Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 20
O Lado Masculino de uma Garota Inustiçada


Notas iniciais do capítulo

Como foi o feriado de vocês? O meu eu passei escrevendo a fic hahah
Capítulo bombástico. Rede Globo que se cuide



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/483732/chapter/20

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Quando enfim me recuperei, desliguei o celular, pois estava com ódio da Gabi e ela nem imaginava o porquê. Olhei ao meu redor: o quintal da casa de Lara era enorme e felizmente, não havia cachorros ou qualquer coisa para manter a segurança dali.

Avistei o portão que dava acesso a casa e corri até lá. Estava trancado com um enorme cadeado.

Mission failed.

Desesperado, comecei a gritar para dentro da casa. Chamava por Lara, como se aquilo valesse a própria vida dela. E talvez valesse mesmo.

Lara apareceu alguns segundos depois e correu para próximo ao portão. Ficamos nos olhando um pouco, ela do lado de dentro, e eu do lado de fora.

— Cara, eu não acredito que você pulou! Mas... e agora? Tá trancado.

— Pois é, eu acho que eu só tentei pular por impulso. Eu tô preocupado com você sozinha com essa louca. Como você está?

— Márcio, eu vou ficar bem. Eu só te peço que, caso eu suma... — ela falou com um pouco de amargura na voz — fique atento porque ela vai estar envolvida.

— Lara, por que você tá falando isso? Eu tô com medo!

— Não fica, QI. — ela sorriu, talvez para me passar tranquilidade — Vai dar tudo certo.

Passei meu braço pela grade do portão e segurei a mão de Lara. Olhei em seus olhos por uns instantes, retribuí seu sorriso e saí. Consegui pular o muro de volta.

Ainda bem.

PALAVRAS DE DOUGLAS LORETO

Lupe pediu umas pizzas e jantamos assistindo um festival de shows na TV por assinatura. Valentim e Bárbara ficaram se agarrando no sofá e mal tocaram na massa. No máximo, tomaram algumas cervejas.

— Vou tomar um banho. — disse Valentim. Levantou-se e deixou Bárbara sozinha no sofá.

Lupe e eu continuamos entretidos, com nossas cervejas e nossos pedaços de pizza. Ele, já estava quase capotando de tanto beber. Bárbara se aproximou, indo até o sofá onde eu estava. Fingiu estar assistindo TV e, de repente, pôs a mão direita na minha coxa e foi subindo. Repeli a garota na mesma hora.

— Que foi? — sussurrou ela.

— O cara com quem você está se encontra exatamente sob o mesmo teto que nós, neste momento. Mais precisamente no banheiro.

— Você sabe quem é o cara com quem eu queria estar agora...

Eu sabia que Bárbara queria ter algo a mais comigo, mas sabia também que Valentim sempre foi muito gamado nela. Eu estava perdido, pois ela dormiria lá naquela noite. Eu tinha que resistir. Achei melhor maneirar nas cervejas.

— Bárbara, sai. Por favor...

Bárbara continuava avançando o maldito sinal. Aquele sinal que indicava que eu era o melhor amigo do cara com quem ela estava ficando. A garota mordiscava minha orelha e, enquanto eu revirava meus olhos, minhas mãos diziam o contrário: que Bárbara deveria ficar longe de mim. Pro meu bem, pro nosso bem.

Eu sei que você ainda não esqueceu aquela Lara... mas eu posso fazer você se esquecer dela rapidinho. — sussurrou em meu ouvido.

Virei o rosto para o chão, onde Lupe estava deitado, e vi que ele finalmente havia capotado. Sua cara, aliás, estava inchada de tanto álcool que ele havia ingerido. Bárbara se sentia um pouco mais segura sabendo disso.

Enquanto ela beijava o meu rosto, lembrei-me imediatamente de Lara. Assim, do nada. Era um daqueles pesos de consciência que só eu tinha.

— Sai daqui, sua... sua vagabunda! — empurrei ela bem forte, o que a fez se afastar.

Bárbara deu um sorriso de glória. Ela sabia como eu estava me sentindo.

Eu estava derrotado.

E era aquilo o que ela queria.

Valentim saiu do banho e voltou para a sala. Bárbara continuou se agarrando com ele no outro sofá, como se nada tivesse acontecido.

PALAVRAS DE GABI CARVALHO

Como o traste do QI não atendeu o celular e ainda desligou, pedi que Valeska dormisse debaixo da minha cama (pro caso da minha mãe não ter que vê-la caso ela entrasse no meu quarto)e tentei ligar para aquele nerd no dia seguinte.

Alô? — ele atendeu. Era por volta de seis da manhã.

— Márcio QI, seu anta, onde é que você esteve? Por que não me atendeu? Por que desligou o celular?! Olha, eu vou dar tanto na tua cara!

Me ligou só pra encher o saco, Gabriela? São 6 da manhã e eu tô todo quebrado de uma queda que eu levei.

— Aff, não quero saber não. — realmente não estava dando a mínima — Eu preciso de sua ajuda.

Sério? Você me trata desse jeito e ainda quer ajuda?

— É caso de vida ou morte. Escuta logo... — pensei um pouco — Márcio, vem aqui em casa e traz algumas roupas suas. Mas não quero roupa feia. Traz umas roupinhas bonitinhas, as menos nerds que você tiver.

O que você vai fazer? Não tô entendendo nada...

— Para de fazer a egípcia e vem logo pra cá. Já!

Desliguei.

***

Valeska estava assustada. Pedi que ela sentasse em frente ao espelho que havia no meu quarto.

— Amiga, sabe que eu te amo, né. — falei — Mas o que eu vou fazer é pro seu próprio bem.

Mal Valeska respirou para responder quando eu peguei a tesoura e fui de encontro com ela nos seus longos cabelos. Ela pirou.

— Tá louca! Era esse o seu plano? Se queria me disfarçar, por que não pintou meu cabelo com água oxigenada? — perguntou, chorosa.

— Quem tá maluca é você. Anta do jeito que é, se eu colocar água oxigenada na tua crina você vai virar uma ameba. Querida, por favor, confie em mim. Se você se disfarçar de homem, ninguém vai perceber. É só por enquanto.

Ela bufou, conformada, e eu continuei cortando os cabelos dela. Márcio QI chegou e bateu na porta.

— Gabi! Sou eu! Trouxe o que você pediu!

Corri até a porta do quarto e abri. Ele quase caiu pra trás quando viu Valeska no meu quarto, e ainda por cima com as madeixas curtas.

— Hã? Valeska?!

— Amigo!!! — ela se levantou da cadeira onde estava e foi abraçá-lo. Tomei a sacola com roupas da mão de QI e entreguei pra Valeska.

— Márcio, vira pra trás. Valeska, veste isso aí.

Segundos depois, Valeska estava quase irreconhecível. Comecei a encher a camisa que ela estava vestida com alguns lençóis, de modo que deixasse o corpo dela reto, para que as pessoas não percebessem os seios e o bumbum.

— Minha mãe me deu essa camisa aí ano passado. Nunca usei. Mas confesso que na Valeska ficou legal. — disse Márcio. — E então, qual é o plano?

Fiquei olhando para Valeska de cima a baixo. Realmente, com um pouco de maquiagem, ela ficaria mais irreconhecível ainda.

— Esse aqui — apontei para ela — é o Gustavo, o primo do Márcio QI. Veio lá de Recife. — empurrei ela para cima de Márcio — e vai passar uns dias na sua casa.

— Oi? — os dois se perguntaram.

— Valeska... Gustavo... sei lá, você tem que dar um jeito enquanto a gente não coloca a demônia da Sheila atrás das grades. Você fica uns dias na casa do Márcio QI, ele é menino e não vai dar confusão.

— Tá, eu vou dizer a minha mãe que é um amigo meu. — disse ele.

— Por mim também não tem problema nenhum.

***

Música: Adam Lambert – Cuckoo

Naquele mesma tarde, Márcio QI e eu levamos Valeska para dar uma volta no bairro e fazer um test drive.

De início, como não estava acostumada a ser um garoto, ela andava rebolando e jogando o (qual?) cabelo para trás. Algumas pessoas que passavam na rua olharam para ela com o olho torto, achando que era um rapaz gay.

— BICHONA! SAI DO ARMÁRIO QUERIDA! — gritou um travesti que passava ali perto.

Valeska, sempre lenta, demorou uns cinco minutos até perceber que as piadas do traveco ela para ela. Até que revidou:

— Tá rindo do quê ridícula?! Vem cá, que eu vou te dar uns tapas! — bradou. O travesti, do outro lado da rua, tirou o salto e olhou para os dois lados, para se certificar que não havia nenhum carro.

— Gente, ele ta vindo pra cá. — disse Márcio, com medo.

— Deixa esse travesti me bater, que eu jogo ele na cadeia, enquadrado na Maria da Penha.

— Maria da Penha, Valeska?! — questionei, de olho no traveco, que tentava atravessar a rua. — Primeiro de tudo, você agora é um menino. Seu nome é GUSTAVO. Segundo: quem vai pra cadeia é você. E terceiro, corre, negada, que a trava ta vindo pegar a gente!

Começamos a correr. O sinal fechou e o travesti atravessou a rua, finalmente, e começou a nos perseguir. Enquanto fugíamos, não pude deixar de dar uns tabefes na Valeska, ops, no Gustavo, pra ele deixar de ser uma anta.

Despistamos a criatura.

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Sheila estava estranha comigo. Muito calada. Não deixava que eu chegasse perto da Clarinha. Aquela menina, por mais que fosse sua filha, jamais teve atenção da mãe. E eu estava com pena dela.

Estava também amedrontada. Tinha medo que Sheila descobrisse que Márcio havia pulado o muro do quintal e falado comigo no dia anterior àquele e tentasse algo contra ele, que nada com aquela história tinha a ver.

***

Quando caiu a madrugada, ouvi uns ruídos estranhos vindo da sala. Como eu não conseguia pregar o olho, aterrorizada com aquela gorda, e ainda pensando em Douglas e no meu pai, qualquer barulhinho que fosse me fazia acordar.

Os ruídos eram feios. Pareciam gemidos, com estalos e um som que parecia que a pele de alguém estava sendo chicoteada. Quando lembrei que Sheila poderia estar fazendo algo contra sua filha Clara, caí da cama e corri até a sala.

Desci lentamente as escadas. Ouvi o som de um vaso caindo e quebrando. Papai adorava aquele vaso que sempre ficava na sala. Parei alguns instantes, pois estava com tanto medo que me faltou fôlego.

Finalmente cheguei à sala. Deparei-me com Sheila beijando um cara. Ela parecia que ia devorar ele, literalmente. O rosto dele estava todo babado. Eles se amassavam, se jogando pela sala, de uma maneira tão selvagem que parecia uma briga. O felizardo amante de Sheila era um rapaz negro, forte, que tinha uns 18, 19 anos, e vestia uma camisa do Fortaleza Sport Club, vermelha e azul.

Quando perceberam que havia mais alguém na sala, no caso eu, o cara olhou em direção a escada, onde eu estava parada observando tudo. Seu rosto então me pareceu familiar.

Lembrei da minha infância, do celular roubado, que depois apareceu. De um carinha que sempre andava com o Douglas. Era um pequeno marginal, já naquela época, e agora estava na minha casa, ocupando o lugar que era do meu pai: JOÃO PAIXÃO.

— PEGA ELA! — gritou Sheila, apontando para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por essas cês não esperavam né '-'