Broke escrita por Esther, Esther Alves


Capítulo 3
3 - Remains


Notas iniciais do capítulo

Olá, babes. Capítulo concertado! Yeeey!
Enjoy.



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In My Remains
Separado
Vasculhando entre os destroços
Eu não consigo me concentrar
Procurando por uma mensagem em meio ao medo e a dor
Destruído e esperando por uma chance para sentir-me vivo
Agora em meus restos
Estão promessas nunca compridas
Livre-se do silêncio
Para levar embora o pior de mim
Despedaçado
Caindo nas fendas de cada coração partido
Cavando entre os destroços de seu desprezo
Afundando e esperando por uma chance para sentir-me vivo

Capítulo 3 — Remains

Duas semanas. Duas malditas semanas que as investigações já haviam dado seguimento, e não havíamos descoberto nada de útil para poder calcular o próximo passo.

Analisei papéis, escutei gravações suspeitas e fiz toda a parafernália que tinha que exercer, contudo, nada que pudéssemos realmente tomar como importante.

Desde que analisei o relatório sobre a morte de Ian Howell, não havia uma explicação plausível. Havia peças faltando, uma peça-chave. Algo de magnitude relevância que a fez arriscar a pele, algo de tamanho merecimento que não conseguia passar-me pelo pensamento o que poderia ser. Contudo, não impedia-me tentar imaginar.

O que raios poderia ser tão importante para ela? O quê?!

Suspirei irritado. Não havia uma resposta concreta. A maldita resposta que não permitia-me chegar ao fundo desse enigma. Não havia resposta para todas as perguntas que se entalavam em minha garganta.

Porque as perguntas não eram para serem respondidas.

— Chefinho! — ouvi a voz escandalosa de Mooser e revirei os olhos.

— O que há, Mooser? — questionei-me entediado, virando-me para ele de braços cruzados.

— É o John, você sabe, a mesma coisa de sempre. A Christine...

— A Christine é insuportável! — Melissa entrou furiosa no escritório.
Arqueei a sobrancelha.

— Qual a divergência dessa vez? — questionei, indiferente. Aquilo realmente não interessava-me.

— A Christine mandou-me achar um Agente para mandar ao CSI, como se isso fosse o meu trabalho! Como se eu fosse empregada pessoal dela! Isso é um absurdo! — Melissa estava vermelha de raiva. — E o John concordou!

— Enviar um Agente ao Departamento para quê? — ignorei os ataques de raiva ela e questionei-lhe.

— Para substituir Ian. Como ele era o Chefe Nivel 3 do Departamento, houve falta, porque não havia ninguém do Nível 3 para substituí-lo. — Melissa falou dando de ombros. —

— No CSI não tem Detetive de Nível 3? — Mooser disse. — Cara, isso é novidade!

— Só há Nível 1, a Detetive Bonasera é a única de Nível 3. — Melissa disse.

— Melissa, não lhe disse para ir até a Sede solicitar um Agente? — Whitney apareceu com a expressão fechada.

— Eu não vou, Christine! Isso não é meu trabalho!

— Melissa, eu não estou pedindo. — Whitney ordenou, dura. — Vá logo, há muito o que fazer quando você voltar.

Melissa fuzilou Whitney e fitou-me indignada. Suspirei irritado.

— Deixe-a, Whitney. — disse, gélido.

— Mac! — Whitney olhou-me irritada. — Não interfira toda vez que algo não agradar a Melissa, ela está ficando acostumada a não cumprir minhas ordens!

— Ela fará o trabalho dela, Whitney, e não seus caprichos fúteis. — retruquei duramente e Whitney apenas bufou de raiva.

— Está bem, Senhor-Todo-Poderoso! — ela se jogou na cadeira como uma criança mimada, o que eu fiz questão de ignorar.

Melissa sorriu e agarrou-se ao meu braço, ficando na ponta dos pés e selando os lábios em minha bochecha.

— Onde está John, Melissa? — questionei-lhe.

— Ah, ele estava no escritório dele a última vez que o vi, Mac. Vou procurá-lo! — sorriu e saiu à procura de John.

— Mooser, quero que vá até a mansão onde Katherine Phillips residia. Há alguns dias, a senhora Phillips telefonou-me para informar-me que há uma espécia de diário onde a filha relata sobre Miguel Somers. Podemos achar pistas sobre seu paradeiro.

— Certo, chefinho. — Mooser riu escandaloso como sempre e saiu.

Encostei-me na mesa de madeira rústica e olhei a ficha criminal de Ian Howell. Mas acabei desviando o olhar para a cicatriz média nas costas das mãos. Bonasera havia feito um bom trabalho, enfermeira não seria uma carreira ruim.

— Você não desiste mesmo, não é? — desviei meu olhar para Whitney. — Está a semanas pesquisando sobre Ian Howell.

— Tenho minhas razões. — disse-lhe, gélido.
Ela sorriu e caminhou até mim. Parou à minha frente e pôs as mãos em meus ombros.

— Sei que sim. Confio em sua capacidade. Mas concentre-se no foco das investigações, Mac, sem você, falharemos mais uma vez. — ela olhou-me nos olhos.

— Os melhores não falham, Whitney. — retruquei friamente.

— Somos humanos, afinal. Falhamos, caímos e nos reerguemos.

— Está errada. — tirei suas mãos de meus ombros. — Se caímos, ficamos no chão, Whitney. — Christine não ficara surpresa com minha resposta.

— Você apenas tem que dar-se a chance de se reerguer então, Mac. — Whitney aproximou-se novamente, apenas para me abraçar.

Não retribuí seu abraço.

Não há como sair do abismo que prende-me e suga-me, retirando-me a vida. Ele é profundo, e afoga-me na escuridão, com raízes amargas e dolorosas, que cada vez mais expõe minhas feridas abertas a uma terrível infecção.
Reerguer-me seria deixar as pessoas me matarem outra vez.

— Mac, o John está aqui. — ouvi a voz irritada de Melissa.
Whitney suspirou e me soltou.

— O que você quer, Taylor? — falou com seu tom indiferente.

— Qual é a situação do Departamento? — questionei-lhe.

— Ian Howell era o supervisor-chefe do CSI, e a morte afetou de forma geral todo o Departamento, e não há ninguém dentro do mesmo capacitado a substituí-lo. — John dizia sem emoções.

— Por isso a Detetive Bonasera pediu que enviássemos um Agente do Nível de Supervisor para que substituísse Ian, mas nenhum dos que contatei estão disponíveis. — Whitney completou. — Preciso contatar a Sede para enviar um Agente para lá.

Ian Howell foi morto com um propósito, que provavelmente havia sido descumprido, ela o matou. O matou porque havia algo de extrema importância por detrás, o que significava que ela estava perto.

E eu precisava encontrá-la.

E se estava perto, ainda havia algo há mais. De alguma forma, o Departamento está ligado com a máfia e dessa relação havia uma peça-chave. Sim, ela só poderia estar aqui por essa relação. Eu só precisava descobrir que relação existia, e para isso, eu tinha que estar perto. A melhor solução seria investigar dentro do Departamento e então eu a acharia.

— Não contate mais ninguém, Whitney. Eu mesmo me encarregarei do Departamento. — falei firmemente.
Melissa e Whitney me olharam de olhos arregalados e John sorriu debochado.

— O quê?! Mac, você não pode fazer isso! Você é nosso chefe, trabalha conosco há anos e prometeu-me que iria ficar! — Melissa se manifestou.

— Concordo com a Melissa! É uma decisão estúpida e incabível dedicar-se ao CSI, eles são uma das piores equipes, senão a pior dos Estados Unidos. — Whitney disse, como se fosse óbvio. — É um completo absurdo que esteja sequer cogitando a possibilidade de ir para lá, Mac!

— As investigações estão em andamento, você não pode nos abandonar assim, não conseguiremos sem sua supervisão! — Melissa falou.

— Seja sensato, Mac, você deixar uma equipe profissional, altamente treinada para dedicar-se a um fracasso como o CSI é quase uma piada. — Whitney zombou. — Eles são os piores no que fazem, nem sequer experiência de Nível 2 possuem, para fazer uma simples substituição de um supervisor-chefe. Equipes assim nem deveria atuar, é uma vergonha para a polícia americana. Esqueça essa ideia estúpida, ok?

Eu dei um meio sorriso sarcástico.

— Você está pondo em uma posição muito alta, quando esteve no mesmo nível ou até pior que eles. — rebati, duramente.

— Por que está sendo grosseiro comigo? Apenas por que falo a verdade? — perguntou, irritada.

— Você está apenas falando o que quer, Whitney, e aproveitando-se disso, está sobrepondo seu ego inflado demais. — ela arregalou os olhos.

— Qual o seu problema?! Eu só quero que desista da estúpida decisão de ir para o CSI, quando está com um emprego e um salário ótimo aqui!

— Não questione minhas decisões. — respirei fundo, buscando a calma que eu não possuía.

— Sim, eu tenho o direito de questionar, Mac, tenho tanto poder quanto você e posso fazê-lo quando tomar decisões estúpidas como essa. — falou, entredentes.

— Use o "poder" para ser uma boa Agente, e não para inflar seu ego. Quanto ao profissional, aceito que critique minhas decisões, contudo, o pessoal não interfira. Você não tem direito algum de meter-se em meus assuntos. — retruquei, severamente.

— Você não deveria estar sendo tão duro comigo. Está sendo injusto, muito injusto. — Whitney começou a dramatizar.

— Creio que precise repensar muito seu conceito de justiça, Whitney. — rebati.

Ela bufou de raiva e saiu da sala.

— Oras, você realmente conseguiu tirar a Christine do sério, Taylor. — John disse debochado.

— John, cuide da minha transferência. Quanto mais rápido o fizer, melhor.

— O farei agora mesmo, chefe. — riu zombeteiro e saiu.

Melissa encarou-me com a sobrancelha arqueada. Sentei-me no sofá espaçoso do meu escritório e ela fez o mesmo.

— O que está havendo, realmente? — perguntou, cruzando os braços.

Eu balancei a cabeça, dando um meio sorriso.

Melissa sabia o que passava-se comigo. Desde que chegara ao FBI, eu fui designado a treiná-la e rapidamente ela afeiçoou-se a mim, de forma que ela tornou-se muito próxima, até mais que Mooser e John, - que mantenho longos anos de amizade -devido a isso, Melissa passou a conviver muito comigo, a ponto de não nos separarmos mais - não por escolha minha, claro.

— Contente-se em saber que minha ida ao CSI não é somente por um decisão pessoal, há algo que preciso encontrar e lá estará a resposta que preciso. — respondi, fitando-a.

— Eu não queria que você fosse... — ela abraçou-me. — Mas você sabe o que faz. — a abracei de volta. — Tome cuidado, por favor, seja quem for que te faz ficar assim. — eu enrijeci meus músculos sob o abraço de Melissa.

Afastei-me dela, tenso.

— É a última vez que me verá falar sobre isso. — minha soou cortante, segurei em seus ombros fortemente. — Esse assunto é absolutamente estritamente proibido. Jamais, de modo algum repita isso, para quem quer que seja. Jamais. — a apertei e ela se encolheu. — Jure que não tocará nesse assunto, jure. — a sacudi.

— S-sim... — ela sussurrou. — Eu juro... juro! Mas você está machucando-me...

Respirei fundo, soltando-a.

— Perdoe-me. — falei, friamente, vendo as marcas de dedos em seus ombros. — Não tive a intenção de machucá-la, Melissa. — fechei os olhos.

— Está tudo bem, Mac... — ela disse, baixo.

— Deixe-me sozinho. — ordenei-a.

— Fique bem... — sussurrou.

Meus restos remexeram-se em meu interior. O que restara de aproveitável em mim necessitava doer, para que não desaparecesse. Entre meus meus restos, meus destroços e estilhaços, eu ainda tinha uma partícula que sobrevivia, que precisava sentir-se viva, que precisava sentir a pior das dores.

Senti algo arder em meus olhos, como se fossem areia. Abri os olhos e os arregalei.

Chorar...? Eu realmente queria chorar? Por que raios destroçava-me tanto apenas tocar no assunto sobre ela?

Fechei os olhos, tentando afastar a ardência. Eu quis rir ao ver o quão patético havia me tornado. Era deplorável ao ver-me assim.

Fraco, frágil.

Vulnerável.

Como se meus sentimentos estivessem expostos para que qualquer um pudesse ver, como se eles se refletissem em meu rosto. Assim como os de Bonasera... Sim, assim como ela. Contudo, meus sentimentos eram só meus. Eu jamais poderia dividi-los ou mostrá-los a ninguém.

Isso significaria dividir minha morte, minha loucura, meu sacrifício. E isso, nunca, nunca, aconteceria.

Eu não dividiria ela com ninguém.

Nem o que sobrou de mim. Meus restos.

(...)

— Taylor. — John chamou-me e fitei-o. — A sua transferência foi feita. — falou, indiferente.

— Certo. — respondi, friamente, desviando o olhar para o papel em mãos.

— E a Somers, Taylor? — mirei-o, respirando fundo. — Estamos focados em encontrar Miguel Somers, e estamos esquecendo da esposa. É fundamental que a encontremos, é possível que ela saiba onde ele está.

— Como chama-se a esposa? — questionei, irritado.

— Melinda Somers, é esposa de Miguel Somers e muito influente na Grécia. É filha de Dimitri Kostopoulos, um multimilionário, dono de uma empresa de computação gráfica. — eu arqueei a sobrancelha.

— Se ela tem tanto dinheiro, por que está na máfia? — questionei, franzindo o cenho. — Definitivamente, podemos descartar que seja por causa de necessidades financeiras.

— Ao que parece, ela não tem um bom relacionamento com o pai. — John falou, debochado. — Sendo filha única, o pai esperava que ela assumisse a empresa, porém, pelo o que eu li, ela casou-se com um mafioso para escapar da pressão do pai.

— Ela casou com Miguel apenas para não assumir a empresa? — repeti, incrédulo. Que idiotice.

— Bem, é o que dizem os jornais. Além disso, ela não atua na máfia, Taylor. — arqueei a sobrancelha.

— Como diabos a esposa de mafioso não atua na máfia? — bradei, irritado. — É a mesma coisa que um detetive não investigar casos. — falei, sarcástico.

— Na verdade, é realmente isso. — ele estendeu-me um papel.

Observei, era uma ficha técnica que Agentes do FBI possuíam.

Agente Especial Nível 3: Melinda Selene Kostopoulos Somers.

Agente Especial? A esposa de Miguel Somers trabalhava no FBI? Como raios isso foi acontecer?

— Inferno. — xinguei, furioso. — Como diabos pode haver uma falha dessa relevância? A esposa de um mafioso integra a equipe e nem nos demos conta! !Qué carajo! — exclamei, irritado.

— Você fala espanhol? — John perguntou, debochado.

— Isso não vem ao caso. — respondi ríspido. — Ela infiltrou-se aqui, como Ian Howell?

— Ela foi aceita como uma Agente. — John dizia e eu não acreditei.

— Por que a aceitaram? A inspeção está cada vez mais decadente. — falei, áspero.

— Ela possui um excelente histórico na polícia grega. Foi indicado pelo presidente da Grécia, após resolver o caso de Brooke Way, a jovem psicopata que matou os pais aos 7 anos. — eu quis rir de escárnio.

Brooke nunca foi uma psicopata. Ela foi uma vítima, de um miserável que desgraçou a vida dela e apenas defendeu-se.
Contudo, as pessoas são cruéis. Julgam, acusam e machucam sem a menor consideração.

— O presidente a indicou por um caso que sequer tem a ver com a Grécia? — questione, sarcástico.

— Bem, Brooke Way é da terceira geração de uma família greco-romana e a Agente Somers é grega, como já lhe disse, ao que parece, ela queria ingressar carreira no FBI, por conta disso o presidente a indicou.

— O Presidente a usou para se promover e passar-se por bom, realmente cômico. — retruquei,, sarcástico. — Onde a Somers está atuando agora?

— Não sabemos. Ela desapareceu dos registros do FBI. — pus a mão na testa, massageando-a.

Mais um transtorno. Que ótimo.

— Por enquanto, foquem-se em Miguel Somers. Deixe a esposa comigo, eu a acharei. — falei, levantando-me.

— Claro, chefe. Ou melhor, ex-chefe. — falou, debochado.

— Finalmente, após anos livrarei-me de sua intragável companhia. — retruquei, no mesmo tom.

— Penso o mesmo, Taylor.

John estendeu a mão e eu arqueei a sobrancelha.

— O que é? Sua mão está com algum tipo de veneno? — questione, sarcástico.

— Eu gostaria de matá-lo, você sabe, mas infelizmente não poderei. Pelo menos, por enquanto.

Apertei sua mão e revirei os olhos.

— Desejo que você fracasse. — John sorriu, irônico. — É quase certo de que falhe, a equipe é a pior.

Eu ia fazê-lo engolir aquelas palavras. Transformaria a equipe do Departamento na melhor que já passou por mim, não importa o que faça.

— Irei fazê-lo engolir suas palavras, John. — afirmei, largando sua mão.

John apenas riu, sarcástico, balançando a cabeça e saindo da sala. Assim, que o fez, comecei a separar papéis que precisaria e pô-los dentro de uma pasta preta, fiz o mesmo com alguns outros materiais. Após isso, guardei meus pertences dentro de uma caixa, e estava satisfeito. Havia ficado boa parte do que eu usava, porém nunca fui apegado a bens materiais, de fato.

Pus a pasta preta e peguei a caixa, indo em direção a sala de Christine. Bati duas vezes e ouvi um "entra logo!", revirei os olhos, entrando. Ela estava em pé, com os braços cruzados e uma expressão fechada.

— Essa ideia é absurda. — ela resmungou. — Você deveria repensá-la!

— Já tomei minha decisão. — respondi, entendiado. — Só dirigi-me até aqui para comunicar-lhe.

— Não iria se despedir?

— Para quê? Continuarei trabalhando aqui, só que no Departamento. — falei, indiferente.

— Não será a mesma coisa! Eu quase nunca o verei... Ficarei longe de você! E você nem se importa.

— Porque não tem tanta importância. Continuarei sendo seu chefe, isso não mudará. — afirmei.

— Sabe que não é sobre isso... Não estou falando da nossa relação profissional, estou falando de nós... — ela aproximou-se e eu respirei fundo.

— Isso é outro assunto, Christine. — segurei em seus ombros. — Não misture as coisas. Enquanto estivermos aqui, sou seu chefe e você me deve obediência. — falei, duramente.

— Desculpe, sei que me excedi. Mas às vezes sinto que você não importa-se com nosso relacionamento. — ela abraçou-me.

— Já disse o que penso. Poderemos discutir sobre isso quando estivermos fora do ambiente de trabalho. — abracei-a de volta.

— Está bem, está bem. Tem razão. — ela fitou-me com os olhos azuis celeste. — Não me agrada a ideia de você ir para o CSI, mas se é o que quer, tem meu apoio. Espero que consiga seu objetivo de treiná-los. — vi o quão desconfortável permaneceu.

— É necessário que eu vá. Há algo lá, que preciso encontrar. — meu peito se remexeu.

— Você não me dirá, não é?

— São assuntos pessoais. Isso você não deve meter-se. — avisei, diminuindo a frieza.

— Não o farei. Eu prometo. — assenti.

— Certo. 

Ela sorriu. Seu sorriso era bonito.

— Sei que não gosta disso no trabalho, mas posso beijá-lo? Quero despedir-me devidamente. — olhou para mim. 

Suspirei profundamente e afirmei, positivamente.

Selou nossos lábios juntos, e correspondi-a, passando o braço por seu ombro.

 

Assim que separamos-nos, ela sorriu e deu-me um beijo na bochecha.

 — Eu te amo, Mac. — a frase de Christine ecoou por meus ouvidos e eu respirei fundo.

Eu não acreditava que ela me amava, de fato. Apesar de termos um tempo longo de relacionamento, jamais acreditaria. Christine não compreendia a dimensão do que estava dizendo, não compreendia o que aquilo poderia significar. 

E um "eu te amo" dito da boca para fora não era algo que eu poderia acreditar.

Contudo, eu não a respondi. E nunca a responderia. 

Ela sabia, nunca poderia responder.

Apenas a fitei, e ela apenas sorriu triste, pela resposta que não ouviria de meus lábios.

— Já acostumei-me a saber que nunca receberei uma resposta, mas estar com você é suficiente. — Christine murmurou. — Eu realmente gostaria de que você soubesse que eu não quero mais do que você já deu-me, sua confiança, seu respeito... Porque sei que não poderia entregar-me mais do que isso. 

— Isso é realmente o que posso oferecer-lhe. Somente isso. — ela assentiu, sorrindo.

— Tudo o que preciso é estar com você. 

(...)

Acordei pontualmente às 5h da manhã, eu nunca conseguia dormir por mais de duas a três horas por contas do malditos pesadelos que atormentavam-me. 

Hoje iniciaria meu trabalho no Departamento por seis meses. Ontem eu havia encontrado-me com o prefeito de Nova York, ele pediu-me para que me responsabilizasse por tudo o que ocorresse nos próximos meses, porque estes eram cruciais para o destino do Departamento. Se eles não conseguissem melhorar o desempenho, a unidade do CSI em Nova York seria fechado e o todos os detetives estariam proibidos de exercer qualquer atividade em Nova York.

Eu não me importava com o que aconteceria com eles. Apenas precisava encontrar o que procurava e daria-me por satisfeito. Contudo, os treinaria, honraria meu compromisso com o prefeito, afinal, ele dobraria meu salário no FBI (que não era pouco), além de dar-me uma boa quantia pelo "favor" que estava fazendo a ele, e meu salário no Departamento não seria nem um pouco ruim, pelo contrário, o prefeito bancaria tudo.

Acendi um cigarro e o traguei. Eu gostava da sensação da fumaça cobrir meus pulmões, apesar de não fumá-lo sempre, era bom relembrar a velha de sensação de... Vazio.

 

O vazio que preenchia um corpo morto, sem vida, sem alma, sem nada.

Não havia nada em mim. Nada.

Levantei-me e fui em direção, apaguei o cigarro e o joguei no lixo. Fui em direção ao chuveiro, e despi-me, então senti os jatos de água por meu corpo. Esperava que aquela água levasse o pior de mim. 

A água escorria por meu corpo, mas não era capaz de lavar o sangue que escorria dentro de mim. 

Balancei a cabeça e saí do chuveiro. Enrolei-me em uma toalha, e fui em direção ao closet. Apesar de no FBI exigir roupas sociais, eu não adepto a usar ternos e nem gravatas - as odiava. Optava por blazer's, suéteres ou até paletós. Escolhi um blazer preto, camiseta branca, calça jeans preta e um sapato também preto. 

Pus o relógio que havia ganhado de Claire no nosso primeiro aniversário de casamento, e permiti-me sorrir, ainda que fosse um sorriso frágil. Toquei o colar de prata que usava, contendo a aliança que costumava usar, o escondi na camiseta. 

Joguei a toalha no cesto de roupa suja, passei a mão pelos cabelos e olhei no relógio. 5h21min, estava cedo demais para ir ao Departamento. 

Decidi ir até a cozinha para preparar um café forte. Franzi o cenho ao ver Elizabeth fazendo algo no fogão e respirei fundo, para controlar-me.

 

 — Elizabeth, por que está fazendo isso? — questionei-lhe, friamente.

— Perdão, papai. Sei que descumpri as regras, mas é que eu gostaria que o senhor pudesse tomar café. — ela sussurrou e eu suspirei.

— Está bem. Dê-me uma xícara. — ela deu um sorriso doce. — Após isso, volte para a cama. — avisei-lhe e ela assentiu.

— Sim, papai. — ela pôs café em uma xícara e estendeu-me. — Papai, eu fiz algumas torradas... Ficaria feliz se as provasse. — ela deu-me um beijo na bochecha e foi para o quarto.

Fitei o prato com as torradas e balancei a cabeça, pegando uma e comendo. Estavam ótimas, como esperado. Elizabeth sempre foi uma ótima cozinheira, tudo o que fazia era bom.

Após mais três torradas e duas xícaras de café, levantei-me da mesa, pondo o que sujei na pia. Olhei o relógio de pulso. 5h32min. Peguei outra xícara de café e dirigi-me ao quarto, sentando-me na poltrona de frente à grande janela.

Observei os raios solares fracos entrarem em contato com minha pele pálida. Fechei os olhos, bebericando o café e sentindo seu gosto amargo.

O gosto da dor. 

Pus a mão no peito e fechei a mão em cima dele. Uma, duas, três, incontáveis vezes. 

Doa... Doa...

DOA, INFERNO! DOA! 

Doa para que eu me sinta vivo. Consuma-me. 

Sangre... [...]

Doa... [...]

Sufoque-me!

Me mate... Para que eu viva. 

Um ciclo... De machucar, sangrar, doer, sufocar... Como uma prisão máxima. 

E isso destrói-me por dentro.

 

E então, dei-me conta das lágrimas que riscavam minhas bochechas. O quão patética era cada gota que escapava por meus olhos, cada gota que aprisionei durante anos.

Era doloroso. Mas tão necessário quanto morrer.

 

Se algum dia a dor desaparecesse, os pedaços apodrecerão e serão jogados a sete palmos do chão. 

Respirei fundo, sentido meu peito excruciar-se

6h13min, o relógio de pulso marcava. Pus meu distintivo no bolso e a arma na cintura. Apanhei o papel de minha transferência e também a chave da BMW, tranquei a porta do apartamento e esperei elevador, que logo surgiu.

Evitei olhar para o espelho e logo saí em direção a BMW. Liguei-a e acelerei. Meu horário no CSI era às 8h, contudo, queria conhecer mais detalhadamente o ambiente onde trabalharia nos próximos meses. 

Chegava a ser estranho não ter Melissa comigo. Eu já havia acostumado-me a sua presença, seus comentários e sua chatice. Ela sequer "despediu-se" de mim no FBI, não ligou sequer uma vez e nem havia mandado nenhum tipo de mensagem. Christine havia desejado-me um "espero que esteja bem, meu amor". Não a respondi, odiava quando Christine chamava-me de "meu amor" ou algo do tipo. É bastante irritante.

Avistei o grande prédio espelhado e estacionei do outro lado da rua como das últimas vezes. Segui até a entrada do Departamento e trombei com alguém, que não poderia ser ninguém menos que a Bonasera. Que ótimo.

Observei sua face irritada, havia uma grande mancha marrom em seu jaleco branco. A veia estava saltada em seu pescoço. 

— Qual o seu maldito problema?! — ela gritou, irritada. — Não olha por onde anda, imbecil? Sujou meu jaleco todo! — eu balancei a cabeça. 

— Nervosinha. — sorri sarcástico.

— Bastardo! Você deveria ao menos pedir desculpas! — ela gritou e eu revirei os olhos. — Que droga! — a observei jogar o copo de café no lixo. — Está olhando o quê, idiota?! Aliás, que raios está fazendo aqui?

Não a respondi, apenas entreguei-lhe o papel em mãos, com um sorrisinho de escárnio.

— Ah, não! Diga-me que não vai trabalhar aqui! — arqueei a sobrancelha. — Ah, porcaria! Era só o que me faltava! Não acredito que vou ter que aguentar sua presença desagradável! —revirei os olhos.

— Tampouco gostaria de aturá-la, Bonasera. — retruquei. — Infelizmente, o prefeito pediu-me que responsabilizasse-me a treiná-los, porque era a última opção para melhorar o desempenho de vocês. — Bonasera olhou-me irritada.

— Aquele estúpido...! Ele só está safar-se, bastardo infeliz. — franzi o cenho. — O maldito não quer que investiguemos sobre os assassinatos que tem o nome dele envolvido. O imbecil quer "comprar" a justiça para que não o prendam, pelo jeito você foi um deles. — ela sorriu irônico.

— Estou aqui por motivos alheios às vontades do prefeito. —  respondi, friamente. — Contudo, dei a palavra que os treinaria, e isso que farei. — tirei o papel de transferência de sua mão e o rasguei.

— Ora, ora, veio aqui atormentar-me? — eu dei um meio sorriso, revirando os olhos.

— Tenho assuntos mais importantes do que isso, acredite. — ela pareceu não prestar atenção no que eu falara, apenas olhava fixamente para meu rosto. — O que há?

— Seu sorriso... — franzi o cenho. — Seu sorriso é especial porque parece que não sorria há muito tempo. — fitei-a, incrédulo, como ela poderia saber disso?

— Para de dizer coisas inúteis. — respondi, ríspido. 

Virei-me e comecei a caminhar, mas ela segurou meu braço. Novamente, ela não deixa-me dar as costas a ela?

— Eu conheço esse tipo de sorriso. É frágil e raro de ser ver, não é? 

Respirei fundo e não a respondi.

— Seu sorriso é lindo. — virei-me para fitar seu rosto. Seus olhos tão brilhantes e límpidos. — Eu gostaria de vê-lo novamente.

— Eu não tenho motivos para sorrir, Bonasera. — respondi-a.

— Todo mundo tem um motivo para sorrir. — Bonasera disse-me. — Esconder a dor no sorriso é bem mais fácil, Taylor. — incrédulo, a olhei. 

Ela abriu um sorriso que teria feito meu coração parar se ainda estivesse batendo.


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Notas finais do capítulo

Xoxo :D