Dead Inside escrita por Valentina


Capítulo 4
Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Finalmente a Blair vai começar a se descobrir. Espero que gostem, e estou muito feliz com os nove acompanhamentos, na verdade, vomitando arco-íris. Enfim.



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CINCO ANOS ATRÁS

“Blair, você precisa aprender a se defender” – disse meu pai, seu olhar era frio e retraído. – “As coisas podem piorar rápido” – eu não entendi o que ele quis dizer.

Apoiei minha cabeça em seu peito, pois me senti extremamente desprotegida. Vulnerável e todas essas coisas.

A sala de reunião do papai era ampla e cheirava à madeira e mofo. Estantes cobriam todas as paredes, repletas de livros grossos e antigos, páginas que eu nunca leria. Páginas que talvez nem meu pai pôde ler. A mesa, grande e retangular, era feita de mogno, e brilhava à fraca luz da luminária. Vários papéis e pastas estavam espalhadas sobre ela, bem como alguns porta-retratos de nós três, papai, mamãe e eu. Uma família “feliz”. Ele suspirava constantemente, irritado. Eu sabia o que aqueles suspiros queriam dizer: algo dera errado e ele não sabia por quê. Eu estava em seu colo, aninhada em seus braços, e não fazia menção de sair, mesmo que eu soubesse o quanto ele queria sua mobilidade para viajar entre toda aquela papelada.

“Então me ensine a me defender” – eu sussurrei, fechando os olhos. Já era mais de meia noite. Todo aquele mistério me deixava com sono e furiosa. – “Por que está dizendo essas coisas?” – perguntei, encarando-o no fundo de sua íris.

“Você se lembra de quando te expliquei sobre o meu trabalho?” – ele perguntou, retirando os óculos de grau para me fitar com mais intensidade. Era a hora da conversa, e senti meus pelos arrepiarem.

“Pentágono?” – rebati desconfiada, mas orgulhosa por me lembrar da palavra.

“Isso. Esses papéis são do trabalho. E eles não dizem coisas muito boas” – ele colocou os óculos novamente, o que era um código para ‘essa conversa termina aqui’.

“Sou grande, papai. Pode explicar com mais detalhes” – eu falei, em um tom desafiador. Pude sentir que ele reprimiu uma risada, então eu ri levemente também.

“O que você acha do Alasca?” – ele me perguntou, segurando um dos papéis.

Com muito esforço, enxerguei o título: Relatório Confidencial – Ameaça Biológica.

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DIAS ATUAIS

Meu pai havia dito que eu precisava aprender a me defender, há alguns anos. O machado pesava em minhas mãos, e eu não sabia se teria forças para usá-lo. Eu ouvia sua voz dizendo que as coisas piorariam rápido, e tentava tirar ânimo dessas palavras. Michonne me fitava com curiosidade, já que alguns walkers se aproximavam e eu não parecia estar preparada para decepar suas cabeças. Carl estava sentado em uma espécie de cadeira de praia, a aba de seu chapéu cobria seus olhos, mas eu sabia que ele estava olhando, encarando tudo com um divertimento maléfico. Rick estava descansando, o que era bom – tê-lo me examinando não ajudaria em nada, apenas me faria me sentir desconfortável graças ao meu pai. Eu precisava me defender. Anda Blair, prepare-se.

O walker estava cada vez mais próximo. Seu braço esfolado estava erguido em minha direção, como se eu fosse um oásis no deserto. Vestia um terno complemente destruído e manchado de cores que variavam do vermelho vivo até o roxo pútrido. Sua face já era uma mistura da pouca pele que ali restara, dos grandes buracos em torno dos globos oculares e a parte superior do maxilar que, por algum milagre, estava intacta se comparada à inferior. Seus cabelos caíam conforme ele se movimentava, seus dentes restantes rangiam e ele gemia. Gemia como uma sinfonia de um filme de terror. Lutei contra a imobilidade que começava a tomar conta de mim. Covardia, o nome dela.

“Use toda sua força, como se você fosse arremessar seu braço” – disse Michonne, com as mãos na katana, pronta para qualquer situação que não estava nos planos.

Respirei fundo. Lembrei-me de Jamie uma vez mais antes de dar um passo para mais perto do walker. Gemido, dor. Senti tanta pena daquela criatura que senti que matá-la de vez seria meu ato de misericórdia. Meus passos se tornaram pesados e rápidos, furiosos, embora eu estivesse subitamente tranqüila. Minha mente estava limpa, e eu não pensava em vingar meu pai, ou em vingar a raça humana que provavelmente, à essa altura, já estava em extinção. Eu só pensava em como seria bom livrar aquilo que já fora um humano dessa vida indigna. Eu gostaria que fizessem isso por mim.

Quando ele estava prestes a segurar meus braços e fincar seus dentes nojentos em mim, ergui o machado para cima e o lancei contra seu pescoço com toda a força que tinha em meu corpo desnutrido. Senti que meu braço estava sendo descolado do ombro, e me senti bem. Bem como nunca desde o início do fim do mundo. A cabeça aterrissou a alguns metros de distância e o corpo pendeu para trás, caindo vitoriosamente.

Um pequeno grupo estava vindo. Não olhei para trás para ver se Michonne empunharia sua espada e se juntaria a mim, porque eu não queria que ela o fizesse. Precisava fazer isso sozinha.

Continuei seguindo em frente, e três walkers vinham em minha direção, famintos. Uma mulher e dois homens, tão avançados em seu estado de decomposição quanto o primeiro engravatado. A mulher estava mais próxima, então ergui meu machado novamente e o finquei no meio de seu crânio. Ele se dividiu em dois, uma massa cinzenta e envolta por uma gosma esverdeada apareceu e escorreu de dentro. Alguns respingos dessa coisa viscosa estavam em minha camiseta. Andei para o próximo, um dos dois homens, e dessa vez, senti uma força sobrenatural tomar conta de mim. Cortei, em uma linha quase cirúrgica, a parte superior de sua cabeça, deixando à mostra uma pequena sobra do que um dia fora seu cérebro, e lançando para longe a maior parte dele. O último, no entanto, pareceu ficar furioso com a morte dos coleguinhas. Vinha para mim com mais ferocidade do que qualquer outro jamais veio. Eu o derrubei no chão e finquei meu machado em sua cabeça, e depois, decepei-a. Agora podia enxergar a mistura de ódio e felicidade que borbulhava em mim. Era como respirar outro oxigênio.

“Quem é o próximo pedaço de merda?!” – eu gritei. Um sorriso enorme se estampava em meu rosto e eu pude sentir pela primeira vez desde que meu pai morreu, os raios de sol penetrarem em minha pele. Aquela manhã fora a melhor de minha vida.

“Ainda acha que ela vai nos atrasar, Carl?” – virei para trás, de repente atônita com o sotaque. Era Rick, mas não podia evitar esse nervosismo de escutar sua voz. Ele estava parado na varanda, e eu não sabia dizer a quanto tempo ele estava lá observando.

Carl me encarou por alguns segundos, o que me deixou desconcertada. Evitei continuar olhando para o tom azulado de sua íris e me foquei em Rick. Eu estava ofegante.

“Não mais” – ele limitou-se a dizer, ajustando o chapéu e se levantando da cadeira. Ele era um babaca agindo daquela forma. Podíamos ser amigos, mas ele teimava em continuar com esse jeito arrogante e estúpido.

Eu o deixei ir sem rebater. Ele não merecia uma discussão. Apenas sorri de volta para Rick e para Michonne, sentindo-me orgulhosa de mim mesma, sentindo-me bem por ter alguém perto de mim, um grupo, por mais que fosse pequeno, e o mais importante, sentir-me remotamente útil para ele. Afinal, eu havia matado walkers e não dei sorte. Dei fúria. Aquilo era um Recomeço.


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Notas finais do capítulo

Hmmmm e aí? O que acharam da nova Blair?
Beijos!!



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