Sherlock estava na sala do 221B. Sozinho. Tocando em seu violino a música que compusera para Molly. Ouvia o som do piano acompanhando-o, mas não olhava diretamente para ele. Sabia que Molly estava acompanhando-o. Era bom ter feito as pazes com a mulher que amava.

O som do piano parou, deixando-o tocar sozinho. Sherlock estranhou, mas não parou de tocar. Em poucos minutos as pequenas mãos de Molly estavam em seus ombros. Ela abraçava-o com ternura e ele sentiu-se maravilhosamente bem. Deu um sorriso e largou o violino.

Não aguentava senti-la tão perto e não beijá-la e abraçá-la... Todo aquele tempo de castigo tinha deixado-o louco!

Sherlock fechou os olhos — tentando ser paciente — enquanto ela dava a volta no sofá e se sentava em seu colo. Abriu os olhos, sentindo as mãos de Irene em seu rosto. Espera. Irene? De onde havia saído Irene Adler? Tinha algo completamente errado naquele cenário. Sherlock arregalou os olhos quando percebeu que ela estava nua. Deu um pulo do sofá, jogando A mulher de bunda no chão.

Irene ria descontroladamente da cara dele, enquanto Sherlock se sentia confuso. Precisava acordar. Aquilo só podia ser um sonho. Há quantos anos Sherlock não se sentia perturbado o suficiente para ter um sonho? Começou à espernear no meio da sala até que magicamente se encontrava em sua cama, em seu quarto.

Respirou fundo, sentindo o perfume de Molly — a Molly de verdade dessa vez — encher sua mente de coisas boas... Em alguns segundos as coisas boas foram embora. A Molly de verdade quase não falava com ele.

Depois do episódio de Mycroft, ele tentara convencê-la de parar com aquela "brincadeira". Molly ficou ainda mais irritada e colocou-o para dormir na sala. E agora estava em seu quarto, acordando sem o sol. Sentia seu corpo pesado e sabia que tinha dormido mais do que deveria. Molly estava em pé, olhando-se no espelho e se arrumando como se estivesse saindo para alguma festa.

— Você não está doente. — Ela disse, terminando de colocar o vestido. — Abotoe para mim, por favor?

Sherlock se sentou na cama. Estava tonto com o perfume de Molly e se sentia totalmente tentado à tocá-la. Não ia desperdiçar essa chance. Abotoou o vestido com cuidado, tocando-a propositalmente... Mas Molly mal percebeu seus toques — ou fingiu não perceber. Assim que ele terminou, ela voltou-se para o espelho e continuou com suas preparações.

— Você dormiu demais porque te droguei. — Molly colocou o par de brincos. — Tinha uma conversa importante e precisava de você fora do ar.

— Uma conversa... — Sherlock sentiu sua língua enrolar. — Conversa importante. Com quem?

— Isso não te interessa, Sherlock. — Molly se virou com um sorriso.

Estava linda. Muito mais bonita do que ele jamais havia visto. Parecia um anjo... Os cabelos levemente ondulados caindo em seus ombros... A visão de Sherlock estava muito embaçada, mas ainda conseguia vê-la e sabia que Molly parecia mais um anjo do que qualquer outra coisa naquele momento.

— É minha cliente e eu tenho coisas para tratar com ela hoje. — Molly calçou um par de saltos enorme e pegou sua bolsa. — Divirta-se!

— Me divertir? Você vai sair para jantar? — Sherlock estava confuso. Não estava nem começando a entender toda aquela história. — Vai sair para jantar com uma mulher?

Molly já tinha deixado o quarto, mas voltou com satisfação. Parou na porta do quarto do detetive e deu seu sorriso mais doce à ele. Sabia que estava-o provocando mesmo sem Sherlock dizer uma palavra.

— Não uma mulher, meu bem. — Molly retocou seu batom vermelho. — A mulher. Adeus, Sherlock.