que vocês estão fazendo aqui? - uma voz masculina rebateu. Kay tropeçou, e seja lá quem estava puxando-a pelo braço pede desculpa.

Ela andou mais um pouco e parou. Escutou então vários assobios, e vozes masculinas gritando coisas obscenas.

– Dá pra alguém tirar essa coisa dos meus olhos? - Kay perguntou, irritada. Surpreendentemente, alguém obedeceu.

Katie piscou, tentando se ajustar a falta de luz. Estava quase tão escuro quanto a venda. Do outro lado de uma clareira cercada por árvores altas, o time de footbol inteiro encara as líderes de torcida, apontando as lanternas brilhantes impiedosamente. Travis está entre eles, usando só uma calça de pijama e descalço, com uma venda azul amarrada desleixadamente sobre seus olhos.

Kay corou violentamente. Ela estava usando só roupa íntima e botas de cano curto, na frente de todos aqueles caras que ela sequer conhecia. Roupa íntima descombinada.

– Gardner? - Travis perguntou, confuso. Ninguém pareceu ouvi-lo.

– É sério, Duke. -Alicia disse irritada, cruzando os braços. - Por que ele está vendado?

Duke deu de ombros.

– Por que ela está seminua? - ele devolveu, jogando a lanterna para cima e agarrando-a novamente. - É uma noite cheia de perguntas.

– Quem está seminua? - Travis perguntou, olhando para os lados mesmo que vendado, e foi imediatamente ignorado.

– Duke! - Alicia guinchou. - Todo mundo sabe que a pegadinha da floresta é coisa das líderes de torcida.

Gus riu, com escárnio.

– Não é não. - ele disse. - Foi Cam que inventou isso. Ele sugeriu hoje depois do treino.

– Não foi não! - Alicia argumentou. - Há uns quatro anos o squad fez isso com uma garota chamada Brienne qualquer coisa.

– Você nem estudava aqui há quatro anos! -um dos garotos mais no fundo opinou.

– Mas a irmã da Sky estudava. Ela era capitã. - Tracy se intrometeu. - Foi ela quem te contou isso, né Sky?

– É.. - Sky concordou baixinho, obviamente a contragosto.

– Olha, tanto faz. Tá frio. - Gus reclamou. Katie quase riu da cara dele. Frio? Experimenta ficar só de loungerie. - Só decidam logo.

– A gente pode deixar os dois aqui. - Ashley sugeriu, muito diplomática. Alicia e Duke se entreolham, mas não dizem nada. - Eles são namorados, de todo jeito.

– Ele não é meu namorado. - Katie se apressou em corrigir, quase que por hábito. Alguns garotos do time de footbol olham para ela de um jeito estranho, e Katie se pegou desejando ter as mão livres para mostrar o dedo do meio para eles.

Alicia e Duke deram de ombros.

– Melhor ainda. - Duke disse, e o time de footbol ri.

– Hey! Amarra as mãos deles! - algum garoto gritou, e Katie trincou os dentes enquanto eles usavam um terceiro pedaço de corda para amarrar suas mãos nas dele.

Katie esticou os braços o máximo possível, tentando manter-se longe de Travis. Sua pele se encostava na dele em todos os lugares, causando choques elétricos no mínimo perigosos. Frustada, ela assitiu seus caros colegas de Coal Hill desaparecer por entre as árvores, indo propositalmente para todas as direções para que eles não conseguissem saber qual é o caminho certo. Tiveram a consideração de deixar duas laternas desligadas no chão e remover a venda de Travis.

– Katie. - Travis chamou baixinho.

– Cala a boca, Stoll.

– Hm, eu não quero incomodar nem nada, mas nós estamos amarrados sozinhos no meio de uma floresta à noite. E eu tenho quase certeza que você está seminua.


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Notas finais do capítulo

Travis > Sherlock Holmes. Hahahha!
Quem viu a referênciazinha de Meninas Malvadas no começo? Uma homenagem pros dez anos do filme, que foi semana passada.
Sinto muito pelo headcliff.
Okay, nem sinto.
Mas aguardo ansiosamente as ameaças de morte nos reviews (pode mandar amor também, eu gosto de amor)
Se você ainda não tiverem visto, lembrem de dar uma passada na Sun Goes Down, minha fic AU de Tratie.
Beijinhos