Depois de se levantar e ir pro pavilhão, comeu sozinho na mesa de Zeus. Essa era uma das poucas regras que não aprovava no Acampamento Meio Sangue, pois em todas as refeições comeria sozinho, já que Thalia havia ido com as Caçadoras. Percy também estava sozinho a mesa de Poseidon, e parecia tranquilo. Já havia se acostumado com aquilo no passar dos anos.

Sua única surpresa, foi quando olhou pra mesa de Hades e esperou ver Hazel sozinha, mas não foi isso que viu. Nico estava ao seu lado, olhando sugestivamente pro prato de cereais a sua frente, como se estivesse confuso entre comer aquilo ou não. Sentiu uma vontade de ir até lá e perguntar a Nico se realmente havia se decidido a ficar, mas não o fez, pois só arrumaria encrenca com isso. Apesar de tudo, ainda era um semideus romano, e respeitava as regras independente do quão sem sentido fossem. Ao invés disso, continuou encarando Nico, até que este lhe lançou um olhar com a testa franzida, como se perguntasse: "O quê você tanto olha?" . Mas como se tratava de Nico di Angelo, Jason sabia que o olhar estava mais para um: "Perdeu alguma coisa?"

Após o "café" Jason foi atrás de Nico, mas foi parado por Percy.

–Ei cara. Que tal a gente desempatar o fracasso do Texas?

Sabia que Percy não havia magoado Nico de propósito, mas sentiu um pouco de raiva do filho de Poseidon. Ás vezes ele demorava demais de perceber as coisas. Não havia nem se ligado de como Nico havia fugido depois dele anunciar que iria pra Nova Roma com Annabeth.

–Vai perder, Capitão Água Salgada.

Ambos semideuses sorriram. Eles eram grandes amigos, mas aquela "luta" do Texas os havia deixado em dúvida de quem sairia vencedor.

–Pode apostar que não, Superman.

Depois de chegarem a arena e começarem a lutar, os semideuses perceberam que não era algo tão fácil sem ter o corpo possuído por fantasmas brilhantes. Cada vez que as espadas se tocavam, faíscas literalmente saltavam e o corpo de ambos ficava cansado, o que faziam sentido, afinal era Ouro Imperial contra Bronze Celestial, Roma contra Grécia, só não sabiam quem representava o quê, pois Jason era romano mas ficaria no acampamento grego, e Percy era grego e ficaria no acampamento romano. Uma verdadeira confusão em laranja e roxo.

–Tudo bem, podemos declarar empate.

Jason acentiu. Não haveria nenhuma finalidade eles continuarem a lutar se sabiam que tão cedo não teria um vencedor. Não importava muito quem era o melhor espadachim afinal.

Os garotos se despediram com um soquinho fraco no ombro. Percy foi atrás de Annabeth, e Jason continuou a procurar por Nico. Quando estava a ponto de desistir, Nico o achou.

–Acho que você deveria parar de me procurar por todo o lugar. Não posso ser encontrado se não quiser.

O filho de Júpiter quase se esquecera que era praticamente impossivel achar Nico se ele não quizesse ser encontrado. O garoto era muito quieto, até em seus passos. Sua presença poderia passar despercebida muito facilmente. Jason se lembrou das muitas vezes a bordo do Argo II que Nico assustava todos ao falar. Agora aquilo parecia quase engraçado.

–Hum... Claro. Só queria perguntar se você se decidiu.

Nico faz uma careta. Por um minuto, fica indiscutivelmente normal fazendo aquilo, mas sua expressão volta ao normal com a mesma facilidade.

–Não fique me pressionando, por favor. Não gosto de ter que dar satisfações da minha vida.

Então, ele não gostava de ser tocado, não podia ser encontrado se não quisesse e não gostava de dar satisfações. De longe, o filho de Hades era a pessoa mais complicada que Jason já conhecera.

–Tudo bem, Nico. Não precisa me falar nada.

A expressão de Nico não mudou em nada. Pelo visto, psicologia reversa também não funcionaria.

–Você é irritante. -Fala depois de um tempo. -Eu vou ficar, por enquanto. Assim que achar uma maneira de ir e não ter que abandonar Hazel vou embora.

Jason da um sorriso mínimo de canto. Nico não era tão impossivel, afinal. Só precisava de alguém que soubesse lidar com sua teimosia.

–Mas quero deixar bem claro -Continuou -Que não estou fazendo isso por você. Estou fazendo por Hazel. Somente por ela.

Não sabia o porque, mas de certa forma aquilo o decepcionou. Havia se esforçado muito desde que chegaram da Croácia pra se tornar amigo de Nico, mas o filho de Hades fazia questão de sempre que possível esfregar na cara de Jason que não o queria por perto.

–Certo. Eu... Posso te fazer só uma pergunta, Nico?

O filho de Hades se afastou, assumindo uma expressão sombria. Jason teve calafrios.

–Faça. Mas não espere obter uma resposta.

Jason cerrou os dentes. Era incrível a capacidade que Nico tinha de arrumar a resposta mais fria que conseguisse.

–Porque você... faz tanta questão de me afastar? Você sabe que pode confiar em mim. Eu nunca contei pra ninguém, nem mesmo pra Pipes o que aconteceu com Eros, e você age como se eu tivesse contado pro próprio Percy.

Nico arregala os olhos, depois os abaixa, como se estivesse envergonhado. Quando os levanta para olhar pra Jason, eles estão mais frios do que o habitual.

–Não sei se posso confiar em você. Todas as vezes que confiei em alguém só aconteceram coisas ruins.

Jason se lembrou de algumas coisas intrigantes que Percy havia falado sobre Nico, de como a alguns anos confiara em um fantasma e isso quase fez com que fosse feita uma invasão no Acampamento. E um ano depois disso, ele levara Percy a uma armadilha no Mundo Inferior a pedido de seu pai, e isso quase fez com que o filho de Poseidon ficasse preso nas masmorras do submundo. Também se lembrou de como Nico havia confiado em Percy pra cuidar de sua irmã, e como ele havia falhado. Novamente, Jason sentiu vontade de socar o semideus.

Uma coisa ainda mais intrigante passou pela cabeça do filho de Júpter. Todas as ações ruins que Nico havia praticado foram causadas por que confiou na pessoa errada e foi enganado. Jason então percebeu algo que nunca havia pensado antes. Nico era... puro. Totalmente puro. Todas essas vezes, não imaginou que estava fazendo algo errado, e até mesmo na vez que ficara preso no jarro em Roma. Não pensou que se tratava de uma armadilha. Ele completamente inocente. Não enxergava a maldade nas pessoas (ou deuses). E por isso tinha medo de confiar nos outros.

–Nico. -Disse Jason com seriedade na voz. Agora, mais do que nunca, queria ter a confiança do filho de Hades. Queria que Nico soubesse que ele jamais faria algo assim só por ele ser inocente. Precisava que Nico acreditasse nele. -Eu sei que você teve... experiências ruins no passado. Isso eu posso entender. Mas eu juro pelo Estige que nunca faria algo desse jeito com você. Não usaria sua confiança em mim pra se beneficiar. Você precisa acreditar nisso.

O vento bateu gelado, igual no dia anterior. Jason esperou os osso saltarem do chão, mas não aconteceu nada. Imaginou que Nico também não gostava de que lhe dissessem o que precisava fazer. A expressão do filho de Hades estava impossível de ser decifrada.

–É melhor eu ir agora. Tenho que... falar com uma pessoa.

Sua voz estava grave, como se tentasse se controlar. Jason imaginou que esse alguém seria um fantasma pelo jeito que Nico deu as costas sem mesmo esperar uma resposta.

–Claro. Foi ótimo conversar com você a propósito. -Murmurou.