Memórias de Draco Malfoy escrita por Shanda Cavich


Capítulo 2
Capítulo 1 - Do Bom e do Melhor




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Eu não era assim tão diferente do que sou hoje em dia, como muitos podem pensar. Com seis anos, eu já detestava trouxas e sangues ruins. Principalmente sangues ruins, os intrusos. Mas com essa pouca idade eu era bem mais ingênuo, e acreditava de todas as maneiras que o mundo todo girava ao meu comando. A Mansão Malfoy era enorme. Mas nada pode ser tão enorme que se compare ao mundo, não é mesmo? Mas logo eu, sendo o bom e único pirralho da casa, já costumava dizer que tamanho não é, e jamais seria documento que se valesse a pena considerar. O que interessava de verdade era quantia. Quantia em ouro! E ouro não ocupava muito espaço, visto que quase toda a nossa fortuna era mantida em Gringotes e outros esconderijos que não ouso contar.

Em mais um dos jantares com minha família, Dobby preparou uma sopa de cogumelos. O que ele tinha na cabeça quando fez aquilo? Eu sou alérgico! Assim que meu pai sentiu o cheiro forte do fungo vindo do grande vasilhame de prata em cima da mesa, deu um chute no elfo, fazendo com que ele caísse no tapete.

"Criaturinha inútil! Está querendo matar meu filho?"

Eu dei muita risada. E por incrível que pareça, naquela época, eu realmente achava graça em tudo o que papai fazia. Ele era minha maior inspiração. Tia Walburga sempre disse que eu era um perfeito clone de Lúcio Malfoy.

"Me deixa chutar o Dobby também, pai! Deixaaaa!"

"Não, Draco. Não queira se sujar." – interrompeu minha mãe, tentando parecer gentil através do batom vermelho. Pegou em minhas mãos e tirou-me da cadeira afetuosamente. – Venha, querido. A mamãe vai te levar para jantar fora.

Minha mãe é uma santa. É perfeita. O anjo mais puro e bondoso deste mundo eu chamo de mamãe. Minha doce e querida mãe.

Resumindo, eu era uma criança aparentemente feliz, a não ser por um detalhe. Eu era sozinho. Não tinha vizinhos, e mesmo que tivesse, não poderia brincar com eles caso fossem trouxas. A Mansão ficava em Wiltshire, sul da Inglaterra, no meio de um bosque chamado Malfoy Malleficarum, cujo proprietário de toda a extensão era ninguém menos do que Abraxas Malfoy, meu avô. Temendo que eu fosse um garoto autista e mimado, meu pai exigiu a dois de seus capangas que os filhos deles se tornassem meus melhores amigos. Vincent Crabble e Gregório Goyle. Até hoje não sei se eles gostavam de mim pelo que eu sou, ou pelo pelos presentes de natal que eu costumava lhes dar todo o fim de ano.

O meu quarto era minha parte preferida da casa. Grande até, mas não tão grande quanto o dos meus pais, que ocupava quase um terço do terceiro andar. Quando meus amigos não estavam, eu ficava entediado por não ter em quem mandar. Então eu procurava por Dobby, a fim de que ele me deixasse brincar de quadribol. Eu sempre era o apanhador, e ele sempre era a vassoura. Dobby serviu de vassoura durante uns três anos, até que papai finalmente me comprou uma vassoura de verdade, antes mesmo de eu entrar em Hogwarts. Aprendi a voar com apenas nove anos, devido a aulas particulares que mamãe insistiu para que eu fizesse.

Fora voar, de resto havia tédio, tédio e mais tédio. Certo dia eu estava sozinho brincando na grande sala de jantar, e ouvi alguns ruídos vindos do chão. Era um barulho incomum, semelhante a um resmungo, um grito abafado. Movido pela curiosidade, aproximei meu ouvido ao tapete no chão, então puxei sua ponta, sendo possível notar a passagem de um alçapão. Como o cadeado estava aberto, resolvi entrar.

Eu nunca havia estado ali, sequer sabia daquela abertura. Um choro mais forte pôde ser ouvido cada vez mais nítido, à medida que eu caminhava pelo estreito corredor.

“Quem é você?” – perguntei, assim que me deparei ao homem de meia idade amarrado a uma cadeira.

“Garotinho...” – o homem falava de modo ofegante, e escorria uma tira de sangue por seu nariz. – “Onde estou?”

“Na Mansão Malfoy, é claro.” – respondi de modo arrastado. Eu estava um tanto amedrontado pela escuridão e, particularmente, detesto conversar com estranhos. – Sou Draco Black Malfoy.

“Escute... Há um terrível feiticeiro por aqui! Eu não sei o que está havendo, mas...”

Subitamente, algumas tochas nas paredes se ascenderam. Dei um pulo. Um homem com capa adentrou o porão. Era meu pai, o reconheci pelo cajado que segurava. Ele pareceu tão assustado quanto homem amarrado ao me ver ali.

“Draco, suba. Depois conversamos sobre isto.” – ele disse, com aquela voz sombriamente calma.

Sem hesitar, voltei correndo. Até hoje me lembro do rosto daquele senhor. Depois descobri que a história que meu pai contou sobre aquele dia foi uma total mentira. Ele havia dito que estava apenas prendendo um ladrão, e ia encaminhá-lo a justiça. Três anos depois descobri que na verdade o homem que estava amarrado à cadeira era um trouxa, que esteve sendo torturado por papai durante alguns dias. No ano seguinte, descobri que aquele trouxa não foi o primeiro e nem o último, e que em algumas dessas sessões minha mãe participou. E apenas quanto completei meus quinze anos, descobri que meu pai era um assassino desde os seus quinze.

É estranho parar para pensar na maldade que acontece dentro de casa. Hoje tenho consciência do que é maldade. Mas durante minha juventude, só existiam duas justificativas quando ela ocorria: diversão ou proteção. Diversão quando alguém se machucava, e eu poderia rir. Proteção quando algum intruso tentava encrencar os Malfoys, e meu pai o silenciava. Papai sempre foi muito bom em silenciar as pessoas. E quase nunca precisava matar. Bastava mexer em algumas mentes, oferecer algumas recompensas. Afinal, quem não gosta de ter do bom e do melhor?

“Mãe, quando vou conhecer o Potter, o que sobreviveu?” – perguntei a ela, enquanto me colocava para dormir.

“Daqui a dois anos, quando for para a escola.”

“Ele é famoso por causa da cicatriz. Por que eu não sou famoso, mamãe? Eu quero ser! Eu quero!”

“Ser um Malfoy é muito mais honroso, Draco. Tenha orgulho de seu nome. Você é superior, não tenha dúvidas. Você tem sangue Malfoy, Black e Rosier correndo nas suas veias. A sua família é de origem inteiramente mágica. E o menino Potter não passa de um órfão mestiço.” – a voz da minha mãe nunca foi tão furiosa quanto naquela última frase. E mesmo quando mamãe estava furiosa, era um anjo tão calmo.

Acho que fiquei um pouco obcecado por Potter. Não exatamente por ele, mas pela fama que ele tinha. A imponência que as pessoas tinham ao pronunciar o seu nome. O garoto era considerado um herói. Podia ser um órfão inútil naquela época, que sequer sabia que era um bruxo. Mas ainda assim foi ele o responsável pela queda de um dos maiores bruxos de todos os tempos. O bruxo que minha família apoiava. Quando o Lord das Trevas caiu, parte do orgulho da família Malfoy caiu com ele.

Meu pai sempre fazia questão em me lembrar que as coisas não eram como antigamente, que eu teria que manter uma máscara no rosto, para que ninguém duvidasse da inocência da nossa família perante as acusações que vinham sendo feitas. Para falar a verdade, eu não me interessava muito por quaisquer assuntos que eu não fosse o principal envolvido. Achava toda aquela veneração por Harry Potter um exagero. Mas no fundo sei que tudo que eu sempre quis, foi ter a atenção que ele teve. O respeito que ele obtinha de todos, não por dinheiro ou ameaça como meu pai fazia, mas por reconhecimento. Eu queria muito que alguém me reconhecesse como algo diferente de o-filho-de-Lúcio-Malfoy.

Pensando bem, acho que eu era ingênuo demais.


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Notas finais do capítulo

Espero comentários. Se houverem, logo posto outro capítulo. Obrigada (: