Herança de Sangue escrita por Brunorofe


Capítulo 3
Os compradores


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, pessoal! Espero que gostem!



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– Dona Carmem! Dona Carmem! – Gritava Janine na porta da velha casa rosa da sua parteira.

– Janine, minha filha! Que surpresa boa vê-la por aqui! Como anda? Como está a vida na capital? O que te traz a Sonhos?

– Vim só para vender a casa de meu pai! Apareceu um casal interessado! Vou aproveitar para vender a casa logo, e ficar livre!

– Nossa, minha filha, você fala como se a casa fosse um peso. Não pode se desligar de suas raízes assim não!

– E é um peso, Dona Carmem! Não vejo a hora de vendê-la e partir de Sonhos definitivamente. Mas estou aqui para pergunta-lhe se Margarida está em casa!

Margarida era a filha de Dona Carmem. Na verdade, Margarida fora adotada por ela. Dona Carmem se dedicou tanto cuidar dos outros que nunca se casou e nunca pode ter filhos. Três anos depois do seu último parto, naquela noite fatídica. Encontrou Margarida abandonada no jardim lateral da Igreja. Havia uma margarida amarela enroscada em suas fraldas. Daí veio inspiração para o nome.

– Está sim, minha filha! Entre! Venha tomar uma xícara de chá, conosco!

– Bem que eu queria, Dona Carmem, Mas os compradores chegam às 15 horas e já passa de uma da tarde! Preciso tirar a poeira que tomou conta da casa, e preciso da ajuda de Margarida.

– Ah! Claro minha filha! Vou chamá-la. Tenho certeza que ela pode lhe ajudar.

Logo margarida saiu no portão. Ela era morena, cabelos escuros e pele lisa. Gerava um contraste interessante com a branca Janine e seus cabelos vermelhos. As duas subiram para a casa de Janine. Era preciso correr para deixar tudo no jeito.

***

Era exatamente três da tarde quando a campainha tocou. Janine acabava de lavar o rosto. Levou um grande susto. Já havia se esquecido do barulho alto e aterrorizante que soava sempre que alguém pressionava o velho botão do lado da porta.

Aquela casa não lhe trazia boas lembranças. Janine sempre foi rodeada de carinho e atenção. Mas nunca gostou daquela casa. Parecia que sempre havia um clima sombrio ali. Talvez pelo jeito bravo e meio mal de seu pai. Ou por causa da marca no telhado, do raio que caiu quando ela nasceu. Ou por todos falarem que aquela casa carregava uma maldição por Seu Silva ter rejeitado a Deus. O importante é que Janine nunca gostou daquela casa.

Ela estava lá quando sua mãe morreu. E também estava lá quando seu pai morreu. Carregou por muito tempo sobre seus ombros o peso pela morte do seu pai. Muitos achavam que ela havia matado o pai. Estava trancada em seu quarto, como sempre, quando o pai foi morto.

Teve que repetir para vários policiais e detetives a mesma história. De que estava trancada em seu quarto. Que toda noite, ela entrava para seu quarto e trancava a porta. Ficava usando o computador até a meia noite, e ia dormir. Aquela noite foi como as outras. Ela não ouviu nada. Nenhum ruído. Adormeceu por volta de meia noite. E no outro dia ao acordar, não conseguiu abrir a porta. Chamou pelo pai, mas ele não respondeu. Ligou então para uma de suas tias, que encontrou a casa trancada. E chamou a polícia.

A polícia arrombou a porta da frente, e ao subir para o primeiro andar, encontraram a porta do quarto de Janine trancada, com a chave na porta, pelo lado de fora. E a porta do quarto de Seu Silva aberta, e ele na cama morto, com a barriga cortada, e seus órgãos removidos. Esses órgãos nunca foram encontrados. Uns comentavam que foram usados para rituais de magia negra. Outros dizem que o diabo os levou, pois Silva era tão mal que até suas entranhas eram más.

Janine nunca se perdoou. Deveria ter escutado algo. Deveria ter sentido! Mataram seu pai. Com ela presente, e só foi saber do acontecido no outro dia. Fora o olhar torto de muitos na cidade por terem certeza de que ela foi quem o matou. A campainha tocou pela segunda vez.

Do lado de fora um casal sorridente aguardava Janine abrir a porta. Ela correu da cozinha à porta da frente. Não teve coragem de subir ao primeiro andar ainda. Mas sabia que teria que subir com os compradores.

Kelly e Alexandre haviam se casado no início do ano. Os dois se conheceram em uma viagem à França. Ela estudando e ele passeando. Esbarraram-se num café, e foi amor à primeira vista. Kelly era enfermeira e Alexandre trabalhava como colunista em um jornal. O mesmo jornal em que Janine havia começado a trabalhar poucos meses atrás.

Em Maio Kelly descobriu estar grávida de quase dois meses. Alexandre decidiu que deveriam se mudar para um lugar mais calmo. Criar a criança longe da capital. Kelly pediu transferência para o posto de saúde de Sonhos, e Alexandre poderia continuar escrevendo para o jornal mesmo morando na pequena cidade. Ao comentar isso com Janine, ela percebeu na situação a chance que precisava para vender a casa.

– Janine, minha amiga! Achei que nos deixaria derreter nesse sol aqui fora.

– Desculpem-me eu estava distraída organizando algumas coisas. Como foi a viagem?

– Foi tranquila! – Respondeu Alexandre.

– Tranquila? Passamos por diversos animais mortos na estrada, e você fala que a viagem foi tranquila?

– Amor, o que tem demais nisso? Animais mortos, na beira da estrada, são muito comuns.

– Venham, parem de brigar! Vamos entrar! Vamos ver se gostam da casa! Quero voltar pra capital ainda hoje!


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Notas finais do capítulo

comentem, compartilhem, indiquem! Grande abraço.