Melodies of a Hopeless Man escrita por Getaway6738


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Harmonia Da Chuva


Notas iniciais do capítulo

Peço que por favor ouçam isso durante a leitura. É MUITO importante.

PLAYLOST:
Nome: Arcade Fire - Song on the Beach & Photograph
Link: http://www.youtube.com/watch?v=g_72RkQV25Y (Coloque no repeat)

Se quiser coloque o Rainy Mood para tocar junto :D É só abrir esse link e deixar a chuva cair:
http://www.rainymood.com/



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Harmon

Tocar piano era uma das coisas que mais me alegrava no mundo. Sentir as teclas sobre meus dedos, ouvir a bela melodia que pode sair de dentro de meu coração... Cada tecla, cada conjunto de notas, cada respiração perfeitamente sincronizada junto à melodia intima e inspiradora...

Eu era assim, um apaixonado pela musica que tocava por amor a arte, mas a vida me fez em pedaços. Tenho vinte e sete anos e era considerado o melhor pianista da Inglaterra até cinco anos atrás.

Atualmente meu cabelo não é nada arrumado, eu tenho uma barba curta por todo o meu rosto, o que aumenta ainda mais a sensação de que estou no fundo do poço, sou magro, não por ter tendência, mas pela falta de comida.

Hoje vivo em um apartamento do governo no bairro mais pobre de Londres. Ainda tenho meu piano, que foi a única coisa que sobrou de meu passado brilhante, eu toco às vezes, como hoje. Chove suavemente lá fora e uma xícara branca, meio trincada de chá de camomila reside acima do piano preto, que de tão usado está cheio de riscos e imperfeições na madeira, no qual toco uma de minhas musicas favoritas.

O cigarro continua em minha boca, sendo tragado lentamente, as cinzas ainda por cair. Fecho os olhos e escuto a sonoridade da musica que toco junto à chuva lá fora. Eu a amo, ela nos faz sentir como se estivéssemos no melhor lugar da terra, sozinhos, sem problemas. Ela é tão natural, tão... Perfeita em sua imensa simplicidade. Meus olhos ardem por passar tanto tempo chorando e meu estomago dói por causa da fome.

Quando a tempestade cessa, a melodia também acaba. Eu apago meu cigarro no cinzeiro e me levanto com as pernas meio bambas. Caminho lentamente até a porta de meu apartamento e subo as escadas até o telhado do prédio. O chão de concreto ainda está molhado pela chuva que acabou de cair, o céu completamente cinza.

Caminho até a ponta do edifício e olho para baixo, trinta metros até o chão. Fico alguns minutos parado ali, vendo as pessoas passando na rua, com seus guarda-chuvas e fones nos ouvidos, suas pequenas perfeitas vidas. Cada um com sua historia, seu pequeno momento na infinidade da vida.

O tempo passa e ao longe ouço as sirenes. Alguém percebeu que subi... Esse é o começo do fim. Continuo no mesmo lugar, olhando para o horizonte acinzentado e esfumaçado da cidade molhada, até que um homem sobe as escadas correndo e chega ao telhado. Ele está sozinho, tem cabelos castanhos escuros e usa roupa de bombeiro.

– Oi – sorriu de canto de boca.

– Oi. – respondi olhando em seus olhos – Não se aproxime muito... – alertei.

Ele fez que sim com a cabeça e sentou-se no chão molhado, não devia estar preocupado com o estado que suas calças ficariam quando levantasse.

– Meu nome é Aaron, e o seu? – disse ele, pegando um cigarro no bolso de sua calça e o acendendo.

– Harmon. – respondi secamente.

– Quer um cigarro Harmon? – Perguntou ele gentilmente, seus olhos brilhavam ao olhar para mim, havia esperança em seu olhar. Esperança de que eu não fosse pular, de que eu não fosse desistir de tudo...

Fiz que sim com a cabeça e ele colocou mais um cigarro em sua boca, acendendo-o com um velho isqueiro vermelho. Um pouco de cor onde tudo que se via era cinza. Em seguida a acendê-lo, ele jogou-o em um pequeno ponto onde não estava tão molhado, lentamente me agachei e o peguei.

– Uma ultima tragada antes de morrer afinal. – murmurei para mim mesmo, mas Aaron ouviu.

– Porque você quer fazer isso? – Perguntou ele. – A vida é tão boa...

– Não quero conversar sobre isso, não agora.

– Me responda, eu quero te ajudar... – Olhou em meus olhos novamente, um calafrio bom correu por minha espinha.

– Eu já vivi o suficiente para desistir dos sonhos, e quando você desiste dos seus sonhos, não há mais nada que nos resta, nem a musica pode te salvar do imenso abismo da vida. – Dei uma longa tragada no cigarro, sentindo cada nuance dele. A chuva voltou a cair, nos molhando lentamente, desta vez com menos intensidade.

– Exceto a esperança. Sempre há algo que podemos fazer. – Ele realmente acredita no que fala, é possível ver a verdade em seus olhos, uma verdade pura, inocente... – Você trabalha?

– Não. – Olhei para baixo, os bombeiros já haviam posicionado a cama elástica na calçada do prédio, varias pessoas se aglomeram em frente ao edifício, algumas gritando para pular, outras para não fazer isso, mas tudo que ouvia era só um murmurinho ao longe. Tudo está ao longe agora... As vozes, o barulho da dos pingos caindo no chão, o mundo.

– Trabalhava em algo? – Perguntou se aproximando um pouco de mim. Em contrapartida, joguei seu cigarro fora e pedi mais um a ele que rapidamente o acendeu com seu velho isqueiro vermelho, e o jogou em minha direção.

– Pianista, até as coisas darem errado. – traguei uma só vez o novo cigarro e o joguei prédio abaixo.

– Entendo... – Sorriu olhando em meus olhos. Mesmo ao ver alguém como eu, ele não se intimidou. Ele ainda tem esperanças, ele acredita em mim. – Eu também já tentei fazer isso uma vez.

– Se matar? – perguntei.

– Não – Riu. Sua risada é tão solta, tão viva. Quem diria que alguém riria numa situação dessas. – Tocar piano, mas eu sou um desastre nisso.

Sorri e olhei para baixo, vendo os pequenos pingos de chuva caírem em uma poça.

Um sorriso discreto, desesperado.

Ele me faz sorrir.

Sorrir, tinha me esquecido disso... Como é bom sorrir... Principalmente na chuva.

Ele se aproximou mais um pouco de mim, e eu me sentei na beirada do prédio. Minha calça está molhada, mas não me importo mais, aos poucos à sensação de estar aqui se esvai.

– Aaron, me de mais um cigarro, por favor? – Ele pegou o ultimo cigarro do pacote, o acendeu e o jogou em minha direção.

Dei minha ultima tragada. Agora é a hora de deixar tudo rolar. Olhei para a chuva que caia... Minhas roupas, molhadas e Aaron.

– Obrigado por estar aqui, mas é tarde de mais. Sempre foi. Desde que você chegou aqui. – Olhei fixamente para seus olhos castanhos e sorri mais uma vez - A proposito... Toque, viva a vida, ouça, fale, brinque, faça tudo àquilo que eu não fui capaz de fazer. – Assim que terminei a frase, levantei-me o mais rápido que pude e corri.

– Não! - Gritou ele, um grito desesperado, cheio de dor, agonia.

Corri para a direita, lá meu caminho estava livre, sem bombeiros ou pessoas para me impedir de fazer aquilo.

Pulei no infinito cinza, senti as gotas de água baterem em meu rosto, nada de flashback, as coisas só ficaram lentas.

Vi o chão chegar mais e mais perto até que...

Eu... Morri. Afinal, não há nada que eu fale aqui que possa suavizar esse fato.

Senti como se uma parte dele pulasse comigo, e por isso acho que uma parte dele sempre vai estar junto a mim. Ele foi o ultimo enviado pelo destino, o ultimo que tentou ajudar-me. O mais gentil e bom homem que conheci, ele foi o único que acreditou até o final.

Ele foi meu único e ultimo amor, o mais puro deles. Mesmo que nunca tenhamos nos declarado ou nos tocado, aquele homem tinha uma força tão grande em seu coração... Foi impossível não me ver amando-o.

Mas o amor... O amor nunca é o que queremos que ele seja. Não iria me decepcionar novamente, não iria sofrer por mais um caso platônico de paixão infundada que destruiria aquilo que eu, em vão ainda teimava em chamar de coração. Eu o amei e ainda o amo, Embora ele nunca vá saber disso.

Nunca esquecerei seu nome.

Aaron, o homem que salvou meu coração, mas nunca conseguiria salvar a minha vida...

E pra quem quer saber como é o Harmon, taí:


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Notas finais do capítulo

E NÃO, eu não quero me matar. Essa fic não tem nada a ver comigo, é só um de meus devaneios.

Comentem favoritem, acompanhem e/ou recomendem se quiserem :D