Cristais de Sangue escrita por P David


Capítulo 2
Olhos Abertos


Notas iniciais do capítulo

Valeu pelo menos que entrou e olhou.
Boa leitura.



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Cristais de Sangue

Capítulo 2: Olhos Abertos

Uma hora mais tarde já havia passado pela placa de boas-vindas de Cristal, com letras contorcidas e sujas de musgo. As casas eram bonitas, pelo menos do lado de fora, a maioria tinham sido pitadas em tons variados de verde e azul, as outras eram em tons pastéis, as casas tinham telhados triangulares e roseiras se enroscando nas cercas.

Minha segunda mensagem de Christian no dia dava especificações sobre minha nova casa. Estacionei em frente a um prédio, cinza, que ficava de frente para um emaranhado de árvores-uma praça provavelmente-.

Subi até o cinto andar e abri o apartamento 17, número sugestivo considerando meu atual estado de sorte. Ele já havia sido mobilhado, sofás de couro preto, tapete felpudo branco, mesa de centro de vidro e uma estante de madeira escura com uma televisão de muitas polegadas e enormes caixas de som.

Joguei no chão as poucas coisas que eu tinha pego no carro e fechei a porta atrás de mim, voltando a explorar minha nova casa. A primeira porta que eu abri era um quarto, meu quarto. Ele havia sido forrado com papel de parede branco com desenhos em espirais negras, a cama de ferro estava coberta com edredom rosa claro, e de ambos os lados da cabeceira havia criados mudos cremes, com abajus branco perolado. Ao meu lado estava uma poltrona de pelúcia roxa e quase encostada nela outro abajur, só que esse era quase do meu tamanho, de frente para cama estava uma janela de vidro com cortinas negras e broches dourados de flores presas a elas, impedindo qualquer passagem de luz. Na minha frente havia outra porta, atravessei o quarto e abri apressada, o cômodo foi consumido completamente por luzes fluorescentes que iluminaram o closet. Ele tinha armários brancos, assim como a penteadeira de boneca no final do closet, e puxadores e araras dourados. As roupas ainda estavam com as etiquetas de marcas famosas arrumadas por cartelas de cores, do mais claro ao mais escuro.

Ao lado do quarto havia uma cozinha e do lado oposto um banheiro, em ambos o branco era predominante assim como na casa inteira.

O resto do dia passou feito um borrão, assistir parte da manha, folheei alguns livros que eu encontrei no closet a tarde- no entanto nenhum valia a perda do meu tempo- os coloquei na estante da sala, pelo menos serviriam como decoração. À noite eu brinquei de Barbie com as minhas roupas novas e bebi chá misturado com uísque, fiquei supressa em achar a garrafa, um adulto responsável nunca deixaria uma garrafa de bebida alcoólica com um adolescente, mas também não a largaria em um cemitério. Enfim, Christian estava longe da definição de responsável.

De manha acordei com o barulho do meu celular tocando, se é que eu havia dormindo, qualquer som por mais baixo que fosse mim fazia acorda, já os mais altos davam a impressão de que meus ouvidos começariam a sangrar a qualquer momento. Chequei o visor do celular, outra mensagem de Christian.

“SUA PRIMEIRA AULA COMESA DAQUI À UMA HORA. LEVANTA!”

O chinguei mentalmente e voltei a enterrar meu rosto no travesseiro, eu não precisava ir se não quisesse, mas a possibilidade de passa outro dia enfurnada nesse apartamento mim fez pular da cama, literalmente.

Tomei banho, escovei os dentes, penteei os cabelos, passei um pouco de maquiagem e peguei as peças mais simples que eu achei no closet -se é que isso era possível-. Uma bolsa de material escolar estava no chão ao lado da penteadeira, para se destacar das outras, supus.

Dei uma olhada rápida na geladeira, mas nada abriu meu apetite, à noite eu teria que procura algo mais substancial pra comer. Peguei o carro e comecei a procurar minha única fonte de entretenimento, por enquanto. Na segunda tentativa eu consegui encontra, não foi o que eu chamaria de difícil, considerando que só havia uma escola na cidade. O prédio era grande, quadrado e de dois andares o esqueleto de tijolos laranja era exposto sem nenhum sinal de tinta, o que deixava a estrutura rústica, bonita na minha opinião. Do lado direito haviam mesas de piquenique feitas de madeira e pintadas de marrom, e do esquerdo um campo de futebol, onde um grupo de garotos corriam atrás de uma bola. E circundando tudo isso, havia uma floresta de pinheiros e eucaliptos.

Estacionei o carro e procurei a secretária, Christian tinha falsificado meus documentos, de Marina Mcwell eu passei para Marina Scoot, uma grande diferença, mas manteria a policia ou qualquer um que estivesse procurando por mim longe. Das minhas aulas que eu podia chamar de normais eram, história, geometria, inglês e biologia as outas eram de italiano a latim avançado sendo que eu nunca se quer tinha aprendido o básico. Peguei meus horários e procurei minha primeira aula, com a ajuda do mapa no verso da folha.

Logo depois que eu sentei no final da sala, uma senhora de cabelos grisalhos amarrados em um rabo de cavalo entrou na sala, em cima de scarpians azul-marinho, e vestindo saia riscada a lápis preta na altura dos joelhos e blusa de seda laranja sem mangas, a forma como ela caminhava mim fez compara-la a uma modelo da terceira idade.

Peguei um caderno preto dento da mochila cinza e comecei a rabiscar as margens da folha.

–Se eu fosse você pegaria nota do que ela fala, as letras de Str. Nayara são terríveis. - uma garota com traços orientais ao meu lado comentou- A propósito sou Jayles. - ela emedou abrindo um largo sorriso.

–Marina... Scoot. –mim apresentei usando meu novo sobrenome, quanto mais cedo eu mim acostumasse a ele melhor.

– Você é nova aqui, de onde você veio?- ela perguntou virando todo o corpo em minha direção.

–Altri. - a resposta foi imediata, eu tinha que aprender a esconder isso.

–Hum... – ela pareceu processar – É uma cidade incrível, por que você veio pra cá?- ela perguntou quase incrédula, por eu ter escolhido Cristal ao invés de Altri.

–Meus pais- engasguei- Viajam muito, e eles acharam que uma cidade pequena mim manteria longe de problemas.

–Eu queria que meus pais mim largassem mim largassem em uma cidade. Sem ofensa!- ela mim olhou com os olhos arregalados, se desculpando- É que meus pais são super protetores de mais.

–Tudo bem- não estava tudo bem pelo menos ela tinha pais.

No final do terceiro tempo, fui em direção ao refeitório onde tinha marcado de encontrar Jayles, enquanto caminhava mim senti estranha, como se estivesse em perigo ou sendo observada, minhas presas saltam da gengiva por causa da sensação, eu só queria que meus olhos não tivessem seguido a mesma linha. Quando virei tive o cuidado de estreitar os olhos como se estivesse olhando para o sol, no entanto não havia nada que representasse perigo, só alunos conversando encostados em seus armários e caminhando apresados em direções alternadas. Eu estava quase desistindo quando eu o vi. Seus olhos azuis escuros mim encaravam com atenção, o rosto estava serio sem nenhuma expressão aparente, ele era loiro e alto e eu podia chutar uns 2m, também podia ver os músculos embaixo da camisa branca, rígidos como se ele fosse feito de pedra. A possibilidade de pergunta o porquê dele estar mim encarando foi pelos ares, quando Jayles quebrou nosso contato visual pulando em minha frente e mim arrastando pelo braço. Quando eu voltei a olhar ele tinha sumido.

A mesa em que nós nos sentamos era afastada das outras e só eu e Jayles estávamos sentadas nela.

–Então, onde estão os seus amigos?- a pergunta fez ela engasga com um pedaço de dunot.

–Hum... Digamos que eu não sou o que chamam de “Popular” - ela fez aspas com os dedos. - Então vai fazer o quê hoje à noite? –ela mudou de assunto.

–Estou aceitando sugestões. - a olhei com esperança, eu não queria ficar sozinha de novo.

–Eu trabalho em um café na praça, hoje vai ter show de uma banda que... Eu não sei o nome, mas vai ser legal...

–Que horas?- perguntei apressada.

–Às 8h, vai ser legal, nós vamos poder doces de graça. - ela cochichou como se fosse segredo se inclinando sobre mesa.

–Isso é certo?- perguntei no mesmo tom que ela usou.

–Eu trabalho como uma escrava naquele lugar, pega uns doces de vez em quando é como um bônus e mim faz bem. - ela desabafou.

Abri meu refrigerante e bebi um gole, o gosto estava horrível, eu precisava beber alguém hoje à noite, caso contrário eu ia descobri como eu mim comportava quando ficava com fome, forcei mais um gole pela minha garganta e deixei a garrafa de lado.

No final de todas as aulas eu dei uma carona a Jayles, ela morava distante da escola, quase na entrada da cidade, sua casa era bonita, lilás e ficava escondida atrás de dois arbustos enormes. Depois de pedi três vezes minha confirmação de que iria a cafeteria ela entrou em casa e mim deixou ir.

Coloquei o carro na garagem do prédio e caminhei até a praça, as árvores eram lindas em tons vibrantes de verde, algumas delas tinham raízes expostas, outras com troncos grossos e algumas nem passavam de brotos ainda. A calçada era um conjunto de pedras como um quebra-cabeça, formando desenhos com as mais escuras como: esferas, triângulos e caracóis. Os galhos se misturavam com os das outras árvores, formando um telhado verde acima da minha cabeça. Sentei em um banco de concreto, próximo a algumas flores que rodeava um arbusto.

O vento era agradável, mas a calmaria mim fazia pensar em coisas que eu queria esquecer, como minha mãe no incêndio, meu pai que eu não tive a oportunidade de ver antes de morrer, a mordida que mim transformou no que eu sou agora e que eu evitava medir as consequências, talvez por medo ou por sei lá o quê e a solidão, eu não tinha ninguém com que eu pudesse contar. Respirei fundo e enxuguei as lágrimas que ameaçavam a cair desviando meu olhar para outro ponto da praça, onde o mesmo garoto loiro da escola estava encostado numa árvore, com os braços sob o peito e mim encarando. Eu ficaria assustada de ser seguida por alguém se fosse humana, mas agora eu podia mim defender sozinha. Levantei do banco e joguei uma alça da mochila sobre um ombro começando a caminhar em direção a ele. Nos primeiros segundos ele pareceu não se importa com a minha proximidade, mas depois abriu um sorriso sínico e deslizou para traz da árvore. Aumentei o passo- melhor dizendo comecei a correr- no entanto alguma coisa deu errado e meu corpo se deslocou rápido de mais, tornando minha visão turva. O vento jogou meus cabelos para traz e arrepiou os pelos dos meus braços, quando eu parei estava do outro lado da praça. Eu a tinha atravessado em segundos. Olhei em volta verificando se alguém tinha notado meu súbito aparecimento, mas não tinha quase ninguém na rua. Cristal era tipo uma cidade fantasma, se não fosse pelos barulhos dentro das casas eu cogitar essa hipótese.

Voltei para meu apartamento depois de verificar que o garoto tinha evaporado. O resto da tarde eu fiquei correndo de um lado para o outro, algumas vezes minha visão ficava nítida, mas quando eu achava está progredindo ela mim fazia duvidar se eu não precisava de óculos.

As sete eu parei com o meu vai e vem e fui mim arrumar, vesti uma blusa de cetim rosa, jaqueta de couro preta, calça squiny jeans e botas de camurça. Joguei as chaves e dinheiro na minha jaqueta e fui embora. Não foi difícil encontrar a cafeteria ela tinha uma placa enorme de neon, escrito “CRYSTAL COFFER”.

Jayles estava atrás do balcão, rodando em uma cadeira giratória devorando um capy-cake.

–Belo lugar- comentei mim sentando em um dos bancos de frente para o balcão, ela sorrio para mim e continuou girando na cadeira. O lugar tinha certa semelhança com a lanchonete que eu havia estado no dia anterior, sofás vermelhos de frente para mesas de metal, com luminárias presas ao teto em cima de cada uma, ao longo do balcão em minha frente paredes de tijolos pintados de marrom e nas prateleiras canecas de diferentes tamanhos além de recipientes contendo pó de café.

–É estranho, eu sei, como se eu fosse subi ai em cima pra pega alguma dessas coisas, meu salário não vale o risco de morte. - ela falou seguindo o meu olhar e enfim parando de girar em cima da cadeira.

–Achei o nome do lugar criativo. - debochei.

–Reclame com o Dante. –ela piscou, pegando uma caneca atrás do balcão e a enchendo de café. –Leite, açúcar...?

–Sim. –concordei, minha garganta começou a arde por antecipação.

–Aqui. – ela colocou a caneca na minha frente e eu dei alguns goles forçados.

Minutos depois o lugar estava lotado, as pessoas estavam se amontoando uma em cima das outras para ficarem perto do palco, montado no final do lado direito da cafeteria.

–Parece que a banda faz sucesso. –praticamente gritei para que ela mim ouvisse, Jayles enche-o outro copo de café e o entregou a uma garota ruiva.

–As músicas são terríveis, mas são gostosos. – ela mostrou a palma da mão para um garoto que a chamava. –Eu estou ocupada! –ela gritou para ele, o garoto resmungou alguma coisa e desapareceu.

–Vai começar. –ela mordeu o lábio inferior fazendo careta de desgosto e se virou pra mim. –Seja forte.

O vocalista da banda passou a alça do baixo pelo pescoço enquanto os outros integrantes da banda também se preparavam. Ele bateu três vezes no microfone antes de falar.

–Essa música foi pedido para morena sentada no balcão. – ele piscou e instantaneamente todos os olhos do recinto estavam todos em mim, considerando que eu era a única sentada no balcão. Virei o café todo na boca, pouco mim importando para dor. No primeiro refrão, quem quer que tenha pedido a música se arrependeu, falava sobre uma mulher que morreu e deixou saldades ou alguma coisa do gênero, eu parei de acompanhar na metade.

–Alguma ideia de quem possa ter pedido? –perguntei a Jayles.

–Claro, a maioria das pessoas aqui, você é bonita, supere. –ela falou enquanto dançava agarrada em uma vassoura.

–Pessoas?- perguntei confusa.

–Eu contei com as possíveis lésbicas. –ela suspirou cansada e foi atender o garoto que a chamou minutos atrás.

Três músicas depois, metade das pessoas já tinham ido embora, talvez se deram conta da perda de tempo e da poluição sonora que estavam sujeitos.

Disse a Jayles que ia tomar um ar, enquanto ele se recusava a atender outro cliente, me perguntei como ela conseguia manter o emprego. A sede estava mais forte, era como se estivessem aranhando minha garganta ou mim fazendo apagar tochas com ela. Do lado de fora pra variar, não tinha ninguém, talvez tivesse toque de recolher ou algo do tipo e as pessoas lá dentro estivessem desobedecendo. Enfim perguntaria mais tarde a Jayles.

Ia começar a procura alguém dentro da cafeteria, quando um barulho no beco ao lado chamou minha atenção. Mim escondi atrás de uma lata de lixo enquanto dois garotos se engalfinhavam mais para o fundo do beco, eu poderia pensar em separa se um deles não estivesse com as presas expostas, semelhantes as minhas. O vampiro estava tentando chegar ao pescoço do de casaco azul-marinho –humano provavelmente- pelo menos cheirava como um. Esse segurava os ombros dele impedindo que tivesse sucesso, o vampiro cansou de tentativas falhas e arremessou o garoto contra a parede, ele soltou um gemido com o impacto e cuspi-o sangue. O vampiro riu com a cena e deu outra investida, só que dessa vez o garoto puxou uma estaca da mesma cor seu casaco e enfiou no coração dele. O vampiro cambaleou pra traz, caio de joelhos e começou a rachar, a pele dele parecia um vulcão entrando em erupção, a cada cratera aberta, sangue escoria junto ao fogo, até que ele entrou completamente em combustão.

Cada célula de autopreservação gritava pra que eu saísse dali, mas eu não conseguia mim mexer, eu estava com medo e em choque. Senti uma mão fechar em meu pulso e outra tapar minha boca.

–Confie em mim. –quem que fosse sussurrou em meu ouvido, como se eu tivesse opção.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Se houver comentários eu posto o próximo amanha.