Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 33
Perdendo a Inocência


Notas iniciais do capítulo

Aêêê, consegui escrever um capítulo nessa semana. Emocionado *-*
Então, vamos?

**
Músicas pro capítulo:

John Newman - Love me again
http://www.youtube.com/watch?v=vDx27Ye2gC4

Birdy - Wings
http://www.youtube.com/watch?v=XYWoZF2NJn0



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PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Completei dezoito anos de idade e a comemoração foi ficar ao lado de Lara, observando-a, para variar. Gabriela e Valeska apareceram no hospital e levaram um cupcake com uma velinha, para não deixar a data passar em branco.

— A gente só não vai cantar parabéns porque aqui não pode fazer barulho. — sussurrou Gabi, me abraçando. Fiz questão de assoprar a velinha. Enquanto isso, Valeska alisava a mão direita de Lara, que repousava sobre a sua barriga.

— Tadinha da Lara... — comentou Valeska — era tão cheia de vida e está assim, agora.

— Mas ela vai ficar bem. Dia sim, dia não ela tem sessões de fisioterapia. Elas são importantes para que os músculos não atrofiem e assim, quando Lara acordar, ela não vai ter nenhuma sequela. — respondi.

— Já tem quase um mês desde aquele dia. É foda a gente ver a nossa amiga desse jeito. Eu sei que ela abandonou a gente, mas... sei lá, ela deve ter passado muita coisa. — disse Gabi.

— Tendo que dividir o teto com uma cobra como aquela Sheila, até eu fugiria. — Gabriela completou — mas agora já passou. Apesar dos pesares, nós quatro estamos aqui, juntos. Márcio já é maior de idade, Lara também. Daqui a alguns meses eu também faço dezoito anos. Valeska, a pirralha da turma, só fica ‘de maior’ ano que vem. E pensar que parece que foi ontem que nós brincávamos com as nossas barbies, salvávamos o QI dos valentões do colégio, fugíamos para ir ao cinema...

Gabriela ficou com os olhos marejados. Nós a abraçamos.

***

Depois do momento novela mexicana, fomos até a ala dos bebês e eu encontrei Gohan banhado e vestido com uma das roupinhas que eu trouxera para ele há alguns dias. Ele chorava muito. A enfermeira o colocou em meus braços e ele parou de chorar.

— Acho que ele reconhece o pai. — Gabi jogou a piadinha, o que me fez rir. Valeska não entendeu a ironia, claro.

— Aqui está a bolsa com algumas mamadeiras. Elas contêm leite materno. Deixe-as no congelador e amorne quando for dar de comer ao bebê. Não esqueça de sempre trazê-lo aqui, tanto para ver a mãe, como para mamar em alguma ama de leite, se houver.

— Claro, — respondi à enfermeira, com medo. Gohan estava sob minha responsabilidade e aquilo me arrepiava um pouco.

Em frente ao hospital, esperávamos um táxi. Eu levava Gohan grudado no meu colo, media cada passo que eu dava, olhava para todos os lados com medo de aparecer alguém que pudesse fazer mal àquele garoto.

Vocês sabem quem.

— Táxi demorado... — comentei. Gohan dormia como um anjinho nos meus braços.

— Gente. Vocês acham que... tipo... Vocês acham que a Sheila pode voltar? — indagou Valeska, também apavorada por estar na rua.

— Só se ela fosse burra. O pior é que ela é burra. Se eu fosse ela, já teria ido para bem longe daqui. Sheila levou uma boa grana do pai da Lara. Poderia, sei lá, fazer uma lipoaspiração e ir embora.

— Até parece, Gabi. Em todo caso, é bom a gente ficar atento, principalmente agora que o Gohan saiu do hospital. E vocês duas — encarei Gabi e Valeska — vão me ajudar a cuidar do garoto.

Um táxi parou, finalmente. Adentramos e falamos ao motorista o destino para o qual gostaríamos de ir. Continuamos a conversar no carro, todos no banco traseiro.

— Galera, às vezes, quando eu saio daqui eu tenho uma sensação estranha. Parece que eu tô sendo seguido. Eu fico um pouco paranoico, olho para todos os lados, mas não vejo ninguém. Foi do mesmo jeito agora. — confessei. — Eu sei que ela pode voltar a qualquer momento e...

— Para, vamos ficar tranquilos. Eu tava pensando da gente ir visitar o João Paixão na prisão. Ele deve saber de alguma coisa sobre a gorda. — disse Gabi.

— Acho que ele não vai dizer nada.

— Sabe de uma coisa que eu não entendo?

— Sabemos, Valeska. Você não entende nada! — Gabi não deixou passar a oportunidade.

— Aff, para, Gabriela! — respirou — Eu queria saber como uma mulher daquele tamanho conseguiu fugir da prisão e depois atirar no Douglas sem que ninguém percebesse.

— Isso eu vou ter que concordar, Gabi. Sheila é safa.

— Mas eu sou mais! — disse Gabi. — parafraseando Susana Vieira: ninguém é mais poderoso que Deus e eu!

— Ai, que podre! — Valeska riu.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Os pais do Márcio QI já estavam por dentro de todo o assunto, e receberam o Gohan de braços abertos na casa deles, embora tinham uma pulga atrás da orelha quanto a verdadeira identidade do pai de Gohan.

Eles achavam que Márcio era realmente o pai da criança.

— Que ideia! — eu comentei — Márcio QI , pai de um bebê? “cá, cá, cá, cá, cá”!

Márcio QI arrumava algumas fraldas enquanto Valeska nanava Gohan em um berço improvisado.

— É a primeira vez que eu conheço um pai que é BV — Valeska tirou sarro e riu. Até ela?

— Sério, QI, que você ainda é BV? Caramba, dezoito anos! Eu dei o meu primeiro beijo com catorze. Porém, não foi muito legal.

— O meu também foi com catorze — disse Valeska — Naqueles jogos da garrafa, como é que chama? Verdade ou desafio né? Ah, bons tempos...

— Poxa, galera, parem! — ele gritou, não alto o suficiente para acordar o bebê. Estava nervoso por causa do assunto — É c-c-claro que eu não sou BV!

— Ah, para, Márcio! Com quem foi seu primeiro beijo?

— F-foi com a... Ah, vocês não conhecem.

— Fala o nome, ué! — Valeska me ajudava a pressioná-lo.

— Tá ficando tarde, né? É melhor vocês irem, preciso colocar umas matérias em dia. O vestibular tá chegando e...

— Tá, a gente não toca mais no assunto. Vem, Valeska, vamos embora. Tchau, ‘donzelo’ — ri, puxando a Valeska comigo até a porta do quarto.

No caminho para casa, Valeska não deixou de comentar mais uma pérola:

— Gabi, sabe o que eu estava pensando?

— O quê? Desde quando você pensa?

— Para! — me deu um tapa — E se o Márcio QI beijasse a Lara e ela acordasse, como naquela história da Bela Adormecida? Seria tão romântico!

— Ah, amiga, não exagera!

***

As semanas foram se passando e o pequeno Gohan começava a se desenvolver. Quando chorava, bastava que Márcio QI o colocasse em seu colo e logo ele parava. Era tão lindo ver aquele rapaz que sempre fora tímido, reservado, se tornar um verdadeiro homem, honesto, bondoso e com uma atitude tão ímpar!

Eu via que ele precisava de ajuda, mas ele era tão forte que as olheiras que eu via no seu rosto só me mostravam que desistir era a última coisa que ele faria. Márcio QI dormia muito mal por causa do bebê, por isso, às vezes, ele cochilava no meio da aula. Os professores estranhavam o fato do melhor aluno da escola estar tão desatento, mas o coitado estava se desdobrando para cuidar de Gohan e ainda estudar para o vestibular.

Eu queria ajuda-lo.

Arrastava Valeska todos os dias para que, além de nós podermos ajudar o Márcio QI com o Gohan, ele de quebra nos ajudava com o conteúdo do vestibular.

Passávamos quase que o dia todo na casa do Márcio QI, mas era por uma boa causa.

E, certo dia, enquanto QI nos passava alguns macetes para decorar umas formas de MHS, conteúdo chato de física, Valeska sentiu um cheiro não muito agradável.

— Acho que alguém peidou. — disse Valeska, tapando o nariz.

Eu também acabei sentindo.

— Ai, gente, eu sei que a amizade dá algumas liberdades e tal, mas isso já é demais. — falei.

— Quem peidou tá com a mão amarela.

— Ah, não Valeska, essa brincadeira é do tempo da primeira série.

Márcio QI correu pra ligar o ventilador.

— Meninas, vamos parar com isso? O Gohan tá dormindo no berço bem aqui, se é que vocês não lembram. — ralhou.

Ficamos caladas por alguns segundos, mas o aroma não passava. Márcio se levantou do chão onde estudávamos e foi ver Gohan no berço.

— Ah, agora eu sei o que aconteceu! — disse ele, como se tivesse acabado de descobrir um tesouro — a fralda dele tá cheia.

QI tirou Gohan do berço e, delicadamente estendeu uma toalha em cima de sua cama (a cama dele tinha uma colcha do Super Mario, vamos rir). Pediu que Valeska e eu tomássemos de conta do bebê apenas enquanto ele iria até outro cômodo da casa buscar “umas coisas”.

Minutos depois, Márcio apareceu com uma pinça cirúrgica, uma daquelas latas de lixo de aço, um par de luvas descartáveis, uma caixa de fósforos e um litro de álcool. Ah, ele usava uma daquelas máscaras cirúrgicas. Como tinha duas a mais, entregou-as para mim e para a anta da Valeska.

— Ai, meu Deus, ele vai fazer uma cirurgia maluca no Gohan. Eu não vou deixar, eu não vou deixar. Me solta, Gabi! Sai! — Valeska bradava histericamente, mas eu já sabia o que o QI, fresquinho, iria fazer.

Lentamente, ele foi soltando as abas da fralda e afastando o rosto a medida que abria aquele pacote de... de... daquela coisa fedida.

— Cruzes! Tem certeza de que esse menino só toma leite? Parece que ele comeu um urubu estragado!

— Parem, ou eu não vou conseguir me concentrar.

Márcio colocou as luvas e levantou a bunda do bebê, limpando-a com algodão. Em seguida, foi retirando a fralda e, com a pinça cirúrgica embalou-a e colocou-a dentro da lata de lixo. Jogou álcool e pôs fogo. Correu pra deixar a lata de lixo no quintal.

— Nossa, QI, o tempo passa e você continua fresco. Você faz isso sempre que o Gohan faz cocô? — comentei.

— Me deixa, Gabriela!

Gohan precisava tomar um banho. Como eu estava sem paciência pra ver as frescuras do Márcio, disse que a tarefa ficaria comigo e com a Valeska. QI gastou suas economias comprando algumas coisas para o bebê, dentre elas, uma banheirinha super simpática, com uns chocalhos nas laterais que, eu sabia que quando ele crescesse mais um pouquinho ele iria brincar muito.

Amornamos a água e demos um banho gostoso no bebê. Depois, estudamos até as onze da noite e fomos para casa.

E aquela rotina se repetiu e se estendeu até o final daquele ano.

E nada da Lara acordar.

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Música: Love me Again - John Newman

O ano de 2012 estava no final. Gohan já estava com seis meses de vida quando a nossa escola promoveu uma festa para os formandos do Ensino Médio. Valeska, infelizmente, não pôde participar, pois, devido ao tempo em que ficou fora da escola por estar pagando de jogadora de futebol, perdera o ano. Contudo, se tirasse uma nota boa no ENEM, poderia pegar o diploma.

Por isso, ela se oferecera para ficar com Gohan enquanto eu e Gabi iríamos para a festa. Era numa boate, chique, com open bar, DJ, essas coisas que toda festa tem que ter.

Mas eu não estava afim de festividades. Depois de todo aquele tempo, minhas esperanças de ver a Lara acordada iam se esvaindo, assim como as esperanças dos médicos. Gabi e eu ainda tínhamos medo de Sheila sair das catacumbas onde se enfiara para fazer mais crueldades com a gente.

— Vem dançar, QI! Eu amo essa música!

— Não, vou ficar aqui mesmo. Você sabe que eu não gosto dessas coisas.

— Cara! É nossa formatura! Deixa de pilha. — ela puxou meu braço, mas eu firmei meus pés no chão.

— Tô preocupado com o vestibular. Tá perto.

— Só com o vestibular? — questionou Gabi, séria. Ela já havia tomado muitas e eu também já estava na minha terceira cerveja. Eu nem bebia, só naquele dia porque fui na onda da galera.

De repente, o DJ colocou uma música lenta (Birdy - Wings) . Gabi continuou me puxando até que eu cedi. Fomos para a pista de dança e ela se agarrou no meu corpo, pousando a cabeça no meu ombro direito. Era estranho aquele tipo de intimidade. Não era um abraço comum. Não sei se era por que ela estava bêbada.

— Eu acho que a Lara tem sorte. Ela mal sabe que tem um cara tão maravilhoso esperando apenas que ela acorde, pra que os dois possam ficar juntos.

Gabi, romântica? Gabi, dando em cima de mim ou impressão minha?

— É. Errr....

Eu estava tão sem graça com a atitude da Gabriela que a minha única reação foi abraça-la. Ela era uma ótima amiga, apesar do jeito que ela tratava a gente e tal. Mas eu sabia que podia contar com ela. Porém, não daquela forma, não daquele jeito.

Gabi me surpreendeu com um selinho. Um selinho que depois virou um beijo de língua o qual, segundos depois, eu repeli. Talvez por eu me sentir traindo a Lara, de alguma forma.

— Por que fez isso? — perguntei, assustado, afastando-a do meu corpo.

— Hã?

Ela estava pra lá de bêbada, um pouco chorosa, acho que porque era o último dia que a gente veria a galera da escola toda reunida, talvez porque aquele era o fim de um ciclo e por que, de alguma forma, ela queria expressar o que ela estava sentindo.

Abracei-a e dançamos, juntos, até o final da música.


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Notas finais do capítulo

Gente, alguém percebeu que o QI perdeu o BV? :c
Ah, dedico esse capítulo pra quem tava shippando Gabi e QI