Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 37
A Volta dos que não Foram III


Notas iniciais do capítulo

Postando a parte final do capítulo que foi dividido. Mais coisas acontecendo com a Gabi, e Valeska in love com Isaac.



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PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Sheila estava um pouco diferente: havia deixado o cabelo bem mais curto e o coloriu num tom de vermelho bem chamativo. Tinha um piercing no nariz e um alargador de mais ou menos 5 milímetros preso na orelha direita. Continuava a mesma gorda de sempre, só que mais ridícula.

Eu queria saber como ela havia conseguido fugir da prisão. No entanto, a vontade de permanecer viva era maior do que a minha curiosidade, já que eu continuava presa naquele laboratório. E eu vi quando Sheila virou as costas para mim — que da janela de vidro suplicava para ela que abrisse a porta — e foi até o painel de regulagem da temperatura, deixando-a mais baixa possível. A gorda soltou um beijinho sarcástico para mim e saiu, tranquilamente.

Voltei à porta e tornei a esmurra-la e berrar por socorro o mais alto que podia, mas minhas esperanças iam embora à medida que o tempo passava. Retirei o meu celular da mochila e ele estava sem sinal. Fiquei tentando uma ligação para a polícia, mas nunca completava. Sendo assim, continuei esmurrando a porta até o último vestígio de força sucumbir dos meus punhos e eu cair cansada no chão. Fiquei deitada em posição fetal, esperando a minha hora chegar.

Quando o meu campo de visão pareceu escurecer, senti algo aquecer minhas costas e mãos tentando me levantar daquele chão frio. A pessoa em questão havia abrido a porta, provavelmente por ter ouvido meus berros. Fui guiada por aquele tipo estranho até o jardim do campus, onde eu havia esbarrado com aquele estudante de Música mais cedo naquele mesmo dia.

Foi então que eu olhei para o rosto de quem me salvara. Era ele mesmo, aquele estudante de música, de cabelos castanhos e cacheados e que gostava de tocar flauta doce no jardim.

— Você tá bem? — ouvi ele perguntar, mas eu ainda estava mais pra lá do que pra cá.

— Tô. — respondi, num tom seco, me levantando de um dos bancos do jardim onde estávamos sentados. — Eu preciso ir embora, tem uma louca à solta na faculdade, você não viu?

— Do que você tá falando? — perguntou o flautista.

— Da gorda que estava ali no bloco da saúde! Não acredito que você não tenha visto aquela mulher daquele tamanho passeando por aqui. Foi ela quem me trancou no laboratório de anatomia e diminuiu a temperatura, só pra me matar! — o flautista me olhava com uma cara de Valeska em aula de matemática — Aff, deixa pra lá. Vou pegar minhas coisas e ir agora mesmo à delegacia prestar uma queixa.

— Espera! — ele me segurou pelo braço — Você tem que ir a um hospital, pois estava passando muito mal dentro daquela sala.

— Eu tô bem. E me larga, pois eu não te dei essas liberdades. — retirei a mão dele do meu braço.

— Você é muito mal agradecida. Eu salvei sua vida, guria!

— Não fez mais do que a sua obrigação. Tchau.

Comecei a andar em direção à saída, mas o medo me consumia por dentro. A Sheila ainda poderia estar na região, e se ela me visse com certeza não hesitaria em terminar o trabalho que iniciara, se seu objetivo era realmente me matar. Parei, após dar alguns passos e olhei para trás. O flautista com cabelo de anjo estava no mesmo lugar, olhando para a sua flauta e experimentando tocar uma nova música. Quando ele percebeu que eu estava o observando, eu virei o rosto e tentei disfarçar.

— Ei, guria! — chamou ele. Olhei para ele com calma e percebi que ele se aproximava de mim. — Eu vi a gorda. Se você quiser, eu posso ir com você até uma delegacia.

— Tudo bem, então. — Fui ríspida, porém eu estava explodindo de felicidade por dentro, pois se caso esbarrasse com Sheila por aí, poderia jogar o magricela no chão pra que ela fizesse o que quisesse com ele e eu sairia correndo. Pelo menos eu ganharia tempo.

Caminhamos rápido até um ponto de ônibus. Eu ficava olhando para os dois lados enquanto aquele carinha me fitava o tempo todo. Eu já estava ficando meio envergonhada e ele percebeu.

— Meu nome é Maximiliano, mas todo mundo me chama de Max.

Eu não respondi nada.

— Você não vai me dizer seu nome?

— Gabriela. — respondi.

— Aposto que todo mundo te chama de Gabi. Prazer, Gabi. — ele me estendeu a mão para que ele apertasse.

— Pra você, meu nome é Gabriela. Gabriela Carvalho. — eu não quis apertar a dele e ele se recompôs.

— Olha, lá vem o ônibus, Miss Simpatia! — ele brincou, dando sinal para que o motorista parasse.

— Queria ver você com essa simpatia toda se estivesse ficado à beira da morte há poucos minutos atrás.

Depois da série de patadas que eu estava dando nele, Max decidiu ficar calado pelo caminho todo. Chegando à delegacia, prestamos o famoso boletim de otário (BO), perguntaram se eu não queria ir a um hospital, o que eu neguei, e, em seguida, fomos para casa.

— Eu te levo em casa. Está tarde. — disse Max.

— Não, ou a minha mãe e as vizinhas vão achar que eu estou namorando. Valeu.

— Ora, e você não pode namorar? Além do mais, é perigoso uma garota tão bela como você ficar andando por aí sozinha, a essa hora da noite.

— P-po-pois fique você sabendo que eu tenho namorado! — menti — e que eu posso me defender muito bem. — abri minha mochila e retirei de dentro dela a minha fiel companheira pedra de calçamento, cuja eu carregava para todos os lados desde o dia em que soube que Sheila havia fugido da cadeia. Levantei-a, ameaçando jogar em Max — E eu te mostro agora como eu faço pra me defender.

— Sério que você tem namorado?! — ele perguntou, meio incrédulo, e com um sorriso no canto da boca — Garota, você é muito turrona. Eu hein... Tchau, te vejo por aí.

Maximiliano pegou o ônibus que iria para o seu bairro enquanto eu fiquei mais alguns minutos sozinha no ponto esperando o meu passar.

Eu ainda estava aterrorizada com o que havia acontecido.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Saí do cursinho pré-vestibular por volta das oito da noite quando vi o Camaro amarelo de Isaac estacionado em frente ao prédio. Um monte de garotas estava por volta dele pedindo autógrafos enquanto eu, parada a alguns metros perto dali, apenas observava. Isaac era muito atencioso com os fãs. Com as fãs, para ser mais exato. Ele estava todo pimpão, encostado no capô do carro, assinando camisetas, fichários e chegou perto até de autografar o sutiã de uma das Maria-chuteiras. Aquilo foi a gota d’água.

Pigarreei alto para que o craque percebesse que eu estava ali, então gritei:

— Vambora, todo mundo saindo! Todo mundo! Isaac está muito cansado, pois treinou muito hoje, ok? E nada de autógrafo no sutiã, se dê ao respeito. — puxei o sutiã branco das mãos de Isaac e joguei na cara da Maria-chuteira dona dele.

— Quem você ousa ser para falar assim conosco, fãs de Isaac Sanchez? — a dona do sutiã me peitou.

— Querida, eu sou a namorada dele! — dei um beijão em Isaac, o que fez com que as outras garotas, inclusive aquela, ficassem se mordendo de inveja.

Entramos no carro. Eu, no banco do carona e ele no do motorista. Isaac veio me beijar, mas eu o afastei, o empurrando pelo peito.

— Cara de pau, você hein?

— Ah, Valeska, elas são minhas fãs!

— Autografar sutiã?

— O que é que tem?

— Até parece que é normal... Quando eu era Gustavo e essas assanhadas me pediam coisas do tipo, eu simplesmente negava.

— Ah, coração, esquece isso, vai? Onde é que a gente parou? — ele tornou a tentar me beijar, mas eu recuei novamente.

— Que foi? — perguntou Isaac.

— Essas janelas abertas, todo mundo olhando... Aliás, você saiu do carro e deixou todos os vidros abaixados? Rapaz corajoso...

— Ah, eu estava aqui pertinho. Ninguém iria roubar nada.

— É que, sei lá, eu tô me sentindo meio insegura aqui.

E eu realmente estava. Era uma sensação estranha, como se o perigo estivesse batendo na minha porta, mas eu não sabia muito bem como e nem aonde.

— Tá, vamos sair daqui. — ele me deu um selinho e deu partida no carro.

Um frio tomou conta da minha espinha. Pelo caminho eu ficava olhando para todos os lados e monitorando a velocidade, para que Isaac não corresse tanto e evitasse um possível acidente. Foi então que eu senti uma sensação estranha, como se alguma coisa gélida saísse de trás do banco do passageiro e se acomodasse no meu pescoço, rastejando levemente a cada segundo.

Tratava-se de uma cobra. Quando eu menos vi, ela estava se enrolando pelo meu corpo. Ela sibilava e me fitava, olho a olho, enquanto tremia aquela língua dela para mim. Eu acho que eu seria sua presa, seu jantar.

— Isaac. Isaac, olha. Isaac, socorro!!! — bradei, na esperança que a cobra não desse o bote.

Meu namorado, em vez de frear, pisou sem querer no acelerador, o que fez com que o carro corresse muito, tipo mais do que o normal. Ele controlava o volante enquanto olhava para mim, que estava parada feito uma estátua enquanto a cobra apenas se enrolava pelo meu pescoço, braços e cintura.

— Não se mexe, Valeska, amor! — disse Isaac, desesperado, conseguindo parar o carro. — Calma, respira, não se mexe.

— E-eu-eu... eu não posso fazer nada. Talvez... talvez eu possa conversar com ela — sussurrei. — Eu não quero virar seu jantar, dona cobra, por favor, me deixa em paz, eu te dou um whiskas saché, sei lá!

Isaac saiu do carro e deixou a porta do carro que ficava do lado do banco do motorista aberta, o que fez com que a cobra se interessasse em sair do carro. Talvez pelo calor, ou pelas baboseiras que eu estava dizendo. O craque do RFC, mantendo a calma, pegou uma caixa que havia no porta-malas do seu carrão e fez com que a cobra rastejasse até dentro dela. Depois, tornou a guardar a caixa, com a cobra, de volta no porta-malas. Sentou de volta no banco do motorista e deu um suspiro de alívio. Eu ainda estava em estado de choque.

— Que história foi essa de falar com a cobra?

— Harry Potter conversava com cobras. Achei que eu pudesse conversar também, até chegar a um acordo.

— Bom, o que interessa agora é saber como essa cobra veio parar dentro do meu carro. — Isaac pousou sua testa no volante. Depois, desesperado começou a vascular os cantos do veículo. — Será que tem outra?

— Se tivesse, já tinha atacado a gente. Isaac, eu disse que era pra você ter deixado as janelas do carro fechadas. Alguém deve ter colocado esse bicho aqui dentro de propósito.

— Só se fosse alguém que estivesse interessado em nos ver mortos. Eu não tenho inimigos. Não que eu saiba. E você, Valeska?

Inimigos... logo me veio à mente a possibilidade de Sheila ter voltado de vez. Era muito, muito estranho ter uma serpente dentro de um carro, pois aquela não era uma cobra normal. O irmão de Isaac era biólogo, e mostramos o bicho a ele, que disse que se tratava de uma perigosíssima cascavel e que escapamos por pouco.

— Realmente, vocês tiveram sorte. Uma picada de um bicho desses é praticamente fatal. — disse o irmão de Isaac — Vocês podem deixar ela comigo, que eu dou um jeito de leva-la até uma unidade protetora.

— Isaac disse que ficou com vontade de colocar a caixa no meio da avenida e passar com o carro em cima dela. Mas eu não deixei. — falei para o irmão de Isaac, que coçou a barba ao ouvir aquilo.

— Amorzinho, ela ia te matar! — exclamou o jogador.

— Ela não tem culpa de alguém a ter colocado no seu carro, maninho.

— Você realmente acha que ela foi colocada lá de propósito?

— Sim, Isaac. — respondeu o biólogo — é praticamente impossível ter uma cascavel andando livremente por uma cidade tão grande e movimentada quanto essa e ainda por cima ter entrado sozinha no seu carro.

Bom, depois daquela noite maluca, Isaac me deixou na porta de casa, cumprimentou meus pais, me deu um beijo no rosto, desejou boa noite a todos e foi embora. Quanto aos acontecidos, eu só conseguia pensar que tudo tinha o dedo de Sheila, e não via a hora de falar com a Gabi e perguntar o que ela achava.

Será que a gorda voltou pra se vingar da gente, por termos colocado ela na cadeia?


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Notas finais do capítulo

#FALTAM3CAPÍTULOS