E se um reencontro o destino preparasse... escrita por Eubha


Capítulo 275
Capítulo 275:




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A pior punhalada é a que nem corta e nem sangra, é a que rasga silenciosamente a confiança na integridade do outro... Anita podia estar a um passe de saber exatamente o que era isso...

—... Como se não bastasse minha vergonha de ter uma filha na boca do povo, servindo de risadas a qualquer um, a tonta ainda enche a boca pra dizer que ama esse moleque imbecil, que a ridicularizou ao máximo, pelo visto tomou gosto por ser apontada na rua, a chacota de geral, por conta de um amorzinho insano, por um garoto que daqui uns tempos, arruma outra melhor, e a descarta como se ela fosse um lixo sem importância, é muita ingenuidade...

Pensar naquilo que nos faz mal, definitivamente não era o melhor para esquecer, Anita estava sentindo isto na pele... Toda discussão e palavras arrasadoras de Caetano, pairavam em sua mente ininterruptas, sem lhe dar trégua, enquanto ela tentava novamente voltar todas suas atenções para o preparo do almoço da família, estava difícil, não conseguia. A mudez agonizante, presente em cada parede do casarão também não a ajudava, era pior, aquele silêncio sombrio estava deixando a voz com palavras duras do pai, ecoarem em seus pensamentos com ainda mais facilidade, e o nervosismo já não era administrado fielmente, a dominava, a corroía por completo.

Precisava de um caminho, um caminho para o esquecimento... A garota só sessou o mergulho de seus pensamentos, quando um gesto brusco, com a mão que segurava a faca que cortava o frango, escorregou desenfreada de encontro com sua outra mão. Dar-se de conta do ato desajustado, saindo de seu transe, mesmo que tão no susto. Não foi o bastante para Anita impedir o que acabará de concretizar, a lâmina arrasando sua pele sem avisos... O assombro e arrependimento pelo ato causado em si mesma, a fez deixar o objeto se estatelar no chão, fazendo o ruído da faca caindo sobre o piso estilhaçar pelo ambiente, sem que Anita se quer o ouvisse ou ficasse preocupada. Na verdade, preocupada estava, e muito, apesar da rapidez e falta de dor, ficou paralisada, encarando sua mão no ar, observando com pesar o sangue  que já pingava pelo chão da cozinha... Era só o que faltava, tudo que ela não precisava, nada podia ser pior naquele dia, Anita pensou estar certa, mas pelo visto ledo engano, tudo podia piorar... Se esquecendo do resto, a menina apenas soube correr para o banheiro, em busca de água gelada e curativos, que pudessem amenizar o estrago que havia praticado em si mesma.

— Anita, por favor, me diz que você vai me ajudar com meu trabalho de matemática... – O Ben até prometeu, mas ele vive ocupado de tarde ih... – o caçulinha desceu à escada apressado, procurando a irmã na cozinha, ao menos quando subiu há algum tempo atrás, ela estava ali, ainda distraída com o almoço, aliás, distraída demais, tudo bem a mais velha era meio aérea, mas julgou que sua irmã estava além do normal, naquele meio dia. Logo depois que chegou do colégio, Pedro até pensou ter escutado ruídos alterados do andar de baixo de casa, mas talvez fosse nada de mais, Caetano sempre falava alto, e Pedro não gostava do pai das irmãs mais velhas, não sabia por que, era algo além de seu entendimento, mas tinha essa  impressão, toda vez que o via, mas Sofia o adorava e até se chateava, quando falasse mal dele, e bom Anita, Anita conhecia um pouco mais os defeitos dele, mas no fundo se entristecia com seu descaso também, era melhor esquecer, apesar de que o pequenino sabia, que o homem também não gostava muito dele, ou de seu pai. – Anita. – Pedro ficou intrigadíssimo ao encontrar a cozinha vazia, e apenas silêncio no cômodo, então correu dando meia volta pesando em procurar em outro lugar da casa.

— Aqui no banheiro Pedrinho. – Anita respondeu, em um tom meio atormentado e fraco, quando escutou os passes e o grito do pequeno atrás de seu paradeiro.

— Ah e você tá aí, pode me ajudar agora... – Pedro indagou, surgindo com muita pressa na porta, era criança, estava acostumado a ser meio ignorado pelos mais velhos, mas sentia uma efervescência muito grande por isso.  – Caraca, o que você fez. – o caçula quis entender, foi automático, assim como o susto, quando Anita continuou muda diante de sua pergunta, continuando a fazer algo na pia. Pedro olhou com repulsa, ao visualizar a cena atento, e entender o que um suposto nervosismo da irmã, podia ter causado a si mesma, por segundo pensou em assumir o papel do mais velho, como Anita sempre fazia, na verdade tinha, e lhe dar uma bronca daquelas por seu descuido horripilante.

— Ah um acidente. – Anita responde, meio que sem explicação para dar, diante do olhar arregalado do menininho lhe encarando, parecendo atônito, Pedro continuou a lhe encarar, lavando a mão dentro da pia, apenas observando sangue e água se misturando.

— Você tá ferrada, vai ter que suturar. – Pedro disse assustadamente, com os olhos esbugalhados, diante do pequeno acidente da irmã, olhando a mão de Anita sangrar sem parar.

— Hein. – Anita sorriu irônica, fitando de relance o irmão, e até desgostou de toda calma com que o pequeno dizia, que ela realmente teria que fazer uma breve e dolorosa visita ao hospital. – Ai. – não conseguiu completar o que diria, pelo visto a dor já chegava com tudo, à entorpecendo. - Ah obrigada Pedro... – ela fala meio sarcástica, forçando uma cara feia, se quando se machucou não houve dor, ou não deu tempo,  agora não poderia dizer o mesmo, a sensação de ardência dolorosa, tirava sua capacidade de raciocinar e estava só aumentando gradativamente. Temeu ter que dar razão ao pequeno, e levar pra casa alguns pontos de presente...

— Você não sabe o que significa, que não vai parar de sangrar sem dar pontos. – o menino explicou com um semblante de sabedoria, ignorando a cara de dor da irmã.

— Eu entendi. – rebateu meio impaciente pela dor. - Eu só não queria admitir, e vira essa boquinha pra lá, não foi nada de mais, daqui a pouco estanca, eu tenho certeza.  – Anita afirmou, tentando convencer a si mesma, observando a mão debaixo d’ água parecendo sangrar ainda mais do que antes. Era o apocalipse, e pelo andar, só estava começando, a garota se repudiou tomada pela dor.

 - Corre lá em cima, e acha pra mim a caixinha de curativos, sem dúvida, vou precisar. – a moça pediu, nervosa, a voz falhando e desregrada...

— Não vai adiantar. – Pedro insistiu falastrão, a irmã precisava procurar um pronto socorro, isso sim adiantaria.

— Eu espero realmente dizer que você tá errado. – Anita proferiu com a voz esmagada pela falta de coragem, devido a pensar em toda sensatez real dele, já não sabia se conseguiria, mais estava decidida a tentar mesmo assim... A menina recusou-se a deixar o temor que sentia escapar de dentro de si, e ameaçou lançar um meio sorriso quase mentiroso ao irmão, que mudo, preferiu não argumentar mais com ela, sob a ideia estapafúrdia de curar ali mesmo seu ferimento nada discreto.

O caçula de Ronaldo, apenas saiu apressado e mudo. Anita bufou, encarando sua face pálida no espelho, e o olhou com raiva, que diabos havia feito, tinha que ter tomado mais cuidado, agora estava com mais um problema a resolver, e talvez esse nem esperasse tanto tempo, para lhe detonar, já estava selado e prontíssimo para acabar consigo, a julgar por todo sangue que não parava. Já sabia que o fundo do poço, sempre pode ter uma passagem mais gélida e assustadora, havia caído nela sem querer. Se os problemas trazidos por Caetano eram feios, e tinham trazido a ela, mágoa, tristeza, e aflição desmedida... Agora existia um muito pior, enfrentar seu medo congênito de hospital e tudo que envolvia atos de enfermagem, ou menos quando a cobaia fosse ela, odiava... Morria de preocupação, quando era um outro ente envolvido, era um fato, mas quando se tratava dela mesma, preferia mesmo fugir, do que morrer de nervoso, esperando pelo desfecho para sua tragédia pessoal... Anita enfiou a mão debaixo da torneira com raiva, muita raiva, o universo estava de brincadeira, e ela horrivelmente enfurecida, que se dane o que o mundo pensaria, ela estava em seu limite, já não queria pensar o tamanho da infantilidade de tudo o que sentia, só queria parar de sentir, arrancando junto à frustração de sua alma, e os problemas de sua mente, e não ter que se preocupar ainda mais com uma mão acidentada, e sua dor física que não era pouca, não lhe faltava mais nada mesmo, a namorada de Ben, expressou um sorriso forçado diante do espelho, movida por irritação, fúria que já não sabia conter, segurando o vidro de álcool com sua outra mão ainda ilesa, e despejando um pouco sobre seu machucado, se arrependeu instantaneamente pelo ato, já que a ardência piorou e muito com aquilo... Quem mesmo afirmou, que álcool desinfetava qualquer ferimento, nunca tinha feito aquilo, era um covarde, que se aproveitava da pouca coragem alheia.

Ben chegava do restaurante, após uma breve conversa com o pai, e encontrou a casa totalmente vazia e nenhum rastro dos irmãos para o almoço, o que era estranho, afinal o banquete já estava atrasado, pois Vera, acabou não saindo mais cedo do trabalho e nem viria para almoçar, estava bastante ocupada com seus afazeres, e eles deviam estrem por ali, reclamando famintos, mas tudo parecia estranho naquele cenário, até Anita que tinha ficado por ali se ocupando com o preparo da comida, havia sumido tão de repente. Pensando serem devaneios sem importância, o rapaz caminhou sem muita atenção até a cozinha, porém as incertezas não acabariam por ali, toda a bagunça do ambiente, tinha atrativos suficientes para um tremendo susto, realmente algo de muito estranho acontecia...  Nem sinal da comida preparada, uma faca caída no chão, perto algumas gotas de sangue, ou muitas... Algo inexplicável se apossou dos sentidos do garoto, que não soube o que sentir ou imaginar, preferia não conseguir mesmo, não queria pensar em algo terrível ou pior, não queria concretizar o horror que estava desenhado ali... Esquecendo-se do que pensava o rapaz continuou andando em volta, tentando compreender o que seus olhos viam, mas tudo só piorou, quando ele notou um guardanapo de papel amassado sob a mesa, parecendo conter o mesmo sangue do chão...

— Anita, Anita, Anita... – o rapaz chamou, indeciso e perturbado pela namorada, movido pela confusão sem igual que sentia, pela cena que havia sido captada por seus olhos. Um desespero que mal ele sabia de onde vinha, apenas sentia seu peito se enchendo dele abruptamente. Queria parar de pensar, só assim não sentiria também tanto desespero, ela estaria ali, o que sua mente calculava, de maneira enlouquecedora, era pura mentira, o aviso era mentiroso e sem nenhum fundo de verdade.

— Anita. – Ben empurrou a porta sem avisos, quando escutou uma voz familiar conversando dentro do banheiro, já havia ficado impaciente pela falta de retorno, quando chamou pela moça, segundos atrás... Os segundos que até parecem, que o coração havia parado de bater, e tão subitamente volta à vida descompassado e cheio de pressa, Ben sentia a ausência de ar, quando fixou os olhos nela dentro do banheiro.

 - Ai susto criatura. – discursou Anita, jamais notando sua presença em casa, nem poderia, estava antes tão concentrada na conversa com Pedro, e de o impedir, de lhe convencer a procurar ajuda especializada. E depois em si mesma, e nos argumentos que usaria para se defender, que nem notou Ben ou sua presença em casa. Culpou-se pelo jeito destrambelhado e até rude, com que se dirigiu ao garoto, após encontrar o rosto dele, e perceber uma aflição amarga dentro de seus olhos.

— O que você fez. – o rapaz questiona nervosamente, mesmo que uma sensação de alivio o atingindo ao vê-la em sua frente. – O que aconteceu lá na cozinha, Anita me explica, por favor, o que foi que, você tá bem. – ele desembestou a atirar uma pergunta atrás da outra, chegando perto da garota e notando ela meio avessa a toda situação.

— Eu to legal sim, não foi nada. – Anita sorriu trêmula, perante ao olhar protetor dele e, desapontada consigo por todo susto de Ben, não seria pra tanto, mas o problema é que ela nem teve a oportunidade de lhe contar com calma, ele se aterrorizou com as próprias conclusões que havia tirado. A máxima culpa dela por isso, quem mandou ser distraída e ainda mais burra, por dar ouvidos as insanidades de Caetano...

— Ai Anita. – o garoto a abraçou consternado pela angustia e nervosismo acelerado, que lhe atingia em cheio. – Mais o que aconteceu. – Ben quis saber insistente, logo após soltar-se da garota e encarar seu olhar confuso  e tenso...

— Ela tentou suicídio, mas felizmente, é muito desastrada a ponto de não conseguir. – Pedro exclamou meio que rindo das expressões de susto, tensão e em parte irritação com que os dois irmãos se entreolhavam, quando ele chegava à porta de entrada novamente com o que Anita havia lhe pedido em mãos.

— Muito engraçado Pedro, aprendeu com ele foi. – Anita ironizou irritada com ela mesma, pela situação causada, o irmão pequeno que entrava pela porta não evitou rir da irmã mais velha Pedro julgou no mínimo engraçada a cara de tanto fazia da irmã, que ao analisar com suas percepções aguçadas, ela não estava em situação tão confortável assim. Um arrependimento por não ter sido mais cuidadosa lhe rondava, talvez agora tivesse mesmo um grande problema a resolver.

— Olha pra mim, você tá legal, o que aconteceu. – ele foi indagando impaciente, já que Anita não dava explicação nenhuma.

— To, foi só coisa boba, nada de mais. – disse Anita garantindo, saindo junto com a expressão nervosa um sorriso torto, como se quisesse esconder ou amenizar o que realmente acontecia.

— Jura Anita, e porque não está parecendo. – ele a criticou impaciente, lhe encarando firmemente. Anita não soube o que argumentar, apenas silenciosa, escondeu a mão enfaixada atrás do corpo, já se preparando para o “chumbo grosso” de reclamações que Ben lhe diria de volta.

— Eu acho que você deveria procurar ajuda.  – Pedro afirma interrompendo a troca de silêncio ensurdecedor dos dois.

— Não, não acha, até porque ninguém perdeu. – Anita desaprovou as opiniões do garotinho e ficou respirando com todo susto.

— Anita a criança é ele, e você é que vai fazer pirraça é isso. – dispara Ben, desgostosa Anita o fuzila sisuda.

— Jura que vocês vão fazer um dramalhão, por conta de um cortezinho sem importância, por favor, digo eu. – Anita retrucou com firmeza. – Não vocês podem parar eu não vou a lugar nenhum. – a moça alegou resignada, notando o jeito com que os dois lhe encaravam e não gostando nem um pouco.

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— Você teve sorte mocinha, mais um pouco teria atingido algum nervo de movimento da tua mão. – a enfermeira profere com um sorriso simpático finalizando o curativo de Anita, que depois de dizer que nem arrastada sairia de casa, acabou tendo que se render diante dos argumentos de Ben e Pedro que não lhe deixavam em paz. Sem humor o suficiente para puxar assunto com a senhora tão solar, Anita só atreveu-se a esboçar um sorriso amarelo com concordância. – Obrigada. – ela agradeceu se levantando da cadeira apressada, aquele cheiro de sala de pronto socorro já estava quase lhe fazendo ter um “piripaque” de verdade, só precisava respirar um outro ar que não fosse aquele.

— Você tá bem. – Pedro atreveu a querer saber já que a irmã suspirava silenciosa.

— To, mais experimenta dar tua mão pros outros costurarem e depois me responde. – Anita prendeu o ar nada empolgada. – Ai gente vamos pra casa né, vocês já tem certeza que eu não vou morrer, então chega. – pediu ela suplicante, ou caso contrário não aguentaria mesmo mais a situação, e atreveria a ensaiar um belíssimo escândalo ali mesmo, ninguém lhe obrigaria a ficar mais um segundo se quer naquele local, estava decidida.

— Ok vamos, o doente ranzinza, mais dá próxima vez, não fica brincando com faca não, pode ser. – Ben aproveitou para dar bronca.  Anita sorriu ácida, passando pela porta a fugir de sua aproximação e do beijo que ele lhe daria. Pedro somente riu seguindo junto com os irmãos.

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— Gente a Anita sumiu e deixou todo mundo sem comida, que estranho. – Giovana comentava da sala, enquanto Vera na cozinha nem sabia como resolveria o problema tão rapidamente a ponto de não atrasar seu trabalho. Giovana não poderia ter lhe dado notícia tão tensa pelo telefone, do que ela ter que correr para casa em busca de preparar o almoço.

— Estranho nada, ela deve estar com o Ben né. – Sofia imaginou prática, estava confusa com a relação da irmã com o rapaz, já que seu pai estava tão decidido e convicto que acabaria com ela em tempo recorde, mas tudo parecia tão normal, seria melhor esquecer. Ou ser mais decisiva ainda, quanto mais rápido, Caetano conseguisse o que queria, mais rápido ela poderia ficar imune e longe dos planos do pai, a loira estava confusa e bastante dividida, já não sabia como agiria diante de tal situação.

— É, mais mesmo assim ela não podia ter feito isso, me garantiu que me ajudaria hoje. – Vera estava atrapalhada e meio desapontada em pensar em todo descaso da filha.

— Mais mesmo assim. – a ruivinha veio até a cozinha, querendo ajudar de alguma forma já que  há muitos instantes só via Sofia enrolando e pondo a mesa do almoço com toda má vontade do mundo.

— Pedro também não está em casa gente. – Vitor recordou a todos e ficou intrigado com o sumiço do pequeno.  – E ele não veio com a gente hoje. – Vitor se recordou.

— E nem comigo. – Sofia disse quando a mãe lhe olhou em busca de uma resposta que não lhe afligisse ainda mais.

— Vera não fica assim, eles devem estarem juntos. – Giovana usou de otimismo ao perceber a cara nada serena da madrasta, pelo contrário Vera estava aos nervos. – Olha aí, não disse. – Giovana sorriu aliviada por estar certa, quando viu os irmãos abrirem a porta de casa.

— Mais alguém me explica o que houve. – Vera disse encarando os três que se olhavam com paciência.

— É que eu, confundi minha mão com o frango do almoço, mais eu to ótima então sem alerde, por favor. – Anita pediu sendo breve com a explicação, já prevendo e tentando evitar o estardalhaço que os irmãos e a mãe poderiam fazer, aliás, como era de costume sempre no casarão.

— Mais gente como vocês não avisam nada. – Vera deixou por fazer tudo que envolvia o almoço, vindo até a filha com certa preocupação.

— Mãe tá tudo bem. – garantiu Anita, que sorriu triste ao imaginar o que a presença de Caetano ali poderia causar a todos, caso a mãe continuasse com seus atos de ingenuidade pura.

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— Eu queria mesmo ficar com você essa tarde, mas acontece que tá complicado. – Ben punia-se pelo fato com chateação, conversando com Anita em seu quarto. A hora do almoço já havia passado e ele teria que se preocupar com seus afazeres, por mais difícil que estivesse deixar a namorada sozinha.

— Hei calma tá, não precisa disso tudo. – Anita afirmou o lançando um olhar sincero, realmente apesar da manhã conturbada, estava até bastante tranquila.

— De repente eu ligo pra aquele colega, que sempre me pede pra ficar no lugar dele quando precisa, e falto hoje. – Ben supôs, decididamente  com  nenhuma vontade de ir trabalhar naquela tarde.

— Não, imagina. – ela nega certeira. – Eu não quero que você se prejudique por minha causa, eu to ótima... – Anita quis acalmá-lo, sorrindo ao tocar em seu ombro. – Eu vou ficar aqui quietinha, vou descansar, colocar minha leitura em dia, vai passar rápido. – garantiu.

— Mesmo, né porque eu não sei se dá pra confiar na senhorita não. – Ben olhou para ela indeciso. Ficando meio irritada Anita revirou os olhos incrédula.

— Eu to legal, minha mão nem está doendo, pode parar ok. – Anita respirou afoita.

— Claro, como eu não iria nem me preocupar, você não tem nem mão princesa, aí de repente e resolve... – Ben não soube ficar avesso as críticas à ela. Ainda estava entendendo o que estava motivando Anita em tantos descuidos, pressentia que havia algo por trás daquilo tudo, alguma coisa muito mais sério por sinal, mas ela insistia resignada a não falar. O que estava só contribuindo para que ele ficasse apreensivo.

— Hahaha , todo engraçado você. – Anita respondeu entre caretas. – Òh melhor você ir andando, vai se atrasar hein. – a garota justificou encerrando a troca de acusações com um beijo, era o melhor desfecho para o fim daquela conversa.  Ben pressentiu rapidamente sua intenção, mas não ficou imune a ela... Apenas sorriu contra os lábios dela, retribuindo o beijo doce que recebia.

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— Não tá meio tarde pra isso não... – ela disse sorrindo animada quando entra e pega o rapaz com a cara “enfiada” em um livro que ao que tudo parecia era de história. Julgou errado, o amado estar tentando estudar àquela hora da noite. Ben sorriu levantando o olhar até onde estava ela, e a encarou brevemente voltando à sua leitura... Anita caminhou para dentro  perante ao silêncio de arrastar os pés.

— Também acho, não tá muito tarde. – retruca ele, fingindo já não se interessar  pela reclamação dela e fechando o livro olhando seu caminhar, estampado em sua face um sorriso contagiante. Pensando consigo,  que a ideia dela ali já tarde  da noite não iria agradar muita gente,  seria totalmente ao contrário, iria ter muita gente para reclamar, pra  não dizer toda a família. Mas também, a  raiva da família inteira  não seria nada perto do desgosto e fúria de Caetano, caso descobrisse,  as reclamações seriam as piores possíveis, ele ensaiou rir ao imaginar.

— Mais eu somente estou atrás do carregador do meu celular, por acaso você não viu ele por aí. – Anita o ignorou escondendo que desconfiava dos receios do garoto, na verdade podia até desconfiar mais nem ligava, ela demonstrando desinteresse e sorrindo indiferente percorreu o olhar pelo cômodo em busca do que procurava.

— Chato. – Ben discursou com ar debochado e ironicamente ao constatar a indiferença forçada que ela demonstrava.

— O que, ficar sem bateria pela manhã, muito. – deduziu  Anita, mais focada em seu problema do que nele.

— Sinto muito, mais eu não vou poder te ajudar então. – ele disse indo até ela, que remexia na estante impaciente a procura do objeto. Anita sorri em protesto, devido ao abraço por trás que recebe.

— Não, poxa que tristeza. – fala ela ao virar-se trazendo no rosto um ar de pirraça. O rapaz sorri a olhando com encantamento.

— Não. – reafirma Ben, sorrindo contra o pescoço dela, que deixando a conversa  de lado une os lábios dois ao lhe beijar empolgante.

Sem ter como recusar ou mesmo querer o garoto retribui embarcando na sensação que era estar com ela.

— Não é boa ideia. – alega Ben ainda contra os lábios dela. Mais sentindo que algo muito forte lhe impedia de recusar o convite.

— Porque. – Anita pergunta com um sorriso zombeteiro. Olhando em volta, mas nem sabendo exatamente como chegou ali, sua última recordação era estar parada perto a estante, atrás de seu carregador, e não aos pés da cama conversando ou mesmo beijando Ben. – Por acaso você tá  com medo do meu pai príncipe. – Anita brincou entre risos que não controlou, por mais que pensasse em não rir com àquilo, assim passando ao filho de Ronaldo toda preocupação e decepção possível com o fato. E não obteve hesito com seu teatro, ria sem querer encarando ele. E era verdade em parte ele sabia, mas a alegação repleta de sarcasmo da namorada, ocasionou com   Ben intensificando à sua expressão descontente. Era nítido a ponta de aflição verdadeira ao se quer cogitar Caetano ou mesmo seu pai, descobrindo Anita ali em quase plena madrugada, porém o rapaz não segurou mesmo a cara amarrada, ainda mais por Anita lhe confrontar diante do fato com tamanho deboche.

— Pode até ser, e você nem pode dizer que eu to errado. – finalmente ele responde, depois de toda quietude com que ambos se entreolharam, Anita não esboça preocupação e continua com seu sorriso no rosto, o que faz a impaciência dele aumentar enquanto remexe-se sentado na ponta da cama, emudecido.

— Ah vai, e se eu te der um beijo que compense todo medo de ser flagrado. – Anita sugere alegremente, com as duas mãos apoiadas no ombro dele, que dá um sorriso por toda audácia da moça... Que como resposta  o beija carinhosamente de volta.

— E você bem que adoraria ver essa cena. – Ben proferiu a rebatendo, por mais rendido  e tentado que estivesse perante ao convite.

— Tá aí, praticamente a vingança perfeita. – Anita supôs, e bem que seria verdade, o chilique de Caetano seria tão grandioso, digno de um show de horrores dotado de muito drama. O melodrama do homem seria tanto que Anita poderia até se divertir um pouco com a cena. Talvez a conversa de mais cedo com o pai, fez com que ela não ligasse mais para sua opinião, quem sabe seria mágoa regada de muita decepção, talvez ela ainda voltasse atrás,  só estava se deixando levar por emoções desenfreadas de momento, a moça julgou um pouco confusa, não sabendo se mudaria de opinião  dia, mas quem sabe, nada é pra sempre mesmo, e disso Anita tinha plena certeza.

— E eu que me rale. – Ben critica ligeiramente à encarando com ironia.

— Não. – Anita o fitou, o semblante levemente ofendido. – Só que, ah vai, até que iria ser engraçado o surto coletivo do meu pai. -  ela não segurou o riso, foi inevitável... O que agravou ainda mais diante do semblante descontente de Ben à olhando.

— Engraçado. – repetiu ele, como se a questionasse pela afirmação. Anita só poderia estar brincando mesmo, porque para ele a situação não seria nada engraçada, muito ao contrário, se transformaria em caos absoluto. Se é que ela já não havia chegado neste estágio há muito tempo, repensou Ben mentalmente, enquanto Anita lhe encarava tendo dificuldades severas em esconder o riso debochado.

— Bom então, mais recomendável eu ir indo né. – falou Anita, destruindo o silêncio que os unia, dando um passe em falso ameaçando ir embora.

— Ah não vai, eu mereço no mínimo um beijo de boa noite. – Ben choraminga desanimado com a partida dela.

— Pra que, você não tava tão preocupado com meu pai, eu não vou te beijar – ela rebateu arqueando a sobrancelha com descontentamento.

— Ah não. – Ben discursa com ar frustrado, ela apenas acena em confirmação. – Então só tem um jeito. – o garoto alega sem que ela entendesse. E distraída nem imagina o que significa o olhar de audácia dele.

— Ben, que para. – Anita ordenou, tomada por susto quando sem cogitar o viu lhe jogar contra a cama sem nenhum aviso. – Para, para. – ela riu virando o rosto, se recusando a se dar por rendida diante da imposição do rapaz. – Óh me solta, que não vai ter beijo nenhum. – Anita agiu com insistência, mas só caiu na risada quando se debatia sem conseguir se soltar dele.

— Não, vou não. – Ben se recusou entre risadas, enquanto ela se esquivava dos beijos dele, também a  rir não se segurando.

— Ridículo, isso não vale, você tem mais força que eu. – Anita gargalhou sem parar, quando já não conseguia fugir dos beijos do amado.

— Ah não, mais não pareceu hoje mais cedo. – Ben soltou de leve os braços da garota lhe confrontando com o olhar.

— Ah você não vai me dar bronca por um incidente bobo, tem cabimento isso.  – retruca Anita, percebendo a tensão nas palavras dele, assim como na expressão que ia mudando gradativamente.

— Não pareceu sabia, foi muito sério, e mais tudo bem que você se distraí as vezes, mais pra mim tem mais coisa aí, você tá desatenta, tem algo te preocupando que eu sei. – o semblante calmo e leve anterior de Anita parecia sumir conforme ela sentia-se cada vez mais acuada diante da desconfiança do  rapaz. Durante o dia, ela bem que conseguiu fugir de responder aos questionamentos dele, mas agora o assunto parecia que havia voltado em cheio, e a deixando paralisada, os pensamentos dela mais uma vez foram mergulhados numa terrível tensão e agonia sem fim... Anita já não sabia o que pensar, pior ainda o que fazer. Sentia que estava traçando um caminho sem volta,  conforme o tempo  passava ficava mais difícil de recuar. O fardo de suas preocupações já estava pesando em sua paz de espírito.

— Tá vendo. – Ben percebeu claramente a forma aérea com quem ela remoía algo em seus pensamentos quase saindo de órbita.

— Ham que. -  disse a moça maneando a cabeça, como se procurasse espantar os maus presságios de sua mente. Anita pressentiu a tensão pesando seu corpo, já que pela maneira com que Ben lhe fitava, ele havia entendido perfeitamente que ela viajava  em seus problemas. Anita sentiu-se como se estivesse ficando quase transparente naquele instante, como se ele pudesse saber exatamente o que ela escondia.

— Você né Anita, aí toda estranha. – Ben discursou em tom de descontentamento, soltando o ar dos pulmões em protesto... Apesar de toda impaciência, no fundo estava ficando era bastante preocupado com o jeito da namorada.

Ouvindo tudo atenta junto a todo silêncio, Anita sorriu iluminada, até esquecendo do resto por segundos, entendendo que apesar de nem tudo estar um mar de rosas, ela ainda era alguém de muita sorte. Era alguém amada, alguém que tinha muita sorte. – Para com a bobagem, eu não vou morrer por causa de uma mão machucada, e nem vem o senhor, me chamando de relapsa, porque por muito mais que isso, se você ainda lembra... – Anita alegou apoiando uma mão em sua nuca.-  Quase matou toda família de preocupação quando caiu daquele andaime. – relembra ela com uma pitada de angústia só de recordar o ocorrido.

— Não sei se isso foi o pior ou a conta do hospital que meu pai teve que pagar, coitado, eu to sempre dando dor de cabeça a ele mesmo. – disse ele não conseguindo ficar sem concordar com ela.

— É, foi horrível mesmo, fiquei apavorada com você naquele hospital, todo mundo ficou né, incrível como tudo as vezes muda, e toma dimensões tão diferentes de repente,  de alguma maneira eu tava mal, magoada com você, por não ter me falado nada de você e da Sofia,  mais acredite ou não tudo passou diante do medo que eu senti – ela repensou às voltas que o mundo pode dar em certas situações.

— Eu sei tá, que eu devia ter contado, mais sei lá, acho que nem tinha o que dizer, o que eu tinha com a Sofia já tinha acabado, ou melhor nem começado...  – o jovem não ficou sem afinar seu erro. – Mais também né   dona, a raiva passou mais ou menos, você se afastou de um jeito tão frio de mim, eu fiquei mal sabia... – fala Ben, enquanto ela meio que ri, percebendo certa razão. – E foi inevitável não sentir que era mais do que tua amizade que eu sempre quis. – ele completou com o olhar fixo sobre a moça, que não esboça reação.

— Mais não muda de assunto não, que eu quero mesmo saber do agora, o que anda atormentando essa cabeça aí. – ele não deixou que ela escapasse ou encerrasse tão fácil assim o outro assunto.

— Não. – Anita recusou-se a continuar a falação cheia de temores, saindo de baixo dele. -  Acho que eu prefiro aproveitar toda paz pra te namorar um pouquinho. – a moça alega sorridente.

— Aham sorrateira danadinha, você não. – Ben meio que a repreende, mas acaba aos sorrisos.

— Eu, não jamais. – Anita ria brincalhona chegando pertinho dele novamente, e só aproveitando com alegria a sensação indescritível que era estar com ele.

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— Ah Meg, tá ouvindo. – Giovana dizia repleta de animação, enquanto conversava com a estrangeira no quarto, porém Meg parecia nem escutar, há tempos tentava pegar no sono, mas Giovana não parava de falar um segundo se quer, a loira já se encontrava exausta, seus olhos pesavam, mal parando abertos.

— Você falando sim. – a menina retrucou meio grogue, amassando o travesseiro querendo muito descansar.

— Não, chata, esse silêncio, essa tranquilidade mágica, ah é tão melhor sem a Sofia aqui. – concluía a ruivinha, sentando na cama toda empolgada, contando o que sentia por não ter a companhia de Sofia por ali, a patricinha havia ido para a Barra e dormiria na casa de Flaviana. A paz estava reinando dentro do quarto, não tinha Sofia para implicar com ninguém principalmente com Meg, já que a outra loira não escondia que não adorava a presença da americana por ali.

Meg suspirou entontecida e se quer respondeu a amiga. – Ah Gio. – a moça balbuciou sem forças.

— Ah Meg. – Giovana pegou o próprio travesseiro e jogou na loira, que deitada de costas grunhiu protestante.

— Ué festa do pijama é. – Anita quis abrir a porta devagar, desejando imensamente não acordar as outras duas meninas, mas acabou surpreendida ao encontrar as duas acordadas e falantes.

— Então achou. – a irmã de Ben perguntou a ela curiosa.

— O que. – Anita indagou confusa fechando a porta bastante devagar.

— Como o que. – Giovana riu baixinho e não escondendo o deboche. – O carregador, o surtada. – a menina zombou.

— Ainn sabia que tinha algo errado. – Anita recordou, levando a mão na cabeça com ira, e só indo devagar e abrindo a porta do guarda roupas a lamentar, realmente nem havia se lembrado mais do que foi procurar no quarto do amado. Meg e Giovana riram juntas do jeito com que Anita agia.

— Tudo bem, a gente entende, afinal é porque meu irmão é bonito, gentil, gostoso... – a garota implicou sem piedade com a irmã postiça, que virou o rosto perplexa segurando seu pijama para trocar em mãos.

— Oh Giovana eu heim, vai dormir, que falar tanta bobagem deve ser sono, não é hora de criança tá acordada.  – Anita ordenou, um tanto envergonhada, enquanto a roqueira mantinha seu ar de deboche fazendo Meg rir sem parar das duas.

— Ah esqueci, tá proibido falar do assunto, ainda mais com a Meg aqui. – a ruivinha não se rendeu, apenas sendo reprendida com um olhar fulminante de Anita.

— Sei, inconveniente você. – Anita reclama terminando de se trocar.

— Mais se a gente falar do Júnior, ela que não vai gostar. – Meg também implica risonha.

— Boa lembrança, como vai o namoro Giovana. – pergunta Anita rindo, Giovana fecha a cara de imediato. Não gostava nem um pouco de ser confrontada assim por conta do garoto, ainda mais quando constata estar sendo o motivo de zoação. Anita e Meg se entreolharam cúmplices, o que aumentou o desespero da menina.

— Tá apaixonada, tá apaixonada, tá apaixonada... – Meg e Anita pularam de um lado para o outro com toda empolgação possível, repetindo a frase em uníssono. Fazendo Giovana quase explodir enraivada.

— Ah vão ali morrer vocês. – a menina ficou furiosa, cruzando os braços.

— Ah meu deus, a minha caçulinha cresceu, como pode isso. – Anita alegou melancólica, toda alegre com a lembrança.

— Ela tá virando uma mocinha gente. – Meg responde brincalhona.

— Saí, vocês são loucas, vão me matar esmagada. – Giovana praguejou o abraço que recebeu, com as duas meninas em cima dela.

— Ai que reclamona. – Anita não continha o riso.

— Realmente, numa ótima deve estar a Sofia, frequentando desfile de luxo lá na Barra. – Gio relembrou com risadas, vendo Anita e Meg voltarem para suas camas.

— Eu só queria saber de onde ela tirou grana pros convites, esse tipo de evento de luxo. – Anita suspirou intrigada, há dias andava desconfiando do jeito com que a irmã vinha se comportando, só rezava utilizando todo o otimismo que possuía, para que seus pensamentos fossem os mais equivocados possíveis. Ou perderia de vez a razão e calmaria para lidar com a situação, se é que havia sobrado algum equilíbrio da parte dela.

— Bom vamos dormir agora não é, que o dia amanhã vai ser longo. – Meg opinou com alegria.

— E como. – Anita afirmou em total concordância. Tudo estava destinado a piorar mesmo... Era algo certo.


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