Dead Inside escrita por Valentina


Capítulo 9
Porta Entreaberta


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos que estão acompanhando a fic, sério. Vocês me deixam muito feliz s2
Esse capítulo, na minha opinião, define o começo da amizade, a amizade de verdade, entre os dois. Espero que gostem tanto quanto eu!! ;)



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Tentei dormir, mas o sono não vinha de jeito nenhum. Por fim, desisti e insisti para que Michonne fosse descansar, e assumi o posto de guarda. Àquela hora da madrugada, o céu estava relativamente mais estrelado, e a brisa noturna estava arrepiando meus pelos. Agradeci a mim mesma por teimar no moletom, pois estava me sentindo um pouquinho mais aquecida graças a ele.

“Oi” – a voz de Carl alcança meus ouvidos. Quis olhar para trás para vê-lo parado na varanda, mas podia ouvir seus passos vindo até mim. Decidi esperar que ele se sentasse ao meu lado, e surpreendentemente, ele o fez.

“Insônia?” – eu perguntei, já sentindo o calor do corpo dele ao sentar-se do meu lado, especialmente numa noite fria como aquela.

“Não consigo dormir em uma casa cujo quintal tem três covas” – ele disse, encarando algum ponto entre duas árvores. Assenti com a cabeça instintivamente, tentando entender como ele estava se sentindo em relação a uma das covas em especial. Aquela que representava a morte de Judith. – “Como é?” – ele me olhou bem no fundo de minha pupila, e meu coração acelerou com mais rapidez. Por que eu estava me sentindo tão abobalhada assim?

“É o quê?” – minha voz soou engasgada, e eu rezei para que ele não percebesse esse nervosismo. Não pareceu perceber.

“Seguir em frente” – ele disse, suspirando. Ele começou a encarar os sapatos, e anotei esse fato sobre ele; gostava de encarar os próprios pés quando se sentia encabulado, ou chateado.

“As pessoas morriam ao meu redor, e nada importava, sabe? Nada importava, meu pai estava lá por mim, e nada importava. Então, nada passou a ser importante. Meu pai estava morto e eu não conseguia pensar direito. Eu estava sozinha. Como eu ia sobreviver?” – eu ri, pensando em como eu havia ficado entorpecida nos dias em que fiquei caminhando por conta própria. – “Eu não tinha motivo nenhum para tentar viver, mas aí eu conheci vocês. As razões pelas quais lutei ao lado de meu pai finalmente começaram a aparecer. Pensei em todas as pessoas que gostariam de estar vivas. Pensei que eu merecia honrá-las. Honre a Judith” – quando me dei conta, notei que Carl me encarava intensamente. Ele parecia curioso, alimentando-se de cada palavra que eu proferia. Fiquei completamente envergonhada, e virei o rosto, mesmo sabendo que a escuridão protegia o rubor de minhas bochechas.

“Eu sou fraco. Eu achei que poderia me virar sozinho, mas acabei descobrindo que essa é minha maior fraqueza. Não suporto a ideia de ficar sozinho” – ele disse, como se as palavras que saíssem de sua boca estivessem envenenadas.

“Você vai perdendo as pessoas para o mundo, e o mundo começa a se perder dentro de você. Sua alma vai se perdendo até que se torne vazia, e aí você se vê buscando somente uma coisa: preencher esse vazio. Eu consegui preencher, Carl. Graças a vocês três, minha mente se mantém ocupada. Eu aprendi a usar um machado. Eu me sinto mais corajosa. Graças a vocês, não tenho tempo para pensar se vale ou não a pena viver. Eu só tenho tempo para preencher o vazio que se formou dentro de mim. Obrigada” – eu sorrio, e o vejo menear a cabeça positivamente. Fico decepcionada por ele não sorrir de volta, mas tento compreender.

“Apesar de eu estar grato por ainda ter meu pai, eu não consigo me livrar desse vazio, Blair. É como se não houvesse mais esperança” – ele disse, envergonhado demais para me encarar.

“Eu sei. Eu pensei a mesma coisa, mas então você abriu a porta” – ofereci o meu melhor sorriso reconfortador, e com cautela, levei minha mão até seu ombro. Ele não rejeitou o gesto, então deixei que minha mão ficasse lá.

“Quando é que alguém vai abrir a porta pra mim?” – ele prendeu seu olhar ao meu, mas invés de assustados, pareciam furiosos, como se exigissem alguma explicação.

“Quando você se permitir tocar a campainha” – eu disse com firmeza, pois sabia que ele não precisava de gentileza; ele precisava que alguém o abrisse os olhos.

Carl levantou-se subitamente. Ficou parado de costas para mim por alguns instantes e finalmente começou a se mover lentamente em direção à varanda. Eu estava confusa, tentando interpretar aquilo. Então, ele se virou antes que pudesse subir os degraus.

“Posso tocar a campainha amanhã de manhã? Gostaria de uma companhia para procurar suprimentos” – ele disse, tentando equilibrar seu tom de voz entre sutileza e medo.

“Bom, a porta nunca esteve trancada. Será um prazer” – eu sorri de volta e ele assentiu timidamente com a cabeça. Ajeitou seu chapéu como um verdadeiro xerife, o que me fez sorrir, lembrando-me dos filmes de velho-oeste.

Quando o barulho da porta se fez presente, permiti meus músculos a relaxarem. Voltei a encarar o céu, e por incrível que pareça, este se tornou magicamente mais iluminado. Como se uma camada espessa de neblina estivesse cobrindo as estrelas o tempo todo, e agora ela tivesse ido embora. Mas não era isso. Nós enxergamos o que queremos ver, Blair. Se seu coração estiver feliz, enxergará a bondade. A bondade era pequenos pontos reluzentes, e eu estava feliz, e se Deus existisse, ele estava refletindo isso naquela tela negra, o céu no qual minha mãe costumava dizer que era sua mais pura arte.


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Notas finais do capítulo

Reviews?? Espero que tenham curtido.
Beijos, amores!!